• Nenhum resultado encontrado

ARQUITETURA ESCOLAR E PARÂMETROS DE PROJETO

A arquitetura trabalha com criação de espaço e, por consequência, com a interface ambiente construído-homem. A fim de atender às diversas necessidades humanas que são, de forma geral, morar, ter acesso à saúde, educação, lazer e trabalho, uma série de espaços foram criados, com elementos e organização específicos, variáveis de acordo com a proposta de uso. Além da variação pelo uso, histórica e geograficamente esses espaços também têm seus aspectos modificados como reflexo das mudanças de pensamento, interação e estilo de vida de cada época e local.

Na história da arquitetura existem várias expressões – ou esquemas – que incorporam o contexto do momento. Estes esquemas, entendido por Argan (1963) como “tipos”, podem ser vistos como delimitações básicas da forma-espaço. Dos variados tipos vistos ao longo do tempo, com suas características marcantes, destaca-se a tipologia escolar, que atende às necessidades da educação formal.

Com a Revolução Industrial do século XVIII, na Europa, a educação pública se expande como forma de ampliar a mão-de-obra qualificada para as atividades econômicas e produtivas também em processo de expansão. A época era de grande racionalidade e muitas das características das construções fabris –organização, forma e fluxos, por exemplo – foram refletidos nos edifícios educacionais (resguardando as diferenças de cada lugar). Com o passar do tempo um questionamento foi levantado pela recorrência dessas características. A questão, que diz respeito à escola como tipo, permeia as variações passadas por esta: se essas modificações são perceptíveis e representativas da geração, ou se o que se nota é uma tipologia- base que passou por modificações, mas que apresenta um esquema essencialmente constante com relação à composição (salas de aula/corredor, setores administrativos e lazer).

A arquitetura escolar no Brasil seguiu um caminho muito similar à diversas partes do mundo, seguindo as mudanças históricas europeias. E há muito tempo vêm sendo estudados e questionados os conceitos da educação e a melhor maneira de abrigar as suas atividades. Os investimentos em novos tipos de espaço ainda são, contudo, poucos e alguns tópicos dessa discussão serão tratados da maneira apresentada pela Figura 5.

Figura 5 - Esquema de tópicos do capítulo 5 5.1. Tipologia arquitetônica e a relação dos corpos e espaços

Na estruturação do espaço existe uma linguagem – vocabulário – utilizada de modo a ser possível despertar nas pessoas determinados sentimentos, e consequentes ações. Ao percorrer o espaço é possível senti-lo e tomar conhecimento de suas nuances, mesmo sem que esse fato não seja percebido. Mais que isso, porém, o espaço é um local de relacionamentos (LAWSON, 2001), é onde se constituem os lugares com os quais as pessoas se identificam e criam laços.

A arquitetura tem como uma de suas funções organizar e estruturar o espaço (LAWSON, 2001), que é pensado e projetado para abrigar pessoas e suas atividades. Corona Martinez (2000) considera os espaços como “[...] destinados ao movimento humano, à sua permanência, aos seus equipamentos [...]”, o que significa que são destinados à expressão da vida. O autor aponta que a arquitetura possui, assim, Elementos de Composição (espaços) e, conectados a eles, Elementos de Arquitetura, que são os corpos, os quais vêm a compor o ambiente (ou delimitar o espaço) de acordo com o que for necessário para o desenvolvimento das atividades a serem realizadas.

Cada tipo, ou tipologia, apresenta corpos que estarão presentes, juntamente com os espaços, desde a criação do partido inicial do projeto arquitetônico, ou mesmo antes, como ideia, nos conceitos utilizados. Madrazo (1994), ao discutir o Tratado de Durand, aponta que esse arquiteto acreditava que um tipo corresponde a uma forma geométrica simples, a partir da qual outras formas são derivadas. Ao citar Argan em seu texto, Madrazo (1994) também mostra outro ponto de vista, mas que segue a mesma lógica: um tipo é formado – e compreendido – por um processo de redução de formas variáveis e complexas até chegar a uma forma original.

Ao se pensar em uma escola, existem elementos que são usados há mais de 200 anos. Naquela época, esses elementos, como salas de aula, corredores e administração, foram

dispostos de maneira uniforme criando, geralmente, edifícios simétricos. Destacava-se com eles a importância para ordem, hierarquização de funções e controle (FOUCAULT, 1987). Posteriormente, outros elementos foram adicionados ao programa de necessidades na medida em que os espaços se tornavam mais específicos.

O que faz com que esse tipo não se torne um modelo, são variações no momento de unir as partes. Em cada caso é possível perceber certa preocupação na adaptabilidade ao contexto inserido – dimensão, posicionamento na implantação, disposição interna, entre outros. Como estabelecem Grannäs e Frelin (2017), os ideais arquitetônicos são modificados pela época da qual fazem parte (associados também à pedagogia). Entretanto, houve manutenção da ideia principal desenvolvida primordialmente na era industrial, e esse caráter industrial, como nomeia Robinson (2015), é o que ainda se observa usualmente nas edificações escolares.

Compreende-se, portanto, que apesar de algumas de suas partes terem sido modificadas ao longo de sua existência, seja pela modificação dos objetivos da educação, estrutura e conteúdo do ensino como aponta Knatz (1970), ou por modificação de métodos construtivos e adaptações do programa para questões distintas, o básico – ou o esquema geral da tipologia escolar –, é essencialmente o mesmo. Essa tipologia – carregada de conteúdo simbólico – representa uma ideologia, e nela há certa definição de regras. Essas regras incluem as conexões promovidas ou relacionamento entre funções, por exemplo, que vão ser refletidas na elaboração de um projeto.

5.2. O desenvolvimento da tipologia escolar

Com as indústrias do século XVIII e XIX, desenvolve-se também a tipologia escolar, passível de ser encontrada ainda no século XXI. As tipologias industrial e escolar eram semelhantes em muitos aspectos. Seria ousado dizer que ambas começaram como parte de um mesmo tipo, com adaptações e modificações apenas em dimensões e alguns elementos de composição, mas, ao retomar análises feitas por Argan (1963), essa ideia pode ganhar força. Para o autor, no processo de comparação de determinação de tipo, características particulares são retiradas e permanecem aquelas comuns a todos os edifícios do conjunto, uma forma base.

Argan (1963) também destaca que as tipologias não surgem com relação apenas às funções desempenhadas por cada espaço existente, mas pela configuração (forma) como resposta à uma condição histórica. Comparativamente, as indústrias do século XIX apresentavam funções diferentes daquelas de um edifício escolar. Entretanto, ao observar suas configurações, com suas características ideológicas e práticas intrinsicamente inseridas naquele

momento específico, percebe-se que, de fato, estes espaços se aproximavam em muitos aspectos.

A tipologia escolar esteve intrinsicamente ligada à tipologia industrial, ao menos em seu período de desenvolvimento inicial. Ao passarem os anos, é possível perceber que muitos dos seus elementos de composição (espaços) e de arquitetura (corpos, ou os elementos físicos) ainda possuem certa relação compositiva e formal com aquelas fábricas do século XVIII-XIX. A padronização, racionalização, reprodução em série, são alguns desses elementos e estão conectadas ao que se considera arquitetura panóptica de Foucault (1987). Apesar da possibilidade do enquadramento de ambos em uma tipologia da “era industrial”, será considerado a tipologia escolar como sempre distinta e única, ainda que próxima, da tipologia de indústrias. Reduzi-la a apenas uma extensão da tipologia industrial, seria ignorar suas particularidades e sua função social específica, o que geraria conclusões inadequadas.

Na tipologia escolar, por exemplo, as formas-base percebidas pela divisão de funções em espaços específicos correspondem aos corredores que percorrem toda a extensão da escola e dão acesso às diversas salas de aula, com configuração muito próxima às demais instalações (Figuras 6 e 7). As escolas dos séculos XXI têm se configurado de forma muito semelhante àquelas do século XIX e XX (Figura 8). A fim de compreender melhor o processo de desenvolvimento da tipologia escolar no Brasil, e em especial no estado de São Paulo, é importante levantar alguns aspectos.

Figura 6 - Planta segundo pavimento da Escola da Várzea (2008) - São Paulo – FGMF Arquitetos.

Figura 7 - Planta terceiro pavimento da Escola Jardim Ataliba Leonel (2006) – São Paulo –

SPBR.