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Uma nova tipologia escolar e os parâmetros de projeto contemporâneos

SPBR (Marcações das circulações feitas pela autora a partir

5.3. Uma nova tipologia escolar e os parâmetros de projeto contemporâneos

Vidler (1998) postula que no processo de projeto o arquiteto toma decisões que dizem respeito às soluções formais e o faz a partir de uma escolha dentre tipos, o que é explicado por sua posição ideológica, ou a um contexto ideológico no qual se insere. Da mesma forma, pode-se dizer que a escolha voluntária, fora dos tipos pré-existentes, que corresponde à criação de novas conexões e funções, também é reflexo de um posicionamento e gera formas que divergem do que já existe. Como exemplo, nota-se que algumas das escolhas dos arquitetos referentes aos elementos que a serem trabalhados dizem respeito, principalmente em escolas públicas, à diretrizes muito específicas e um tempo de projeto curto. Este é o caso dos projetos da FDE, que partem de um programa arquitetônico moldado pela padronização em função de salas de aula e dimensões mínimas, exigências ambientais, instalações e componentes (como janelas e portas) básicos (GRAÇA, 2002), restringindo as escolhas às especificações pré- estabelecidas de maneira relativamente rígida.

Contudo, o que se espera dos edifícios baseados nas características de uma “tipologia” escolar do século XXI é, em linhas gerais, que estes tenham foco na atividade de aprendizagem considerando as múltiplas inteligências humanas. Ao mesmo tempo é importante que a escola – como um espaço projetado – valorize as aspirações humanas, como coloca Marin (2008), os relacionamentos, o crescimento individual, juntamente com o crescimento de forma

colaborativa. Por este motivo, os parâmetros de projeto escolar definidos por Nair; Fielding & Lackney (2013) vêm a auxiliar o projeto tendo em vista essas características (Tabela 7).

Tabela 7 - Parâmetros de projeto de Nair, Fielding e Lackney (2013) 1. Salas de aula, ambientes de ensino e comunidades pequenas de aprendizado

2. Entrada convidativa

3. Espaços de exposição dos trabalhos dos alunos 4. Espaço individual para armazenamento de materiais 5. Laboratórios de Ciências e Artes

6. Arte, música e atuação 7. Área de educação física 8. Áreas casuais de alimentação 9. Transparência

10. Vistas interiores e exteriores 11. Tecnologia distribuída

12. Conexão entre espaços externos e internos 13. Mobiliários confortáveis

14. Espaços flexíveis 15. Campfire Space 16. Watering Hole Space 17. Cave Space

18. Projeto para múltiplas inteligências* 19. Iluminação natural

20. Ventilação natural

21. Iluminação, cor e aprendizagem 22. Elementos de sustentabilidade 23. Assinatura local

24. Conexão com a comunidade 25. Banheiros como os de casa 26. Professores como profissionais

27. Recursos de aprendizado compartilhados e biblioteca 28. Proteção e segurança

29. Síntese dos parâmetros

*Considera-se que existem oito inteligências: verbal-linguística, lógico-matemática, musical, corporal-cinestésica, visual-espacial, naturalista, interpessoal, intrapessoal.

Os 29 parâmetros são baseados nos patterns de Alexander, Ishikawa e Silverstein (1977) que funcionam como soluções de problemas recorrentes, passíveis de serem aplicados incontáveis vezes sem nunca serem repetidos pela maneira de uso. Continuariam existindo, assim, características consideradas essenciais, mas estas seriam trabalhadas, nessa nova tipologia, a partir de conceitos mais abstratos, ao invés de soluções arquitetônicas (tanto de elementos de composição quanto de arquitetura) pré-estabelecidas. Esses parâmetros também podem ser vistos como orientações das características do objeto – no caso, a escola -, ainda durante o processo de projeto, e são respostas funcionais ao problema colocado (MOREIRA, 2007): a proposição de espaços educacionais que estejam de acordo com as necessidades dos alunos século XXI. Eles não mais se apresentam, para Nair, Fielding e Lackney (2013), nos

conceitos clássicos de salas de aulas e pátios abertos, mas sim relacionados às diversas modalidades de aprendizagem.

Ao trabalhar com os novos parâmetros de projeto, leva-se em consideração a importância de ambientes de ensino mais flexíveis e adaptáveis para usos que poderiam ser em um momento para aula tradicional/palestra e em outros para conversas em grupos ou prática de expressões corporais. Os espaços também podem ser reformulados a partir do conceito de parâmetros de projeto criando-se áreas casuais de alimentação (além do refeitório); espaços com tecnologia distribuída; locais para estudo individual ou introspecção como em cave spaces; elementos de assinatura local para cada edifício projetado, que façam dele único; learning

streets como substituição dos corredores passagem, entre diversos outros aspectos (Figuras 18 e 19). Este seria, talvez, a expressão de ideologia do século XXI.

Figura 18 - Perspectiva interna da Mesterfjellet School and Family Center (2014) - Larvik/Noruega

– CEBRA, SPINN Arkitekter, Various Architects.

Figura 19 - Mesterfjellet School and Family Center - Larvik/Noruega – CEBRA, SPINN

Arkitekter, Various Architects.

FONTE: Disponível em:

<http://www.archdaily.com.br/br/01-3326/fde-escola- parque-dourado-v-apiacas-arquitetos>. Acesso em 8 jun.

2016

FONTE: Disponível em:

<http://www.archdaily.com.br/br/01-3326/fde-escola- parque-dourado-v-apiacas-arquitetos>. Acesso em 8 jun.

2016.

Tratar essa tipologia do século XXI como algo inteiramente novo, porém, é inadequado. Muitos elementos, princípios, ou parâmetros aqui considerados vêm sendo utilizados há muito tempo na arquitetura escolar, e não deveriam desaparecer. Recomenda-se, porém, que estes precisam estar em constante modificação/renovação e adaptação de tal forma que respondam aos problemas da geração em que se encontram. Esse pensamento é o que os faz diferentes em essência e, por isso, parte de uma nova tipologia. Ornstein et al. (2009) acreditam que, por a escola ser um elemento de grande importância para a comunidade na qual está inserida, suas considerações e necessidades devem ser tomadas em conta para criar soluções adequadas ao contexto.

Ao entender que “[...] a arquitetura é realizada por e para pessoas [...]” (UNWIN, 2013, p.24) é possível perceber a importância da influência dos usuários. Nesse sentido, para fortalecer a conexão entre as decisões de projeto, objetivos educacionais e resultados reais alcançados, tem-se buscado levantar a satisfação dos usuários nos ambientes escolares construídos de modo a propor recomendações para intervenção, manutenção ou diretrizes para projetos futuros (ORNSTEIN et al., 2009). O objetivo, nesse caso, é realizar projetos escolares cada vez mais próximos às demandas da geração que utiliza as escolas no século XXI.