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Antes do ano de 2005, o Diário Catarinense não produziu fascículos especiais que abordassem especificamente a temática do turismo no município de Urubici34. A edição “A Força SC” (DIÁRIO CATARINENSE, 2005, p. 3), a temática geral da economia do Estado ganha importância para um trabalho em separado. Esse fascículo especial trata do “potencial econômico do Estado e do vigor produtivo de sua gente”. Ao todo, “A Força SC” foi formada por quatro publicações que exploravam temáticas como as das riquezas e

34 Ou os fascículo especiais do DC tratavam do turismo, mas referente a outras cidades do estado, tais como Florianópolis e o turismo de litoral, junto à edição Revista de Verão. Ou os fascículos que abordavam algum aspecto da cidade de Urubici, tratavam de questões distantes da temática trazida por essa dissertação, a exemplo da História dos Prefeitos dos Municípios Catarinenses.

dificuldades das regiões do Oeste, Meio-oeste, Serra, Sul, Grande Florianópolis, Norte e Vale do Itajaí. No fascículo “Serra, Meio-oeste e Planalto Norte”, que tratava da região onde se encontra Urubici, a cidade é descrita como uma região na qual os municípios descortinariam “um cenário de belezas naturais e de riquezas tiradas da terra com o suor de homens e mulheres do campo”. O turismo rural aparece nessa publicação e é colocado como atividade que conquistou seu espaço dentre outras atividades econômicas. Empreendedores são citados no jornal e indicados como sujeitos que festejavam resultados. Eles teriam aberto suas fazendas aos visitantes para poder mantê-las em seu funcionamento.

No ano de 2006, o Fascículo de destaque é “SC – A Terra da Diversidade”. Nessa ocasião, os leitores do Diário Catarinense teriam conhecido um pouco mais dos “heróis anônimos”, que “com pequenos atos e muita coragem, modificam a realidade para melhorar as condições de vida” (DIÁRIO CATARINENSE, 2006, p. 3). Aparece, para o leitor do DC, a história de “gente humilde que não desanima”, apesar de todos os limites impostos pela distância dos grandes centros, pela demora na chegada de investimentos, decorrente, por exemplo, da falta de acesso pavimentado. Essa edição especial foi “recheada” de histórias de transformação.

O diferencial que se pode marcar entre essa edição de 2006 e as outras é que, embora o turismo seja abordado, o foco da atenção do jornal está voltado para a população. O DC coloca-os como sujeitos, imigrantes, que chegaram ao estado de Santa Catarina para viver. Dentre as características desses personagens das histórias relatadas, é possível citar: “desbravadores da mata”, “que não se rendem às dificuldades que a região oferece” e ainda “transformam o meio em que vivem em fonte de renda”. No entanto, a partir do ano de 2007, a população local deixa de ser a protagonista das reportagens e passa a dividir o espaço discursivo do jornal com outras figuras, que seriam os moradores vindos de outros municípios ou estados que, em virtude do turismo e do entorno de belezas de Urubici, haviam se instalado lá. Aos poucos sai de cena o morador que, originário de Urubici ou do Estado de Santa Catarina, utiliza-se do turismo para sobreviver economicamente.

“O Melhor de SC” é a edição especial do Diário Catarinense para o ano de 2007. O fascículo (DIÁRIO CATARINENSE, 2007, p. 2) ficou responsável por apresentar “um pouco mais de homens e mulheres que formam o mosaico do que tem de melhor” o estado de Santa Catarina. Aqui aparecem também sujeitos como agricultores, empresários, artistas, educadores, “entre tantos famosos e anônimos”.

O fascículo que trata da “Serra” e do “Meio-Oeste” relaciona o sucesso da região à presença do turismo. Nessa edição, os municípios de Santa Catarina apresentavam destaques proporcionais à variedade de etnias no estado. Serra e meio-oeste esconderiam “adjetivos das mais variadas origens que revela um estado multifacetado”. As duas regiões seriam conhecidas pelo turismo. Nesse caso específico, seriam atraídos turistas interessados em hotéis-fazenda serranos, amantes da neve presente em São Joaquim e das curvas da Serra do rio do Rastro. Muito além do conjunto invejável de cenários e destinos turísticos, as regiões revelariam valores humanos notáveis, como a esperança e o empreendedorismo dos produtores rurais que diversificariam para manter a família. Em resumo, essa edição especial traria “a vida em municípios pródigos em belezas naturais, valores humanos e a força da economia”.

No ano de 2007, uma diferença fica marcada com relação às publicações anteriores. O DC publica uma edição especial falando do Turismo na Região da Serra Catarinense. Nesse momento, o turismo emerge como objeto do discurso. Nas outras edições especiais, a economia de um modo geral é o destaque das reportagens e o turismo aparece no escritos como mais um setor da economia e, nesse caso específico, em ascensão. A partir do ano de 2007, o DC passou a publicar e difundir pelo estado a Revista de Inverno. Nela cabem somente os temas que seriam importantes ao turismo nacional e estrangeiro. Desse modo, o foco não é mais uma descrição das atividades em municípios e regiões. Os segmentos e os roteiros turísticos ganham especial destaque, a saber, Turismo de Inverno, Turismo de Aventura, Ecoturismo, Turismo Gastronômico, Turismo Cultural.

As publicações especiais do DC, no ano de 2008, não tiveram relações de continuidade com as publicações dos anos de 2005, 2006 e 2007. Neste ano, o Diário Catarinense não publica nenhum especial falando sobre economia. Houve uma “tendência” de seguir o movimento iniciado em 2007, o de escrever sobre o turismo no estado de Santa Catarina. Esse ano acaba por marcar a regularidade da Revista de Inverno, que haverá de se repetir no ano de 2009. Os temas trabalhados nas edições dos dois últimos anos não fazem referência aos aspectos econômicos do turismo, colocando-o como uma atividade que geraria melhoria da qualidade de vida da população. Emerge, com essa ruptura, outro tipo de enunciado. Aparecem como destaque, nas páginas do jornal, características desse novo enunciado que são relativas ao turismo, mas a partir de uma perspectiva de turismo segmentado;

perspectiva, a propósito, que já era evidente na edição da Revista de Inverno do ano de 2007.

A análise dos discursos do editorial do jornal faz observar que o turismo emerge para o discurso econômico do estado de Santa Catarina por meio do enunciado da diversidade. Na primeira edição, em que a pesquisa se desenvolve, a do ano de 2005, o turismo não se encontra presente, mas, a partir da edição do ano de 2006, o conceito de diversidade atrelado à racionalidade econômica passa a ser mais presente. De início, diversidade faz referência à geografia física do estado, para então ser colocada como uma característica da “gente” que compõem as também diversas regiões do estado catarinense. Em 2007, uma figura que emerge é a do mosaico, referente à população, em suas diversas origens migratórias. O turismo emerge como acontecimento discursivo nas notícias do DC, na medida em que opera a diversidade das atividades econômicas desenvolvidas no estado e, com isso, produz a diversificação da renda familiar. Nos dois últimos anos da primeira década de 2000, o turismo vai ser produzido como uma atividade diversificada. A promoção do turismo passou a ser realizada por meio da difusão de segmentos turísticos implicando para a atividade turística o enunciado da atividade que, para atrair, precisa diversificar.

Foi possível observar também alguns objetos que saíram de cena e outros que passaram a integrar os espaços das reportagens do DC. Por exemplo, a economia do Estado estava muito atrelada aos espaços da agricultura e da pecuária. Nesses espaços, atuavam a população local, imigrantes que haviam chegado ao estado há mais de meio século e diante de adversidades haviam conseguido sobreviver. O espaço da agropecuária é o espaço da sobrevivência, da luta. Com o passar dos anos, no entanto, o que se percebe é uma mudança no campo discursivo, na medida em que a problematização do turismo começa a operar compondo discursos. Novos instrumentos emergem e, com isso, novas discursividades. O que se percebe é o estado da diversidade, como já foi pontuado, produzido por meio de recursos naturais. Os sujeitos das histórias contadas chegaram ao estado não mais para sobreviver, mas para diversificar a renda da atividade econômica. Em geral, emergem os empreendedores, gente com o olhar para o futuro. O espaço do turismo envolve estabelecimentos comerciais, redes de hospedagem. É com essa perspectiva, que o turismo entra em cena.

4.2 O PROCESSO DE EMERGÊNCIA DE UM DESTINO