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O PROCESSO DE EMERGÊNCIA DE UM DESTINO TURÍSTICO

Urubici, no ano de 2005, era um município com atividades ligadas à natureza, com “receitas” de sucesso advindas tanto da agropecuária como da atividade turística (DIÁRIO CATARINENSE, 2005). Sua economia era baseada na agricultura, e a cidade era conhecida como Terra das Hortaliças e do Ecoturismo. Embora toda a reportagem fale de um turismo incipiente e ainda destaque a produção de hortaliças da cidade, o turismo já aparecesse como fonte de renda local. No município, era significativa a produção de frutas, dentre elas a maçã. Em pequenas propriedades, havia o cultivo de mel, batatas, feijão, milho. Nos anos anteriores a 2005, as plantações de pinus teriam avançado sobre a mata nativa. O IBAMA surgia como órgão de regulação para o avanço do desmatamento. O turismo era uma das fontes de renda e movimentava a economia da cidade e da região, principalmente nos meses de frio. Em 2005, o tema da neve aparece como atrativo ao turismo no município.

Naquele ano, o DC indicava que a cidade de Urubici já tinha bons hotéis e pousadas. Alguns empreendimentos praticavam o turismo rural e além destes, o Parque de Exportações Manoel Pra tinha infraestrutura para camping. As estradas de Urubici apresentavam placas de orientação para preservação da natureza. Naquele ano, a Gastronomia recebia destaque no Diário Catarinense (2005) por ser um dos orgulhos da cidade. Pratos à base de pinhão, churrasco, feijão tropeiro e doces caseiros eram especialidades que tinham atenção. A preferência entre os turistas era a truta, peixe cultivado na região, apreciado de forma grelhada ou defumada.

No que diz respeito aos principais atrativos turísticos, em Urubici, figuravam acidentes geográficos e acontecimentos históricos do município. O Morro da Igreja, o ponto mais alto do sul do Brasil, com 1.828 metros acima do nível do mar, era um dos pontos mais visitados de Urubici. Outro atrativo importante era a Cascata do Avencal, com 100 metros de queda livre (Figura 7). Outras cascatas de apelo turístico eram a Cascata do Morro da Igreja, com 50 metros de altura, e a Cascata Rio dos Bugres, com 100 metros de queda d’água. A Serra do Corvo Branco era um “verdadeiro espetáculo de beleza do lugar” além de atração para os aventureiros.

Figura 7 – Cascata do Avencal, Urubici, SC, Brasil. Fonte: Radar Sul (2010a).

Para além dos atrativos de natureza, na produção do turismo em Urubici, estão presentes as cavernas indígenas com inscrições rupestres de mais de quatro mil anos de idade. Mas também um instrumento discursivo é a Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, construção em estilo moderno e uma das maiores do estado. A nomeação do município emerge ligada à história dos silvícolas da cidade: uma índia haveria apontado a um companheiro chamado Bici, um “Uru”, pássaro lustroso em linguagem nativa.

Urubici, na edição “SC – A terra da diversidade” (DIÁRIO CATARINENSE, 2006, p. 80), é a “terra das hortaliças”, mas também lugar de “belas paisagens”, de reservas ecológicas e de um “excelente potencial turístico”. Embora, no Diário Catarinense, ainda se destaque na produção de hortifrutigranjeiros.

Na edição do ano de 2006, o município é produzido na relação que pode estabelecer com o continente europeu. Estão em jogo, na constituição desse enunciado referente à Urubici, elementos discursivos como estar localizado no ponto mais elevado do estado e apresentar uma das temperaturas mais baixas do Brasil. Por compor a Serra Catarinense, Urubici aparece como o único lugar do país em que neva todos os anos, “mesmo que por poucos dias” (DIÁRIO CATARINENSE, 2006, p. 80). A presença das baixas temperaturas no local aparece relacionada com a criação o turismo rural, o que levou a que os moradores locais

adaptassem “suas fazendas centenárias para receber hóspedes curiosos em ver a neve de perto”. Esse jogo discursivo, no qual Urubici está inscrito, evidencia uma problematização referente à prática turística presente, mesmo quando o município ainda é colocado como “Terra das Hortaliças”. A edição especial do DC do ano de 2005 aborda dois tipos de racionalidade presentes no município: o turismo que, aos poucos, vai constituindo o principal modo de discurso sobre o município e a problematização em torno das hortaliças que, com o passar do tempo, perde característica de nomeação do município.

No tocante à população, a edição de 2006, assegura que ela teria respeito pelas suas terras. Isso seria perceptível pela preservação do local, a exemplo das cascatas.

A Pedra Furada (Figura 8) aparece como ponto turístico de destaque. Tem o formato de uma janela e na edição de 2005 (DIÁRIO CATARINENSE, p. 87) é produzida como uma “escultura natural”. É também considerada o meio a partir do qual haveria um elo entre a “formação rochosa” e as “matas nativas preservadas”.

Figura 8 – Pedra Furada, Urubici, SC, Brasil. Fonte: Radar Sul (2010b).

No Diário Catarinense do ano de 2006, emerge uma figura, um acontecimento discursivo. A profissão de Guia de turismo aparece, é atribuída a um morador da cidade e exercida de modo informal. Nessa reportagem, o jornal trata do que é considerado “Guia Agricultor”.

Morador das margens da estrada do Morro da Igreja, em Urubici, seu trabalho era o de acompanhar visitantes e turistas de fora da cidade ao pico estratégico a mais de 1.828 metros de altitude. A família cultivava hortaliças, uma das principais atividades da cidade. No entanto, em 2006, o preço das hortaliças havia caído muito e a produção de maçã havia salvado os agricultores. Há nessas ocasiões, e particularmente a partir da década de 1990 (CÔRREA & GIRARDI), a passagem de problematizações centradas na economia das hortaliças para uma economia centrada na maleicultura, na produção de maçãs.

A maçã figurava entre as formas alternativas de cultivo dos agricultores a fim de diversificar a produção. Indicava que a economia, aliada ao tema da problematização em torno das Hortaliças, atuava, em Urubici, junto à problematização e economia das Maçãs. Mas, quando o plantio da maçã não era suficiente, os agrofruticultores arrendavam suas terras aos apicultores do sul do Estado. Isso acontecia principalmente nos meses de frio, já que é um período desfavorável ao plantio das hortaliças. A neve e a geada, no entanto, atrapalhavam a produção. O trabalho de guia nessa reportagem emergia como uma terceira forma de aumentar a renda familiar. No ano de 2006, a racionalidade turística, emerge como uma terceira possibilidade de renda ao munícipe urubiciense. Estava presente no quadro da economia do município, mas em consonância e na dependência de outras atividades.

Na edição de 2006 (DIÁRIO CATARINENSE, p. 80), o jornal menciona a tendência de que a cada ano o número de turistas em busca de frio e neve é “muito maior”. Para os produtores rurais, a neve atrapalharia, mas, em compensação, configurava o principal atrativo turístico em Urubici.