• Nenhum resultado encontrado

ARTE E EDUCAÇÃO FÍSICA, E A DANÇA, ENTRAM NA UNIVERSIDADE

SUMÁRIO

A DANÇA NAS DISCUSSÕES SOBRE CULTURA 161 1 “A dança como manifestação artística que tem presença

5. ARTE E EDUCAÇÃO FÍSICA, E A DANÇA, ENTRAM NA UNIVERSIDADE

No processo inicial de escolarização, século XIX, os professores eram selecionados dentre as pessoas que sabiam ler, escrever e fazer contas, e que apresentavam boa conduta moral. Saber ler, escrever e contar eram bases fundamentais para o ensino escolarizado, porém, no caso da matéria de ginástica, era necessário um instrutor, professor, que tivesse um outro campo de conhecimento e experiência: as exercitações, assim como para o ensino dos meninos, as evoluções militares. Os professores de ginástica foram pessoas que realizavam exercícios físicos e militares, e que assumiam a importância da formação física e se ocuparam do seu ensino nas escolas (ROSA, 2001; VAGO, 2002).

Para o ensino do desenho e do canto, essas exigências foram, em pouquíssimos casos, suprimidas pelos artistas que se formavam na Escola de Belas Artes. Mas na maioria das escolas, foram as pessoas comuns que tinham alguma aproximação com o canto, o desenho e os trabalhos manuais que se responsabilizaram por seu ensino (BARBOSA, 1978).

Importante ressaltar, que essas matérias, mesmo quando constavam da estrutura educacional, não previam a contratação de um profissional específico. Nas propostas de ensino dos grupos escolares, recomendava-se que as

professoras de cada turma assumissem essa função e dessa forma dessem conta de todas as matérias sem distinção.

Vale destacar que até hoje ainda existem relatos nas redes municipais e estaduais, especialmente no interior do país, de que há pessoas de diferentes formações ou sem formação nenhuma, atuando no ensino de educação física e de arte. São ex-atletas, professores com outras formações que têm carga horária excedente, curiosos, artistas da vizinhança, “boleiros”, membros de grupos de jovens ou escoteiros; tem sempre alguém apto a ocupar a vaga da bola ou do lápis de cor.

A educação física iniciou sua formação de professores em escolas militares, provisórias e especiais, com cursos em escolas de esgrima, da força policial, dentre outras, até que em 1925 foi criado o Centro Militar de Educação Física - CEMEF, no Rio de Janeiro. E em 1931 iniciou o processo de descentralização da formação de professores, para a formação de professores em escolas civis, mas ainda com professores de formação militar sob sua referência. Em 17 de abril de 1939 foi criada a Escola Nacional de Educação Física e Desportos - ENEFD, na Universidade do Brasil, através do Decreto Lei nº 1.212, tendo sido apresentada por Gustavo Capanema, que destacou a necessidade da formação de professores da área e disse à época:

É preciso também, e sobretudo, que existam professores, não professores quaisquer, improvisados no preparo e errados no saber, pois estes, ao invés de aprimorar a infância e a juventude com a educação física, com esta não raro lhes levam à deformação ou à lesão irreparável, mas ao contrário professores instruídos, possuidores da ciência e da técnica dos exercícios físicos, e capazes de os empregar como meios eficientes de melhorar a saúde e dar ao corpo solidez, agilidade e harmonia (MARINHO, 1943, p.355).

No caso da arte, excetuando a Escola de Belas Artes, só houve o reconhecimento de um curso superior na década de 1970, mais de trinta anos depois do movimento da educação física em nosso país. No entanto, aulas de arte

e de educação física puderam ser reconhecidas nos programas de educação de diferentes Estados.

Porém, foi com a Constituição de 1937 (BRASIL, 1937) que se registrou a primeira referência à educação física e a arte, no Art. 131 - A educação física, o ensino cívico e o de trabalhos manuais serão obrigatórios em todas as escolas primárias, normais e secundárias, não podendo nenhuma escola de qualquer desses graus ser autorizada ou reconhecida sem que satisfaça aquela exigência. A arte dos trabalhos manuais e a educação física aparecem como constituintes do processo de escolarização.

Nesse período em que foi apresentada a obrigatoriedade da educação física e dos trabalhos manuais, são identificados pouquíssimos trabalhos que se baseiam na realidade das práticas pedagógicas nas salas de aulas, nas histórias de suas disciplinas escolares, para conhecer como se efetivou, ou não, essa obrigatoriedade, ou como as escolas buscaram atendê-las, com que profissionais, e que conhecimentos foram apresentados nas escolas23.

Passados mais de vinte anos, foi elaborada a primeira Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional - LDB, em 1961 (BRASIL, 1961), na qual, no Título dos Sistemas de Ensino, Art. 122, vê-se o reconhecimento da obrigatoriedade da prática da educação física nos cursos primário e médio, até a idade de 18 anos. E o Decreto Lei nº 705 de 1969 caracterizou sua obrigatoriedade em todos os níveis e ramos de escolarização, com predominância esportiva no ensino superior.

No caso da arte, sua presença também se deu, quando de sua indicação, no ensino primário, para o desenvolvimento da expressão das crianças, sendo

23 No caso da arte, recomendo a leitura da dissertação: PEREIRA, Denise P. Que arte entra na escola

através do currículo? Entre o utilitarismo e a possibilidade de emancipação humana pela arte, nos

programas de 1928 e 1941, na Escola Nova em Minas Gerias. 2006. 157 p. Dissertação (Mestrado em Educação). Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006.

recomendado o uso de técnicas de artes aplicadas adequadas a cada sexo e idade. Essa compreensão acompanha o movimento da Escola Nova, no qual há a recorrência da arte como possibilidade educativa, pois a mesma está ligada a um processo de “criatividade natural”.

Nesse movimento da década de 1960, os cursos de formação de professores davam seus passos para responder às necessidades de formação das escolas em expansão. Os cursos de formação em educação física acompanharam esse processo, ampliando seu número significativamente na década de 1970. Na década anterior, o Conselho Nacional de Desportos, órgão criado para organizar o desporto nacional, anunciou que existia uma defasagem de professores de educação física, e que o número ainda não atendia à demanda criada nas escolas de primeiro e segundo graus, estando as vagas dessas escolas sendo ocupadas por autodidatas, ex-campeões esportivos, instrutores militares, leigos etc. (FIGUEIREDO, 2001). Os cursos superiores de educação física, por sua vez, tinham em sua base características de curso técnico, com privilegio para as disciplinas das áreas biológicas e uma forte base técnico-desportiva.

A arte, no entanto, ainda não possuía curso superior; porém, teve sua formação parcialmente atendida, sob a referência da Escolinha de Arte do Brasil, criada pelo artista Augusto Rodrigues24 na cidade do Rio de Janeiro, em 1948. Esta tinha como atributo ser um espaço caracterizado como um ateliê, onde o desenho e a pintura eram livres para experimentação das crianças (BARBOSA, 1978; SANTANA, 2000).

As Escolinhas de Arte do Brasil expandiram-se para outras regiões do país, pois se configuravam como um espaço de formação de professores que influenciou grande parte das práticas pedagógicas das escolas primárias e

24

Augusto Rodrigues, nascido em 1913 em Recife/PE, foi educador, pintor, desenhista, ilustrador, fotografo, poeta. Funda em 1948 a Escolinha de Arte do Brasil e nela desenvolveu inúmeros trabalhos referentes ao campo da arte. Faleceu em 1993 em Resende/RJ.

secundárias no Brasil. E com a implantação da LDB de 1961 houve o incentivo das práticas artísticas nas escolas; para tal, "firmaram-se convênios com secretarias de educação e outros órgãos públicos", visto que a "Escolinha era a única instituição habilitada para a formação dos arte-educadores" (SANTANNA, 2000, p.79).

Foi com a Lei de Diretrizes e Bases para o Ensino de 1º e 2º graus, Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971 (BRASIL, 1971), que a disciplina de educação artística tornou-se obrigatória na escola, e se reiterou a obrigatoriedade da educação física. Diz em seu Art. 7º - Será obrigatória a inclusão de Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde nos currículos plenos dos estabelecimentos de lº e 2º graus, observando quanto à primeira o disposto no Decreto-Lei nº 369, de 12 de setembro de 1969.

A inserção da educação artística como disciplina obrigatória no ensino de 1º e 2º graus foi festejada pelos pioneiros da Arte-Educação. Porém, essa decisão gerou um quadro que não fora pensado pela política pública de formação, uma vez que não havia escolas de ensino superior em arte, e consequentemente não havia professores formados para atuar nas escolas de 1º e 2º graus.

De tal modo que "os novos professores compulsórios" de educação artística correram às Escolinhas de Arte em busca de orientação (BARBOSA, 1978, 1988). E esse processo só foi alterado quando o Conselho Federal de Educação – CFE, reformulou os cursos existentes em artes criando a Licenciatura em Educação Artística e suas habilitações em 1973 25.

25

Até então só havia legislação para os cursos de música, teatro e dança em nível superior. Mesmo não existindo curso de formação de professores de educação artística em nível superior, observa-se que as expressões artísticas já estavam presentes nas universidades. Em 1960, a Lei nº 3.857 cria a Ordem dos Músicos do Brasil e dispõe sobre a regulamentação da profissão de músico; em 1964, a Portaria nº 63 cria o curso de Professor de Educação Musical; em 1965, a Lei nº 4.641 dispõe sobre os cursos de Teatro e regulamenta as categorias profissionais correspondentes; em 1971, o Parecer CFE nº 641 dispõe sobre o currículo mínimo do curso de

Foi com a Indicação nº 23, de 6 de fevereiro de 1973, do CFE, que se estabeleceu a orientação para os cursos de licenciatura, podendo os mesmos ser ministrados com duração curta ou plena, o que atendia a uma demanda de emergência daquele momento e que caracterizou a maioria dos cursos como licenciatura curta, frente à grande necessidade de formação superior no país.

Esta indicava que os estudos superiores destinados à formação de professores para as atividades, áreas de estudo e disciplinas de educação geral, no ensino de 1º e 2º graus, compreendiam três campos de conhecimentos, sendo eles:

1. Campo de Ciências - Cursos: Ciências, Matemática, Física, Química, Biologia;

2. Campo de Estudos Sociais - Cursos: Estudos Sociais, Geografia, História, OSPB, Educação Moral e Cívica;

3. Campo de Comunicação e Expressão - Cursos de Letras: Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna, Língua Clássica; Cursos de Educação Artística: Música, Artes Plásticas, Desenho, Artes Cênicas; Cursos de Educação Física: Ginástica e Atletismo, Técnica Desportiva, Recreação (CFE, 1973).

Desse modo, os cursos de educação física e educação artística foram inseridos no campo denominado Comunicação e Expressão. Inseridos no mesmo campo do ensino das línguas, com a noção de comunicação e expressão mediando essas áreas.

A Resolução do CFE n.º 69 de 1969, fixou os conteúdos mínimos e a duração dos cursos de educação física, o que deu sinais para se pensar numa licenciatura, bem como o local de sua inserção, a escola; mas foi a formação técnica seu maior alvo. O curso de graduação conferia o título de Licenciado em Educação Física e Técnico em Desportos, tendo carga horária mínima de 1.800 horas-aula e duração de 3 a 5 anos. Apresentou um currículo mínimo formado por Dança, existindo apenas um curso de dança sendo realizado na UFBA. Ver: SÃO PAULO. Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Educação e Ensino Artísticos: legislação básica (federal e estadual). São Paulo: SE/CENP, 1984.

matérias básicas, matérias profissionais e matérias pedagógicas. Neste currículo, uma das matérias profissionais será denominada de Rítmica. Destaco esta matéria por reconhecer que essa será a primeira entrada oficial da dança na formação em educação física, pois seu programa apresentava as danças tradicionais ou populares como conteúdo, bem como questões ligadas ao ritmo.

A Resolução nº 23 do CFE de 1973, fixou os Cursos de Educação Artística, que tinham como objetivo formar professores para as atividades, áreas de estudo e disciplinas do ensino de 1º e 2º graus relacionados com o setor de arte. Seu currículo apresentava uma parte comum a todas as habilitações e outra diversificada para as habilitações específicas: Artes Plásticas, Artes Cênicas, Música e Desenho. Na parte comum do currículo: Fundamentos da Expressão e Comunicação Humanas, Estética e Historia da Arte, Folclore Brasileiro, Formas de Expressão e Comunicação Artística. E na parte diversificada, referente à habilitação em Artes Cênicas: Evolução do Teatro e da Dança, Expressão Corporal e Vocal, Encenação, Cenografia, Técnicas de Teatro e Dança. Destaco as disciplinas do currículo comum por terem, fortemente, a concepção de comunicação e expressão em sua base, e a habilitação em artes cênicas por ser em seu interior que a dança apareceu.

Importante destacar que o primeiro curso de dança do Brasil foi criado no ano de 1956 com a instalação da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia. Esse curso nasceu em um movimento de resistência à idéia de polivalência defendida pelo Governo Federal, desde a inserção da arte no ensino superior. No processo de consolidação do curso, houve inicialmente a formação em Dançarino Profissional e Magistério Superior correspondente à licenciatura, ambos aprovados em 1961, mas apenas em 1970 este último será designado Licenciatura em Dança.

Na década de 1990 ampliaram-se as discussões e processos de reformulações dos currículos das instituições de ensino superior, tomando como referência parte das discussões apresentadas pelos estudos acadêmicos. Esses estudos tiveram uma grande contribuição dos programas de pós-graduação já efetivados em arte e educação física em nosso país. O Brasil teve sua pós- graduação potencializada na década de 1970, período em que a educação física e a arte deram seus primeiros passos de inserção na mesma.

Na área de arte, a pós-graduação stricto sensu iniciou em 1976 na Universidade de São Paulo. Para Barbosa (1984, p.18) é necessário destacar que

Estudantes de pós-graduação da Universidade de São Paulo, em cumplicidade com alguns clarividentes professores da área teórica, praticamente forçaram a criação de cursos de pós-graduação em arte- educação (artes plásticas, teatro) no programa de pós-graduação em teatro, cursos esses oferecidos alternadamente desde 1976.

As produções da década de 1980 e 1990 sobre formação em arte apontavam para uma discussão mais aprofundada sobre a polivalência26, pois apesar da mesma já estar superada nos documentos legais, ainda se fazia presente nas salas de aula. Destacando a necessidade de refletir sobre o profissional licenciado em arte como artista, ou seja, pensar a relação do bacharelado e da licenciatura como uma necessidade de formação de todo professor. Ainda, estava presente a concepção de ensino de arte como uma expressão pessoal, ato artístico-criativo, muito comum nas salas de aula em que a arte fazia-se presente, bem como uma atividade decorativa, que é convidada a compor festas e comemorações das escolas (BARBOSA, 1984; BIASOLI, 1999; SANTANA, 2000).

26

Esse tema da polivalência vem desde a década de 1970 merecendo inúmeros debates e até hoje ainda se faz refletir nas políticas públicas, nas formações, nas práticas pedagógicas escolares. Assim, merecerá nossa atenção em outros momentos deste trabalho.

E como questão central, tem-se: O que é ser professor de arte no Brasil? Que vai ser respondida em um livro que pretendeu ser uma base metodológica para professores de arte27:

É atuar através de uma pedagogia mais realista e mais progressista, que aproxime estudantes do legado cultural e artístico da humanidade, permitindo, assim, que tenham conhecimento dos aspectos mais significativos de nossa cultura, em suas diversas manifestações (FUSSARI e FERRAZ, 1993, p.49).

Refletindo sobre o modelo de prática pedagógica e as distorções na formação do professor de arte, Biasoli28 defende:

Acredito - e mesmo afirmo - que a mudança inicial deve se basear na reflexão sobre a concepção de arte e de ensino de arte, considerando que: a) a arte é uma área específica do conhecimento humano, entendida não só como fazer, exprimir, mas conhecer; b) o ensino de arte deve capacitar a apreensão e a análise da realidade, possibilitando mudanças na realidade apreendida. Daí a construção da arte por meio de seu ensino (BIASOLI, 1999, 203).

Na educação física, o primeiro programa stricto sensu foi criado em 1977 na Universidade de São Paulo. As produções da área sobre a formação apontavam, desde 1983, a necessidade de repensar a educação física e o papel de seus profissionais; de superar a formação a-crítica, a-histórica e a-científica, refletindo sobre o seu compromisso social e político e não apenas técnico; buscar uma formação generalista e não especialista (MEDINA, 1983; FENSTERSEIFER, 1986; CARMO, 1987; FARIA JÚNIOR, 1987; TAFFAREL, 1993).

São inúmeros os debates sobre os avanços e retrocessos dessas áreas, e essas discussões chegam a ficar explícitas na formulação da atual Lei de Diretrizes e Base, nº 9.394 de 199629. No que diz respeito à arte e à educação

27

FUSARI, Maria F. de Rezende e FERRAZ, Maria Heloisa. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1993.

28

BIASOLI, Carmen L. A. A formação do professor de arte: do ensaio... à encenação. Campinas: Papirus, 1999.

29

Essa lei teve contribuições de diferentes organizações acadêmicas, políticas etc. Essas contribuições fizeram-se presentes em seu debate durante um longo tempo, confrontando

física, suas deliberações foram inseridas no Capítulo II - Da Educação Básica, no Art. 26, conforme já citado anteriormente; porém, no que se refere à educação física o § 3º original era: § 3º. A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos (BRASIL, 1996).

Após a publicação desse texto legal, a educação física teve seu texto retificado duas vezes. A primeira após a mobilização dos profissionais da área, por não constar no texto legal a caracterização de sua obrigatoriedade, que teve na Lei nº 10.328, de 12 de dezembro de 2001, a inserção da palavra "obrigatório" no texto oficial.

Em 2003, com a Lei nº 10.793 de 1º de dezembro, acrescentou-se uma listagem de facultatividade da educação física, exprimindo uma concepção de educação física como atividade física, conforme apresentado no início deste capítulo.

Enquanto para a arte foi um passo significativo estar presente em uma legislação como componente curricular obrigatório que constitui o desenvolvimento cultural dos alunos, já que isso encerra um "[...] conflito sobre a tão esperada permanência da arte na educação brasileira e, conseqüentemente, sobre sua importância na formação básica do cidadão" (BIASOLI, 1999, p.81), para a educação física foi preciso recorrer a um movimento para buscar a sua explícita obrigatoriedade.

Infelizmente essa discussão apresentou avanços e retrocessos, pois com a entrada da palavra obrigatoriedade vieram as facultatividades, num movimento de perspectivas; porém, as forças políticas da época foram definidoras na finalização do documento oficial (DEMO, 1997; SAVIANI, 1997).

profundo retrocesso para a área e trazendo à tona, mais uma vez, a compreensão de um componente curricular que tem na aptidão física sua referência. Por isso os trabalhadores, os maiores de trinta anos, as mães e os militares estarão dispensados, visto que os mesmos já realizam trabalho físico intenso ou não podem executá-lo. Esta discussão ainda está em aberto, com um movimento de educadores que buscam retirar as facultatividades do texto legal, no sentido de ampliar a discussão acerca da perspectiva da educação física como área de conhecimento.

Estudos da educação física e da arte indicam uma preocupação com o fato de que os avanços oriundos dos debates acadêmicos estão longe de se tornar presentes na realidade educacional, quer dizer, “no chão da escola” ou das universidades. Os enfrentamentos no campo das discussões, que definem as orientações para as áreas, demonstram a presença de perspectivas retrógradas. O que para Santos Júnior30 é passível de considerar:

Neste percurso, pouco ou quase nada parece ter modificado no processo de formação de professores de Educação Física. As aparências insistem em dizer que mudou tudo para deixar tudo exatamente como antes. [...] Tudo como um velho filme a passar de maneira monótona e insistente, mudando apenas os nomes dos lugares (SANTOS JÚNIOR, 2005, p.18).

Acredito que esse velho filme se repete. Porém, penso que o movimento de reflexão dessas áreas aponta para possibilidades de superação que se expressam não só em práticas pedagógicas mais comprometidas nas escolas, mas também em processos de formação que dão pistas de ampliação das possibilidades de formação comprometidas com o conhecimento social significativo.

No campo da formação profissional em educação física, é possível perceber, com o mesmo autor, que os alunos:

30

SANTOS JÚNIOR, Cláudio Lira. A formação de professores em educação física: a mediação dos parâmetros teórico-metodológicos. 2005. 196 p. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2005.

[...] chegam aos últimos períodos de sua formação com, no geral, as mesmas incertezas que vivenciamos no início da década de 90 do século passado: A) fragilidade de ordem conceptual quanto a nossa área