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ESCOLA DE DANÇA: PIONEIRISMO NO BRASIL

SUMÁRIO

A DANÇA NAS DISCUSSÕES SOBRE CULTURA 161 1 “A dança como manifestação artística que tem presença

3. AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR PESQUISADAS E SEUS PROJETOS PEDAGÓGICOS

3.1. UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA: AQUI NASCE A PRIMEIRA ESCOLA DE DANÇA DO BRASIL AQUI O DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

3.1.1. ESCOLA DE DANÇA: PIONEIRISMO NO BRASIL

A Universidade Federal da Bahia, fundada em 1946, teve em sua constituição a Academia de Belas Artes, instituída em 17 de dezembro de 1877, sob a orientação de Miguel Navarro y Cañizares46, tendo como espaço o atelier de seu fundador em sua residência. Sua sede foi instalada em 1948, quando já se

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Pró-Reitoria de Planejamento e Administração/UFBA. Perfil Sócio-Econômico dos candidatos inscritos e classificados no concurso vestibular da UFBA. Salvador, 2005. Disponível em: <http://www.proplad.ufba.br/>.

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Miguel Navarro Cañizares foi um pintor valenciano, nascido em 1834, que chega ao Brasil, em meio a muitas viagens, e começa a dar aulas no Liceu de Artes e Ofícios da Bahia em 1876. Faleceu em 1913 no Rio de Janeiro.

incorpora à UFBA, dando espaço à formação nas linguagens artísticas. Acredita- se que esta escola foi um projeto visionário do primeiro Reitor da UFBA - Edgard Santos, visto que

[...] pareceu ser um projeto utópico para muitos baianos. Ao investir na formação profissional e produção de arte e cultura, a UFBA criou na Bahia um terreno estimulante de grande efervescência cultural, como que antevendo profundas transformações que ocorreriam na arte e na cultura brasileiras na década seguinte (UFBA. Escola de Dança, 2004, p.3).

Pouco tempo depois foi criada a Escola de Dança da UFBA, em 1956. Essa escola pioneira no Brasil se manteve durante décadas como a única na formação em dança no ensino superior. Como centro de formação, difusão e produção de conhecimento artístico em dança, ganhou visibilidade nacional e internacional, tendo em seu corpo discente e docente nomes de grande referência até hoje, tendo formado inúmeros professores que atuam no cenário nacional e internacional.

Inicia com o Curso de Magistério Elementar - Formação do Dançarino Profissional, e Magistério Superior, denominado posteriormente de licenciatura. Nos anos 70, com a LDB de 1971 que assinala a necessidade de formação específica em educação artística, a Escola de Dança não criou cursos de licenciatura em educação artística, e sim o curso de licenciatura em dança, que já vinha sendo desenvolvido. Configura, ao longo dos anos, o seu perfil acadêmico com duas possibilidades de habilitação: Licenciatura em Dança e Dançarino Profissional.

A data de início de funcionamento do seu primeiro curso é 06 de março de 1956, tendo sido reconhecido pelo Parecer nº 167 do Conselho Federal de Educação em 27 de dezembro de 1962.

Com a reforma universitária instalada no ano de 1971, a dança teve regulamentados seus currículos através da Resolução s/n, de 19 de agosto de 1971, que deu a base de sustentação ao curso. Ao longo desse tempo são reconhecidas pequenas alterações realizadas no ano de 1994, referentes à ampliação de carga horária e acréscimo de disciplinas optativas, permanecendo, segundo a própria escola, durante 27 anos sem alterações significativas.

Num movimento de refletir sobre as insatisfações apontadas pelo corpo docente e discente ao longo destes anos, a Escola de Dança vem, desde 2000, repensando seu projeto curricular e pautando duas questões:

1. a inadequação e discrepância observada entre formação acadêmica e mercado vigente de atuação profissional em dança; e

2. a constatação de dissonâncias entre correntes de conhecimento e tendências filosófico/estéticas contemporâneas e os fundamentos filosóficos que permeiam a atual estruturação curricular (UFBA. Escola de Dança, 2004, p.5).

A Escola de Dança também foi pioneira na criação do primeiro Mestrado em Dança do Brasil, iniciado em março de 2006 e atualmente com duas linhas de pesquisa: Estudos de processos e Estudos de configurações (programa com nota 4 na avaliação da CAPES).

Uma nova proposta pedagógica para o Curso de Dança

O novo projeto ganha forma e é aprovado em 2005 pela Câmara de Ensino e Graduação do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFBA, em atendimento à Resolução nº 05/2003, que define novas Diretrizes Curriculares Nacionais - SESU/MEC, em substituição aos currículos mínimos nacionais. Ao obter a aprovação da reforma curricular de sua unidade, o novo projeto foi implantado em 2005 num processo de rediscussão curricular que muitas instituições de ensino superior brasileira vinham passando.

No seu projeto, propõe-se repensar a educação tomando como foco a complexidade da contemporaneidade. Refletindo sobre o papel da universidade, a Escola de Dança da UFBA (2004, p.9) diz que:

A nossa crença é que será destas Universidades como instâncias formativas, produtivas e transformadoras, incluindo as escolas de arte, que surgirão profissionais mais críticos, informados, criativos e capazes de refletir, contextualizar e, sobretudo, que responsabilizem-se com sistemáticas avaliações de processos de ensino-aprendizagem e que garantam o desdobramento necessário, através da implementação de mudanças e atualizações políticas e práticas educacionais.

Em continuidade, pretende refletir sobre a dança a partir da sua "re- significação", na qual a visão de corpo e mente ainda é tradicionalmente representada. Tomando Edgar Morin como referência reconhece que:

[...] o ser humano é um organismo integrado em suas diferentes funções, propriedades e dimensões de vida, percepção e compreensão de si e do mundo. Reconhecido pela ciência, esta nova concepção do corpo/mente, que rompe com o pensamento fragmentado e com a noção de instâncias estanques de atuação humana, pode ser adotada como um fundamento básico de orientação, estruturação e concepção da práxis pedagógica da dança. Uma mudança de perspectiva nesse nível certamente afetará estruturas, conteúdos e métodos, tradicionalmente utilizados no ensino artístico (UFBA. Escola de Dança, 2004, p.10).

Ao apresentar a dança, adota como referência os estudos de Isabel Marques, apontando uma pedagogia da dança baseada no contexto e não na disciplina, na qual a realidade cultural dos alunos seja o alicerce para a organização de seus conteúdos pertinentes. Este projeto tem por objetivo:

[...] a capacidade de com sensibilidade e flexibilidade, equacionar estes três centros de orientação: o aluno (na perspectiva do cidadão, do artista e do profissional), o conhecimento em seus aspectos conceituais e operacionais, avaliados em cada situação educacional, em sintonia com paradigmas dos contextos sócio-cultural e da contemporaneidade, que ao se interrelacionarem passam a formar um todo que deve ser compreendido não só como ponto de partida, mas também como objetivos e metas do currículo em questão (UFBA. Escola de Dança, 2004, p.12).

de dança da UFBA, que tem como objetivo central: "a formação do aluno como artista/docente/crítico, que possibilite a construção de um profissional cidadão, com enfoque especial à dimensão humana" (UFBA. Escola de Dança, 2004, p.13).

Estando seus princípios orientadores em consonância com os documentos do CNE/MEC:

• Os pressupostos do Projeto Pedagógico da Escola de Dança Universidade Federal da Bahia foram concebidos a partir do reconhecimento da arte enquanto campo do conhecimento;

• A identificação e a compreensão das tendências, pensamentos e demandas sociais, norteadoras das ações humanas e profissionais, ativam processos de reflexão, questionamentos, proposições (com base no conhecimento, na pesquisa, no exercício profissional e na produção de novos conhecimentos/ novas estéticas/ novas tecnologias);

• A informação, as atitudes, as técnicas e os valores, compreendidos de forma ampla como conhecimento curricular, estão em sintonia com o momento contemporâneo e alicerçado em referências características de cada contexto sócio-cultural;

• O desenvolvimento do aluno é considerado na sua totalidade: enquanto formação do indivíduo (existência pessoal) e como construção do sujeito social na sua relação com o mundo;

• O aluno aprende “produzindo conhecimento”, ao tempo em que, durante seu processo de formação, articula conteúdos perpassando em fluxo livre os domínios do ensino, da pesquisa e da extensão;

• O professor tem predominantemente o papel de mediador e facilitador do ensino-aprendizagem, mobilizando o aluno para um processo contínuo e dialógico de desenvolvimento e transformação, em que este se reconheça como co-responsável por sua própria formação;

• O exercício criativo (originalidade, contextualização, relevância, veracidade, identidade artística, para citar algumas habilidades relacionadas ao mesmo) configura-se num enfoque primário com vistas à produção de novos paradigmas estéticos (UFBA. Escola de Dança, 2004, p.13).

A Escola de Dança da UFBA indica que seus cursos buscarão formar profissionais capazes de enfrentar os desafios colocados ao atual momento da dança, tendo compromisso com:

• A linguagem da dança como área de conhecimento afim, no que se refere à interpretação e criação e produção artísticas;

• A criação coreográfica e a produção das artes cênicas, envolvendo uma concepção estética contemporânea;

• A reflexão e a geração de produção inovadora, sem, contudo, desconhecer manifestações populares locais e sua inserção no campo do estudo da cultura afro-brasileira;

• A articulação e o diálogo entre os campos da educação e da arte, estimulando a criação de interfaces entre o fazer artístico, a apreciação da obra de arte e o processo de ensino aprendizagem;

• A produção de novos conhecimentos artísticos e novas tecnologias educacionais (UFBA. Escola de Dança, 2004, p.14).

Sendo competências e habilidades básicas desses profissionais:

• compreender fundamentos e princípios da ciência do movimento humano, da estética artística (enquanto sensação, projeção e expressão da poética humana), dos contextos social e cultural da atualidade e das demandas e perspectivas observadas no mercado de trabalho onde os dançarinos e coreógrafos atuarão;

• conhecer a estrutura bio-psico-social do indivíduo, o seu desenvolvimento na construção da identidade e formação do artista;

• conhecer aspectos da cinesiologia e anatomia necessários para instrumentalizar o profissional de dança;

• conhecer as novas concepções científicas do corpo humano, assim como sua evolução histórica;

• dominar novas e diversificadas técnicas de habilidades corporais e suas metodologias;

• conhecer a recente produção teórica e artística da área como base norteadora da produção e difusão do conhecimento;

• conhecer as novas tecnologias em arte e educação e suas aplicações em processos de ensino e aprendizagem;

• conhecer teorias estéticas e da criação artística que fundamentem a investigação da dança como linguagem, assim como sua produção no cenário artístico;

• fomentar a pesquisa da e sobre a dança, incluindo a investigação de métodos e estratégias coreográficas, e poder assim desenvolver uma capacidade para a estruturação dos elementos da composição artística;

• compreender a dança como forma de expressão cultural (UFBA. Escola de Dança, 2004, p.14-15).

A Escola de Dança apresenta à sociedade baiana dois cursos: Licenciatura em Dança e Dançarino Profissional, mantendo a tradição de pensar o profissional que vai atuar nos espaços educativos e o que vai atuar cenicamente. O curso de licenciatura tem duração mínima de 3 anos e meio, e acontece no turno matutino. Está classificado como Curso de Arte - Habilitação: Licenciatura - Titulação: Licenciatura em Dança. Sua carga horária compreende 3.073 h/a.

Os novos cursos têm em seu eixo básico, três módulos, sendo eles: Estudos do Corpo; Estudos dos Processos Criativos; Estudos Críticos-Analíticos. Além desses módulos que compreendem os quatros primeiros semestres, estarão

os alunos, nos dois primeiros e no quinto e sexto semestres, realizando laboratórios de experimentação das técnicas corporais, dos processos de criação e das práticas pedagógicas, através do estágio docente. Atividades complementares serão consideradas desde que seja incluída a participação dos alunos em projetos acadêmicos, experimentos artísticos e participação em grupos, além de oferecer disciplinas optativas para compor a carga horária total.

Todo esse processo estará mediado transversalmente por três temas: 1º ano - Contemporaneidade, 2º ano - Identidade(s)/Diversidade/Pluralidade; 3º ano - Ser Cidadão, Profissional, Artista e Educador. Estes temas serão trabalhados por quatro docentes de forma compartilhada, durante os três primeiros anos do curso, propiciando "uma divergência de olhares e percepções com capacidade de influenciar e fomentar uma troca de informações e a produção de conhecimentos individuais" (UFBA. Escola de Dança, 2004, p.15).

O curso encontra-se no terceiro ano do novo projeto, vivendo entre o anterior e o novo num processo de integralização das turmas em andamento. Encontra-se com cerca de 195 alunos matriculados e recebe a cada vestibular anual 45 alunos.

No processo seletivo, a Escola de Dança realiza prova de habilidades específicas na segunda fase do vestibular. Essa prova prática congrega provas de: desempenho técnico e interpretativo, desempenho criativo e apreciação estética.

O corpo docente do curso de dança é formado por 26 professores, sendo 24 Licenciados em Dança, 1 Bacharel em Comunicação e 1 Dançarino Profissional. Destes, quase sua totalidade é de professores com dedicação

exclusiva, excetuando 1 com 20h e 1 com 40h. No que se refere à titulação, são 11 doutores, 10 mestres, 02 especialistas e 03 graduados47.

3.1.2. LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA: UM DOS POUCOS CURSOS