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A palavra em suspenso lado à recusa em ligar a Igreja a um determinado regime político e econômico, a uma determinada forma de civilização, a um estado de espírito, a uma época, a uma classe, levava a própria revista a acolher em suas páginas contribuições que revelam algumas posições matizadas da direita católica, oriundas se não de filiações políticas explícitas, das leituras e círculos da formação do articulista.

Há momentos em que é nítido o debate interno sobre os rumos da direita católica diante da conjuntura que se apresentava. Havia uniformidade na concepção arraigadamente elitista da sociedade e no desprezo pela massa, rebanho a ser tangido;149 no desprezo a “esse tremendo Soberano, contra cuja tirania temos que nos bater porventura com mesmo desassombro com que nossos antepassados se bateram contra as tiranias dos Reis: a do Povo. [...], ao soberano que hoje usurpou o absolutismo régio de outros tempos, [a..] esse régulo de mil cabeças que o liberalismo colocou no trono dos

148 ATAÍDE, Tristão de. “Catolicismo e integralismo - II”. A Ordem, jan/1935, pp. 13;15.

149 “Não tenhamos a ilusão das massas. Uma procissão de 10.000 devotos pode ser dispersada por meia dúzia de desordeiros decididos. Precisamos de formar elementos de qualidade, grupos de elite, que sejam núcleos de irradiação de fé e de doutrina no meio das massas amorfas. Precisamos de dirigentes. Precisamos formar as nossas sentinelas, sempre presentes e sempre prontas. Esses pequenos grupos valem, por si só, pelas grandes coletividades e arrastarão a essas para os trabalhos e movimentos necessários.”. ATAÍDE, Tristão de. “Os perigos da nossa vitória”. A Ordem, jul/1934, p. 10.

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monarcas de direito divino!”150; na caracterização de “uma conspiração da plutocracia judaica e do maçonismo, que vem solapando há muito tempo a civilização cristã”151; na condenação da “economia laicista moderna, privada de todo princípio moral diretor e fundada nas grandes concentrações industriais, [de...] uma sociedade baseada no predomínio dos valores econômicos individualistas”152; na repulsa ao “monismo materialista do bolchevismo”153.

Mas, a uniformidade terminava aqui, tornava-se tendência predominante na opção pelo fascismo.154 Em janeiro de 1933, o jesuíta Frederico Muckermann advogava

150 Editorial. “Dever dos católicos”. A Ordem, mar/1932, pp. 165-166. Em carta a Mário Casassanta, de 09/09/1932, sobre o livro deste, Razões de Minas, Alceu reafirma a repulsa ao liberalismo democrático, mas o que chama a atenção é o respeito por aqueles que se lançam ao risco em prol de uma causa, elemento também presente na admiração pelos fascismos, o que pode ser visto como um espelho; os católicos do Centro D. Vital viam-se assim. Nesse sentido, o católico reacionário percebia-se muito próximo do revolucionário:

“Quanto aos ideais, estavam tão errados os de 30 como os de 32: o liberalismo democrático, a ‘pureza’ dos princípios constitucionais de 91, como queria a Aliança Liberal ou como hoje quer São Paulo. Portanto: afirmação de varonilidade vital e de ilusão ideológica em 30 e 32. Hoje São Paulo será provavelmente vencido. Qual o resultado desse desfecho diverso em face de premissas idênticas? É o que eu procurarei nos fatos e livros como o seu, de espíritos capazes de ver o fundo dos acontecimentos.” SCHWARTZMAN ET ALII Tempos de Capanema, p. 63.

151 OLIVEIRA, Plínio C. de. “O verdadeiro perigo comunista”. A Ordem, jul/ago 1933, p. 556. Plínio Correia de Oliveira nasceu em São Paulo em 1908, estudou no Colégio São Luís, dos jesuítas; em1926, ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, bacharelando-se em 1930; em 1928 entrou para a Congregação Mariana. Participou da Sociedade de Estudos Políticos (SEP), em 1932, que daria origem à Ação Integralista Brasileira. Ao lado, de Alceu Amoroso Lima, foi um dos fundadores da Liga Eleitoral Católica (LEC), e candidato pela coligação Chapa única por São Paulo Unido [PD, PRP, Associação Comercial, Federação dos Voluntários] à Assembléia Nacional Constituinte, sendo o mais votado no estado e o mais jovem integrante da Assembléia. “Em 1935 é nomeado professor catedrático de história da civilização da Faculdade de Direito de São Paulo. Ainda em 1935, assume a direção do jornal Legionário, órgão oficioso da arquidicocese de São Paulo, no qual já colaborava desde 1929. Em 1937 tornou-se professor catedrático de história moderna e contemporânea nas faculdades Sedes Sapientiae e São Bento. Quando estas faculdades foram mais tardes integradas à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, tornou-se membro do Conselho universitário dessa instituição. Em 1947 deixou a direção do jornal Legionário e em 1951 ingressou no corpo de redação do mensário Catolicismo, fundado no mesmo ano por dom Antônio de Castro Maier, bispo de Campos (RJ). Em 1960 criou a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), a mais notória organização civil anti-comunista do Brasil, cujo objetivo é ‘combater a vaga do socialismo e do comunismo e ressaltar, a partir da filosofia de São Tomás de Aquino e das encíclicas, os valores positivos da ordem natural, particularmente a tradição, a família e a propriedade’, tornando-se presidente do conselho nacional da entidade.” Publicou 14 livros; morreu em 1995. ABREU, BELOCH, LATTMAN-WELTMAN & LAMARÃO (coords.). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro. Pós-1930. 2a. ed. Rio de janeiro: FGV/CPDOC, 2001, vol. IV, p. 4175. 152 Editorial. “O suicídio da burguesia”. A Ordem, fev/1931, p. 65.

153 Editorial. “Igreja e Estado. Catolicismo e fascismo”. A Ordem, ago/1931, pp. 68.

154 Alípio CASALI identifica, no período aqui tratado, “três tendências ideológicas distintas” no “bloco ideológico católico”: uma tendência então inexpressiva que ele denomina de “modernistas”, que estariam próximos à burguesia e interessados em conciliar a Igreja com as “novas forças liberais emergentes”; “os integrais, cujos intelectuais são os mais tradicionais, conservadores, monarquistas, [...] buscando reconstituir determinadas condições históricas superadas, não apenas no plano político, mas também cultural, moral etc.”; e “os jesuítas, terceira força, centristas, que constituem em verdade os intelectuais tradicionais típicos, no sentido gramsciano, porque lutam pela conservação de maneira dissimulada, trabalhando a unidade da Igreja por um duplo movimento: de condenação e exclusão dos extremos integrais e modernistas, e de aglutinação e incorporação dos setores moderados dessas mesmas tendências. ‘Jesuíticos’, pois, são não apenas os clérigos da Companhia de Jesus, mas também os

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pela reforma do capitalismo, e perguntava: “Por que tanta frouxidão no combate ao Bolchevismo?”

“Pois não há a menor dúvida que o perigo bolchevista só acha termo de comparação no perigo muçulmano que outrora avassalou a Europa, ou nos incêndios dos hussitas que devastaram regiões inteiras. [...]

Como quer que seja, o certo é que existe uma diferença notável entre o capitalismo do Ocidente e o bolchevismo do Oriente.

O Bolchevismo é inimigo de Deus por natureza. O capitalismo não o é necessariamente. O bolchevismo destrói conscientemente toda a cultura por mais elevada que seja. O capitalismo entretanto, ao menos em grande parte de seus representantes, ainda se julga obrigado a apoiá-la. O capitalismo nem é, por enquanto, perseguidor da Igreja, como vemos que o é o governo russo. [...]

O capitalismo, a par de seus pecados, tem também seus merecimentos. Promoveu o bem estar das massas populares durante muito tempo. [...] o fato de ter o capitalismo a consciência carregada de pecados, não nos deve impedir de afastar o bolchevismo como mal pior.

E antes de tudo, o capitalismo está longe de ter esgotado as suas capacidades de evolução. [...]

Numa palavra, ainda se poderia adaptar outra vez o edifício econômico à linha da natureza, de sorte a que este apareça, ainda na sua máxima complexidade, como desenvolvimento da base oferecida pela mesma natureza. [...]

O bolchevismo não possui entretanto tal capacidade de evolução [...] A razão desta esterilidade está em que sobre ele não agem as forças da natureza; pelo contrário, desde o começo pôs-se ele em oposição à natureza, e desta maneira, vê-se obrigado a manter o estado antinatural por um constrangimento continuado”.155

Noutro entendimento, em julho/agosto de 1933, Fernando Carneiro, na linhagem do catolicismo social, afirmava a nenhuma possibilidade de recristianizar a burguesia, faze-la renunciar ao seu materialismo, a “esse liberalismo econômico e político, essa seleção natural, justiça biológica de Gustave Le Bon”. Há uma nítida admiração pelo idealismo, pelo espírito de sacrifício, “pela espiritualidade da alma” presente nas fileiras comunistas em contraposição ao desprezo pelos “indecentíssimos” sorridentes burgueses. Mas essa admiração implicava um delimitar de terreno, em apontar-lhes os erros, as contradições, como Jesus ao fariseu Nicodemus: “O Espírito sopra onde quer, e tu ouves a sua voz, mas não sabes donde ele vem, nem para onde vai” (João 3, 8). Importa aqui observar como a apropriação do outro está colocada, o comunismo não é uma unidade lógica, não é monolítico, antes, é fragmentário; possível, portanto,

intelectuais católicos leigos, em órbita a seu redor.” Com a vitória na Constituição de 1934, jesuítas e integrais teriam se despreocupado “temporariamente com os modernistas”. CASALI. Elite intelectual e restauração da Igreja. Petrópolis: Vozes, 1995, pp. 14-15.

155 MUCKERMANN, F.. “Por que tanta frouxidão no combate ao comunismo”. A Ordem, jan/1933, pp. 10-17.

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apossar-se de sua organização coletivista do trabalho, como justa e cristã, extirpando sua concepção filosófica.

“A raiva do materialismo contra o capitalismo é a raiva de Caliban por ver sua cara no espelho. E quebra furiosamente o espelho; não tem a felicidade ou a grandeza moral de reconhecer o erro filosófico em que labora; e propõe uma organização coletivista de trabalho que excluídas suas ligações filosóficas é profundamente justa e cristã, quando não é ilusória e fantasista. Uma organização de trabalho que não encontra justificativa em nenhum princípio materialista de História ou de Filosofia.

O comunismo não é, pois, como pensam certos católicos, uma, dentro do seu erro unidade lógica, uma concepção da vida, cuja aceitação de uma parte, acarreta a aceitação do todo. Nenhum monólito. Antes algo de absolutamente fragmentário. Um enredo de contradições consigo mesmo. [...]”156

Mas chama a atenção sua atração por algumas teses marxistas que promete, em artigos próximos, cristianizar. Também, o fato deste antiliberal, adepto do catolicismo social, neste momento, não contrapor ao livre mercado a organização corporativa, optando por um mundo em que a máquina teria lugar fundamental.

“O marxismo nunca foi – dentro do seu erro uma perfeita unidade lógica. Dar-lhe a consciência desse fenômeno de contradição é aconselhar-lhe a continuar a destruir o capitalismo e a trabalhar pelo advento da socialização dos meios de produção.

Abaixo esses ‘sessenta e oito’ burgueses indecentíssimos que, sorridentes, passeiam pela vida sem parecer suspeitar sequer que todo esse seu bem estar se alicerça sobre a infelicidade dos seus semelhantes. Quando eles poderiam continuar a sua felicidade, mas alicerçando-a sobre a escravidão da máquina, no dia em que essa desse, nas mãos do socialismo, [Nota: Tal como eu o entendo e explicarei em próximos artigos] o máximo da sua produção. É verdade que chegamos a um estado de cousas, no qual muita gente se sentiria infeliz se visse seus semelhantes libertos e alegres. Mas apesar disso não é justo que continuem escravizadas economicamente, e conseqüentemente intelectual, política e moralmente, as classes proletárias. Que a maioria pobre da humanidade vá nascendo, de geração em geração, esmagada pelo peso de novos pecados originais.

Cristianizemos os bolchevistas. Os bolchevistas que se cristianizem, ou mais uma vez, na história do mundo e das instituições, assistiremos ao fenômeno da confusão das línguas.157

Paulo Sá, da mesma linhagem, se utiliza da imagem de Jesus expulsando os vendilhões do templo para desancar com os católicos comprometidos com o

156 CARNEIRO, J. Fernando. “Catolicismo e comunismo”, A Ordem jul/ago 1933, p. 578. José Fernando Carneiro, nasceu em 1908 no Ceará, médico e tisiologista, um dos antigos do Centro do Vital, exerceu a medicina no Rio e em Porto Alegre, onde morreu em 1968. Formado na linhagem do catolicismo social, aproximou-se do tomismo de Maritain. No pós-1945 milita na Resistência Democrática e no Partido Libertador de Raul Pilla. Publicou, em 1946, “Catolicismo, revolução e reação”. Estudioso da obra de John Henry Newman e da poesia de Jorge de Lima, escreveu um livro sobre a vida e a obra de Von Koseritz. Seu último livro, póstumo, “Psicologia do brasileiro” reúne ensaios diversos. Fernando Carneiro, “ao que parece, evolveu no sentido da reação”. VILLAÇA, Antônio Carlos. O pensamento católico no Brasil, p. 279.

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capitalismo, “que vivem a aparar as arestas dos Evangelhos para não cortar as amarras com certas formas de poder e que se chocam, estomagados, quando se lhes mostra o Cristo que, de chicote em punho, não quer contemporizar com os vendilhões do templo”; reprova o absenteísmo dos católicos, ameaçando-os com Mateus, “a hora não é das abstenções e dos votos em branco: quem não estiver declaradamente, desassombradamente, combativamente com a Verdade, estará pusilanimemente contra ela”, recorrendo à autoridade da encíclica Quadragésimo anno para desancar com a burguesia.

“Enquanto as classes trabalhadoras dobravam sob o peso de odiosas injustiças, observa George Viance, os católicos permaneciam imbuídos de liberalismo, ou amarrados a um conservantismo estreito’.Alguns iam mais longe, ‘abusando da própria religião, procuravam cobrir com o nome dela suas injustiças, a fim de afastar as reclamações perfeitamente razoáveis daqueles a quem oprimiam’: não é nenhum demagogo sem responsabilidade quem o diz; afirma-o Pio XI”.158

Lamenta o não engajamento dos católicos na promoção das “reformas sociais bem determinadas que o mundo está exigindo”, “fruto do mesmo e lamentável equívoco que só via inimigos à esquerda. [...] Inimigo à esquerda, sem dúvida, mas também, não menos real, inimigo à direita.” Descarta qualquer possibilidade de sucesso do comunismo no Brasil embasado numa imagem negativa da índole brasileira, contraposta a uma imagem positivada, viril, do inimigo à esquerda. O mal pior, o capitalismo, nenhuma possibilidade de regeneração.

“Entre nós, desgraçadamente, só se assestam as baterias contra as hordas de Moscou: quando é evidente que o Moloch comunista, duro e violento para os que o servem, nunca se acalentaria por tanto tempo na companhia preguiçosa e mole dos nossos sacis despreocupados, das nossas macumbas sensuais e entorpecedoras. Comunistas no Brasil, além de uma multidão de snobs à procura de originalidades decrépitas, além de meia dúzia de estrangeiros que meu amigo Rego Monteiro ainda não acabou de expulsar e de quatro ou cinco fanáticos, sinceros mas impotentes, além desses só mais um Sr. João Mangabeira, móvel, ‘quale piuma al vento’, no seu Packard macio e confortável; ou um Sr. Edgard Sussekind, funcionário burguês e, nas horas vagas, declamador tonitruante de frases mais ou menos ocas, porque vazias de realidade... O inimigo próximo e presente e contra qual é preciso combater com dobrado vigor é sobretudo o capitalismo.

É só olhar o mundo e recensear os seus triunfos. [...]

O mundo que aí está, está morrendo. [...] Seria o mais absurdo dos absurdos que nós procurássemos amarrar o corpo cheio de vida do catolicismo social a este quase cadáver... “que os mortos enterrem os seus mortos’, como repetia, a propósito, Maritain”.159

158 SÁ, Paulo “Posições católicas II – Os católicos e o problema social”, A Ordem, mai de 1934, p. 374. Presidente da Ação Universitária Católica (AUC), em 1931. Formado em engenharia.

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Já Júlio Sá instaura a confusão das línguas, a torre de Babel, pois nele o léxico – de reação e revolução - é colocado em suspenso ao promover um dissídio entre a

essência das coisas e seus nomes, manobra característica do mecanismo de atualização

do discurso católico. Mais, em fins de 1935, revela outro elemento fundamental: o senso de oportunidade, identificando o integralismo como a verdadeira revolução social cristã. Contudo, ao fazê-lo, coloca o cristianismo não só em disponibilidade, mas, principalmente, o integralismo como única opção política para o verdadeiro cristão. Assim, o cristianismo em disponibilidade, aparece como pronto a desposar uma doutrina política;

“Aquilo que De Maistre, Jackson e Tristão enaltecem sob o nome de reação é o mesmo que Péguy, Maritain e Berdiaeff engrandecem sob o nome de revolução. E aquilo que os três primeiros condenam sob o nome de revolução em nada difere daquilo que os três últimos incriminam sob o título de reação. Portanto, tanto faz que nos chamem a nós espiritualistas de revolucionários como de reacionários. Não temos o culto das palavras mágicas e a essência das coisas transcende de muito os próprios nomes. O que importa é distinguir o bem do mal, as revoluções boas das revoluções más, as revoluções cristãs das revoluções anticristãs. Porque o que não existe e não pode absolutamente existir são as revoluções indiferentes.

[...]

O Integralismo é [...] o tipo da revolução social cristã (naturalmente adaptada às nossas condições nacionais). Não se justifica que fora dele se encontrem, indiferentes, homens que acreditem verdadeiramente em Deus e compreendam o mundo segundo a hierarquia cristã. Só o desconhecimento da sua doutrina pode desculpar até certo ponto essa imperdoável atitude de absentismo. É preciso chegar o dia em que fora do Integralismo só se encontrem ou os materialistas ou aqueles que se dizem espiritualistas, mas que compreendem Deus como um objeto que se esquece na gaveta, de onde é tirado nos momentos de apertura e principalmente na hora duvidosa da Morte”.160

Talvez Júlio Sá estivesse expressando uma certa perplexidade com a diversidade que A Ordem acolhia – e própria ao movimento mundial católico daquele momento – e buscasse conferir alguma uniformidade, suprimindo as divergências – via imposição – e considerando como único caminho a adesão ao integralismo, mas sem atentar para as conseqüências de sua formulação: o político absorvendo o católico. Trata-se de um momento em que o convívio entre posições distintas nas fileiras católicas tornava-se cada vez mais problemático. O acirramento das tensões na Espanha, a crise do governo Laval em França, a invasão da Etiópia por Mussolini, a crescente agressividade alemã com a anexação do Sarre, dividiam as opiniões acirrando o debate entre os católicos.

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Incomodado, irritado com a suspensão, com a indefinição dos termos, Sebastião Pagano, monarquista, secretário do Centro D. Vital de São Paulo, reduto patrianovista, em artigo sobre a revolução de 1817 em Pernambuco, fixa os sentidos e afirma o lugar, os termos:

“As causas profundas dessa trágica ocorrência vamos encontrá-las na decadência do espírito cristão de que resultou a Renascença, desta a Reforma e desta a Revolução. Os três R, que, na frase de alguém, infelicitam o mundo. Por isso somos nós, os católicos monarquistas, os adversários mais decididos da revolução francesa e, mais que desta, de toda e qualquer revolução. Somos a contra-revolução, isto é contrários à revolução, porque somos os defensores da Ordem eterna que é baseada em eternos princípios. É reagindo contra as conquistas da revolução que poderemos reparar alguns desvios do passado e retomarmos o ritmo tradicional e legítimo da verdadeira ordem. Por isso somos contra-revolucionários, somos reacionários, logo, Tradicionalistas e Legitimistas”.161

Em maio de 1937, o padre Aniano R. de la Pena sobe o tom.

“De início é preciso dizer que o anarquismo foi, na Espanha, e continua a ser, monstruosa máquina da Revolução, perante a qual os pigmeus da política pré- revolucionária (políticos anteriores à implantação da República) se intimidaram, nada fazendo de útil para deter a marcha do colosso; pois as leis promulgadas em diversas ocasiões, são uma expressão palmaria do quanto influiu, no presente estado de cousas, a impotência dos políticos e a ineficácia da legislação liberal democrática, quase sempre inoportuna e falha de compreensão.

[...]

Segundo Lombroso, a maior parte dos anarquistas são indivíduos de cérebro pouco evoluído, infelizes alienados em graus diversos...seres dignos de lástima, aos quais as influências do meio (antepassados, família, sociedade...) lançaram ao crime ou à loucura.

[...]

A longa série de episódios macabros que os anarquistas e comunistas vêm praticando, na Espanha, durante a atual revolução [...] assim como a História do anarquismo ibérico, constatam estas observações; chegando-se à conclusão, de que estes homens se não são criminosos por serem anarquistas, são anarquistas por serem criminosos.

Todo criminoso é revolucionário; por isso a última etapa do movimento libertário foi a do ANARQUISMO REVOLUCIONÁRIO.

[...]

Atualmente, Franco deveria formar uma coluna de vanguarda com toda essa corja de faladores e traidores [políticos e autoridades burguesas], não para salvar a Espanha com seu auxílio, pois estes degenerados são impotentes para uma obra tão digna, mas sim para terminar, de uma vez por todas, com toda essa série de portadores de uma epidemia social, capaz de corromper até os alicerces da Pátria”.162

Por vezes, sob a pressão dos fatos, Alceu Amoroso Lima faz a palavra pender para um dos pólos. Em julho de 1935, ao fazer uma análise das “forças políticas