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2. HOBBY: IDEIAS INTERESSANTES DE FÁCIL EXECUÇÃO PARA

2.6 Artigos e seções

A estrutura e o conteúdo de Hobby não sofreram grandes alterações ao longo das cento e vinte edições analisadas. As seções não apresentavam uma organização padrão e muitos artigos publicados de forma avulsa, apareciam inseridos em determinada categoria23 por ocasião da divulgação do índice anual. Alguns chegaram a ser classificados em duas seções simultaneamente, uma vez que a temática se enquadrava em mais de uma categoria ou eram classificados na categoria “diversos”. Ao realizarmos o levantamento dos índices anuais (Tabela 2), percebemos a ausência de classificação de muitos artigos e seções, porém é possível notar a variedade dos temas veiculados. A frequência assinalada das seções está de acordo com a orientação da revista, mas podemos afirmar que há variações e o número de cada seção pode ser muito mais amplo.

TABELA 2 – Incidência das seções por ano

1937 1938 1939 1940 1941 1942 1943 1944 1945 1946 Aeromodelismo 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 Animais Domésticos 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 Astronomia 0 0 0 1 1 1 1 0 0 0 Aviação 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 Biografias e notas científicas 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 Brinquedos 1 0 1 1 1 1 1 1 1 0 Camping e hobbies ao ar livre 1 0 1 0 1 1 1 1 1 0 Carpintaria 0 0 0 1 1 1 1 1 1 0 Construções e alvenaria 0 0 0 1 1 1 1 1 1 0 quantitativa do fenômeno, citaremos um dado: em um só ano (1937/8) a produção local de livros aumentou em 143%. SAGASTIZÁBAL, Leandro de. La edición de libros en la Argentina: una empresa de cultura. Buenos Aires: EUDEBA, 1995, p.75-76.

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1937 1938 1939 1940 1941 1942 1943 1944 1945 1946 Couro 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 Curiosidades 0 0 0 0 1 1 1 0 0 0 Decoração 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 Desenho 0 0 1 0 0 0 0 1 1 0 Diversos 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Encadernação 0 0 0 1 1 0 1 0 1 0 Filatelia 0 1 1 1 1 1 1 1 1 0 Física e química 0 1 1 1 1 1 1 1 1 0 Fórmulas e receitas 0 0 1 1 1 1 1 1 1 0 Fotografia 0 0 1 1 1 1 1 1 1 0 Iatismo 1 0 0 1 1 1 1 1 1 0

Ideias para ganhar dinheiro

0 0 1 1 1 1 1 1 1 0

Ideias para todos 0 0 1 0 1 1 1 1 1 0 Inventos e inventores 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Jardinagem 0 0 1 1 1 1 1 1 1 0 Magia e Ilusionismo 0 0 0 1 1 1 1 0 1 0 Manualidades Escolares 0 0 0 1 1 1 1 0 1 0 Mecânica 1 0 1 1 1 1 1 1 1 0 Microscopia 1 0 1 1 1 0 0 0 0 0 Modelo ferroviário 0 1 1 1 0 0 1 1 0 0 Móveis 0 1 1 1 1 1 1 1 1 0 Oficina caseira 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 Ótica 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 Peixes e aquários 1 0 1 1 1 1 1 0 1 0 Pintura 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 Entalhe 1 1 1 1 1 1 1 1 2 0 Rádio 0 0 1 1 1 1 1 1 2 0 Radiotelefonia 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Relojoaria 0 0 0 0 0 0 0 1 2 0 Solda 0 0 0 0 0 0 0 1 2 0 Taxidermia 0 0 1 1 1 0 0 0 0 0

Artigos para a casa e o lar 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 Eletricidade 0 1 0 0 0 1 1 1 2 0 Especialidades 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 Construções econômicas 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 Náutica 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 Pesca 0 0 1 1 1 1 1 1 1 0 Automobilismo 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 Hobbies ao ar livre 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 Industrias químicas 0 0 0 0 0 0 1 1 1 0 Polimento e envernizamento 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0

1937 1938 1939 1940 1941 1942 1943 1944 1945 1946 Tapeçaria 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 Gesso 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 Vidro 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 Divulgação científica 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 Pragas caseiras 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 Fonte: Revista Hobby.

Identificamos que algumas seções mudaram a nomenclatura, mas apresentavam a mesma temática, ou foram desmembradas e incorporadas por outras seções. A princípio, podemos pressupor falta de organização dos editores da revista, entretanto, analisando melhor, percebemos que demonstra a dinâmica e um amadurecimento da editoria quanto à atualidade dos temas. Verificamos que a reorganização das seções e a ampliação dos temas buscava acompanhar as mudanças do contexto social, bem como os interesses dos leitores. A seção “aviação” esteve presente nos três primeiros anos e passou a ser denominada “aeromodelismo” a partir de então. Os artigos não se diferenciaram e mantiveram o mesmo direcionamento, apresentando modelos de aeroplanos, cursos e notícias a respeito.

Ao observarmos a incidência das seções durante os anos (Tabela 2), percebemos que algumas como “física e química”, “móveis”, “pesca”, “fórmulas e receitas” eram recorrentes na publicação. Como citamos anteriormente, o fato de haver apenas uma ocorrência de determinada temática não significa que ela não esteve incluída em outra seção. A seção de física e química, ora veiculava artigos apenas de física, ora de química. Em diversos, publicou-se assuntos sobre criação de animais e lição para iniciar um museu caseiro; na seção decoração encontramos como fazer um relógio de sol ou preparar de pigmentos coloridos para pintura.

Ao todo, contabilizamos 3.719 artigos em cento e vinte edições o que em média, representava trinta e um para cada número da revista, além da seção de correios, da página do diretor e o do editorial. Desse universo, a autoria dos artigos são, em sua maioria, os mesmos apontados no item colaboradores. No ano de 1940, o diretor anunciam a compra de direitos de tradução de artigos da publicação norte-

americana Popular Mechanics24:

Espero que los lectores de “Hobby” recibiram com agrado la notícia de que, esta editorial ha adquirido los derechos de traducción de la importante revista norteamericana “Popular Mechanics”. Así podrán disfrutar mis amigos de apreciable material de lectura y constructivo, que seleccionaremos para adaptarlo a nuestras necessidades y modalidade llevando la ejecución de “hobbies” argentinos al grado de adelanto que, en las diversas especialidades, han alcanzado en Estados Unidos de Norte América. (HOBBY, n. 51, out. 1940).

Que lugar poderia ter os artigos de uma publicação norte-americana em uma revista que conclamava como característica ser voltada para o contexto nacional? A adaptação25, conforme afirmou o diretor, foi o caminho escolhido. Contrariando a concepção de cópia ou translado do conhecimento e de uma divulgação científica realizada na Europa ou nos EUA, a revista Hobby fez o movimento de produzir uma publicação, ainda que, sob influência dos grandes centros produtores de ciência, com elementos engendrados pelas necessidades da sociedade local.

A promoção da ciência na sociedade sempre foi uma preocupação que permeou os trabalhos dos principais divulgadores e daqueles envolvidos com a atividade científica do período em foco. Um dos poucos artigos replicados de uma revista norte-americana trata justamente da importância do engajamento dos jovens nas atividades voltadas para ciência. O artigo, publicado na edição do mês de maio de 1941 na revista Popular Science, destaca a contribuição do Laboratório do Instituto Americano, montado na cidade de Nova York, para a formação científica da juventude. A veiculação do texto pela revista Hobby, que recebeu como título, La

orientación científica de los jovenes en los Estados Unidos, teve ao seu final uma

nota do diretor, cujo argumento resume o cerne da revista:

Este es un ejemplo que deberían imitar nuestros hombres de estado (sic) y aquellos que anhelan contribuir al progresso científico y técnico del país. También debe ser para los jóvenes que ambicionan abrirse passo en la senda de la vida y llegar a destacarse por su próprio esfuerzo, mediante estúdio y trabajo. Reuniéndose en agrupaciones, pueden fundar clubs como los mencionados, y, con su próprio esfuerzo, adquirir poco a poco los equipos para sus investigaciones y experimentos. ¿Cuántas aptitudes quedarán sin utilización, en la obscuridade, por falta de ambiente y médios de desarrollo? Todo aquel que sienta inclinación científica debe recordar el caso de Edison, hijo de su próprio esfuerzo, y la frase lapidaria con que definió su gênio: – Mi gênio – dijo – se reduce a estudiar y experimentar 18

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Popular Mechanics, lançada nos EUA em 1902, tornou-se referência entre as publicações de popularização científica e tecnológica. Veiculava artigos similares à linha editorial de Hobby.

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Preferimos manter o termo utilizado pelo diretor, embora o conceito de apropriação, conforme elaborado por Chartier, permite uma interpretação mais ampla das “adaptações”.

horas diárias. En sínteses, el gênio no es más que eso: el resultado del estúdio y experimentación. Multitud de talentos se desperdician por falta de estúdio y oportunidad para investigar y experimentar (HOBBY, n. 61, ago. 194, p. 5).

O diretor chamou a atenção para a contribuição da formação científica dos jovens para o país. O propósito era evocar a ideia de ciência associada ao progresso, traçando passos similares aos EUA. O diretor parece consciente de que o processo de promoção de uma cultura científica na sociedade é lento e depende de várias frentes para ser ampliado. Em certa medida, naquele momento, a iniciativa de expandir o conhecimento científico concorria para despertar vocações entre os jovens ou abrir caminhos e facilitar o acesso à carreiras na ciência. Ainda mais marcante do que isso, o enunciado reafirma dois pressupostos científicos: a investigação e a experimentação. A essa afirmação, agrega-se o estudo em grupo por meio das associações e clubes de hobbies.

Nesse sentido, aliás, a revista Hobby apresenta um aspecto interessante em relação à sua concepção educativa. A própria divulgação realizada pela revista guarda alguns pontos análogos às ideias pedagógicas em circulação no período, como a ênfase na investigação e experimentação no ensino de ciências, guardadas as devidas especificidades, naturalmente. Mas esse é uma caminho que apontamos para futuras pesquisas dentre outros desdobramentos possíveis.

Curiosamente, a foto veiculada no referido artigo da Popular Science estampou a capa do número de Hobby em que foi traduzido (Figuras 1 e 2). Sem a atribuição dos créditos, a ilustração ocupou todo o espaço da capa e ganhou cores vibrantes tornando-se atrativa para os leitores. Todos os elementos da imagem expressavam e davam visibilidade aos valores passados pelo artigo e pela posição do diretor.

FIGURA 1 – Imagem da Popular Science FIGURA 2 – Capa da Hobby Fonte: Popular Science, maio 1941 Fonte: Hobby, ago. 1941