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2. HOBBY: IDEIAS INTERESSANTES DE FÁCIL EXECUÇÃO PARA

2.4 Características gerais da revista Hobby

A revista apresentava o formato de 19 cm X 26 cm, tinha periodicidade mensal e aparecia toda primeira quinta-feira do mês. Mantinha uma média de 60 páginas por edição, o que apresentou um problema durante a Segunda Guerra Mundial, quando o fornecimento de papel se tornou escasso e consequentemente houve o seu encarecimento. Para o leitor não ser atingido pelo problema, a direção optou por diminuir o número de páginas e manter o preço de capa. O problema com a falta de papel gerou um atraso nos planos de mudança no design da revista, como o diretor avisou:

En lo que atañe al proyectado cambio de estrutura y aumento del número de páginas, que esbocé en má apacible dias, no he cancelado esta intención, pero su cumplimiento está condicionado a alguna favorable variación en los precios del papel, que no declina en forma apreciable y regular (HOBBY, n. 84, jul 1943, p. 707).

As alterações a que se refere o diretor, só começaram a ser implementadas a partir do de outubro de 1944. São pequenas mudanças que aos poucos foram modificando o design da revista sem alterar a sua identidade, muito pelo contrário, vão acentuar e destacar os elementos que a caracterizam. A primeira mudança observada foi na apresentação da página do sumário com a inserção de duas imagens contendo várias figuras de hobbies. Neste mesmo número apareceu pela primeira vez um artigo com ilustrações em cores. Fartamente ilustrada com imagens, gráficos, esquemas e gravuras, a revista, até então, apenas contava com a capa desenhada a cores. O uso de cores no corpo da revista, provavelmente, deveria ser um processo caro e, por isso, poucos artigos traziam imagens coloridas. Em 1945, ocorreu nova mudança nas páginas iniciais, mas desta vez as figuras de hobbies foram distribuídas na borda da página do sumário e marcavam a identidade visual da publicação.

A diagramação das páginas variava de acordo com o tamanho e a quantidade de imagens que compunham o artigo e geralmente as páginas eram divididas em duas

ou três colunas. Nos casos de diagramas detalhados, como os de aeromodelos, as imagens podiam ocupar uma página inteira ou as duas páginas centrais. Os títulos dos artigos e das seções ocupavam um lugar de destaque na página e não possuíam um padrão definido. Contudo, os títulos das seções sempre traziam elementos visuais diferenciados a fim de distinguir as temáticas.

A atenção dada ao sumário e índice guardava um aspecto interessante, ao imprimir alterações sempre na tentativa de realizar uma classificação dos artigos e seções. Inicialmente, os sumários eram divididos de acordo com os títulos das seções e seus respectivos artigos. Posteriormente, somente pelos títulos e um pequeno resumo do conteúdo tratado nas matérias, porém sempre visava facilitar a busca pelos leitores. Ao final de cada ano, a edição comemorativa trazia um índice com o que havia sido publicado durante o período.

Outro aspecto a ser destacado diz respeito ao preço. A manutenção do preço acessível sempre foi uma prioridade para a direção da revista. Durante os dez anos pesquisados somente houve uma alteração no valor da revista. Conforme prometia o diretor por ocasião do início do problema da escassez de papel, a revista evitaria aumentar o preço, mas na edição de maio de 1942, foi comunicado aos leitores a majoração em dez centavos. A revista passou a custar 40 centavos de peso. Em comparação a outras publicações do período de divulgação científica (Tabela 1), o valor se equiparava à edições similares, ficando acima somente das publicações voltadas para a temática de rádio. Podemos inferir, que a diferença entre os valores se deve ao enfoque de cada publicação, uma vez que as mais diversificadas e com cobertura mais ampla de conteúdos eram mais caras.

TABELA 1 - Comparação de preços de revistas de divulgação científica - 1942

Revista Preço Data

Hobby 0,30

0,40

Maio de 1942 Junho de 1942

Ciencia Popular 0,40 Março de 1942

Radio Chassis 0,20

0,30

Março de 1942 Novembro de 1942

Radio Magasine 0,20 Dezembro de 1942

Suplemento de Aeromodelismo - Avia

0,20 Setembro de 1942

Mecanica y Ciencia 0,40 Maio de 1943

Foi escolha da direção o aumento do preço da revista, uma vez que a opção seria diminuir o número de páginas, pois havia a recusa de anúncios não relacionados ao programa da revista. Nas palavras do diretor,

No ignoro que se podrá argüir que otras publicaciones de igual precio pueden subsistir con mayor lujo de presentación; sí, estamos de acuerdo. Pero, téngase en cuenta que “Hobby” es un revista especializada por lo cual no cabe la inserción de avisos que no estén relacionados con su índole y, lo declaro con toda franqueza, he rehusado avisos fáciles y bien pagados que, significando una entrada, restasen al lector material de lectura, es lo que fundamentalmente corresponde proporcionar por el desembolso que efectúa el “hobbista” (HOBBY, n. 70 maio, 1942).

As propagandas na revista Hobby foram utilizadas para reforçar os laços de proximidade com os leitores atraindo anunciantes, cujos produtos relacionavam-se exclusivamente à atividade hobbista. Sendo uma publicação voltada para a divulgação de atividades que envolviam a construção de produtos manuais, nada mais natural do que a presença de anunciantes de materiais que poderiam vir a ser utilizados nos projetos. A maior parte dos anúncios publicados foi da própria editora da revista e predominavam os livros, revistas, e acessórios produzidos ou revendidos por ela produzidos. Em seguida, os cursos por correspondência foram a categoria de propaganda mais presente. Um exemplo emblemático desta categoria é o da National Schools que divulgava cursos com a proposta de uma formação “à distância”21 sem a necessidade do estudante frequentar aulas presenciais em uma escola. No ano de 1938, o principal anúncio da National Schools destacava o título “Progrese con la ingenieria mecânica y asegure su porvenir” (HOBBY, n. 20, mar., 1938), e orientava em quais campos profissionais os conteúdos do curso poderiam ser utilizados. A propaganda parecia induzir o leitor a acreditar numa possível formação equivalente ao curso de engenharia com o objetivo de proporcionar um diferencial e melhor oportunidade para suprir a demanda de trabalhadores especializados tendo em vista o crescimento industrial argentino. De acordo com Sarlo,

21

Não pretendemos incorrer no risco do anacronismo, apesar do curso por correspondência apresentar características que hoje denominamos como Educação à Distância (EAD). Desejamos reforçar a facilidade dos cursos por correspondência para a capacitação do trabalhador, ou ainda, de aquisição do conhecimento. Contudo, Lobo Neto (1998), considera os cursos por correspondência precursores do ensino à distância. Segundo o autor, a primeira evidência deste tipo de curso se deu em 1792 em um jornal de Boston, cujo anúncio oferecia aulas de taquigrafia em lições a serem realizadas em casa. Os primeiros cursos eram oferecidos por iniciativa de professores e a partir da segunda metade do século XIX passaram a ser institucionalizados.

A oferta desses cursos, cuja multiplicação indica o êxito comercial, se não dos seus inscrito, pelo menos dos seus organizadore, inclui “carreiras”cujo título lembra, e por vezes copia literalmente, as das universidade, por onde (garante-se) passaram todos os professores responsáveis pelo ensino por correspondência; para o aprendizado (garante-se) basta saber ler e escrever (1997, p. 260).

Os anúncios de cursos por correspondência não eram novidade para o público leitor argentino, muito menos o uso de estratégias de marketing relacionadas à cultura local para atrair consumidores. De acordo com Rocchi,

Si bien era parte de un mundo globalizado, una publicidade exitosa debía adaptarse al consumidor local más que copiar métodos extranjeros. La aplicación mecânica de esas experiencias podia terminar en un desastre si no lograba (como raramente ocorría) quebrar deseos y tradiciones arraigados. Cuando las Escuelas Internacionales – empresa estadounidense que vendía cursos por correspondência enseñando cómo triunfar en la vida – decidieron conquistar el mercado argentino en la década de 1910, su primeira campaña consistió en apelar al argentino médio, una identificación que alcanzaba en su país de origen excelentes resultados. De esta maneira publicó una serie de avisos en los cuales aparecián personajes anônimos que habrían visto beneficiados gracías a los cursos de la escuela. El fracasso de la campaña fue estrepitoso. Aconsejada por quienes conocían al consumidor local, la compañía lanzó dos nuevas publicidades, una ivocando a Domingo Faustino Sarmiento y al valo de la educación, y otra con la foto de Tomás Alva Edison y su pretendido apoyo a esta escuela. E éxito fue rotundo. (1999, p. 308-309).

Por ocasião da Segunda Guerra Mundial (HOBBY, n. 73, ago. 1942), a ênfase dos anúncios da National Schools recaiu sobre a necessidade de técnicos industriais para a defesa nacional e relacionava os cursos aos aspectos mais significativos da produção argentina. Como atrativo para indústria frigorífica, principal referência da economia nacional, o anúncio destacava a oferta de bons salários aos especialistas em refrigeração e eletrotécnicos. O mesmo ocorreu no pós-guerra (HOBBY, n. 106, maio 1945), com as novas possibilidades de expansão industrial. Ou seja, as propagandas procuravam adaptar o produto ou destacar as suas características de acordo com o contexto social.

Em menor número, encontramos anúncios de livros e manuais técnicos de outras livrarias, mas a revista Hobby atuando como revendedora, produtos químicos e, curiosamente, propaganda da editora de Jorge Duclout, antigo diretor da revista

Ciência Popular argentina que analisaremos adiante. Dentro da mesma dinâmica de