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CAPÍTULO 1: EDITH DERDYK E SEU CONCEITO DE DESENHO

1.2 CONCEITO DE DESENHO E USOS NAS ARTES VISUAIS

1.2.4. Artistas

1.2.4.2. Artistas brasileiros contemporâneos

Além dos quatro textos acima citados, na edição de 1994 de Formas de pensar o desenho, Derdyk traz mais referências (textuais e visuais) com um último capítulo de ensaios poéticos em relação ao desenho. Chamado Pequenos Ensaios, a autora traz imagens de seis artistas brasileiros – Alex Cerveny (Fig. 32), Milton Sogabe (Fig. 33), Tarcísio Sapienza (Fig. 34), Ana Tatit, Gal Oppido e Tacus (Fig. 35)– e texto poéticos sobre suas relações com o desenho.

A seguir, exemplos:

Portanto, Derdyk traz exemplos históricos e mais recentes de artistas que trabalham com o desenho, tecendo, a partir dos dois livros pesquisados, um vasto repertório ao professor.

A partir dessa coleta, compreendo que para Derdyk desenho e artes visuais são coisas distintas, porém interligadas. Arte, portanto, pode ser um dos campos de ação do desenho, não o único, nem o privilegiado, mas apenas mais um campo. Não por acaso, o da autora. O que, no entanto, não a impede de construir relações com outras áreas sem que nenhuma delas tenha

Fig. 32: texto e obra de A. Cerveny. S/ data.

Fonte: DERDYK, 1994, p. 228.

Fig. 33: texto e obras de Milton Sogabe. S/ data.

Fonte: DERDYK, 1994, p. 229.

Fig. 34: texto e obra de Tarcísio Sapienza. S/ data.

sua importância diminuída. Entendo que a forma como define o desenho em termos de seus usos sociais é uma maneira de afirmar que todos os seus usos são formas inteligentes de manejá-lo.

Deste modo, Derdyk constrói um complexo tecido de referências e definições onde é notável a importância que a autora deposita nas imagens e em sua interligação com o discurso verbal para a construção de suas crenças, valores e preferências acerca do desenho e das artes visuais. Oferecendo ao seu público-alvo um respeitável material de introdução a estes campos do conhecimento humano.

Derdyk utiliza em vários pontos dos livros, além da palavra dos próprios artistas, diversos autores para embasar-se teoricamente em relação aos assuntos desenho, arte e ao tema da figura humana, sendo a maioria atuante na teoria ou na prática artística. Alguns deles são recorrentes, como os teóricos Octávio Paz (apud DERDYK, 1990) e Merleau-Ponty (apud DERDYK, 1990 e 1994), usados para falar - cada qual a seu modo - de aspectos da percepção humana, e Pierre Francastel (apud DERDYK, 1990 e 1994), utilizado para reafirmar ideias sobre a possibilidade da arte ser uma forma de conhecer uma sociedade. Os artistas cujas citações textuais mais aparecem são Fayga Ostrower (apud DERDYK, 1994), com suas ideias sobre criação e criatividade, e Saul Steinberg (apud DERDYK, 1990 e 1994), cujas definições de desenho e imagens alimentam a autora em ambos os livros. No entanto, as três referências

Fig. 35: texto e obra de Tacus. S/ data.

mais fortes nas definições de desenho de ambos os livros são ligadas à uma pequena publicação chamada Sobre Desenho, realizada no campo da arquitetura. Publicada em 1975 pelo Centro de Estudos Brasileiros do Grêmio da FAU-USP, reúne textos sobre desenho escritos por Mário de Andrade77, Flávio Motta78 e Vilanova Artigas79.

Derdyk80 afirma que esta publicação formou a base teórica mais importante para sua

construção conceitual sobre desenho, e que o desenvolvimento desta base se deu em sua prática poética no campo das artes visuais.

Estes dados levam-me a considerar que, para a autora, ter repertório em artes visuais contribui para se olhar o desenho infantil com mais sensibilidade e desta maneira, propiciar o seu desenvolvimento da forma mais plena possível. Chama a atenção a variedade e a quantidade de reproduções que oferece ao professor, assim como a qualidade da relação entre texto e imagem, não fazendo com que esta segunda seja mera repetição do primeiro. É digna de atenção a abrangência cultural de suas imagens, evidenciando sua postura pluricultural e não eurocêntrica. No entanto, notei a escassez81, principalmente em relação à edição de 2010

de Formas de pensar o desenho, de referências aos instrumentos e suportes digitais, inegavelmente presentes na realidade da cultura, da arte, do professor e das crianças.

Para finalizar, considero que o fato de sua definição de desenho não valorizar sua função de representação, sem, no entanto, desmerecer seu papel, amplia a concepção mais senso comum que relaciona desenhar apenas ao registro realista e figurativo do real. Tal ampliação abre a possibilidade para que se perceba o potencial significativo dos elementos e sintaxes da linguagem, retirando do tema retratado o poder de definir o significado da obra e tornando possível outras formas de exploração do desenho.

No próximo subtítulo, será estudado o seu conceito sobre desenho infantil e sua proposta para o desenvolvimento do grafismo da criança.

77 Mário de Andrade (1893-1945), cujo texto na referida publicação chama-se Do Desenho (1965), foi um dos idealizadores

da Semana de Arte Moderna em fevereiro de 1922, e além de atuar como poeta, cronista, romancista, crítico de literatura e de arte, musicólogo, pesquisador do folclore brasileiro e fotógrafo, tinha grande interesse pelo desenho infantil, colaborando significativamente para o modernismo no campo da arte-educação. Para saber mais sobre a contribuição de Andrade no campo da arte educação ver COUTINHO, 2008, p. 157-195.

78

Flávio Motta (1923) se formou em Pedagogia pela FFCLH-USP em 1947, atuou como professor em diversas instituições de ensino e em 1954 tornou-se professor de História da Arte e Estética no departamento de História da FAU/USP. É também pintor, desenhista (seus desenhos lembram os de Klee, Calder e Steinberg) e jornalista. Na publicação Sobre

Desenho, seu texto chama-se Desenho e Emancipação.

79 Vilanova Artigas (1915 - 1985) é um dos mais importantes arquitetos brasileiros e durante sua carreira ressaltou a

importância do papel social do arquiteto. Na publicação Sobre Desenho, seu texto O Desenho é a transcrição de sua aula inaugural de retorno à FAU/USP em 1967, sendo um protesto em que rejeita a luta armada e “em que defende o projeto como atitude de resistência à opressão.” Extraído de <http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/ enciclopedia_IC/ index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=3614&cd_item=1&cd_idioma=28555> Acesso em 03 de abril de 2012.

80

DERDYK, 1994, p. 5

81 São apresentadas apenas duas imagens no livro Desenho da figura humana, as figuras de número 84 e a imagem abaixo a