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As ações de saúde do trabalhador no novo mundo do trabalho

3. RETROSPECTIVA HISTÓRICA E CONCEITUAL

3.8. As ações de saúde do trabalhador no novo mundo do trabalho

Diante dos elevados números de acidentes e adoecimento no trabalho, os serviços públicos desaúde e as entidades sindicais buscam respostas para problemas de saúde relacionados ao trabalho. Esses eventos têm um custo inestimável para os trabalhadores e suas famílias, e sua dimensão aparece nos dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que mostra que 4% do total do Produto Interno Bruto mundial são gastos em procedimentos relativos a doenças profissionais, absenteísmo, incapacidade e pensões18 (OIT, 2005). Segundo o Ministério da

Previdência Social, o Brasil perde, a cada ano, o equivalente a 4% do seu PIB com acidentes de trabalho (AT) 19. O cálculo inclui todos os gastos da Previdência Social, além dos custos do Ministério da Saúde e os prejuízos para a produção (Brasil, MPAS, 2007). A prevenção é considerada fundamental para reverter esse quadro.

Os novos processos de trabalho baseados nas novas formas e métodos de organização do trabalho, no aumento da competitividade e na avaliação por

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Por meio do decreto nº 7.602, de 7 de novembro de 2011. O texto prevê que cabe ao Ministério da Saúde “fomentar a estruturação da atenção integral à saúde dos trabalhadores, envolvendo a promoção de ambientes e processos de trabalho saudáveis, o fortalecimento da vigilância de ambientes, processos e agravos relacionados ao trabalho, a assistência integral à saúde dos trabalhadores, reabilitação física e psicossocial e a adequação e ampliação da capacidade institucional;...”

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Portaria nº 1.823, de 23 de agosto de 2012. 18

A OIT estima que, no mundo, ocorram anualmente cerca de 270 milhões de acidentes de trabalho e 160 milhões de pessoas adquirem doenças ocupacionais.

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Em 2007, no Brasil, cerca de R$ 8 bilhões foram gastos em benefícios acidentários (pagos a quem sofreu um acidente de trabalho ou tem uma doença profissional) e aposentadorias especiais.

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desempenho fragilizam as relações sociais, rompendo os laços de solidariedade e levando a um maior individualismo e a solidão. Esses fatos modificam também o perfil de saúde, adoecimento e sofrimento dos trabalhadores pelo surgimento de novas doenças e pela intensificação de outras já existentes (Rigotto, 1998; Sennett, 1999; Alves, 2000; Heloani e Capitão, 2003; Antunes, 2004; Bernardo, 2006). As elevadas cargas de trabalho, os processos de trabalho insalubres e perigosos, os equipamentos e tecnologias ultrapassadas, os ambientes de trabalho inóspitos, as novas formas de organização e divisão do trabalho, entre vários fatores, aumentam o adoecimento, a invalidez e a exclusão dos trabalhadores do mercado de trabalho (Antunes, 1995; Alves, 2000; Abreu e Resende, 2001; Toldra et al., 2010).

Há um número significativo de trabalhadores sem vínculos formais (inclusive em situação de “trabalho familiar”), subempregados, terceirizados, cooperativados, desempregados20 e, ainda, em situações precárias de trabalho (Minayo-Gomes e Lacaz, 2005).

A flexibilidade nos contratos21, que diminui os encargos sociais das empresas, consolidou a ausência de direitos, de proteção ou garantias, ônus que pesa sobre os trabalhadores (Minayo-Gomez e Thedim-Costa, 1997). O enfraquecimento dos sindicatos22 é um fator que caminha junto com a precarização do trabalho formal e informal comprometendo sua atuação, que sempre foi fundamental na construção do campo ST (Lacaz, 1996, 2007; Machado, 1997; Nardi, 2004; Brito, 2005; Lacaz e Florio, 2009; Santos 2010).

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Segundo o relatório Tendências mundiais de emprego 2010 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), houve um aumento de 34 milhões no número de pessoas sem emprego em relação a 2007. Nesse período, a economia mundial foi fortemente afetada pelos efeitos da crise financeira. No entanto, a OIT ressalta a rápida recuperação da economia brasileira em 2010 (OIT, 2010).

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Segundo o relatório: Pesquisa nacional por amostra de domicílios (P;AD) 2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2009, entre os 54,3 milhões de empregados, 59,6% (ou 32,3 milhões) tinham carteira de trabalho assinada. (IBGE, 2009) Apesar de, em 2010 e 2011, serem noticiados aumento na taxa de empregos com carteira assinada, a desarticulação dos trabalhadores permanece e parece também estar ligada a fatores como os característicos das novas formas de produção e a mudança no perfil do trabalho, em que o setor industrial não é mais o predominante e a terceirização é cada vez mais presente. (DIEESE, 2011).

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Segundo a Pesquisa nacional por amostra de domicílios (PNAD) 2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de trabalhadores associados a sindicato vem caindo, apesar de o número de trabalhadores contribuintes do instituto de Previdência, continuar aumentando (IBGE, 2009).

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Segundo Juan Somavia (OIT, 2010), Diretor-Geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), enquanto enfrentamos novos desafios de segurança e saúde em um ambiente de trabalho em rápida transformação, continuamos arrastando os resultados dos riscos existentes no local de trabalho no passado e, além disso, “muitos dos riscos profissionais permanecem ocultos e passam despercebidos, principalmente na economia informal.” Ele aponta a necessidade de adoção de novas estratégias de prevenção, segurança e promoção de saúde no trabalho diante da constante mutação desse mundo, das inovações tecnológicas, como a nanotecnologia, a biotecnologia e a manipulação química, que trazem novos riscos. De acordo com Somavia, a população trabalhadora envelheceu, o número de mulheres trabalhadoras cresceu e o de trabalhadores migrantes e de trabalhadores informais também. Novas doenças surgiram, como é o caso das psicossociais associadas às novas situações de estresse e pressão de trabalho na economia global. Para ele, a crise econômica mundial teve efeitos prejudiciais para os trabalhadores. Para dar conta das novas formas de estruturação produtiva, onde se destacam o avanço das terceirizações, do setor de serviços23, da precarização do trabalho e das situações de informalidade (Antunes, 1999), a marca deixada pelas abordagens dirigidas às antigas organizações industriais deve ser superada e o próprio conceito de processo de trabalho, apropriado para o mundo do trabalho industrial taylorista-fordista, já não é mais suficiente para apreender o novo horizonte24 (Minayo-Gomes e Lacaz, 2005; Lacaz 1996). Portanto, os fatores determinados pela crise mundial e os novos paradigmas tecnológicos de organização e gestão do trabalho demandam uma nova compreensão.

Os Ministérios do Trabalho e Emprego e da Previdência Social limitam-se a ações ligadas ao mercado formal e aos segurados. Parece que apenas o SUS continua buscando respostas para as novas demandas (Minayo-Gomes e Lacaz, 2005).

Ainda somos carentes de práticas capazes de dar conta dessa situação, mas a VST pode ser considerada estratégica e mesmo um fio condutor de transformações

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Nos setores terciários, como os de serviço, a nova dinâmica do trabalho é caracterizada pelo contato direto entre o trabalhador e seu cliente (ainda que em certos casos esse contato seja via telefone ou internet). Essa intersubjetividade não aparece no setor industrial.

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“Considerando a distribuição da população ocupada por grupamentos de atividade, em 2009, a agrícola respondia por 16,3% dos ocupados, a indústria de transformação por 13,9% e o comércio e reparação por 18%.” (IBGE, PNAD, 2009).

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nos ambientes e processos produtivos. Ela pode viabilizar que a proposta vigente nas políticas de saúde pública seja aplicada em espaços produtivos, aproximando-a de contextos onde se desenvolve o trabalho (Santorum, 2006). Pode, ainda, proporcionar um espaço para a interlocução com os trabalhadores valorizando o olhar deles sobre a atividade que realizam e facilitando-lhes um processo de apropriação de seus saberes e de seu poder de transformação/ação.

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