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CAPÍTULO III – A nova concepção da organização administrativa brasileira: as

3.2. As agências reguladoras brasileiras: características

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Agência executiva é a denominação a ser atribuída às autarquias e fundações já existentes e que venham a firmar contrato de gestão com a Administração.

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“No Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado, o termo “publicização” é empregado como neologismo para explicar a idéia de deslocamento de atividades do Estado para um setor intermediário entre o Estado e o Mercado”, o terceiro setor (RIBEIRO, 1997, p.124).

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A denominação Contrato de Gestão tem sido utilizada para designar acordos celebrados pela Administração com entidades da Administração Indireta, também com entidades privadas que atuam paralelamente ao Estado e, por fim, com entes da própria Administração (DI PIETRO, 1999, p. 192).

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A Lei nº 9491, de 9 de setembro de 1997, define desestatização como: a) a alienação, pela União, de direitos que lhe assegurem, diretamente ou através de outras controladas, preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores da sociedade; b) a transferência, para a iniciativa privada, da execução de serviços públicos explorados pela União, diretamente ou através de entidades controladas, bem como daqueles de sua responsabilidade. Percebe-se, do dispositivo, que desestatização é o gênero a englobar a privatização, conforme o disposto na letra “a”, tal como previa a revogada Lei n.° 8.031, de 12 de abril de 1990, e a delegação, referente ao disposto em “b” supra. Embora vários autores descrevam todo o processo como privatização, entendemos ser essa uma parte dele e o vocábulo desestatização o mais apropriado para denominá-lo. O termo delegação caracteriza a transferência da execução de serviços aos particulares, mantendo o Estado sua titularidade, em face da inalienabilidade dos direitos concernentes a interesses públicos. Assim, no presente trabalho, chamaremos delegação à transferência da execução de serviços públicos, pela Administração, para a iniciativa privada;

Agência Reguladora em sentido amplo, segundo Maria Sylvia Zanella Di

Pietro, seria qualquer órgão da Administração Direta ou entidade da Administração

Indireta com a função de regular as matérias que lhe são afetas. Nesse sentido, a

novidade seria o nome agência, que não era utilizado na denominação desses entes

no Direito Brasileiro até a década de noventa (2000, p. 388).

Alexandre Santos de Aragão destaca que o termo em si é vazio, mera

denominação necessitando que “a medida venha acompanhada da disciplina jurídica

que lhe assegure efetiva autonomia” (2002, p. 270).

Leila Cuélar, nesse diapasão, observa inexistir definição legal no Brasil de

agência reguladora. Aduz que a Constituição Federal emprega a expressão agência

apenas quando se refere àquelas oficiais de fomento (art. 165, § 2.º) e agências de

instituições financeiras (art. 52, inc. I do ADCT). Ressalta que, mesmo após a edição

das Emendas Constitucionais n.º 8/1995 e 9/1995, o texto constitucional não

contemplou a expressão agência e, sim, órgão regulador (2001, p. 75).

Caio Tácito sublinha que a similitude do modelo de agências reguladoras do Brasil com o

existente no sistema norte-americano, bem como de figuras equivalentes do direito comparado, é tão- só terminológica, uma vez que não coincide em termos de substância. O modelo de agências

brasileiro, afirma, dá início em nosso meio a um esquema de independência e modernidade administrativa, em que a descentralização do aparelho do Estado é estimulada, com ênfase nos

contratos de gestão e na maior cooperação entre a União, os Estados e os Municípios (1999, p. 3-4).

Assim, vê-se o termo sendo empregado de forma não específica, com

diferentes acepções, sendo tal ponto destacado por Celso Antônio Bandeira de

Mello ao afirmar que há outras autarquias criadas que não são agências

reguladoras, não obstante ostentarem essa denominação. Ilustra a afirmação

citando a Agência de Desenvolvimento do Nordeste (ADENE) da Agência de

enquanto a alienação de direitos sobre bens pela Administração será denominada privatização.

Desenvolvimento da Amazônia (ADA), a Agência Espacial Brasileira (AEB) e até um

órgão – não autárquico, portanto – a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) (2002,

p. 150).

É relevante para o estudo, portanto, que se analisem as características

básicas das agências reguladoras brasileiras.

Segundo Marcos Juruena Villela Souto, elas são criadas por meio de lei

descentralizadora como entidades integrantes da Administração Indireta

[...] para o exercício da autoridade inerente à função de intervir na liberdade privada por meio de ponderações entre interesses em tensão, tendo, assim, personalidade de direito público, caracterizando-se como autarquia, por exigir autonomia em relação ao poder central, da espécie autarquia especial, por ser dotada de independência, que se manifesta, principalmente, pela atribuição de mandatos fixos a uma direção colegiada(2002, p. 231).

Luiz Alberto dos Santos acrescenta que a característica básica desses

entes reguladores é que têm sua gestão orientada pelos princípios da administração

gerencial, em que a autonomia autárquica é revigorada, reconhecida na maioria dos

casos na própria lei, não obstante ser o grau dessa flexibilidade variado de agência

para agência (2000, p. 102).

Destaca Caio Tácito que as agências reguladoras brasileiras apresentam as seguintes características comuns: são constituídas como autarquias especiais, afastadas da hierarquia

tradicional dos ministérios e da influência política do governo; gozam de autonomia financeira e administrativa, e exercitam poderes normativos complementares à legislação; são dotadas de amplos

poderes de fiscalização, atuando como instância administrativa final nos litígios que envolvam assuntos de suas áreas de competência; respondem pelo cumprimento de metas fixadas e pelo

desempenho das atividades dos prestadores de serviço (1999, p. 6).

Quanto às funções exercidas, Luis Roberto Barroso arrola entre as típicas das agências

reguladoras – além da genérica, consistente na competência para regular e fiscalizar o serviço descentralizado – o controle de tarifas, tido como o instrumento significativo na regulação, por

passível de cair na ganância desenfreada, o segundo, na adoção de tarifas populistas e irreais, que podem inviabilizar o serviço (2000, p. 810).

Sublinha, também, como papel decisivo da agência reguladora, a

universalização dos serviços, procurando atingir a totalidade da população, com

destaque no aumento da competitividade, naquelas atividades onde o monopólio

natural inexista.

Outra função relevante, segundo o autor, diz respeito à fiscalização do

cumprimento dos contratos e ao cumprimento dos serviços, com a conseqüente

aplicação de sanções. Por fim, destaca, como papel de realce de tais entes, a

arbitragem dos conflitos existentes entre o poder concedente, os concessionários e

os usuários dos serviços públicos. Assinala que, na concepção das agências

federais, tal poder está com as próprias agências reguladoras, ao passo que, nas

agências estaduais, o poder concedente não foi a elas delegado, permanecendo

com o Executivo (BARROSO, 2000, p. 810).