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As aulas de Arte e as atividades dos alunos

PARTE III – A PESQUISA

Capítulo 8 As aulas de Arte e as atividades dos alunos

8.1) Mônica e o vampiro.

8.1.1 – Registros de Observação.

a) Relato da primeira aula do período da tarde, com a 6a. série D, realizada na Sala de Leitura: “A Sala de Leitura está bem arrumada, com 7 mesas redondas com cadeiras ao redor, livros nas estantes, figurinhas de animais nas paredes. Algumas almofadas no chão, quadro branco, TV 29”, computador, mesa, vasos de plantas, ventilador de teto, ursinhos de pelúcia sobre algumas prateleiras, e aparelhagem de videocassete conectada à televisão. Há cerca de 35 cadeiras. A aula começa quando cerca de 30 crianças entram na Sala de Leitura, acomodando-se em grupos de 4 a 7 alunos em torno das mesas. A professora Sônia menciona as cores primárias, vermelho, azul e amarelo, já estudadas anteriormente, e solicitou a atenção de todos para o desenho animado que apresentou em seguida. Trata-se de um desenho animado de Maurício de Souza, com os personagens Mônica, Cebolinha e Cascão, entre outros, e a história de um vampirinho, com pouco menos de 10 minutos de duração. A professora orienta a classe para que preste atenção nos objetos que apareceriam no desenho animado e em suas cores. Durante a apresentação do desenho a classe fica concentrada, principalmente no início, assistindo ao desenho. Pouco a pouco, surgem algumas conversas, brincadeiras e risadinhas nos grupinhos. A professora esclarece ao pesquisador que não adota a prática de tentar impedir as conversas. Após a apresentação da historinha na TV, a professora solicita que os alunos desenhem três coisas que viram no filme, uma de cada cor primária. Esclarece que devem procurar fazer desenhos iguais ao que viram na fita. Pouco a pouco, a maioria dos alunos inicia seu desenho, utilizando lápis comum e lápis de cor. As crianças desenham pequenas figuras representando peças de roupa dos personagens, a personagem Mônica, o túmulo do vampiro, a cruz, o vampiro, entre outras, distribuídas de diferentes formas pela folha, principalmente uma ao lado da outra, a partir do canto superior esquerdo da folha de papel (no caderno ou em folhas soltas, fornecidas por colegas). Aos poucos, surgem conversas nos grupos, algumas brincadeiras e piadinhas, e também conversas em que os alunos procuram esclarecer entre si qual a cor de alguma figura que apareceu no desenho. Os lápis de cor também foram partilhados entre os alunos, pois alguns não trouxeram o material de desenho. O desenho animado foi mostrado (no sistema videocassete/TV) mais uma vez, a pedido dos alunos. No final da aula, alguns alunos não realizaram a tarefa solicitada e alguns outros apenas a iniciaram. A maioria dos alunos confeccionou os desenhos conforme descrito acima, sem a preocupação com o espaço e focando sua atenção na conformidade às instruções da professora, ou seja, na correta identificação da cor do objeto escolhido, na escolha de figuras com cada uma das três cores primárias, na cópia perfeita e detalhada das figuras escolhidas”.

b) Relato da terceira aula do período da tarde, com a 6a. série B, também realizada na Sala de Leitura, com a mesma atividade descrita anteriormente: “Às 16:35 horas 28 alunos entram na Sala de Leitura e se acomodam em torno das mesas. A professora relembra as três cores primárias e explica que irá passar o desenho animado da Mônica. Orienta os alunos a anotar as figuras que aparecem no desenho que têm uma das cores primárias, anotando cada objeto e sua cor correspondente. Logo após o início da apresentação do desenho animado a professora sai da sala, levando consigo o aluno Gerson. A professora explicou ao pesquisador que precisava acompanhar outra classe, cujo professor faltou nesse dia. O Gerson é uma criança portadora de Síndrome de Down que solicita muito a atenção da professora. Os alunos apresentam diferentes atitudes durante a apresentação do desenho animado. Alguns assistem em silêncio, outros conversam ao mesmo tempo em que prestam atenção, outros conversam sobre o próprio desenho e mencionam os objetos com as cores primárias. Outros alunos conversam e gracejam entre si sem deixar de assistir ao desenho, alguns alunos anotam enquanto assistem silenciosamente à apresentação do desenho animado. Em cada grupo de alunos, reunido à volta de cada mesa, predomina um comportamento diferente. Em um grupo todos prestam atenção silenciosamente enquanto em outro todos os alunos conversam entre si. Em alguns grupos, os alunos da mesma mesa apresentam atitudes bem diferenciadas, com alguns gracejando e outros assistindo silenciosamente. Alguns alunos anotaram os objetos conforme a cor, seguindo a orientação da professora. Outros apenas assistiram, sem anotar. A maioria dos gracejos envolve elementos da própria atividade realizada, como: “o quê que é isso?”, seguido de risadinhas, e outros semelhantes. Dois alunos destacam-se dos demais por conversarem muito e em tom de voz um pouco mais alto e por levantarem-se muitas vezes de suas cadeiras. Quando a professora volta, acompanhada pelo aluno Gerson, a conversa diminui. Com o término da apresentação do desenho animado, a professora orienta os alunos a tentar reproduzir – desenhar, copiar – três coisas que apareceram no desenho animado, uma de cada cor primária, amarelo, vermelho e azul. A maioria dos alunos logo começa a desenhar. Diante de uma pergunta de um aluno, a professora Sônia esclarece que, se desenhar a Mônica (a figura da personagem), só deve pintar de vermelho o vestido. O Gerson chama a professora várias vezes, solicitando sua atenção. A professora saiu novamente da sala, acompanhada pelo aluno Gerson, e logo retorna. Muitos alunos fazem seus desenhos em poucos minutos. A maioria prossegue desenhando e conversando ao mesmo tempo. Algumas conversas são sobre o próprio desenho e outras sobre outros assuntos. Alguns alunos levantam e circulam pela sala, voltando logo ao seu lugar. Mas a maioria permanece em seus lugares. Algumas alunas entregam à professora bandeirinhas de S. João presas a linhas. As bandeirinhas foram guardadas cuidadosamente em sacos plásticos e entregues para a professora. Algumas meninas ficam conversando sobre as bandeirinhas com a professora, por alguns minutos. Alguns alunos prosseguem desenhando e um deles chama a professora: “Já terminei, professora, quer ver?”, mas não obtém nenhuma resposta. Um aluno, o Denis, mostra para a professora duas folhas desenhadas, uma com os três desenhos das coisas observadas no desenho animado, um com cada cor primária, e, em outra folha do caderno de desenho, uma versão própria, diferente do original, do logotipo do São Paulo (time de futebol), com as três cores primárias. A professora comenta o desenho com as figuras do desenho animado, dizendo que está certo e não comenta o desenho do logotipo do time de futebol, para o qual olha com expressão de desaprovação. O

Denis, solicitado pelo pesquisador, mostrou a este seus trabalhos, comentando que o desenho da Mônica estava certo e o outro desenho, do logotipo do time de futebol, estava errado. Outra aluna mostra o desenho à professora, que ordena que seja refeito, pois “está errado”. O desenho animado, no sistema videocassete/TV, é reapresentado seguidamente, até o fim da aula (alguns alunos pediram para a professora “passar de novo”, para ver melhor algum detalhe ou esclarecer a cor de alguma figura que aparecia no desenho). Terminada a aula, os alunos se retiram da Sala de Leitura. A professora, com expressão de desaprovação, mostra ao pesquisador que um aluno deixou seu desenho na mesa.”

8.1.2 – Tematização.

a) Cópia: a aula está orientada para a consecução de uma tarefa de cópia. b) Diálogo: o diálogo acontece apenas entre os alunos.

c) Instruções: A professora se dirige aos alunos para fazer comunicados, que são instruções relativas à tarefa que eles deverão executar.

d) Julgamento: Ao final da tarefa, ela limita-se a comunicar se a tarefa está

correta ou está errada, adotando uma postura de quem não admite

questionamento.

e) Critério: O critério adotado para julgar a correção ou erro da tarefa executada é o da cópia exata de outro desenho, no caso, das figuras que aparecem no desenho animado de Maurício de Souza.

f) Tarefismo: Nessa aula, não há centralidade no professor e muito menos no aluno: a aula está voltada para a execução de uma tarefa. A tarefa e o critério de avaliação são definidos anteriormente pela professora, de modo unilateral. g) Avaliação: Os desenhos dos alunos, ao serem definidos como certos, recebem

o status de tarefa executada corretamente. Recebem, então, a boa nota ‘P’ (de ‘plenamente satisfatório’), ou nota média ‘S’ (de ‘satisfatório’) como certificado da competência da criança em realizar corretamente a tarefa determinada pela professora. Os demais desenhos são considerados errados e recebem a nota baixa ‘NS’ (de ‘não satisfatório’).

h) Os desenhos: os desenhos devem seguir estritamente as orientações da professora, sem desvios. A iniciativa do aluno Denis, que criou uma nova

versão do logotipo de seu time de futebol, foi desencorajada pela professora com um olhar de desprezo.

i) O espaço pictórico: não houve preocupação da professora em orientar os alunos quanto à definição do espaço pictórico em que as cópias são produzidas. Elas, as cópias, podem ser distribuídas de qualquer modo na folha de papel, sendo que predominou uma organização similar à da escrita (da esquerda para a direita e de cima para baixo). Manifestou-se, nesse aspecto, uma certa preocupação dos alunos em economizar o material, na medida em que fazem desenhos pequenos e reunindo várias figuras em uma mesma folha, de modo a não gastar muitas folhas.

j) Referências aos desenhos: os desenhos não são mostrados pela professora aos demais alunos e não recebem maiores comentários.

k) Aspectos construtivos: os aspectos construtivos, ou técnicos, devem ter sido considerados, em algum grau, pela professora, quando da avaliação relativa dos desenhos. Isso pôde ser constatado pelo pesquisador na medida em que os desenhos mais “certinhos” quanto à proporção, linha de contorno, cor e acabamento receberam avaliação ‘P’.

l) Conteúdos: há, nessa aula, uma preocupação com algo que pode ser considerado como o ‘conteúdo’, ou seja, o conhecimento de algo ou o domínio de uma informação. No caso, essa informação refere-se ao conceito de cor primária e quais as cores classificadas como primárias.

m) Atitudes dos alunos: alguns alunos fazem sua tarefa rapidamente, sem qualquer empenho, e passam a conversar sobre outros assuntos. Outros fazem piadinhas sobre a própria tarefa. Uns tantos se dispersam e não concluem a tarefa e alguns nem mesmo a iniciam.

n) Distanciamento: a professora mantém, em relação aos alunos e seus trabalhos, um distanciamento permanente: não responde a um aluno que a chama, não comenta nada sobre os desenhos, não elogia nem critica nenhum dos trabalhos. Ao olhar os desenhos e comunicar a avaliação – comunicando secamente sua avaliação com apenas uma palavra, ou em completo silêncio, apenas anotando o conceito - a professora Sônia utiliza poucos segundos. E

mesmo essa avaliação é feita apenas para aqueles alunos que a procuram, pedindo sua avaliação, menos da metade da classe.

o) As bandeirinhas: enquanto a maioria dos alunos é orientada a realizar uma tarefa que não é valorizada, alguns outros recebem da professora atenção, orientações detalhadas, comentários específicos e têm a oportunidade de falar. São as alunas que trouxeram de casa as bandeirinhas para a festa junina. Algumas delas não fizeram a tarefa solicitada e ficaram finalizando as bandeirinhas para a festa junina. Outras fizeram a tarefa, receberam atenção especial da professora e foram agraciadas com uma pequena reunião à volta da mesa da professora em que mostraram as bandeirinhas que trouxeram de casa, conversaram sobre isso, falaram e ouviram, sorriram e guardaram cuidadosamente as bandeirinhas em sacolinhas plásticas, que foram entregues à professora, que as guardou com todo o cuidado.

p) Inclusão: a professora Sônia não havia recebido, até essa aula, qualquer orientação quanto à participação em suas aulas de uma criança portadora de Síndrome de Down. Nas aulas da 6a. série B, ela concentra parte significativa de seu tempo e de sua energia em atenções ao aluno Gerson. Posteriormente, realizou-se na escola uma discussão a respeito do projeto de inclusão e ela passou a compreender que não deveria dar tanta atenção a esse aluno, pois assim prejudicava a atenção devida aos demais alunos e também prejudicava o aluno Gerson, que ficava concentrado na professora e deixava de se relacionar com os colegas.

q) Interação: há uma intensa interação entre os alunos, durante a execução da tarefa. Eles conversam entre si, perguntam sobre a correspondência das figuras com as cores, avaliam conjuntamente a qualidade das cópias produzidas, pedem a opinião uns dos outros, alguns ensinam técnicas de desenhar e de colorir para os colegas, dão sugestões. Essas interações envolvem também comentários que ridicularizam a própria tarefa, elogios ou críticas aos desenhos de colegas, conversas sobre assuntos de outras matérias ou sobre os relacionamentos entre os alunos, além de cochichos e risadinhas impossíveis de ser acompanhadas ou escutadas pelo pesquisador.

r) Multiplicidade: há uma imensa multiplicidade de comportamento entre os alunos, tanto entre cada um e os demais como entre os diferentes grupos entre si. Há o aluno que fica o tempo todo em silêncio, realizando a tarefa com total concentração e executando cada detalhe cuidadosamente; e há, também o aluno que conversa o tempo todo, chama e até cutuca com a mão outros colegas, sem nem ao menos iniciar a realização da tarefa. E há vários alunos que executam a tarefa com alguma displicência, mas assegurando uma certa correspondência entre o resultado e a solicitação da professora, e logo passam a entreter-se com outras atividades ou conversas, durante o restante da aula. Não foi observado algum comportamento que possa caracterizar algo como um comportamento da maioria, ou comportamento predominante.

s) O pesquisador: a presença do pesquisador é elemento marcante, que parece influenciar significativamente o comportamento do professor e dos alunos. Não podemos avaliar o quanto a professora mudou sua atitude pela presença do pesquisador, mas foi possível notar, aqui e ali, falas e gestos da professora Sônia que pareciam deslocados do cotidiano e do ambiente geral, que pareciam não se relacionar com os alunos e só apareciam como que para dar uma satisfação ao pesquisador. Em diversas ocasiões, durante as aulas a professora Sônia chamou o pesquisador, dando-lhe explicações sobre a situação que estava vivendo. Também aconteceram muitas manifestações de estranhamento dos alunos em relação ao pesquisador: várias vezes, apesar das explicações, alunos perguntaram porque o pesquisador fazia anotações, e mais de uma vez um menino ou menina interrompeu seu gesto ou sua fala ao perceber-se observado pelo pesquisador.

8.2) A gravura de Aldemir Martins.

8.2.1 – Registro de Observação.

Relato de primeira aula do período da tarde, na 6a. série D: “A professora Sônia encontra o pesquisador no corredor e explica que não está bem de saúde nesse dia. Mostra um machucado na orelha e uma marca de perfuração de agulha no braço, explicando que recebeu aplicação de soro. Explica que não preparou nada

de especial para esse dia e que, estando adoentada, só veio por causa do pesquisador. São 15:00 horas e nos dirigimos para a sala de aula. A professora retoma o assunto das cores primárias e pergunta pelas combinações entre elas. Alguns alunos respondem: laranja, verde... Explica quais são as cores secundárias. Mostra uma reprodução de uma gravura de Aldemir Martins, a figura de um pássaro azul, e mostra as diferentes cores primárias e secundárias utilizadas, as três cores primárias e as três cores secundárias. Alguns alunos estão com o caderno de desenho já aberto. A professora sai por alguns instantes, a maioria dos alunos permanece em seus lugares, conversando com colegas. A professora logo retorna. A professora manda os alunos prestarem atenção. Devem fazer um desenho seguindo o exemplo de Aldemir Martins, mas não copiar o Aldemir Martins: ‘Deve ser um desenho de vocês, um desenho dos alunos, porque por pior que seja é um desenho de vocês. Devem fazer um desenho usando as 6 cores, as 3 primárias e as 3 secundárias’. A professora escreve na lousa o nome das cores que devem ser utilizadas. Orienta os alunos a usarem o caderno de desenho. Alguns alunos não trouxeram o caderno de desenho e pegam ‘emprestado’ folhas de desenho de colegas. Muitos alunos concentram-se e desenham em silêncio. Alguns permanecem conversando embora sentados em seus lugares. Uma aluna (Cibele) conversa com a colega (Liana) explicando o que pretende desenhar: ‘Já fiz um assim’. Uma aluna conta ao pesquisador que uma colega, a Jussara, disse que o pesquisador é o pai dela. Jussara desenha usando lápis e esquadro, de cabeça baixa. Liana desenhou uma casa. Tiago desenha, em silêncio e muito concentrado, uma mesa. Igor, sentado em sua carteira próxima à professora, fez um sapinho de papel dobrado, recortou o papel, e prossegue seu trabalho, recortando e colando. A maioria dos alunos está desenhando, em silêncio, concentrados, desenhando com o lápis comum e utilizando o lápis de cor para colorir, depois do desenho feito com o lápis comum. Alguns começam a conversar, uns animados na conversa e dispersos da tarefa, outros conversam e desenham ao mesmo tempo. Um aluno (Gustavo) levanta e dança pela sala e logo se senta novamente. Gustavo desenhou uma abelha, toda colorida com lápis de cor, um desenho bem elaborado, com muitos detalhes. Telma desenha a figura de uma pessoa. São 15:30 horas. Cíntia desenhou uma paisagem, com ilha, coqueiros, sol e um barquinho. Lilian desenhou uma casa. Felipe desenhou a figura do monstro do desenho animado Monstro S/A. O pesquisador estava circulando pela classe, olhando os alunos e seus desenhos, e volta para seu lugar (anteriormente reservado por alguns alunos, que já o conheciam da aula anterior). São 15:35 horas. A Jussara havia feito um desenho meio geométrico e colorido e, percebendo que o pesquisador olhava para ela e para o desenho, amassa-o e joga-o no lixo. Começa a desenhar de novo. A professora circula pela classe. Liana está de pé, ao lado de Cibele, que pergunta ao pesquisador: “Por que você está anotando nossos nomes?”. O pesquisador explica que é pra conhecer os alunos e mostrar, na pesquisa, o que cada um está fazendo. Ela se coloca à disposição do pesquisador, dizendo que sabe o nome de todos os alunos da classe. Uma aluna reclama: ‘Ah, Jussara, pára de fuçar nas minhas coisas...’. Três meninos conversam, um desenha enquanto outros dois estão de pé ao lado dele. São 15:38 horas. A maioria dos alunos continua desenhando, alguns levantam, alguns trocam material, um faz um gesto

típico de quem ameaça dar um tapa no colega e pára ao perceber que o pesquisador está olhando. A professora chama o Gustavo para ver de perto a gravura do Aldemir Martins. Um aluno mostra seu desenho à professora que pergunta: “cadê o amarelo?” Carminha desenha cuidadosamente algumas flores. Durval senta-se ao lado de Cibele que diz ao pesquisador: ‘Moço, o nome dele é Durval’. Liana diz que já acabou. Ela desenhou e coloriu as figuras de uma casa e de uma árvore. Liana mostra o caderno de desenho para o pesquisador, que tem três desenhos coloridos e 12 páginas de desenho geométrico (o pesquisador lembrou que a professora Sônia havia explicado que trabalhou conteúdos de desenho geométrico durante alguns meses, nessas classes). Carminha traça cuidadosamente com lápis de cor sobre as linhas de grafite que havia desenhado. A professora mostra para a classe, elogiando, o sapinho de papel feito pelo Igor, um menino bem pequeno que senta-se em frente à professora. Toca o sinal. A professora sai. Muitos alunos continuam desenhando. O pesquisador sai da sala”.

8.2.2 – Tematização.

a) Saúde: a professora Sônia está visivelmente abatida, deprimida e adoentada. Relaciona seu estado de saúde com o excesso de aulas.

b) Releitura: o modo pelo qual a atividade conhecida como releitura foi encaminhada não proporcionou aos alunos elementos suficientes para compreender o que pode significar “seguir o exemplo do Aldemir Martins,

mas fazer um desenho seu”.

c) Expressão e desenhos “piores”: A professora deixou claro que, se os alunos fizessem um desenho próprio, “de vocês”, provavelmente esse desenho será muito ruim (“por pior que seja”). Ela não desconhece que há um aspecto expressivo, em arte: “é importante que seja um desenho de vocês”, mas diminui a possibilidade dos alunos lançarem-se nesse caminho ao qualificar, de antemão, a possível criação dos alunos como ruim, com a expressão “por pior que seja”. A professora não gosta dos desenhos dos alunos, acha-os feios, são “piores”.

d) Cópias e fugas: enquanto alguns alunos tentam fazer uma cópia da gravura do Aldemir Martins, outros fogem totalmente da proposta e fazem algo totalmente diferente, que em nada se parece com “seguir o exemplo do Aldemir Martins”.

e) Silêncio: a professora não fez qualquer comentário sobre as características da gravura apresentada.

f) Conteúdos: os conteúdos escolarizados aparecem novamente. A professora parece perceber a insuficiência da proposição e busca “rechear” a proposta com conteúdos escolarizados, como se esses fossem capazes de justificar a atividade. Aparecem agora, além das cores primárias, as três cores

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