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5 É IMPERATIVO OPERACIONALIZAR O IMPERATIVO

6.4 GRUPOS DE FATORES ESTILÍSTICOS

6.4.2 As cidades e os estilos: uma questão de encaixamento

Até aqui temos nos encontrado cindidos entre dois caminhos interpretativos possíveis para a manifestação das formas verbais imperativas em contextos estilísticos: (i) as formas imperativas não codificam per si os tipos de relações sociais abarcados no discurso e operam em conjunto com outros recursos linguísticos e (ii) as formas imperativas são diretamente influenciadas pelas relações sociais e a frequência de formas indicativas ou subjuntivas reflete diretamente essas relações. A primeira hipótese é hipotecada por Scherre e a segunda foi urdida inicialmente por Faraco a partir de um estudo histórico sobre a mudança nas formas de tratamento do PB e também por Reis em estudo de forte viés funcionalista.

A diferença entre a abordagem de Faraco e de Reis, contudo, é que o primeiro não tocava necessariamente nos tipos de relações sociais e apenas descrevia qualitativamente a função pragmática dos dois tipos de verbos imperativos e a segunda, Reis, opera com essas relações sociais bem como as mensura estatisticamente. Outra diferença reside no papel que o verbo subjuntivo assume pragmaticamente. Enquanto para Faraco, a forma subjuntiva é a mais comum na língua por conta da entrada da forma você no sistema linguístico do PB, tendo a forma indicativa do imperativo sobrevivido por especialização pragmática, marcando atos com maior força ilocucional ou reforço, para Reis, é a forma indicativa a mais frequente no sistema linguístico, mas também cumpridora de uma força manipulativa maior e, por isso, aparecendo com mais frequência em contextos assimétricos de superiores para inferiores. Já a forma subjuntiva, ao mesmo tempo em que poderia se alternar equilibradamente com a indicativa em contextos de simetria, assumiria uma maior frequência de uso em contextos assimétricos de inferior para superior, por ser, segundo Reis, um imperativo mais brando, dotado de menor potência manipulativa.

Embora tenhamos partido das conclusões de Reis, os resultados parecem nos direcionar para outros caminhos. A não seleção dos fatores estilísticos dos ‘tipos de relações sociais’ como relevantes para o programa estatístico nos arremessa numa forte possibilidade de a hipótese de Scherre ser a mais plausível e aplicada à descrição da massa de dados de que dispomos. Vamos continuar analisando os resultados estatísticos e os cruzamentos que armamos a fim de buscarmos pistas mais cristalinas para tais questões.

A seguir, visualizamos a tabela de cruzamento do grupo de fatores ‘tipo de relações’ com o grupo de fatores ‘cidades’, e vejamos se, em Florianópolis ou em Lages, obtemos um comportamento linguístico diferenciado no que tange à materialização dessas relações de poder e de solidariedade:

Cidade Relação simétrica Relação Ass. De superior para inferior Relação Ass. De inferior para superior Total Florianópolis 86% 62/72 83% 25/30 80% 24/30 84% 111/131 Lages 69% 38/55 50% 34/68 38% 9/15 55% 81/147 Total 100/127 33/54 59/98

Tabela 17: Cruzamento do grupo de fatores ‘tipo de relações’ com o grupo de fatores ‘cidade’ sobre a realização da forma verbal imperativa indicativa.

Evidentemente, os resultados estatísticos de Florianópolis e Lages mostram uma distribuição de frequência bastante contraposta no que diz respeito ao cruzamento entre os grupos ‘cidade’ e ‘tipos de relação’. Observamos o quanto Florianópolis apresenta um sistema linguístico bastante diferente do sistema de Lages, de maneira que, na capital de Santa Catarina, os índices de indicativo se mantém estagnados numa faixa de 86% a 80%, enquanto em Lages a distribuição das formas imperativas parece balançar no ritmo das relações sociais ditadas: a frequência de formas indicativas estabelecida num patamar de 69% em ambiente de relações simétricas, índice ainda um pouco menor do que o de Florianópolis nesse mesmo contexto, vai decaindo à medida que as relações sociais vão se tornando mais assimétricas: 50% de indicativo em contexto assimétrico de superior para inferior e, por fim, apenas 38% de indicativos em contextos assimétricos de inferior para superior.

Parece inegável que as estruturas sociais de Florianópolis e Lages são distintas - a primeira, de relações menos rígidas e cada vez mais modernas, a segunda, de relações mais estreitas, rígidas e provincianas - e essa distinção parece se revelar na distribuição das formas imperativas. Porém, como se dá esse reflexo é o que está em pauta nesta seção e nos tem possibilitado caminhos interpretativos distintos. O fato de

vermos as relações sociais se encaixando nas formas imperativas de forma tão distinta nas duas cidades nos conduz a nos inclinar novamente pela hipótese total de que os verbos imperativos codificam per si os traços semânticos de distanciamento ou de poder.

No entanto, temos que estar cientes de que as variáveis escolhidas como relevantes pelo programa foram as variáveis ‘cidades’ e ‘formas de tratamento’ e a variável estilística ‘tipos de relação’ foi descartada como significativa estatisticamente. Um cruzamento entre essas duas variáveis, descartando a variável estilística ‘tipos de relação’, nos ajuda a compreender mais acuradamente o peso que as relações sociais realmente estão exercendo em nossa análise:

Forma de tratamento

Florianópolis Lages Total

Tu 91% 30/33 75% 6/8 88% 36/41 Nulo 89% 111/125 77% 130/168 82% 241/293 Forma nominal 88% 23/26 61% 11/18 77% 34/44 Senhor, senhora 67% 6/9 71% 5/7 69% 11/16 Você 74% 11/19 29% 15/51 41% 29/70 Total 184/212 86% 167/252 66% 76% 351/464 Tabela 18: Cruzamento do grupo de fatores ‘cidade’ com o grupo de fatores ‘forma de tratamento’ sobre a realização da forma verbal imperativa indicativa.

Na tabela acima, vemos a distribuição dos resultados no entrecruzar das variáveis ‘cidade’ e ‘formas de tratamento’, ambas já discutidas nesta seção isoladamente. Como já mencionado nesta pesquisa, a expectativa sempre alimentada por nós era a de que a variação nas formas imperativas refletisse as particularidades estruturais do sistema linguístico e social dessas duas comunidades, que, ao que tudo

indica, são duas comunidades de fala bastante distintas e sobre isso falaremos ao fim do capítulo.

Coelho e Gorski (2010) e Loregian (2004)trataram, entre outras questões,da relação das formas de tratamento com o processo de colonização que essas duas cidades tiveram: os resultados trazidos pelas autoras oferecem evidências de que Florianópolis foi submetida a um processo de tuteamento por conta da sua colonização açoriana, enquanto o você entrou no sistema linguístico da comunidade de Lages sob a influência da rota dos tropeiros advindos do interior de São Paulo. É muito provável, como já salientamos no início da análise, que processos linguísticos tão díspares como

tuteamento e voceamento, aliados a configurações sociais distintas que ambas as cidades

sofreram por conta de influências colonizadoras diferentes, deixem vestígios sobre as formas linguísticas imperativas acionadas em ambas as cidades.

Os resultados atestam a tendência esperada por nós e podem lançar luz à questão estilística também. Vemos que, em Florianópolis, a regra imperativa nunca é categórica, de modo que encontramos sempre alguma margem de alternância entre as formas indicativa e subjuntiva, porém a predileção pela forma indicativa do imperativo alcança o elevado índice de 86% que se distribuem entre as formas de tratamento sempre com frequências bastante altas. No fator tu, os florianopolitanos do nosso

corpus realizaram o mais alto índice entre todos os fatores – 91% de forma indicativa.

Seu índice menor de indicativo se manifesta no fator senhor/senhora, no qual os florianopolitanos realizaram 67% de forma imperativa indicativa, índice ainda razoavelmente elevado se compararmos ao índice menor de indicativos assinalado para Lages.

Lages, por sua vez, segue por outros caminhos. Assim como seu processo colonizador se deu por outras veredas, a configuração de seu sistema linguístico no que tange às formas imperativas e de tratamento também se revela como rastreadora de outro percurso que não o mesmo de Florianópolis. Em Lages, o índice maior de imperativos indicativos é encontrado na categoria das formas nulas, para este fator a frequência obtida é de 77%. Porém, em Lages a frequência menor de indicativos ocorre não com a forma de tratamento ‘senhor/senhor’ mas sim com a forma de tratamento

você. Na cidade serrana, é a forma você quem mais aciona a forma verbal imperativa

subjuntiva constituindo-se como um contexto altamente retentor desta forma verbal: o índice chega a apenas 29% de indicativos neste contexto.

Portanto, estamos diante de um detalhe estatístico que assume importância itálica para a nossa pesquisa: enquanto, em Florianópolis, é na forma de tratamento tu que assistimos à maior ostentação das formas imperativas, em Lages é na forma de tratamento você que assistimos a um decréscimo vertiginoso desse índice. Por sua vez, o maior uso de tu em Florianópolis e de você em Lages se deu pelos processos de

tuteamento e voceamento havidos, nessas duas comunidades, como consequência

natural do processo de colonização empreendido em seus territórios.

Ao que tudo indica então, ao falarmos de variação nas formas imperativas em Lages e Florianópolis, estamos diante de um caso bastante emblemático de

encaixamento na estrutura linguística e na estrutura social, conforme nos assegura o

postulado laboviano. Esse último cruzamento nos embasa, nos instiga, nos assegura quanto a isso. Quanto à variável independente estilística ‘tipos de relação’, que deixamos em suspenso, parece que realmente seu vetor de influência, se houve algum, não foi capturado pelo programa estatístico e o motivo disso nos parece agora revelado: o fator ‘forma de tratamento’ mais o fator ‘cidade’ é o que aparenta estar controlando com mais intensidade a manifestação da regra variável imperativa.

Dessa forma, a tabela 17 que, a princípio, insinuara algum reflexo imediato das formas imperativas em relação às relações sociopessoais, passa a ser interpretada à luz da tabela 18 onde cruzamos o grupo de fatores ‘cidade’ com o grupo de fatores ‘forma de tratamento’. Desse modo, se alguma relação sociopessoal há, e certamente há, ela já se encontra assegurada nos contextos em que as formas de tratamento são acionadas, de forma que o imperativo pode acompanhar ou não essas tendências impostas pelas relações de poder manifestas sobre as formas de tratamento.

Em Florianópolis, por exemplo, o uso assimétrico e polido da forma

senhor/senhora não conduz a um uso ostensivo da forma subjuntiva, não havendo,

portanto, codificação direta da relação de assimetria de inferior para superior com a forma verbal subjuntiva. O traço semântico de poder ou solidariedade, aparentemente, é construído pelo conjunto de recursos linguísticos e esse traço pode se espraiar para a forma verbal imperativa, que, regulada pelo fator cidade, sob á égide de um encaixamento da estrutura linguística na estrutura social, possibilita o uso cambiante com tendências de uso diferentes para ambas as formas imperativas.

Assim, os resultados obtidos com o cruzamento de dois grupos considerados relevantes para o programa mais toda a aparelhagem estatística acionada até o momento nos oferecem subsídios empíricos sólidos para aferirmos algumas conclusões:

(i) a variação das formas imperativas nas cidades de Florianópolis e Lages ocorrem

encaixadas na estrutura linguística e social, o que bem demonstra a relação sempre não

categórica entre a tendência maior de uso de formas imperativas indicativas e a forma de tratamento tu em Florianópolis e a tendência maior de uso entre a forma imperativa subjuntiva e a forma de tratamento você em Lages, o que refletiria, por conseguinte, processos de colonização mais primitivos, (ii) a variação das formas imperativas não

ocorre regulada diretamente por fatores estilísticos de relações de poder e solidariedade, antes essas relações de poder e solidariedade são codificadas

primordialmente nas formas de tratamento, ou quiçá através de outros recursos linguísticos também como os prosódicos (a serem investigados ainda), e não precisamente nas formas verbais imperativas, de maneira que, no meio do caminho entre as formas imperativas e as relações de poder e solidariedade, encontram-se as

formas de tratamento que espraiam os seus traços semânticos de polidez ou intimidade para as formas verbais imperativas, que, por sua vez, podem cambiar-se

entre formas indicativas e subjuntivas ou não.

E, por fim, a última pergunta: constituem Florianópolis e Lages duas comunidades de fala realmente distintas?

6.5 COMUNIDADES DE FALA: ESTABELECENDO OS LIMITES ENTRE FLORIANÓPOLIS E LAGES

Se há um conceito na teoria da variação e mudança que pode enfrentar alguma recusa operacional por parte dos estudiosos em sociolinguística é o conceito de comunidade de fala. Labov lança mão de critérios subjetivos para delimitar comunidade de fala: a propriedade distintiva de uma comunidade de fala é o conjunto de atitudes compartilhado pelos falantes com relação à determinada regra variável. Em seu balancete de 1982, Labov aponta a gramática da comunidade de fala como o objeto de estudo da linguística a ser estudado e o próprio reafirma que a homogeneidade na interpretação das variantes é o que confere o traçado de cada comunidade.

Essa uniformidade de atitudes manifesta em relação às variáveis linguísticas se depreenderia também, nos dizeres labovianos, de uma direção comum de variação estilística, de uma direção comum de autocorreção, e de uma direção comum de mudança. O curioso, nesse construto teórico laboviano, é que o linguista, defensor da noção de heterogeneidade, acaba se valendo de um agrupamento homogêneo para

conceitualizar comunidade de fala; dessa maneira, embora esta última seja o templo da heterogeneidade linguística, ela se constrói a partir de uma uniformidade manifesta no seu correlato subjetivo.

Scherre (2006), contudo, rebate as leituras que se fazem de Labov a respeito do conceito de comunidade de fala. Segundo a autora, Labov não define comunidade apenas a partir de um correlato subjetivo como se possa parecer, mas sim também a partir da uniformidade de padrões abstratos constitutivos do processo de variação. Dessa forma, para a autora, Labov operacionaliza o conceito de comunidade de fala na conjugação de um elemento mais visível, constitutivo da variação - que estaria atrelado à avaliação das formas, ao correlato subjetivo - e de outro elemento, menos visível, situado num plano subjacente às estruturas variáveis, ou seja, os padrões abstratos.

A aparente fluidez do conceito aliada a certa rarefação do que vem a ser, de fato, comunidade de fala tem induzido muitos sociolinguistas a optarem por operar com outros conceitos como comunidade de prática17 ou redes sociais18, conceitos estes que têm se colocado como uma alternativa à aparente falta de precisão do construto laboviano, cada vez mais tratado, indelicadamente, em alguns congressos acadêmicos como um espectro assombroso. Guy, em contrapartida, em seu artigo ‘’Comunidade de fala: fronteiras externas e internas’’ (mimeo) não descarta de todo uma operacionalização baseada no conceito de comunidade, antes por sua vez busca refiná- lo através de outros critérios definidores que se somam aos critérios subjetivos e abstratos propostos por Labov. Desse modo, o linguista americano define comunidade de fala como um grupo de falantes que (i) compartilham traços linguísticos que distinguem este grupo de outros; (ii) se comunicam relativamente mais entre eles do que com outros; (iii) compartilham normas e atitudes frente o uso da linguagem.

Percebe-se, logo, que Guy não passa a faca na noção laboviana de comunidade de fala, antes tece uma proposta cumulativa, que vai além da noção clássica de compartilhamento de normas e atitudes, todavia sem ignorar esta última. Além desse esquema tripartite para a definição do conceito, Guy salienta que as definições permitem a possibilidade de comunidades encaixadas e de um falante participar ao mesmo tempo de mais de uma comunidade. No Brasil, por exemplo, teríamos uma única comunidade de fala, a constituída por todos os brasileiros, uma vez que todos nós

17

Ver, por exemplo: Penelope Eckert. Linguistica variation: as social practice. Blackwell publishing: Oxford, 2000.

18 Para mais aprofundamento na questão das redes sociais: Lesley Milroy and Mathew Gordon:

apresentamos traços linguísticos e atitudes compartilhadas em comum, além de maior comunicação dentro do país do que com estrangeiros. Isso não impede, todavia, de termos dentro do território brasileiro a disseminação de outras centenas de comunidades de fala. Intuitivamente, se formos expostos ao dialeto mineiro e ao dialeto carioca, perceberemos que estamos transitando por comunidades de fala diferentes, possuidoras de sistemas linguísticos distintos. Essa grande comunidade de fala brasileira faria parte, segundo Guy, de outra comunidade, de maior alcance ainda, a comunidade que compreende todos os falantes de língua portuguesa no mundo inteiro.

Vê-se, desse modo, uma sedimentação em blocos da noção de comunidade de fala levada a cabo por Guy. Nessa sedimentação em blocos proposta pelo pesquisador, a diferenciação linguística recebe um tratamento especial, em uma via de mão dupla assim formulada: a diferenciação linguística é percebida pelas comunidades quando (i) há uma diferença de natureza categórica – uma comunidade tem determinada estrutura e regra e outra não – e (ii) comunidades de fala apresentam diferença no grau de aplicação de determinado efeito contextual, de sorte que falantes que compartilham as mesmas condições de contexto em um processo variável, mas são diferenciados pelo uso geral do processo, podem ser considerados usando a mesma gramática, mas falantes que mostram efeitos de contexto significativamente diferentes estão usando gramáticas diferentes.

A noção de compartilhamento de efeitos de contexto é basilar na argumentação de Guy, além de ser bastante atraente do ponto de vista metodológico. Contudo, tanto em Labov quanto em Guy, fica-nos indeterminado, impreciso e vago o número de variáveis linguísticas suficientes para definir uma comunidade de fala. Afinal, uma comunidade linguística se define por um compartilhamento de uma única variável linguística em comum ou por um agrupamento de variáveis linguísticas?19 Vamos problematizar isso na seguinte equação abaixo:

Se uma comunidade de fala X apresenta uma variável linguística A, e uma comunidade de fala Y apresenta tal variável linguística A, e tal comunidade de fala Y apresenta uma variável linguística B, e tal comunidade de fala X não apresenta tal variável linguística B, ainda assim constituem ambas uma mesma comunidade de fala?

19

Ronald Wardaugh (2001) considera que qualquer conceitualização de comunidade de fala que parta tão somente de usos linguísticos é limitada, uma vez que a língua é um instrumento com o qual falante opera muitas outras realizações na comunidade.

O que parece estar em voga tanto nos trabalhos de Labov quanto nos de Guy é que existe sempre uma tendência a definir comunidade a partir do uso de uma regra variável apenas, o que nos leva a pensar comunidade de fala como um conceito teórico construído numa relação íntima com a regra variável escolhida a ser posta em jogo por qualquer pesquisador. Em nossa pesquisa, pensamos comunidade de fala a partir da frequência de uso da regra variável do imperativo, mas o desenrolar dos resultados foi nos permitindo ver que às vezes, senão quase sempre, um processo de variação pode estar concatenado com outros e tais processos se constituírem diferentemente nas variadas comunidades. Dito isso, lançaremos mão do critério, proposto por Guy, de cruzar um conjunto de fatores de efeito restritivo contextual com as duas cidades catarinenses por nós investigadas, para traçarmos uma possível delimitação entre comunidades de fala lageana e florianopolitana através da noção de compartilhamento de efeitos de contexto.

Vimos na tabela 14, por exemplo, uma diferença emblemática na maneira como a restrição de um contexto linguístico se distribuiu ostentando padrões nada semelhantes nas cidades de Florianópolis e Lages. Nesse caso, se tomamos ‘as formas de tratamento’ como um contexto interno e seu raio de incidência bastante distinto em Florianópolis e Lages, já teríamos, nesse caso, um achado empírico que evidencia a proposta de Guy para comunidades de fala, uma vez que restrições quanto às formas de

tratamento se vinculam às formas imperativas de forma distinta no sistema linguístico de Florianópolis e Lages.

Tentando perseguir, com mais afinco, evidências empíricas que subsidiem a proposta teórica de Guy e, ao mesmo tempo, que nos ofereçam uma base de sustentação para conceituarmos Florianópolis e Lages como duas comunidades de fala realmente diferentes, únicas, cada qual com suas características, decidimos efetuar uma nova rodada de cruzamentos, só que agora entre um fator linguístico interno altamente relevante para a nossa análise – a polaridade da estrutura - e o grupo de fatores ‘cidade’. Nosso objetivo é destrinchar se a operação desse efeito de contexto se distribui de forma