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3 É IMPERATIVO INVESTIGAR A VARIAÇÃO NO

4.4 OS CINCO PROBLEMAS DA TEORIA DA VARIAÇÃO E MUDANÇA

Qualquer trabalho de sociolinguística que se entregue à missão de compreender um determinado processo de mudança, deve responder a algumas questões primordiais que estão envolvidas na instalação de uma nova variante: Em meio à densa rivalidade entre uma forma velha e uma forma nova num dado momento temporal, a teoria da variação e mudança encontra seu eixo de problematização no quinteto formulado por Labov, Herzog e Weinreich. (2006 [1968]), que abrange os cinco problemas relacionados a um processo de mudança linguística a que toda teoria deve, ao menos, esboçar responder: (i) o problema dos fatores condicionantes, (ii) o problema da transição, (iii) o problema do encaixamento, (iv) o problema da avaliação e (v) o problema da implementação:

a) O problema dos fatores condicionantes: para equacionar esse problema, Labov preconiza a necessidade de se detalhar minuciosamente mudanças em progresso, procurando estabelecer o conjunto de mudanças possíveis e as condições possíveis para a mudança. Para medir essas condições, faz-se necessário catalogar uma

gama de fatores condicionais, de cunho estrutural, social ou estilístico, a fim de captar a intensidade das forças propulsoras ou retentoras do processo de mudança em curso. No caso das formas imperativas, acreditamos que, nas cidades de Florianópolis e Lages, fatores de ordem social, estilística e interna estejam comandando a marcha desse processo.

b) o problema da transição: Percorrer o rastro da mudança é a chave para resolver esse impasse em torno do problema da transição. Assim, busca- se encontrar um estágio interveniente entre uma estrutura A e uma estrutura B, tal estágio se revela comumente durante o tempo em que duas formas competidoras existem em contato no interior da competência linguística do falante, além disso, Labov insinua que a transferência tende a ocorrer entre grupos de pares de faixas etárias levemente diferentes. Em nossa pesquisa, a fim de tentarmos responder ao problema da transição, olharemos para a nossa regra variável em uma perspectiva inter-individual, procurando nos atentar se o componente geracional aponta padrões distintos de uso em ambas as cidades.

c) O problema do encaixamento: O arrazoado laboviano considera que

qualquer mudança linguística sob investigação deve ser vista como encaixada no sistema linguístico como um todo, e o que se torna necessário, então, é alumiar a natureza desse encaixamento na estrutura linguística. Tem que se considerar ainda que esse problema do encaixamento extravasa também para um contexto mais amplo, em que variações sociais e geográficas acabam se tornando intrínsecas à estrutura da língua, o que Labov chama de encaixamento na estrutura

social. No desenvolvimento da mudança linguística, pode-se averiguar

que certas estruturas lingüísticas se encaixam desigualmente na estrutura social, sendo que, segundo Labov, nos estágios iniciais e finais de uma mudança, pode haver muito pouca correlação com fatores sociais. Em nosso trabalho, para pensarmos o problema do encaixamento linguístico, partiremos das reflexões iniciadas por Faraco, que contemplou a inovação no uso do imperativo no PB imbricada no campo minado de tensões que a entrada do pronome você provocou no sistema linguístico do PB. Além disso, partindo das pesquisas até então

conduzidas no Brasil, que demonstram ser o fator geográfico aquele mais saliente agindo sobre a variável imperativa, procuraremos em nossa pesquisar estabelecer esse grau de correlação entre a distribuição geográfica e a estrutura linguística.

d) O problema da avaliação: Esse problema traça uma relação entre correlatos subjetivos e variáveis linguísticas, ou mais precisamente, o nível de consciência social envolvido no processo de mudança em curso. Scherre tem defendido que as formas imperativas não conhecem estigma social, o que acaba tornando convidativo pensar sobre o ritmo do processo de mudança no imperativo em PB: estariam as formas imperativas em variação estável ou caminhando mais vertiginosamente para um estágio final de mudança na língua oral, uma vez que a destituição de carga social negativa imposta sobre essas formas poderia provocar um aceleramento no processo em jogo. Em nossa pesquisa, não iremos operar com testes de atitudes, mas acreditamos que o controle de certas variáveis sociais possa nos oferecer algumas pistas para responder ao problema da avaliação.

e) O problema da implementação: Esse é talvez o mais enigmático e

obscuro problema entre os cinco: por que uma mudança ocorre numa dada língua, numa dada época e não em outra língua e em outra época? É quase insano formular hipóteses preditivas categóricas para tais questões, tendo em vista que todo processo de mudança está imbricado numa rede complexa de estímulos e restrições que não conhecem limites e nem tampouco repetições cíclicas, dada a singularidade histórica e cultural que circunda cada processo de mudança em curso. O que podemos apontar no momento são indícios, ainda que ingênuos, através do controle de variáveis linguísticas e sociais, para uma possível insinuação a respeito de por que dada mudança linguística ter vindo a insurgir. Por isso, Labov considera que uma explicação definitiva e cabal para esse problema tem que ser formulada após a completude do processo de mudança linguística.

Com os cinco problemas da teoria da variação e mudança devidamente articulados com o nosso objeto de estudo, resta-nos dizer que, se ao fim e ao cabo desta pesquisa, conseguirmos lançar luzes, ainda que trôpegas e bruxuleantes sobre tais questões, já estaremos por demais satisfeitos.