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As competências do profissional da Sociedade da Informação e do

Capítulo 3 A formação no Curso Profissional de Técnico de Turismo 73!

2. As competências do profissional da Sociedade da Informação e do

Numa configuração mundial marcada pela incerteza e fragilidade, o profissional, na perspetiva de Le Boterf (2003:24), deve possuir um corpus de conhecimentos e habilidades que é reconhecido e valorizado no mercado de trabalho; precisa de assegurar um conjunto de missões, funções, tarefas no seu emprego; deve aprofundar as relações com os outros atores, outros empregos e com a empresa /organização no seu conjunto. As competências do novo profissional permitem a adaptação a mudanças de empregos ou de setores de atividades e são, conforme pensa Le Boterf (2003:34): “garantia

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contra os riscos de mudança e um trunfo para administrar a sua mobilidade social, e, portanto, a sua empregabilidade”.

Num mundo de complexidades, que competências devem ser capitalizadas por um profissional?

Diversas instituições transnacionais e governamentais têm-se debruçado sobre a emergência de novas competências a desenvolver nos cidadãos da “Sociedade do Conhecimento” para os capacitar a enfrentar os novos paradigmas da economia e da sociedade em geral.

O Relatório Jacques Delors (1996:77) define, para a realização completa do homem, quatro pilares da educação – aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver juntos e aprender a ser – como aprendizagens que “a educação deve transmitir, de facto, de forma maciça e eficaz […] pois são as bases das competências do futuro” e que “não se apoiam, exclusivamente numa fase da vida ou num único lugar. […] Cada pessoa, ao longo de toda a sua vida, possa tirar o melhor partido dum ambiente educativo em constante alargamento” (Relatório Jacques Delors, 1996:87).

Os domínios de aprendizagem evocados são os alicerces que dão sustentabilidade a cidadãos responsáveis, autónomos, criativos, participativos, cooperantes, tolerantes e respeitadores dos outros, com capacidades para compreender-se melhor a si mesmo e aos outros. O desenvolvimento e a realização pessoal dos indivíduos, assim como a sua integração social e profissional e, até, a posterior continuidade em ciclos de formação, dependem enormemente da aquisição destas competências transversais e essenciais que se tornam mobilizadoras para construir novas competências – mais específicas – necessárias ao trabalhador da sociedade do conhecimento e que continuadamente devem ser atualizadas, como se escreve no Relatório Delors (1996:89): “Hoje em dia, ninguém pode pensar adquirir, na juventude, uma bagagem inicial de conhecimentos que lhe baste para toda a vida, porque a evolução rápida do mundo exige uma atualização contínua dos saberes, apesar da educação inicial dos jovens tender a prolongar-se”.

Também os estados-membros da UE reconhecem a necessidade de definir um conjunto de competências pois, segundo a Declaração de Maastricht (2004), há um desfasamento entre os níveis de formação exigidos para os novos postos de trabalho e os alcançados pela mão-de-obra europeia. Um estudo, então apresentado, mostra que cerca de oitenta milhões de pessoas estavam pouco qualificadas. Esta constatação conduz as instituições da União para um impulso mais dinâmico na definição de estratégias que valorizem a educação e formação dos cidadãos, mobilizando-os para a sua realização e desenvolvimento pessoais, para o estímulo de uma cidadania ativa e para a promoção de maior inclusão social e emprego. Assim, em 2006, o Parlamento e o Conselho Europeus recomendam, aos Estados-Membros, oito competências-chave de aprendizagem (Key competences for lifelong learning) necessárias para uma sociedade baseada no conhecimento que devem ser desenvolvidas a partir da infância e ao longo da vida. Estas competências estão explicitadas em termos de conhecimentos, skills e atitudes correspondentes:

- Comunicação em língua materna; - Comunicação em línguas estrangeiras;

- Competências em matemática e competências básicas em ciência e tecnologia;

- Competência digital; - Aprender a aprender;

- Competências sociais e cívicas;

- Sentido de iniciativa e espírito de empresa; - Consciência e expressão cultural.

As instituições europeias definem, assim, o perfil do “moderno cidadão europeu”, capaz de se integrar na sociedade do conhecimento e contribuir para tornar a Europa no espaço económico mais dinâmico do Mundo.

Para além de governos e instituições supranacionais, também, vários estudos, desenvolvidos desde o limiar do século XXI, assinalam as competências valorizadas no novo trabalhador que se direcionam para a eficiência nas estruturas e nos processos de trabalho das organizações.

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Zarifian (2001) apresenta três núcleos de competências básicas que, na sociedade do conhecimento, são exigidas ao trabalhador: competências participativas que requerem a capacidade dos trabalhadores conhecerem de forma integral a função e o funcionamento de uma organização, de ser capaz de intervir no seu contexto e participar na redefinição das suas estruturas; competências transversais, relativas à cooperação em equipa e em redes de diferentes setores, implicando a compreensão do processo integral da produção e dos serviços e competências sociais que integram a autonomia, a responsabilidade e a capacidade de comunicação. Estas competências, que abrangem os domínios do saber, do saber-fazer e saber-ser e estar, são, segundo Zarifian (2001), o suporte para o profissional ser proactivo, tomando a iniciativa e assumindo responsabilidades frente a situações-problema.

Para Le Boterf (2003:120-121), o profissional é “aquele que sabe administrar uma situação profissional complexa” pelo que deve mobilizar e combinar um conjunto de recursos pessoais e de recursos do meio. Os recursos pessoais, considerados recursos incorporados na personalidade do indivíduo são bastante heterogéneos e irregulares – saberes, capacidades cognitivas habilidades, experiências, qualidades pessoais e recursos emocionais, - e, por isso, o profissional deve saber selecioná-los e combiná-los, segundo os objetivos a alcançar (atividades, projetos ou problemas a resolver). Os recursos do meio são recursos externos e disponíveis para complementar os recursos pessoais e facilitar a mobilização de saberes.

Os saberes abrangem os saberes teóricos, necessários para compreender um objeto, um fenómeno, um processo, uma situação; os saberes do meio que permitem a adaptação a situações específicas onde se exerce a ação; os saberes procedimentais que visam os procedimentos, métodos e os modos operativos adequados à ação.

O saber-fazer integra o saber-fazer formalizado que é o domínio da aplicação dos saberes adquiridos; o saber experiencial que advém da aprendizagem pela experiência prática, envolvendo os sentidos como a visão, a postura, os reflexos, a sensibilidade e a intuição; o saber-fazer cognitivo que

resolução de problemas, à conceção e realização de projetos, às capacidades de decisão e criatividade.

As aptidões e qualidades pessoais, designadas de “competências comportamentais”, como o relacionamento interpessoal, rigor, força de convicção, autoconfiança, curiosidade de espírito, reatividade, capacidades de escuta, iniciativa, tenacidade e atitudes de acolhimento que são, cada vez mais, importantes no mundo do trabalho.

Os recursos emocionais e fisiológicos relacionam-se com a capacidade de controlar as reações emocionais que podem conduzir a riscos, obstáculos ou podem ser auxílio na solução de problemas.

Assim, na perspetiva de Le Boterf (2003), o perfil do novo profissional é determinado pela mobilização e gestão de um conjunto de capacidades, tais como saber:

- agir com pertinência;

- aprender e saber aprender a aprender;

- mobilizar recursos e conhecimentos em contexto profissional; - empenhar-se;

- empreender; - envolver-se;

- ter visão estratégica – conhecer e entender o negócio da organização, o seu ambiente, identificando oportunidades alternativas.

Kovács e Castillo (1998) também estudaram o perfil do profissional na sociedade do conhecimento, assinalando um conjunto de competências como as capacidades de comunicação, cooperação e trabalho em equipa, qualidades exigidas devido à maior interdependência de funções e tarefas; o aumento da responsabilidade resultante da necessidade de resolver situações imprevistas; capacidade de lidar com a vulnerabilidade aos erros e às falhas inerentes de novos sistemas técnicos e capacidade de aprendizagem contínua.

Tavares (2001:46) reflete sobre as competências atitudinais requeridas pela nova ordem social e económica, acentuando as relações interpessoais e apelando à formação do profissional que deverá tornar a pessoa

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Flexível, reflexiva, aberta, criativa, livre, inteligente, emocional, autêntica, empática, disponível, comunicativa, resiliente, capaz de resistir às mais variadas situações, mais ou menos complicadas e difíceis, sem quebrar, sem perder o equilíbrio, por mais adversas que essas mesmas situações se lhe apresentem.

Azevedo (1999:31-32) apresenta um leque de competências, que denomina de “núcleo duro” e que são requeridas pelos “setores mais modernos da

economia”. O autor assinala, por um lado, as competências básicas (leitura,

escrita e cálculo) e por outro, as competências gerais e transferíveis, as mais solicitadas pelos empregadores - capacidades de iniciativa, criatividade e autonomia; capacidade de aprendizagem contínua e resolução de novos problemas; capacidade de recolher, tratar e utilizar informação pertinente; capacidades de autoestima, motivação e comunicação; conhecimento da “cultura” das organizações – e a capacidade de empreendedorismo, competência considerada nuclear que envolve um conjunto de outras competências, consideradas essenciais para o perfil do novo profissional, tais como iniciativa, autonomia e capacidade de inovação para a concretização de novas ideias e novos projetos.

O Relatório Mesa Redonda dos Industriais Europeus (1995) sinaliza um conjunto de competências que estão “insuficientemente desenvolvidas”, exigindo a atenção dos sistemas educativos, no sentido de responder às novas necessidades da sociedade e da indústria:

- Domínio da língua materna, nomeadamente no que concerne à ortografia e construção frásica;

- Compreensão dos fundamentos da matemática e das ciências, essenciais à abordagem das novas tecnologias;

- Técnicas de aprendizagem de novas competências e de adaptação a novas situações;

- Capacidade de comunicar, incluindo o domínio de uma língua estrangeira; - Capacidade de espírito de equipa e de trabalhar em grupo;

- Sentido de responsabilidade e de disciplina pessoal;

- Capacidade de tomar decisões, sentido de abertura e de aceitação de risco;

- Espírito de profissionalismo, sentido de competição e procura da excelência;

- Sentido de serviço à comunidade e espírito crítico.

Segue-se, do que fica explicitado, que o “novo trabalhador” deve cultivar um conjunto de competências pessoais nos domínios do saber, do saber- fazer e do saber-ser e estar para se poder integrar no mundo do trabalho que é extraordinariamente competitivo. Por isso, se torna evidente, como escreve Azevedo (2001:310), a “irrecusável necessidade de dotar as crianças e os jovens com um manancial de novas competências que lhes facilite, no futuro, uma adequada inserção social e um exercício profissional eficiente e gratificante”. Mas para que isto possa acontecer, como referem Kovács e Castillo (1998: 88-89), o aparelho educativo e formativo deve organizar-se no sentido de promover um conjunto de competências gerais e sociais em conjugação com as empresas pois o sistema formal de ensino-formação tem dificuldades em responder rapidamente aos requisitos da sociedade e da produção que se encontram em constantes mutações.