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O Turismo em Portugal: evolução e perspetivas de futuro 60!

Capítulo 2 A Indústria Turística e os Recursos Humanos 50!

2. O Turismo em Portugal: evolução e perspetivas de futuro 60!

Desde os finais do século XIX que, segundo Brito (2011), entidades públicas e privadas desenvolveram ações para promover e divulgar Portugal como um destino turístico. A Sociedade de Propaganda de Portugal, em 1911, organiza o 4º Congresso Internacional de Turismo, em Lisboa, o que reflete o empenho da organização em sensibilizar os nacionais e estrangeiros para as potencialidades turísticas do país. Das conclusões do Congresso, destacou-se a necessidade de criar um organismo oficial de turismo que contribuísse para o desenvolvimento das atividades turísticas, o que veio a concretizar-se com a criação da Repartição e do Conselho de Turismo e comissões locais de turismo.

É, a partir de então, que o turismo, em Portugal, começa a ser reconhecido como um fator de desenvolvimento de transportes e da economia nacional, como se depreende da comunicação de Thomas Cabreira, deputado à Assembleia Nacional Constituinte, em agosto de 1911, referindo-se a outros países:

Todos os países procuram hoje desenvolver a indústria do turismo como uma das que dá resultados mais apreciáveis para a economia nacional. A luta para a conquista do viajante vae-se acentuando cada vez mais entre os diversos povos. A Suissa, a França, a Allemanha, a Bélgica e a Holanda fazem um reclamo enorme às suas estações balneares, therinaes e alpestres, realizam obras extremamente dispendiosas e constroem caminhos de ferro, unicamente destinados ao turismo

(Assembleia Nacional Constituinte, Sessão nº1, 7 de agosto, de 1911:5).

Ao longo de quatro décadas (1910-1950), são criadas e reformadas várias estruturas com o intuito de promover o turismo de Portugal, sendo exemplo deste esforço, entre outros, a criação da Administração Geral das Estradas e do Turismo (1920); o Bureau Renseignements, fundado em Paris (1921), foi a primeira representação do turismo nacional no estrangeiro; a criação das Comissões de Iniciativa (1921), com o fim de promover o desenvolvimento das

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estâncias” hidrológicas, de praias, climatéricas, de altitude, repouso e turismo” para proporcionar aos seus frequentadores “um meio confortável, higiénico e agradável” como refere Cunha (2007:433); a Comissão de Propaganda do Turismo de Portugal (1930) e o Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo (1944).

Com o início da II Guerra Mundial, começa um período de letargia para o turismo europeu e, consequentemente, para o turismo português, que vai até à década de 50.

Para efetivar o relançamento do turismo é promulgado, em 1956, o Estatuto do Turismo, considerado por Cunha (2007:434) a lei de Bases do Turismo que procede a uma grande reforma administrativa, consagrando a criação de organismos como as regiões de turismo e o Fundo de Turismo, cujo objetivo era assegurar comparticipações financeiras para projetos viáveis de investimento turístico, redefinindo-se novas competências e atribuições aos órgãos locais de turismo.

Na década de 60, segundo Rosas (1994:474), num contexto de se “procurar reforçar o crescimento à sombra de uma maior ligação ao exterior”, a atividade é considerada fundamental nos Planos de Fomento: O Plano Intercalar de Fomento (1965-1967) considera o turismo como “valioso instrumento nacional” e o III Plano de Fomento (1968-1973) assinala-o como “setor estratégico de crescimento económico”.

Em 1964, segundo Cunha (2007:435), dá-se a “explosão do turismo português”, catapultando Portugal para a lista dos destinos turísticos, com um aumento, nesse ano, de 96% de entradas, atingindo-se um milhão de visitantes.

No início e meados da década de 70, houve alguns retrocessos, explicáveis pela crise petrolífera de 1973 e pela instabilidade política no período subsequente à revolução de 25 de Abril de 1974. A recuperação, que se acentua a partir de 1979, é acompanhada por uma política de incentivos estatais, com apoios financeiros, visando a melhoria das estruturas e dos produtos turísticos.

Matias (2007:57) lembra que a adesão de Portugal, em 1986, à Comunidade Económica Europeia, incentiva novos investimentos com o recurso aos fundos estruturais, cuja aplicação se reflete na diversificação da oferta turística, consubstanciada na procura do interior que oferece o turismo rural e de habitação, com impacto na “dessazonalização” das receitas turísticas, concentradas no turismo de “sol e praia” que ocorre na época balnear de junho a setembro.

Nos anos 90, o fenómeno turístico cresceu, ainda que marcado por algumas oscilações decorrentes da crise económica mundial que afetou os países emissores. Contudo, a tendência foi para o crescimento como se verifica com a existência de 12 milhões de turistas em Portugal, considerando os nacionais e estrangeiros, assinalados no Plano Estratégico Nacional do Turismo (2007:19), relativamente ao ano 2005.

Perante as previsões de crescimento de turistas ao longo da segunda década do século XXI, e num contexto de mercado global onde novos destinos emergem, Portugal tem desenvolvido estratégias para garantir a competitividade e o crescimento sustentado. Este esforço está patente na definição de Planos Nacionais e na reorganização dos organismos que têm a responsabilidade de acompanhar o setor. Para Ferreira (1995), as Grandes Opções de Plano, Programas de Governos, o Plano de Turismo Nacional (1986), e Plano de Desenvolvimento Regional (1994-99) assinalam várias áreas de intervenção, consideradas estruturantes, para afirmar Portugal como destino turístico:

- desenvolvimento de eixos e pólos turísticos; - diversificação de produtos;

- valorização do património histórico-cultural; - aproveitamento dos recursos naturais; - aposta na organização de grandes eventos; - diversificação de mercados;

- promoção interna e externa do turismo;

Capítulo 2 – A Indústria Turística e os Recursos Humanos

Em 2007, o Decreto-lei nº 141/2007,de 27 de abril, cria um novo modelo organizacional no âmbito do Turismo, concentrando numa única estrutura, o Turismo de Portugal, I.P, as competências que estavam distribuídas por outros organismos que, entretanto, são extintos. O Turismo de Portugal, I.P. tem competências, entre outras, para qualificar e desenvolver as infraestruturas turísticas; desenvolver a formação de recursos humanos; apoiar o investimento no setor; coordenar a promoção interna e externa de Portugal como destino turístico e assegurar a implementação do PENT até 2015. Este documento, que procede ao diagnóstico e à definição de objetivos e desenvolvimento de estratégias para o crescimento sustentado e promissor do turismo nacional, apresenta os elementos que diferenciam Portugal de outros destinos turísticos e 10 produtos turísticos estratégicos com potencialidades de crescimento.

Como fatores diferenciadores, mencionados por operadores e outros agentes de mercado que atraem turistas a Portugal, o PENT (2007) sinaliza os seguintes: - clima e luz (temperaturas amenas, pouca precipitação e elevado número

de dias de sol e horas de luz);

- história, cultura e tradição (preservação de tradições – festas populares, trajes regionais, romarias, procissões, música tradicional, fado, tradições académicas e ligação ao Atlântico e aos Descobrimentos);

- hospitalidade (o povo português tem caráter brando, afável, comunicativo e boa recetividade); qualidade dos estabelecimentos turísticos e seus serviços; gastronomia e vinhos;

- diversidade concentrada (mar, praia, planície, montanha, ruralidade, floresta, cidade, golfe e casinos; multiplicidade de influência de culturas como as dos celtas, romanos, muçulmanos, povos da época da Expansão Marítima; culturas sub-regionais como a minhota, a duriense, a algarvia, a alentejana, a madeirense e a açoriana).

A afirmação do valor turístico de Portugal impõe, segundo o PENT (2007), o investimento, em 10 produtos turísticos com potencialidades de crescimento: Sol e Mar; Touring Cultural e Paisagístico, City Break, Turismo de Negócios, Turismo de Natureza, Turismo Náutico (incluindo cruzeiros), Saúde e Bem-Estar,

Para além da criação do valor turístico de Portugal, requer-se uma abordagem aos mercados emissores de turistas. O PENT no documento “Propostas para Revisão no Horizonte 2015 – Versão 2.0” (2011) define estratégias para atingir mercados – alvo, como os mercados estratégicos - Espanha, Reino Unido, Alemanha e França – mercados que estão em crescimento – Escandinávia, Holanda, Itália, Brasil, EUA, Irlanda, Bélgica e Suíça – e empreender esforços de diversificação, apostando em mercados como a Polónia, Áustria, Canadá, Rússia e República Checa, tendo em vista reduzir o grau de dependência dos mercados tradicionais/estratégicos. O documento referido estima que, em 2015, os hóspedes estrangeiros cheguem a um valor entre 8 a 8,9 milhões e os hóspedes nacionais atinjam um valor que se situe entre os 6 a 6.7 milhões.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, relativos ao ano 2011, apresentados pelo Turismo de Portugal, os espanhóis, ingleses, alemães, franceses, e brasileiros lideram os rankings da entrada de estrangeiros em Portugal (gráfico 3) e segundo a OMT (2011), Portugal ocupa, atualmente, o 15º lugar do ranking mundial dos países recetores de turismo e o 5º no espaço europeu.

Fonte: INE – Instituto Nacional de Estatística Gráfico 2 - Hóspedes estrangeiros, TOP 5 – quota 2011

Espanha' 18,7' Reino'Unido' 16,7' Alemanha' 10' França' 8,9' Brasil' 6,2' Outros' 39,5'

Capítulo 2 – A Indústria Turística e os Recursos Humanos

Para se atrair turistas daqueles mercados emissores, os agentes públicos e privados, segundo o PENT (2007), devem assegurar a autenticidade, timbrada pela modernidade, a excelência, a oferta estruturada, distintiva e inovadora.

A aposta na modernidade e excelência determina, como aponta Cunha (2007:170), a importância de se atender não só aos valores pessoais dos turistas mas também ao fortalecimento da cultura e do património a que o autor chama de “Novo Turismo”, caracterizado pelos 3 novos “S”- Sophistication,

Specialization and Satisfaction que deve substituir o turismo tradicional, centrado

em 3”S” – Sun, Sea and Sand.

A oferta de produtos turísticos com qualidade, capazes de satisfazer as necessidades do turista, só obterá sucesso, segundo Cooper et al (2007:724), “nas mãos de uma força de trabalho qualificada, treinada, enérgica, multilingue e empreendedora, que entenda a natureza do turismo e tenha uma sólida formação profissional”. Assim, no campo dos recursos humanos, só a educação e formação dos profissionais poderá responder ao comportamento turístico das pessoas oriundas da sociedade do conhecimento que são detentoras de maior nível de exigência, mais experiência e mais capacidade de discernimento.