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Os estudos acerca das contribuições da extensão universitária na formação universitária seguem linhas de estudos variadas. Em sua maioria, destacam sua construção histórica bem como a pouca valorização que lhe foi atribuída ao longo dos anos.

Muitos desses estudos discutem a relação entre ensino, pesquisa e extensão e as dificuldades de concretização de trabalhos capazes de estabelecer efetiva relação de indissociabilidade entre eles.

Em relação às contribuições para a formação de educadores, os estudos discutem sobre as contribuições da experiência6 para o fazer profissional (no sentido de prática, exercício) e para a conquista de relações mais próximas entre teoria e prática.

Também existem pesquisas que apontam para as percepções dos estudantes com relação às contribuições da extensão em seu processo formativo. Estes, por sua vez, indicam elementos de contribuição para além da formação profissional. Os estudos também revelam que as principais motivações dos estudantes para participar de projetos de extensão estão

relacionadas a aquisição de maior conhecimento na área de formação e procura por “ação social”. Na visão dos estudantes, os maiores aprendizados proporcionados pela extensão dizem respeito a: 1) aprender a conviver com o diferente; 2) elaborar planejamento de atividades distintas para cada grupo atendido; 3) perceber que o conhecimento acadêmico não é o único saber existente na sociedade. (SILVA, A. R., 2011).

A seguir, trechos de relato de Aline Almeida. A então estudante do curso de fisioterapia da UFPB em 2006 nos traz, de uma forma linda, sua trajetória de aprendizados na Extensão Popular.

Início das primeiras aulas na Universidade. Cadáveres me cercam, alguns até parecem olhar profundamente, desafiando-me. O modo frio como os corpos são minuciosamente estudados, na sua forma puramente orgânica, fazia-me refletir sobre o verdadeiro papel desses “objetos” de estudo. Parecia-me natural a necessidade ou curiosidade de conhecer as histórias de vida daqueles cadáveres, mas a pressão e a obrigação de saber todos os seus detalhes anatômicos fizeram-me esquecer da minha compaixão, que ficou parecendo ingênua, aceitando como normal tudo o que antes tinha como anormal.

As angústias e incertezas sucediam-se. As aulas não passavam de informações depositadas por um detentor único do saber, a quem devia o meu respeito e admiração por tal posição. Sentia-me no papel de um religioso no sublime momento da confissão. Bastava-me apenas, escutar horas a fio aquela ladainha, muitas vezes inútil.

Aos poucos fui sentindo-me parte do sistema, estudando demasiadamente, ouvindo o professor com atenção e tendo boas notas. A rotina diária, assistir à aula e estudar, alimentava-me na perspectiva de me tornar excelente profissional, instalar clínica particular e ganhar dinheiro. Atendia os pacientes pela sua patologia, por um membro ou parte afetada. Tornava-me técnica e mecanicista.

Preocupações em aumentar meu currículo surgiam. Resolvi então, participar da extensão universitária. O que nunca imaginava é que essa experiência me proporcionaria a abertura de várias outras portas de conhecimento, atividades, ideias, atuação e ação. A vivência em comunidade permitiu-me conhecer a realidade antes renegada e periférica. A desigualdade social, a necessidade de melhores condições de moradia, saneamento e saúde saltaram aos olhos de forma imediata. Porém, só a convivência semanal com as famílias visitadas permitiu-me perceber a riqueza aparentemente despercebida, o aconchego, a alegria, a cultura e os valores próprios da comunidade. A descoberta dessas preciosas minúcias se tornaria praticamente impossível confinada dentro de uma sala de aula. A atuação baseada na Educação Popular me fez amadurecer como estudante e crescer como pessoa. Adentrar e participar da vida das pessoas, criar laços de amizade, compartilhar experiências, engrandeceu-me indescritivelmente [...] Comecei a comparar-me a uma lagartinha que antes estava dentro do casulo, presa, solitária, incapaz. A enxurrada de experiências instigou-me e comecei a querer tornar-me borboleta, soltar as amarras, conhecer a vida além dos muros da Universidade gessada a que estava acostumada. (ALMEIDA, 2006, p. 28).

Concordo com Jezine (2004), a “confirmação da extensão como função acadêmica da Universidade não passa pelo estabelecimento da interação ensino e pesquisa, mas implica a sua inserção na formação do aluno, do professor e da sociedade”. Os elementos trazidos por Aline Almeida (2006) tratam de um processo de educação para além da versão qualificada de um profissional para o mercado de trabalho, conectado às dimensões do ensino e da pesquisa. O que foi lançado por sua reflexão perpassa um processo de educação e de humanização.

Importante ressaltar que, apesar de todo o avanço das discussões acerca do papel da extensão, alguns trabalhos também apontam para o fato de que ainda hoje há uma visão assistencialista impregnada em muitas ações de extensão.

Contudo, em todos os estudos, é destacada a extensão como um espaço importante para a construção dos saberes educacionais necessários para a formação humana e profissional. As discussões procuram não dissociá-la do ensino e da pesquisa, e tentam pensá- la no que há de potencial para a melhoria da qualidade do ensino.

Pedro Cruz (2010) analisou o significado pedagógico da participação estudantil na organização da Articulação Nacional de Extensão Popular (Anepop), de modo a perceber como a participação no movimento contribui para a formação estudantil universitária. Segundo o estudo, a Anepop demonstra força político-transformadora da pedagogia da Extensão Popular. Esta, por sua vez, segundo o autor, desafia os modelos tradicionais e insere os estudantes em espaços de protagonismo com repercussão nacional.

Luciana Castro (2004) busca perceber a produção de conhecimentos emancipadores a partir da experiência na extensão universitária. Ela destaca a importância da extensão no processo de formação dos discentes e a importância de estudos que contribuam para a consolidação de um campo de conhecimento específico.

Com base nos conceitos de conhecimento-emancipação de Boaventura de Souza Santos e de experiência de Walter Benjamim, Castro (2004), aponta para a extensão como um novo modo de produção de conhecimento não preocupado com a objetividade, mas preocupado com a solidariedade, com as relações com o outro, com a reflexão sobre o modo de produção de conhecimento baseado na vivência, no vivido, na experiência. (CASTRO, 2004, p.5).

A extensão percebida através desse prisma provoca nas Instituições o debate acerca da natureza social da Universidade. Ela aponta para conceitos relevantes para o enfretamento de crises ‒ dois dos quais aprofundarei ao longo do trabalho: a alteridade e o diálogo.