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1.3 AS FUNÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1.3.3 A liderança do magistrado

1.3.3.1 As definições de liderança

Daniel Katz e Robert L. Kahn42 consideram a essência da liderança organizacional como o incremento de influência sobre e acima do cumprimento mecânico das diretivas rotineiras da organização.

40 ROBBINS, Stephen P. Administração: mudanças e perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2002.

41 MOTTA, Paulo Roberto. Gestão contemporânea: a ciência e a arte de ser dirigente. 16. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 206.

Já para Cecília Whitaker Bergamini43, as definições de liderança conservam o denominador comum de a liderança estar associada a um fenômeno grupal, envolvendo duas ou mais pessoas. Logo, é um processo de influência exercido de forma intencional por parte do líder sobre os liderados. Para essa autora, a liderança é tida como sinônimo de motivação e administração do sentido daquilo que se faz, bem como um processo resultante da formação de vínculos sociais. Liderar é ser capaz de administrar o sentido que as pessoas dão àquilo que estão fazendo. Nisso implica o conhecimento e domínio das características da cultura da organização, ao mesmo tempo em que liderar exige também o conhecimento do sentido que cada um dá à atividade que desempenha.

Por outro lado, Stephen R. Covey44 ensina que o desafio do líder é libertar as mentes e os corações das pessoas, em busca de maior criatividade e produtividade e de melhores resultados:

Liderança é a arte da capacitação, ou seja, a aptidão para reforçar o poder das pessoas, mediante o aproveitamento de seus recursos físicos, mentais, sentimentais e espirituais, tendo como base a eficácia e a integridade dos líderes (princípios). Os líderes que adotam esse paradigma vêem os indivíduos como seres humanos integrais, conscientes de que o capital humano (intelectual e sócio-emocional) é o ativo mais valioso de qualquer organização.

Na visão de Maria Leonor Cunha Gayotto e de Ideli Domingues45, liderança é nova qualidade da empresa que envolve sinergia e autoridade:

Liderança é provocar um clima em que todos queiram contribuir para uma produção eficiente e eficaz, em que todos tenham interesse em aprender recursos técnicos e teóricos para resolver os problemas e efetuar melhorias. É um novo modo de vida no trabalho, em que todos participam e usufruem.

Por outro lado, destacamos o conceito de “liderança silenciosa” na obra de Joseph L. Baldaracco Jr.46, como sendo o modo de perceber os fluxos dos acontecimentos e discernir as melhores medidas de fazer a diferença. É uma expressão de confiança na força das pequenas proezas ou longa seqüência de pequenos esforços, que, apesar de seu ritmo convenientemente lento, geralmente é o método mais rápido de transformar uma organização em um lugar

43 BERGAMINI, Cecília W. Liderança: administração do sentido. São Paulo: Atlas, 1994, p. 22. 44 COVEY, Stephen R. Liderança baseada em princípios. Rio de Janeiro: Campus, 2002. Prefácio.

45 GAYOTTO, Maria Leonor Cunha; DOMINGUES, Ideli. Liderança: aprenda a mudar em grupo. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 19.

46 BADARACCO JR., Joseph L. O sucesso dos líderes: um guia não ortodoxo para fazer a coisa certa. Rio de Janeiro: Campus, 2002, p. 20.

melhor. Os líderes silenciosos diferenciam-se por uma questão de caráter e não de tática, pois fazem uso de modo responsável e eficaz, sem deslumbramento, de três qualidades: controle, modéstia e obstinação, ou seja, formas conhecidas, naturais e sensatas de pensar e agir.

Já o conceito de “liderança emocional” pode ser extraído da obra de Daniel Goleman, Richard Boyatzis e Annie McKee47, para os quais liderança é a capacidade de se imprimir nos liderados um sentimento positivo, criando ressonância – um reservatório de positividade que liberta o melhor que há em cada um. Para esses autores, a missão básica do líder é de cunho emocional.

A respeito do chamado “terceiro setor”, importante a contribuição de Mike Hudson48,

que procura caracterizar um tipo especial de liderança para as organizações que não integram o setor público e ao mesmo tempo sem fins lucrativos. As organizações do terceiro setor - organizações orientadas por valores - consideram os objetivos de cunho social acima dos econômicos, e são movidas por um desejo de melhorar o mundo. As pessoas que as administram e nelas trabalham acreditam na criação de um mundo mais justo, mais compreensivo, mas esclarecido e mais saudável. Não existem para dar lucro, mas precisam ser realmente dirigidas por “profetas” – pessoas que tenham visão de como melhorar o mundo em que vivemos. Portanto, para ter sucesso, seus líderes precisam de talento e imaginação.

O autor considera liderança uma arte, pois precisa ser forte e sensível às necessidades do grupo sem ser dominadora ou autoritária e requer o uso de várias habilidades em circunstâncias diferentes. Resume como elementos principais de liderança, os seguintes: (1) começar modestamente, construindo confiança do grupo e aumentando as expectativas; (2) promover a missão; (3) encorajar a franqueza; (4) promover apoio mútuo; (5) enfrentar as diferenças; (6) revisar o desempenho regularmente (7) encorajar a tomada de decisões sistemáticas; (8) destacar a equipe; (9) encorajar a ação e (10) celebrar o sucesso.

Ainda na mesma linha de orientação para o terceiro setor, há a contribuição de Burt Nanus e Stephen M. Dobbs49, para os quais liderança é organizar os recursos intelectuais, de pessoal e de capital da organização para movê-la na direção correta. Mais exatamente: (1) dispor ou organizar os recursos significa obtê-los, focalizar a atenção neles e inspirar ou autorizar seu uso; (2) mover uma organização significa estimulá-la, remover obstáculos ao

47 GOLEMAN, Daniel; BOYATZIS, Richard; MCKEE, Annie. O poder da inteligência emocional: a experiência de liderar com sensibilidade e eficácia. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

48 HUDSON, Mike. Administrando organizações no terceiro setor: o desafio de administrar sem receita. São Paulo: Makron Books, 1999, p. 195.

49 NANUS, Burt; DOBBS, Stephen M. Liderança para o terceiro setor: estratégias de sucesso para organizações sem fins lucrativos. São Paulo: Futura, 2000, p. 20.

progresso, realizar as mudanças necessárias para melhorar o desempenho e favorecer o aprendizado e o crescimento; (3) a direção certa é a que dá a maior e mais duradoura contribuição possível para a sociedade, para os clientes particulares ou para a comunidade servida por essa organização; a direção certa está voltada para o bem maior.

Assim, no âmbito do Poder Judiciário, podemos compreender a liderança do magistrado como a sua capacidade de despertar e manter a motivação da sua equipe para atingir os objetivos de trabalho de seu gabinete, os quais, por certo, deverão estar alinhados com os da organização como um todo.

Em que pese o magistrado seja, de fato, o gerente ou administrador do seu gabinete, isso não implica que seja, necessariamente, também o seu líder. O gestor pode ser ao mesmo tempo administrador e líder, mas são papéis que não se confundem. O magistrado pode ser um bom administrador, mas não ter liderança sobre sua equipe. Porém é certo que o bom líder também é bom administrador.

No dizer de Cecília Whitaker Bergamini50, se um bom administrador for um mau líder, o seu sucesso aparecerá se contar com subordinados que conheçam bem aquilo que fazem e possam dirigir-se na maioria das vezes sozinhos, devido aos seus fortes impulsos de realização para o trabalho. Daí a importância de o magistrado formar uma boa equipe de trabalho, que esteja comprometida com os valores da instituição, cujos integrantes tenham iniciativa e dedicação, inclusive nos períodos de ausências do magistrado, por férias ou licenças.

A liderança não pode ser confundida com a gerência ou com a administração da organização, ou de um departamento desta. A responsabilidade principal de um gerente, segundo Burt Nanus e Stephen M. Dobbs51, é operar e manter a organização de modo eficiente, e assegurar a prestação de serviços úteis para clientes ou para a comunidade ao custo mais baixo possível.

O líder, por todo o entendimento já exposto por vários doutrinadores, é muito mais do que isso. Felizmente, as características da liderança não são, necessariamente, natas e podem ser desenvolvidas e trabalhadas por quem estiver disposto. Ensina Silvino J. Fritzen52 que liderança é algo que fazemos e não que somos, ela exige resposta e não existe sem seguidores. Não há líder “nato”; o líder se forma para desempenhar suas funções adequadamente e

50 BERGAMINI, Cecília W. Liderança: administração do sentido. São Paulo: Atlas, 1994, p. 109.

51 NANUS, Burt; DOBBS, Stephen M. Liderança para o terceiro setor: estratégias de sucesso para organizações sem fins lucrativos. São Paulo: Futura, 2000, p. 20.

adquire o desempenho eficiente pelo treinamento. Em qualquer grupo, facilmente, encontramos um grande número de líderes. Todas as pessoas possuem qualidades de liderança, dependendo daquilo que os seguidores acham útil.

Já na obra de Jim Kouzes e Barry Posner53, podemos extrair a noção que os autores denominam de “líder-mestre”, segundo a qual o líder trabalha para deixar um legado, algo que “faça a diferença” e que torne o mundo um lugar melhor para se viver. Fazem uma reflexão sobre o legado, abordando quatro aspectos: (1) significância – uma das mais pesadas responsabilidades dos líderes é certificar-se de que aqueles sob sua liderança não vivam somente para o sucesso, mas também para a significância. Líderes exemplares se interessam mais pelo sucesso alheio do que pelos seus próprios. Suas maiores realizações são os triunfos das pessoas a quem eles servem; (2) relacionamentos – a liderança é um relacionamento entre aqueles que aspiram liderar e aqueles que escolhem seguir; (3) aspiração – o desenvolvimento da liderança implica o autodesenvolvimento, uma exploração do território interior. Os líderes devem decidir o que realmente importa na vida e espera-se que olhem para o futuro, enxergando além do horizonte do tempo e que nos comuniquem o que vêem; (4) coragem – só se pode fazer a diferença quando nos posicionamos sobre coisas que importam, o que significa viver com coragem.

Por fim, Lucinda Watson54 relaciona, na sua ótica, quais são os ingredientes necessários para tornar-se líder: (a) autoconfiança; (b) auto-estima; (c) capacidade de identificar algo que o entusiasme e de segui-lo com intensidade e persistência; (d) consciência de que o sucesso não pode ser obtido sem ajuda e (e) impulso forte à realização.