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1.3 AS FUNÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

2.2.1 Os processos básicos

Como já mencionamos, os processos básicos dizem respeito aos processos de trabalho propriamente ditos, ou seja, as ações realizadas pelo gabinete do magistrado que agregam valor e produzem uma transformação. Isso é visível porque os autos dos processos judiciais entram no gabinete e, quando saem, recebem um acréscimo, consistente em alguma manifestação do relator, quer seja por despacho, decisão monocrática ou acórdão. Destacam- se, pela pertinência e relevância, as seguintes rotinas do gabinete passíveis de acompanhamento.

2.2.1.1 A verificação da competência

O Regimento Interno do Tribunal de Justiça define a competência das Câmaras segundo a especialização por matérias (vide item 1.3.1.4, onde consta a transcrição dos artigos do Regimento Interno que tratam do assunto). No momento em que os autos do processo ingressam no gabinete, é necessária a verificação da competência. Aqui, usamos o termo “processo” tanto para tratar de julgamentos de competência originária (ações) quanto de competência derivada (recursos).

Trata-se da triagem inicial que deve ser feita assim que os autos são recebidos em gabinete. Examina-se a matéria para ver se o processo pode ou não ser julgado pela Câmara a qual o gabinete integra.

Caso a matéria não seja da competência da Câmara, deve ser efetuada a imediata redistribuição. Isso pode ser feito por decisão monocrática do relator ou por acórdão, sendo preferível a primeira opção em razão da celeridade processual e da praticidade. Os autos, nesse caso, são enviados à Diretoria Processual, que cumpre a redistribuição para Câmara competente em razão da matéria, nos termos do Regimento Interno.

Nessa triagem, também são verificados os casos legais de impedimento ou suspeição do relator ou de sua vinculação em razão de julgamento de recurso anterior do mesmo processo. Essa rotina deve ser realizada diariamente, uma vez que os autos são recebidos no gabinete e pode ser cumprida pelos estagiários, pois é de baixa complexidade, desde que devidamente orientados e treinados para a tarefa.

A não observância disso pode acarretar sérios prejuízos ao andamento processual, pois, se os processos são julgados por um critério de antiguidade, o que se recomenda, haverá o risco de uma eventual incompetência do relator somente ser percebida meses depois, retardando de modo injustificado a remessa a relator competente. É providência de simples solução, se a triagem for feita independentemente da etapa de elaboração do relatório ou do projeto de voto ou decisão monocrática.

2.2.1.2 A verificação de admissibilidade recursal

Trata-se de outra tarefa que também pode ser atribuída aos estagiários e que evita a perda de tempo com os autos do processo em gabinete, quando ausentes as condições de exame do mérito. Consiste na verificação dos requisitos de admissibilidade recursal. Se ausentes um ou ambos os requisitos, deverá ser tomada a medida cabível, que em geral é no sentido de o recurso não ser conhecido. Em alguns casos, converte-se o julgamento em diligência.

É medida que deve ser adotada de imediato à chegada dos autos em gabinete. Se os requisitos de admissibilidade recursal - que são atinentes ao preparo (se o recorrente não gozar de gratuidade judiciária) e à tempestividade - não forem atendidos, será o caso de o recurso não ser conhecido, por intempestividade ou por deserção. Para cada espécie de recurso, o Código de Processo Civil traz especificação própria quanto à forma de interposição, autoridade a quem deve ser dirigido, prazo para tanto e preparo.

Assim, é importante que sejam capacitados os membros da equipe para essa tarefa e que a cumpram de imediato, logo da chegada dos autos em gabinete, não retardando o julgamento. Aqui, também há a possibilidade de a decisão ser lavrada na forma monocrática, pelo relator, sem a necessidade de acórdão, constituindo solução célere e prática.

2.2.1.3 A verificação de regularidade formal

Tanto processos da competência originária do Tribunal quanto da competência derivada têm uma série de requisitos formais que as partes devem atentar para que possam ser apreciados e julgados. O exame prévio de tais aspectos deve ser feito também quando da chegada dos autos em gabinete, a fim de providências saneadoras serem adotadas ou imediato julgamento ser feito, conforme o caso.

Questões como, por exemplo, falta de intimação das partes e de intervenção do Ministério Público podem ser solvidas de imediato. Assim, é possível a elaboração de despacho, convertendo o julgamento em diligência, para sanar eventual falha de procedimento que seja constatada. Se for caso de intervenção obrigatória do Ministério Público, o relator deve receber os autos já com o parecer do Procurador de Justiça vinculado à Câmara. Também há casos em que o recurso de apelação não vem acompanhado das razões do recorrido, por falha de procedimento no Juízo de origem, a quem cumpre o recebimento e processamento desse recurso.

Nesses casos, cumpre a elaboração de despacho determinando que a falha seja suprida, com a conversão do julgamento em diligência para o atendimento. Os autos devem ser remetidos à Secretaria de Câmara, para a intimação do Ministério Público para apresentar o seu parecer, se houve falha quanto a isso. Em outra hipótese, poderá intimar o advogado do recorrido para apresentação de suas razões em face do recurso da parte contrária, se o profissional mantiver endereço profissional na capital. Ainda, podem os autos ser devolvidos à origem, se o suprimento da nulidade assim o exigir.

Temos ainda as hipóteses de exame da regularidade formal dos processos, no que se refere à juntada obrigatória de certos documentos e indicação de determinadas informações, como no caso do recurso de agravo de instrumento. O mesmo vale para processos de competência originária do Tribunal, como as ações rescisórias e os mandados de segurança (em algumas hipóteses), em que certas formalidades relativas a prazos (para ajuizamento) e

documentos indispensáveis devem ser respeitadas. Aqui se impõe o exame imediato do processo com o intuito de determinar a regularização da falha ou o fim do processo, pelo não conhecimento do recurso ou pelo julgamento de plano da ação com o indeferimento da inicial ou a improcedência do pedido, segundo o caso concreto.

Essa tarefa deverá ser distribuída aos membros da equipe um pouco mais qualificados, pois ela apresenta um nível de complexidade superior às anteriores. O seu cumprimento reclama conhecimentos mais aprofundados de direito processual civil, relativos às matérias de ações e recursos. Por esse motivo, pode ser dividida entre todos os membros da equipe, segundo as espécies de processo (ações e recursos), podendo os agravos e embargos declaratórios tocar aos estagiários, por exemplo, e os demais processos, aos funcionários (assessores e secretário).

2.2.1.4 A elaboração dos relatórios

Em regra, quando o julgamento não for feito pelo relator de maneira monocrática, na forma prevista no art. 557 do Código de Processo Civil, haverá a necessidade de ser lavrado um acórdão da decisão tomada em colegiado, pelos votos de três desembargadores e/ou juízes de direito convocados. Nesse caso, cumpre ao relator, previamente, redigir o relatório do recurso, na forma do art. 549 do Código de Processo Civil.

Trata-se de texto que expõe os pontos controvertidos sobre os quais versa o recurso, devendo conter uma série de informações sobre os fatos relevantes daquele processo. É relevante para facilitar a compreensão pelos destinatários acerca do julgamento e para demonstrar também que o relator leu e conhece o processo.

Na organização das tarefas do gabinete, é possível delegar a redação dos relatórios dos recursos a um grupo de colaboradores e a redação dos projetos de votos a outro grupo. Por exemplo, os relatórios podem ser feitos pelos estagiários e os projetos de votos pelos assessores. Aliás, estes últimos fazem a revisão do trabalho dos primeiros, quando forem executar a sua tarefa (elaborar os projetos de votos).

2.2.1.5 A elaboração das minutas das decisões

Para que o processo seja julgado, quanto ao mérito, é necessário primeiro superar algumas etapas formais, já referidas. Assim, pressupõe-se que já houve o exame da tempestividade e do preparo; da competência; da necessidade de intervenção ou não do Ministério Público; da existência de vinculação ou de impedimento do relator e da regularidade formal do processo. No caso de algum desses aspectos estar em desacordo, como já mencionamos, é possível seja o julgamento convertido em diligência ou julgado sumariamente por decisão monocrática do relator.

Porém, superada essa etapa, e já tendo sido redigido o relatório do recurso, cumpre ao integrante da equipe se ocupar da redação do projeto de voto, caso o julgamento não comporte decisão monocrática. Aqui, entendemos que a própria escolha de quem executará essa tarefa deve ser feita pelo magistrado, atendendo a critérios lógicos de distribuição dos processos pela matéria, pelo tipo de recurso ou ação e pela complexidade.

Por exemplo, os estagiários podem se ocupar das minutas de julgamentos dos agravos internos e dos embargos de declaração. O secretário e os assessores podem se ocupar dos projetos de votos em apelações, agravos de instrumento e embargos infringentes, além das ações de competência originária do Tribunal (como mandados de segurança e ações rescisórias).

De qualquer modo, este é o processo de trabalho básico mais importante do gabinete e requer a supervisão e o acompanhamento diretos do magistrado. A ele cumpre a revisão e a aprovação dos textos, fazendo as alterações que entender necessárias para refletir o seu entendimento acerca dos julgamentos.

Ainda, haverá por certo os casos de maior complexidade, os quais, por sua relevância ou ineditismo, reclamarão a atenção primária do magistrado, que se ocupará da redação da decisão sem poder contar com um esboço prévio traçado por sua assessoria. Nesse caso, entretanto, sempre poderá contar com o trabalho de apoio no sentido da pesquisa de legislação, doutrina e jurisprudência que os assessores farão para auxiliar na tarefa.

Por fim, cumpre registrar que algumas Câmaras do Tribunal de Justiça já adotam a supressão do relatório dos autos (destacado) substituindo a peça processual pela expressão ao final do relatório (no corpo do acórdão) “foram cumpridas as formalidades do artigo 551 do CPC”. Essa medida é possível por causa da utilização do sistema informatizado chamado “Sessão Virtual”, quando com uma semana de antecedência há a liberação aos demais

magistrados dos projetos de acórdãos, no corpo dos quais poderão ter acesso inclusive aos respectivos relatórios.

2.2.1.6 A revisão dos projetos de voto dos outros magistrados

Na hipótese em que os julgamentos forem feitos pela Câmara em sessões públicas, de modo colegiado, pelos votos de três desembargadores e/ou juízes de direito convocados, cumpre ao magistrado que não for o relator, conhecer dos processos e dos projetos de votos dos seus pares a fim de votar adequadamente. A maioria dos processos possui a figura legal do revisor, na forma do art. 551 do Código de Processo Civil, tais como as apelações, os embargos infringentes e as ações rescisórias.

Em termos formais, quando o magistrado não é nem o relator e nem o revisor, diz-se que ele é o vogal, que vota por último e só tem conhecimento do processo na sessão de julgamento. O mesmo vale para aqueles processos que não comportam a figura do revisor, como as apelações em processos de procedimento sumário, agravos e embargos declaratórios.

Porém, em qualquer hipótese, sempre haverá a liberação prévia do projeto de voto para os demais magistrados que participarão do julgamento na sessão aprazada, sejam eles revisores ou vogais, por rede informatizada do Tribunal. Aliás, vale aqui o registro de que o sistema implantado pelo Tribunal de Justiça foi reconhecido em nível nacional, sendo finalista do I Prêmio Innovare: o Judiciário do Século XXI99, realização conjunta da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas – FGV Direito Rio, da Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB e do Ministério da Justiça. Nesse sentido a prática apresentada e publicada na obra acima mencionada, com o título: “Sessão de Julgamento Informatizada e Assinatura Digital”, pelo então Diretor de Informática do Tribunal de Justiça, Eduardo Henrique Pereira de Arruda.

Trata-se de processo de trabalho muito importante e que, em princípio, consideramos que deve ser feito pelo próprio magistrado, o qual estará revisando o trabalho de seus pares. Caso haja alguns projetos de voto com dos quais ele discorde, o sistema de informática

99 CENTRO DE JUSTIÇA E SOCIEDADE DA ESCOLA DE DIREITO DO RIO DE JANEIRO DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS (org.). A reforma silenciosa da Justiça. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2006, p. 416-435.

permite tanto que publique na rede a sua declaração de voto, divergente ou não, quanto discuta o assunto com os demais gabinetes.

Com base na seleção dos processos pautados para a sessão em que o magistrado necessite redigir as suas declarações de voto, por não estar de acordo com a posição do relator, poderá então delegar a tarefa da elaboração das respectivas minutas à sua assessoria, que já é conhecedora de seus posicionamentos e já possui os seus julgamentos antecedentes com as referências para tanto.

Lembramos, por oportuno, o esclarecimento que consta no final do item anterior, de que não há mais a necessidade de o relatório ser redigido de modo destacado e com antecedência ser juntado aos autos do processo. Basta a referência no final do relatório que integra o próprio acórdão de que foram observadas as formalidades previstas no art. 551 do CPC, porque a liberação de seu conteúdo para conhecimento do revisor é feita pela rede de informática do Tribunal, conhecida como Intranet, e não por meio físico.