• Nenhum resultado encontrado

1.3 AS FUNÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1.3.4 O controle dos processos de trabalho

1.3.4.2 O controle pelo Conselho Nacional de Justiça

A criação do Conselho Nacional de Justiça, pela Emenda Constitucional nº 45/2004 mudou a lógica da administração e do controle do Poder Judiciário, em todas as suas instâncias e níveis. Assim, a transparência, a estrutura, a competência e a efetividade de seus provimentos estão muito mais sensíveis a um controle que, embora não seja propriamente externo, passa de forma mais direta pelo conhecimento e crivo da sociedade, pela própria forma de composição desse novo órgão de administração judiciária nacional.

Trata-se de órgão de controle proposto para monitorar a atuação administrativo- financeira do Poder Judiciário, para fiscalizar o cumprimento dos deveres funcionais dos juízes e para zelar pelo acesso de todos à justiça. Agora, os tribunais não possuem mais o monopólio da atribuição de avaliar desvios funcionais de seus membros. Embora, no plano formal, os tribunais tenham órgãos próprios para tanto, existe a percepção de que esse controle é efetivo em face dos juízes de primeiro grau, mas não em relação aos desembargadores, membros da própria Corte.

A esse respeito, a lição de Erik Frederico Gramstrup88, para quem, uma vez que as corregedorias se situam no âmbito dos tribunais, a atividade correicional é exercida somente sobre o primeiro grau de jurisdição.

No mesmo sentido, pondera João Batista Herkenhoff89 que:

88 GRAMSTRUP, Erik Frederico. Conselho Nacional de Justiça e controle externo: roteiro geral. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al (coord.). Reforma do Judiciário: primeiros ensaios críticos sobre a EC n. 45/2004. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 199.

Também é preciso combater a idéia de que o Poder Judiciário está acima de críticas e de inspeção. Todo Poder e toda autoridade pública deve estar submetida à crítica e fiscalização popular. A independência que o Poder Judiciário deve ter em face da intervenção indébita de outros Poderes não deve erguê-lo à condição de um Poder que fique acima do povo.

Por razões como essa, entre tantas outras, é que se criou uma base política de sustentação ao projeto de Reforma do Poder Judiciário, que culminou com a instituição do Conselho Nacional de Justiça. Ainda que o CNJ não seja órgão jurisdicional, integra o Poder Judiciário e tem poder de revisão e até mesmo de avocação para controle dos atos administrativos dos tribunais pátrios, inclusive no aspecto correicional. Suas decisões, porém, estão sujeitas à modificação por decisão judicial do STF – Supremo Tribunal Federal, quando provocado para tanto.

Compete ao Conselho Nacional de Justiça, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pela Lei Orgânica da Magistratura Nacional, segundo o § 4º do art. 103-B da Constituição Federal:

zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura;

zelar pela observância do art. 37 da Constituição Federal e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União;

conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Judiciário, inclusive contra serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar remoção, disponibilidade ou aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;

representar ao Ministério Público no caso de crime contra a administração pública ou abuso de autoridade;

rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares juízes e membros de tribunais julgados há menos de um ano;

elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário;

elaborar relatório anual, propondo providências que julgar necessárias sobre a situação do Poder Judiciário do País e as atividades do Conselho.

Como se percebe, quanto ao poder de fiscalização do Conselho Nacional de Justiça, a Constituição Federal não desincumbiu as corregedorias e os tribunais de contas de exercer essas atribuições. Além disso, não se trata de órgão alheio à estrutura do Judiciário, pois ele

está no rol do art. 92 da Constituição Federal. Assim, o CNJ é órgão do próprio Poder Judiciário, com competência concorrente e/ou revisional para conhecer de reclamações contra magistrados, entre outras atribuições.

Para o cumprimento dessa função fiscalizadora, prevê a Constituição Federal, no seu art. 103-B, § 5º, a figura do ministro-corregedor, responsável pela Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça. É a este membro do Conselho que compete receber as reclamações e denúncias relativas aos magistrados e aos serviços judiciários, as quais serão posteriormente julgadas pelo plenário desse órgão colegiado.

Na própria página do Conselho Nacional de Justiça na Internet90 constam as devidas explicações a respeito do papel do corregedor e quais as suas atribuições, na forma da Constituição Federal e do Regimento Interno do CNJ:

O papel do Corregedor é exercer o controle disciplinar e promover a correta administração da justiça, delegando atribuições e instruções e zelando pelo bom funcionamento dos serviços judiciários. É importante compreender que não é função do Corregedor punir os desvios de conduta praticados por magistrados e servidores, mas de apurar os fatos trazidos ao seu conhecimento e levar à apreciação do Plenário do CNJ as questões relacionadas à atividade judiciária que se apresentem mais graves e que possam macular a imagem do Judiciário frente ao cidadão.

Todas as suas atribuições estão definidas na Constituição Federal, no § 5.º do art. 103-B, e regulamentadas no artigo 31 do Regimento Interno do CNJ. São elas:

receber as reclamações e denúncias de qualquer interessado, relativas aos magistrados e aos serviços judiciários auxiliares, serventias, órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados;

determinar o processamento das reclamações; realizar sindicâncias, inspeções e correições, quando houver fatos graves ou relevantes que as justifiquem;

requisitar magistrados e servidores, delegando-lhes atribuições;

elaborar e apresentar relatórios referentes ao conteúdo próprio de suas atividades de correição, inspeção e sindicância;

designar, dentre os magistrados requisitados, juízes auxiliares da Corregedoria do Conselho, com competência delegada;

expedir instruções, provimentos e outros atos normativos para o funcionamento dos serviços da Corregedoria;

sugerir ao Plenário do Conselho a expedição de recomendações e atos regulamentares que assegurem a autonomia do Poder Judiciário e o cumprimento do Estatuto da Magistratura;

executar e fazer executar as ordens e deliberações do Conselho relativas a matéria de sua competência;

90 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Corregedoria. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/index.php?option=com_content&view=article&id=34&Itemid=87>. Acesso em: 18 fev. 2009.

dirigir-se, relativamente às matérias de sua competência, às autoridades judiciárias e administrativas e a órgãos ou entidades, assinando a respectiva correspondência;

promover reuniões e sugerir, ao Presidente, a criação de mecanismos e meios para a coleta de dados necessários ao bom desempenho das atividades da Corregedoria;

manter contato direto com as demais Corregedorias do Poder Judiciário; promover reuniões periódicas para estudo, acompanhamento e sugestões com os magistrados envolvidos na atividade correcional;

delegar atribuições sobre questões específicas aos demais Conselheiros.

Também nessa mesma página do Conselho Nacional de Justiça na Internet91, na seção “Notícias”, há exemplos do poder de controle e fiscalização que esse órgão exerce sobre os tribunais. Vale citar o caso em que o CNJ afastou do cargo o desembargador Presidente do Tribunal de Justiça de Rondônia e, posteriormente, determinou a sua aposentadoria compulsória:

Ex-presidente do TJ de Rondônia é punido com aposentadoria compulsória

O Conselho Nacional de Justiça determinou a imediata aposentadoria compulsória do desembargador Sebastião Teixeira Chaves, ex-presidente do Tribunal de Justiça de Rondônia. Esta é a pena máxima que um magistrado pode sofrer no âmbito administrativo. A decisão foi tomada em sessão do CNJ nesta quarta-feira (27/02).

O desembargador foi preso pela Polícia Federal em agosto de 2006, junto com outras 22 pessoas, acusado de fazer parte de um esquema que teria desviado pelo menos R$ 70 milhões dos cofres públicos de Rondônia. Além dele, foram detidos o presidente da Assembléia Legislativa, um ex- procurador-geral de Justiça e o ex-chefe da Casa Civil Carlos Magno Ramos. Logo depois das prisões, o CNJ determinou o afastamento do desembargador da presidência do Tribunal, enquanto tramitava o processo disciplinar. Em março de 2007, em nova decisão, o CNJ afastou Sebastião Teixeira Chaves do cargo de desembargador. Agora, em decisão definitiva do CNJ, o ex- presidente do TJRO foi aposentado compulsoriamente, com vencimentos proporcionais ao tempo de carreira. A decisão se deu no Procedimento de Controle Administrativo 06, relator o conselheiro Antônio Humberto. Teixeira Chaves ainda responde a processo criminal no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Portanto não há dúvida que o CNJ desempenha relevante papel no cenário político e institucional do Poder Judiciário em nível nacional. Especialmente diante da fragilidade dos mecanismos de controle interno dos próprios tribunais em face de seus integrantes. Não

91 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Ex-presidente do TJ de Rondônia é punido com aposentadoria compulsória. Agência CNJ de notícias. Disponível em: <http://www.cnj.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&catid=1%3Anotas&id=3811%3Aex- presidente-do-tj-de-rond-unido-com-aposentadoria-compuls&Itemid=675>. Acesso em: 18 fev. 2009.

obstante o simples fato da existência desse poder de fiscalização externo aos tribunais revela- se um estimulo a fim de que estes busquem a melhoria de seus processos de controle, até para evitar que as soluções para casos que reclamem medidas disciplinadoras venham de fora para dentro.