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As eleições presidenciais no Chile em 2009/2010

Praticamente desde o primeiro dia em que Michelle Bachelet assume o governo, já começam as especulações sobre seu possível sucessor. Desde o princípio se imaginava que seria provável a continuidade do sistema de coalizão de partidos, via Concertación. Mas, durante todo o seu governo, o conglomerado sofre várias cisões e crises internas.

Vários pré-candidatos iniciam campanhas eleitorais, mas vão declinando ao longo do tempo. Ao final, quatro candidatos concorrem oficialmente às eleições presidenciais realizadas em 13 de dezembro 2009, no primeiro turno, conforme indicado no Quadro 20.

Após uma intensa movimentação de acordos, rachas e rumores, o cenário se define. A direita se une em torno da candidatura do empresário Sebastián Piñera134 (Renovação Nacional), concorrendo pela Coalizión por El Câmbio, um pacto ampliado da antiga Aliança por Chile, que já tinha obtido ampla vitória nos pleitos municipais de 2008. Ao invés de cada

133 O Índice de Desenvolvimento Humano é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de “desenvolvimento humano”, a partir de dados como expectativa de vida ao nascer, educação e PIB (PPC) per capita (como um indicador do padrão de vida). Todo ano, os países membros da ONU são classificados de acordo com essas medidas. O ranking de 2010 está disponível em português, na página do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD Brasil): http://www.pnud.org.br/pobreza_desigualdade/reportagens/index.php?id01=3600&lay=pde

134 Miguel Juan Sebastián Piñera Echenique nasceu em Santiago em 1949. Economista, empresário (é dono do canal de televisão nacional Chilevisión e acionista do Grupo Lan Airlines, dentre outras empresas, inclusive no Brasil). Foi senador (1990-1998) e disputou a Presidência em 2005, sendo derrotado no segundo turno por Michelle Bachelet. O endereço do site de sua campanha www.pinera2010.cl é, em 2010, redirecionado para o da Presidência: http://gobiernodechile.cl/presidente.

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partido indicar seu candidato, a Aliança define o nome em função das vantagens obtidas nas pesquisas de opinião. Assim, desde dezembro de 2008, a direita já conta com candidato, apoiado pela União Democrata Independente e ChilePrimeiro. Desde então, Piñera inicia sua peregrinação pelo país, em busca em votos, mesmo que a oficialização de suas candidaturas se dê quase um ano depois (setembro de 2009).

A esquerda, entretanto, se divide entre três candidaturas: Eduardo Frei135 (Democracia Cristã), pela Concertación; Marco Enríquez-Ominami136 (ex Socialista), como independente;

e Jorge Arrate137 (Comunista), pela Juntos Podemos Mais.

QUADRO 20 – Candidatos oficiais à Presidência do Chile

Coalizão Partido Candidato (partido)

Coalición por El Cambio Renovação Nacional (RN) Sebastián Piñera (RN) União Democrata Independente

(UDI)

Chile Primeiro (CH1) Concertación de Partidos por La

Democracia Democracia Cristã (PDC) Partido pela Democracia (PPD) Eduardo Frei Ruiz-Tagle (PDC) Partido Socialista (PS)

Partido Radical Social Democrata |(PRSD)

Nueva Mayoría para Chile Partido Ecologista de Chile )PE) Marco Enríquez-Ominami (independente)

Partido Humanista (PH)

Juntos Podemos Más Partido Comunista (PCCH) Jorge Arrate (PCCH) Esquerda Cristã do Chile (IC)

Fontes: Síntese elaborada a partir de informações disponíveis nos sites dos candidatos e do Servicio Electoral.

135 Eduardo Alfredo Juan Bernardo Frei Ruiz-Tagle nasceu em Santiago de Chile em 1942, é engenheiro civil formado pela Universidade do Chile, com especialização em Adminstração e Gestão na Itália. Foi o segundo presidente após a queda da ditadura (1994-2000). Seu pai, o democrata cristão Eduardo Frei Montalva, foi presidente entre 1964 e 1970 e um dos principais líderes de oposição a Salvador Allende, após o rompimento da Democracia Cristã com a Unidade Popular. Apoiou o golpe num primeiro momento, tornando-se seu opositor. Durante a campanha de 2009-2010, foi veiculado que Montalva fora assassinado. O site de sua campanha www.efrei.cl está fora do ar em 2011.

136 Marco Antonio Enríquez-Ominami nasceu em 1973. É filho de Miguel Enríquez Espinosa,

fundador do Movimento de Esquerda Revolucionário (MIR), assassinado pela ditadura chilena, que expulsou sua família do país por decreto militar, quando Marco tinha cinco meses. No exílio na França, sua mãe se casa com o senador Carlos Ominami. Em 2000, Marco agrega seu sobrenome. Filósofo e cineasta, é casado com a jornalista e apresentadora de TV Karen Doggenweiller. Deputado eleito em 2005 pelo Partido Socialista, disputa as primárias por este partido, mas perde para Eduardo Frei. Desliga-se do PS e lança sua candidatura independente em 2009. O site de sua campanha www.marco2010.cl está fora do ar em 2011.

137 Jorge Félix Arrate Mac Niven nasceu em Santiago em 1941, é advogado, economista, escritor,

professor universitário e político. Foi ministro da Mineração e vice-presidente executivo da Coldeco (Corporación Nacional Del Cobre de Chile), durante o governo Allende, que nacionalizou a empresa. Ficou exilado de 1973 a 1987. Ao retornar, é nomeado ministro da Educação no governo Alwyn e ministro do Trabalho no governo de Frei. O site de sua campanha www.arratepresidente.cl é o único dentre os candidatos de 2009 que continua no ar em 2011.

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A Concertación demora para definir seu candidato. Já em 2005, vários nomes apareciam como potenciais: a senadora Soledad Alvear (PDC), o secretário geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) José Miguel Insulza (PS), e o ex-presidente Ricardo Lagos (PS). Lagos aparecia como o que teria melhores chances de enfrentar Piñera. Mas, como os dois presidentes anteriores tinham sido da ala progressista da coalizão (PS- PPD), havia pressão de que, naquele momento, o candidato da Concertación deveria ser um democrata cristão.

Assim surge o nome de Eduardo Frei, que enfrenta vários outros nas primárias do partido, até se consolidar como opção da coalizão. O próprio Marco Enríquez-Ominami (ex PS), por não ser o escolhido, resolve lançar uma candidatura independente. Também a candidatura de Jorge Arrate (PCCH) enfrenta vários concorrentes no próprio partido e de outros “allendistas” que haviam deixado o PS.

As disputas internas dentro da Concertación e entre esta e os demais partidos/coalizões de esquerda e centro-esquerda só se acirram ao longo da campanha, que começa oficialmente um mês antes do pleito, ou seja, em 13 de novembro de 2009.