• Nenhum resultado encontrado

Procedimentos para análise da cobertura jornalística

O procedimento adotado para a análise foi a categorização das notícias veiculadas segundo os mesmos eixos temáticos identificados na análise empreendida sobre a campanha presidencial de 2002, durante a elaboração da dissertação de mestrado (SAISI, 2002), como se segue:

1. Propostas e programas de governo: matérias em que se comparam as propostas dos diversos candidatos sobre determinadas pautas da agenda política, como educação, emprego, saúde, segurança etc.

2. Pesquisas de opinião: matérias sobre resultados de pesquisas de opinião sobre a corrida na preferência do eleitorado, bem como pesquisas sobre temas diversos. 3. Imagem dos candidatos: matérias sobre a construção (ou destruição) das imagens

101

3.1. Marketing e mídia: matérias com marqueteiros, análise da propaganda eleitoral (tanto na televisão, como no rádio e em outros produtos de comunicação como jingles, outdoors, sites e panfletos) usados na campanha, os comícios e carreatas que fizeram, as entrevistas e os debates realizados, a atuação nas redes sociais, o “clima” reinante, as motivações de ordem estratégica, e as reações emocionais dos candidatos), a performance pessoal dos candidatos (modo como eles se vestiram, as gafes que cometeram, o tom de seus discursos e suas semelhanças com outros personagens etc.) e a cobertura na imprensa internacional.

3.2. Alianças: matérias sobre acordos, as alianças e os apoios de cada candidato. 3.3. Ataques e críticas aos candidatos: matérias sobre escândalos, denúncias e

ataques aos candidatos.

4. Mercado e eleições: como em 2002 identificou-se um elevado número de matérias que relacionavam a oscilação do mercado financeiro ao movimento da política, buscou-se também aqui verificar o quanto esse tipo de matéria foi recorrente. 5. Resultados: após a realização do primeiro turno, várias matérias analisam os

resultados do pleito presidencial.

Cada uma das matérias veiculadas nos dois jornais foi classificada de acordo com a prevalência de sua temática e recebeu uma numeração, conforme indicação acima. Seus respectivos títulos, número de página e categoria estão transcritos no Apêndice B, de modo que se possa identificar as matérias de cada dia nos dois veículos. Dada a importância que as manchetes de primeira página têm editorialmente, todas foram transcritas e estão indicadas com a inicial M, independentemente do assunto que tratam, para serem analisadas em separado.

Posto em evidência os pressupostos teóricos e metodológicos norteadores da análise, é chegado o momento de nos debruçarmos sobre o material empírico analisado. É o que buscarei nos próximos capítulos.

103 CAPÍTULO 3

CAMPANHA ELEITORAL NO BRASIL

Em 2010, Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT)52, foi eleita a primeira presidente mulher do Brasil, sucedendo a Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro operário a ocupar o cargo máximo do executivo brasileiro, eleito também pelo PT em 2002 e reeleito em 2006.

Dilma vence com 55,43% dos votos válidos no segundo turno das eleições, contra 44,57% do candidato José Serra, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB)53, partido que governou o Brasil de 1995 a 2002, com Fernando Henrique Cardoso.

Quando a campanha eleitoral começou, em junho de 2010, Lula estava consagrado nas pesquisas de opinião como o presidente mais popular que o país já teve. Contava com um dos maiores índices de aprovação em nível mundial54, o que representava uma vantagem substancial para a candidata de seu partido. Entretanto, a ex-ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula jamais havia disputado uma eleição direta, enquanto seu principal adversário já havia concorrido a inúmeros outros pleitos, tendo chegado ao governo do Estado de São Paulo.

Antes da definição dos candidatos oficiais, muita movimentação aconteceu nos partidos políticos brasileiros. Desde o ano anterior, já estavam definidos (mas não

52 Site oficial do Partido dos Trabalhadores (PT): www.pt.org.br

53 Site oficial do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB): www.psdb.org.br

54 Segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria e Ibope, em junho de

2010, o governo Lula permanecia com o com o mesmo percentual registrado em março (edição anterior), recorde da série: 75% consideravam o governo “ótimo” ou “bom”. A aprovação à forma como o presidente Lula governava atingia nível recorde de 85%, dois pontos percentuais acima da rodada de março. A confiança no presidente também era recorde: 81% confiam em Lula, quatro pontos acima da rodada anterior. Na comparação entre o primeiro e o segundo mandatos, o quadro era de estabilidade: os mesmos 49% consideram o mandato vigente melhor do que o anterior. A candidata do PT, Dilma Rousseff, assume pela primeira vez a dianteira na corrida presidencial na pesquisa CNI/Ibope. Na lista que reúne o nome de todos os prováveis candidatos a presidente, ela chega a 38%, seis pontos percentuais à frente do candidato do PSDB, José Serra. Marina Silva, do PV, tem 7%.

104

oficializados) os dois principais candidatos que chegaram ao segundo turno. Dilma concorreu pela coligação Para o Brasil seguir mudando, tendo o deputado Michel Temer (do PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro55) como candidato a vice-presidente. A chapa contava ainda com o apoio do Partido Republicano Brasileiro (PRB)56, Partido Democrático Trabalhista (PDT)57, Partido Comunista do Brasil (PcdoB)58, Partido da República (PR)59, Partido Socialista Brasileiro (PSB)60, Partido Trabalhista Cristão (PTC)61, Partido Trabalhista Nacional (PTN)62 e Partido Social Cristão (PSC)63.

O ex-governador de São Paulo, José Serra, concorreu pela coligação O Brasil pode mais, com o deputado Indio da Costa (do Partido Democratas64) como vice, e apoio do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB)65, Partido Popular Socialista (PPS)66, Partido da Mobilização Nacional (PMN)67 e Partido Trabalhista do Brasil (PT do B)68.

Os dois principais candidatos contavam com o apoio de partidos com um amplo espectro ideológico, de comunistas a conservadores.

55 Site oficial do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB): www.pmdb.org.br 56 Site oficial do Partido Republicano Brasileiro (PRB): www.prb.org.br

57 Site oficial do Partido Democrático Trabalhista (PDT): www.pdt.org.br 58 Site oficial do Partido Comunista do Brasil (PC do B): www.pcdob.org.br 59 Site oficial do Partido da República (PR): www.partidodarepublica.org.br 60 Site oficial do Partido Socialista Brasileiro (PSB): www.psbnacional.org.br 61 Site oficial do Partido Trabalhista Cristão (PTC): www.ptcnacional.com.br 62 Site oficial do Partido Trabalhista Nacional (PTN): www.ptn.org.br 63 Site oficial do Partido Social Cristão (PSC): www.psc.org.br 64 Site oficial dos Democratas (DEM): www.dem..org.br

65 Site oficial do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB): www.ptb.org.br 66 Site oficial do Partido Popular Socialista (PPS): www.pps.org.br

67 Site oficial do Partido da Mobilização Nacional (PMN): www.pmn.org.br 68 Site oficial do Partido Trabalhista do Brasil (PT do B): www.ptdob.org.br

105

Já em janeiro de 2010, a imprensa internacional69 avaliava que ambos ofereciam pouco risco à estabilidade econômica do país e seriam capazes de manter o superávit primário do orçamento para pagar a dívida pública e reduzir a taxa da dívida no PIB. Mas apontava também diferenças significativas em questões como disciplina fiscal, política externa e intervenção estatal: Serra poderia conter as despesas correntes de forma mais eficaz e Dilma favoreceria um papel maior no estado na economia, com a criação de mais empresas estatais. Serra, que autorizou a venda do banco Nossa Caixa quando era governador, era visto como mais aberto às privatizações. De ambos, esperava-se que mantivessem uma política externa independente de Lula, de modo a impulsionar relações com países em desenvolvimento, pressionar a reforma em organismos multilaterais e lutar pela presença permanente do Brasil Conselho de Segurança das Nações Unidas. Apesar de os dois principais candidatos representarem uma continuidade, ao longo da campanha surgiram muitas questões polêmicas, como será visto ao longo deste capítulo.

A terceira colocada nas pesquisas era Marina Silva, ex-ministra do meio ambiente de Lula. No final de 2009, ela trocou o PT, partido que integrava desde sua fundação, para se juntar ao Partido Verde (PV)70. Internacionalmente conhecida por defender a Floresta Amazônica, Marina não se destacava no Brasil, ficando sempre com menos de 7% nas pesquisas de intenção de voto.

Esperava-se que Heloísa Helena, da Frente de Esquerda, formada pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)71, Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU)72 e Partido Comunista Brasileiro (PCB)73, lançasse sua candidatura. A ex-senadora pelo estado de Alagoas, fundadora e presidente do PSOL (após sua expulsão do PT em 2003) fora candidata presidencial em 2006, prometendo abandonar as políticas econômicas favoráveis ao mercado.

69 Artigo da Agência Reuters Internacional, de 11 de janeiro de 2019: http://www.reuters.com/article/2010/01/11/brazil-election-issues-

idUSN3013312120100111?loomia_ow=t0:s0:a49:g43:r1:c0.500000:b29738878:z0 70 Site oficial do Partido Verde (PV): www.pv.org.br

71 Site oficial do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL): www.psol.org.br

72 Site oficial do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU): www.pstu.org.br 73 Site oficial do Partido Comunista Brasileiro (PCB): www.pcb.org.br

106

Mas ela opta por tentar sua reeleição no Senado e, em seu lugar, o PSOL lança Plínio de Arruda Sampaio (também ex-PT).

Quando Marina lança sua candidatura, muito se especulava sobre a possiblidade de Heloísa formar uma coalizão com ela, o que gerou um “racha” na possível coalizão. O PSTU decide lançar a candidatura de seu presidente José Maria de Almeida e o PCB também opta pela candidatura de seu secretário-geral, Ivan Pinheiro.

O PSB retira a pré-candidatura de Ciro Gomes em razão do seu baixo desempenho nas pesquisas e da preferência dos diretórios regionais em apoiar a pré-candidatura de Dilma Rousseff. Outro pré-candidato que sai da disputa é o ex-governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), após a inclusão de Temer na chapa de Dilma.

O PT do B também desiste da candidatura própria de Mario Oliveira para apoiar o paulista José Serra. O PSC retira o apoio à candidatura de José Serra e adere à campanha de Dilma. O PTC também decide retirar a candidatura de Ciro Moura para apoiar a campanha da candidata do PT. O Partido Social Liberal (PSL)74 abre mão da candidatura de Américo de Souza, bem como o Partido Humanista da Solidariedade (PHS)75 declina da candidatura de Oscar Silva, mas não se integram a nenhuma coalização. O Partido Progressista (PP)76 apóia informalmente a candidatura de Dilma Rousseff.

O Partido Social Democrata Cristão (PSDC)77, o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB)78 e o Partido da Causa Operária (PCO)79 lançam candidatos próprios: José Maria Eymael, Levy Fidelix e Rui Pimenta, respectivamente.

Ao todo, nove candidatos disputam o primeiro turno das eleições em 2010. A propaganda eleitoral dos candidatos na televisão e a cobertura jornalística na Folha e no Estado no período da campanha são os objetos de análise neste capítulo.

74 Site oficial do Partido Social Liberal (PSL): www.pslnacional.org.br 75 Site oficial do Partido Humanista da Solidariedade (PHS): www.phs.org.br

76Site oficial do Partido Progressista: www.pp.org.br

77 Site oficial do Partido Social Democrata Cristão (PSDC): www.psdcbrasil.org.br 78 Site oficial do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB): www.prtb.org.br

107