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Adriana Isabelle Barbosa Lima Sá Leitão – DIREITO (UFC)

A adoção é ato jurídico pelo qual se constitui forma tradicional de parentesco civil, cujos efeitos dependem de decisão judicial e são delimitados pela lei. Sabe-se que o procedimento pode ser de extrema morosidade, principalmente pelos requisitos e restrições impostos pela legislação. O presente estudo, por meio de análises jurisprudenciais e doutrinárias, visa apontar o reconhecimento da união homoafetiva como entidade familiar apta a realizar a adoção de crianças e adolescentes, ampliando as possibilidades de amparar os menores que sofrem com abandono afetivo e que necessitam da restituição de seus direitos elementares.

O Estado deve se responsabilizar por oferecer serviços adequados e suficientes à prevenção e à superação das situações de violação de direitos, possibilitando o fortalecimento dos vínculos familiares e sociocomunitários. Nas situações de risco e enfraquecimento dos vínculos familiares, o ente estatal deve acolher os menores e viabilizar a restituição de seus direitos elementares, incluindo as ações que possam levar à constituição de novos vínculos familiares e comunitários em caso de ruptura dos originais. Para garantir a qualidade das políticas de apoio às famílias, os entes federativos têm a responsabilidade de capacitar seus agentes, fiscalizar, monitorar e avaliar esses serviços.

A postura de um genitor que opta pelo procedimento de adoção é uma medida excepcional e irrevogável, sendo resguardado o direito fundamental do adotado a sua verdade biológica.

Quando do estabelecimento de novos vínculos de família, são legitimados para adotar os indivíduos maiores de 18 anos, independentemente de seu estado civil, podendo ser um ato unilateral. A lei exige que o legitimado possua diferença de 16 anos entre a sua idade e a idade do adotado. Na adoção conjunta, basta que apenas um dos indivíduos preencha o referido requisito e requer-se que os adotantes sejam casados civilmente ou mantenham união estável heterossexual ou homoafetiva.

É vedada a adoção por procuração devido ao seu caráter personalíssimo. O procedimento reclama manifestação de vontade tanto de quem pretende adotar quanto de quem pode ser adotado, além do imprescindível consentimento expresso dos pais biológicos do adotando (a menos que sejam desconhecidos os genitores).

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Toda adoção requer efetiva participação estatal. O procedimento judicial se inicia através de pedido formulado pelo interessado, diretamente em cartório ou por meio de advogado ou de Defensor Público. O juiz deve analisar se há real benefício para o adotando, objetiva e subjetivamente, verificando os resultados do estudo psicossocial do caso. O Ministério Público atuará fiscalizando a ordem jurídica. O ECA exige a realização de um estágio de convivência com o adotando por prazo estabelecido por arbítrio da autoridade judiciária. Consiste em período de verificação das condições do adotante e da adaptação do adotado, que deve ser assistido pela equipe interdisciplinar do juízo e acompanhado pelo estudo psicossocial.

A legislação impõe que a autoridade judiciária mantenha registro atualizado de crianças e adolescentes em condições de serem adotados e um cadastro de pessoas interessadas em adotar em cada comarca. A inscrição neste deve ser requerida por procedimento específico e as pessoas já inscritas devem frequentar a preparação psicossocial e jurídica, imposição que se deu a partir da entrada em vigor da Lei Nacional de Adoção. Todavia, visando à proteção do melhor interesse do menor, a lei não limita a adoção a quem se encontra previamente inscrito, nem impede a concessão de adoções nas demais situações, priorizando-se o vínculo afetivo do pretendente com o adotando.

Por longos períodos disseminou-se a ideia de que casais homossexuais estariam inaptos para adotar. O STF em 2011 reconheceu a natureza familiar da união homoafetiva em controle de constitucionalidade com eficácia erga omnes e em 2015 concedeu decisão que autorizou um casal homoafetivo a adotar uma criança independentemente de sua idade, ampliando as possibilidades de adoção no Brasil. O fundamento para essas decisões encontra respaldo em pesquisas que demonstram não haver distinção entre a criação de filhos por casais heterossexuais ou homoafetivos. O Conselho Federal de Psicologia aponta que inexiste embasamento teórico, científico ou psicológico que condicione a orientação sexual como fator decisivo para o exercício da parentalidade, não havendo qualquer prejuízo à formação do menor. Rejeitar essa possibilidade é restringir injustificadamente o instituto da adoção, desrespeitando sua própria finalidade. Sedimentada na solidariedade recíproca e no afeto, a união homoafetiva é entidade familiar e conta com especial proteção do Estado, tese já admitida em muitos tribunais.

A adoção, antes vista como procedimento alternativo de construção familiar, insere-se no contexto atual como primeira opção de maternidade e paternidade. Evidencia-se o fenômeno da desbiologização da paternidade, uma vez que os laços socioafetivos passam a ter igual relevância aos laços consanguíneos. O foco passa a ser o melhor interesse do menor acima da própria legislação e espera-se, com esse tratamento jurídico demonstrado pelas decisões do STF, que haja

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cada vez mais celeridade no processo por meio da ampliação das entidades familiares e pela notoriedade que tem sido atribuída à desbiologização do parentesco.

REFERÊNCIAS

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VIEIRA, M. M. O amparo legal para as políticas públicas voltadas ao acolhimento de crianças

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NOVAS MUDANÇAS NA LEI NACIONAL DE ADOÇÃO E SUAS

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