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DIREITO À EDUCAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DO ENSINO EM COMUNIDADES TRADICIONAIS

Mateus Carneiro Montenegro Larissa Rodrigues Vieira Alves

A pesquisa consiste em uma análise bibliográfica, inspirada no projeto de extensão do Escritório de Direitos Humanos da Unichristus, que ajuda crianças da comunidade da Sabiaguaba (Região de Fortaleza - Ceará) com as tarefas escolares e estudo de disciplinas em geral. Esse trabalho estuda as diretrizes do Direito à Educação e suas especificidades, dando ênfase à formação do cidadão, especialmente no âmbito das comunidades tradicionais, que devem ter o ensino adequado ao seu modo de vida e cultura.

É interessante analisar o tratamento que tais comunidades devem receber no que tange à diferenciação do ensino entre elas, para, desse modo, identificar as falhas apresentadas no sistema de educação atual, caso haja, e procurar medidas para remediar a perda cultural que comunidades podem ter sofrido devido à falta de adequação do ensino para as realidades das mesmas. Portanto, esse trabalho tem como objetivo analisar o Direito à Educação e sua aplicação nas comunidades tradicionais (apenas as principais necessidades que todas têm em comum).

Metodologicamente, a pesquisa é bibliográfica, analisando a Constituição Federal, textos de apoio e pesquisas na internet, solidificada e motivada por experiências obtidas nas aulas ministradas na comunidade da Sabiaguaba, ora por relato de crianças e adolescentes, ora por observações feitas em campo.

O Direito à Educação recebe uma especial proteção pelo Ordenamento Jurídico Brasileiro, tendo em vista, tratar-se de um direito fundamental, no qual este status implica obrigação de fazer para o Estado, que deve prover educação pública de qualidade para toda a população.

A Constituição Federal, no seu artigo 3º, define como objetivos da República: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

NÚCLEO DE ESTUDOS APLICADOS DIREITOS, INFÂNCIA E JUSTIÇA

Igualmente, o Direito à Educação é um direito social que se reflete na responsabilização de todas as esferas governamentais, isto significa que pode e deve ser exigida esta prestação jurisdicional pelos órgãos competentes.

Ademais, mais adiante, o artigo 205º da Constituição dispõe:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

As características peculiares deste tipo de comunidade requerem cuidados especiais na estrutura curricular e adaptação dos métodos tradicionais de ensino, para adequar-se às características específicas de cada uma das comunidades. Tais adaptações, citadas na cartilha de Direito Humano à Educação (RIZZI, GONZALEZ, XIMENES, 2009), vão desde a disponibilidade de instituições educacionais nas condições particulares de cada grupo comunitário até a adaptabilidade do conteúdo material dos currículos escolares ao contexto cultural, histórico e social de cada grupo, passando por ajustes de acessibilidade e aceitabilidade dos métodos de processo e desenvolvimento da educação pública.

Falar de disponibilidade significa que o grupo comunitário precisa ter a possiblidade de usufruir dos locais ou sistemas em que se dá o ensino público.

No primeiro caso, falamos de aceitabilidade do sistema de ensino, que deve ter seu conteúdo programático adequado às realidades mundiais e permitir, se for o caso, a inserção de membros das comunidades alternativas em outros grupos sociais em condições de igualdade. Não é admissível que as alterações e adaptações do currículo escolar sejam radicais ao ponto de prejudicar a interação social dos membros da comunidade com o resto da sociedade. Trata-se acima de tudo de inclusão social.

Por fim, a adaptabilidade dos métodos de ensino traduz a relação de respeito e tolerância aos aspectos culturais mais idiossincráticos, mais específicos de cada grupo cultural. A adaptabilidade enseja a necessidade de manter o corpo docente sintonizado com as mudanças culturais externas e com o ritmo de evolução sociocultural intrínseco a cada comunidade alternativa tradicional, incluindo seus aspectos religiosos, culturais, consuetudinários e outras diferenças.

Essas quatro características – disponibilidade, acessibilidade, aceitabilidade e adaptabilidade – devem ser levadas em conta de forma cautelosa e criteriosa, sopesando-se, em

NÚCLEO DE ESTUDOS APLICADOS DIREITOS, INFÂNCIA E JUSTIÇA

equilíbrio satisfatório entre os quatro critérios. Por isso é fundamental que não seja feito de forma apressada mais reflexiva e estudada, com acompanhamento minucioso dos resultados e da percepção e receptividade dos membros ao sistema adotado.

Esse resumo é o início da pesquisa iniciada na Sabiaguaba, portanto, serve como base para a continuação do estudo de avaliação da educação. Também é útil para identificar como, além de melhorar a qualidade de ensino, melhor adaptar a formação das crianças e jovens, para que não haja uma dicotomia entre o que eles aprendem na escola e o cotidiano.

Apesar de a população da Sabiaguaba não ser considerada uma comunidade tradicional (há esforços para torná-la uma), o exposto nessa pesquisa foi suficiente para identificar que, com características de uma comunidade de pescadores, deve haver uma atitude do município para adequar essa escola à cultura presente ali, que se diferencia das outras regiões de Fortaleza.

O Direito à Educação faz parte dos Direitos Fundamentais, assim, se vê imprescindível a necessidade de adaptar esse direito às várias realidades do Brasil, possuidor de diversas culturas, onde a harmonia entre elas deve existir, e o princípio da harmonia é a igualdade.

Dessa forma, quando todos os membros de todos os grupos culturais são capazes de se identificar como tal e não há uma sobreposição forçada ou nociva entre eles, podendo ser derivada de uma formação escolar inadequada de comunidades tradicionais ou minorias culturais, há maior liberdade para agir conscientemente como cidadão.

REFERÊNCIAS

BRASIL. [Constituição(1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. Disponível em:

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 16 jul. 2019. RIZZI, E.; GONZALES, M.; XIMENES, S. Direito humano à educação. 2009. Disponível em: http://www.bdae.org.br/dspace/bitstream/123456789/2381/1/cartilhaeducacaoacaojustica.pdf. Acesso em: 16 jul. 2019.

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A

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