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NOVAS MUDANÇAS NA LEI NACIONAL DE ADOÇÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA A EFETIVAÇÃO DO DIREITO À

CONVIVÊNCIA FAMILIAR

Natalia Martinuzzi Castilho – Unichristus Jéssica Lima Nunes – Unichristus

Esse trabalho tem como proposta analisar as possíveis consequências acerca da proposta de inserção do prazo de 120 dias para a conclusão da ação de adoção, constante do anteprojeto de Lei, de autoria do Ministério da Justiça, que altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente, o Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 – Consolidação das Leis do Trabalho e dá outras providências.

A adoção, medida excepcional de colocação em família substituta, visa garantir à criança e ao adolescente a proteção integral de seus direitos fundamentais, visto que essas pessoas encontram-se em situação de peculiar desenvolvimento. Ante o princípio da proteção integral e do direito fundamental à convivência familiar, pergunta-se se o referido prazo pode vir a dificultar o possível restabelecimento de vínculos com a família natural, por meio das medidas protetivas elencadas no Estatuto. O referido prazo pode vir a tolher o direito de crianças e adolescentes ao esgotamento de tentativas para seu retorno à família, bem como atrapalhar o desenvolvimento da aproximação e da conscientização necessária dos adotantes no período do estágio de convivência, tendo em vista que não se pode mensurar a subjetividade das situações e anseios pessoais e familiares a um tempo de 120 dias para sua conclusão.

A metodologia utilizada parte de uma análise qualitativa, realizada a partir de pesquisa bibliográfica e documental.

Do art. 19 do ECA, pode-se extrair o princípio da convivência familiar e comunitária, o qual é diretriz fundamental para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. É também consectário lógico da convivência familiar e comunitária a preservação do vínculo com a família biológica, sempre que possível. O Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária demonstra o quão importante é o papel da família para a criança e o adolescente, evidenciando que a família é: referência de afeto, proteção e cuidado, nela os indivíduos constroem seus primeiros vínculos afetivos, experimentam emoções, desenvolvem a autonomia, tomam decisões, exercem o cuidado mútuo e vivenciam conflitos. Significados, crenças, mitos, regras e valores são construídos, negociados e modificados, contribuindo para a constituição da subjetividade de cada membro e capacidade para se relacionar com o outro e o meio. Obrigações, limites, deveres

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e direitos são circunscritos e papéis são exercidos. A família é, ainda, dotada de autonomia, competências e geradora de potencialidades: novas possibilidades, recursos e habilidades são desenvolvidos frente aos desafios que se interpõem em cada etapa de seu ciclo de desenvolvimento [...] cada família, dentro de sua singularidade, é potencialmente capaz de se reorganizar diante de suas dificuldades e desafios, de maximizar as suas capacidades, de transformar suas crenças e práticas para consolidar novas formas de relações. (BRASIL, 2013).

A adoção, sendo assim, dever ser tratada como forma excepcional de colocação em família substituta, pois passa-se a buscar uma outra família para que aquele ser humano em processo de formação seja amparado e possa prosseguir de forma digna a sua vida.

Ocorre que, diante do panorama de vida de cada família e dos problemas individuais e complexos que o ser humano possui, estabelecer um prazo de cento e vinte dias para a concretização de uma adoção, pode vir a ferir o direito à convivência familiar digna, tendo em vista que não se pode condicionar o restabelecimento de laço a um curto prazo como o proposto pelo anteprojeto.

Cita-se, nesse contexto, os casos de segundo abandono nas adoções mal-sucedidas, as limitações impostas pela maioria dos adotantes:

Por vezes encontramos um pensamento de que os requerentes à adoção podem “experimentar a criança” e, se não gostarem do produto, se ela não corresponder ao filho idealizado, podem desistir da adoção, pois, legalmente, a adoção é irrevogável somente após a sentença do Juiz (LEVY; PINHO; FARIA, 2009). Os adotantes têm exigências as quais limitam a possibilidade de uma criança ou adolescente sair de um abrigo para uma família. Como escolha de idade, pois na maioria dos casos exigem baixa faixa etária, exigência de cor da pele, além de idealizar a “criança perfeita”, sem doenças, deficiências e traumas.

[...] procura pelos filhos “perfeitos”, brancos, ainda bebês (para que cresçam no seio da família como “filhos biológicos”) ainda é predominante. O que se constata é que atualmente, a mudança ainda é tímida, já que 95% dos habilitados para adotar ainda querem crianças que se enquadrem no modelo ideal [...] (MACHADO; FERREIRA; SERON, 2015).

Diante do atual contexto do procedimento de adoção no Brasil, o prazo máximo de cento e vinte dias pode representar um risco à adoção sadia, pois poderá aprofundar os índices já

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que será interrompida para tentativa de colocação em família substituta de modo que ficaram entregues a um risco de ferir, ainda mais, seus direitos e garantias.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Presidência da República. Secretaria Especial de Direitos Humanos. Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária. SDH. 2013. Disponível em:

http://www.sdh.gov.br/assuntos/criancas-e-adolescentes/programas/pdf/plano-nacional-de- convivencia-familiar-e.pdf. Acesso em: 5 dez. 2016.

LEVY, L.; PINHO, P. G.; FARIA; M. M. de. “Família é muito sofrimento”: um estudo de casos de “devolução” de crianças. Revista Psico, Porto Alegre, v. 40, n. 1, p. 58-63, jan./mar. 2009. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/index. Acesso em: 24 jun. 2019.

MACHADO, L. V.; FERREIRA, R. R.; SERON, P. C. Adoção de crianças maiores: sobre aspectos legais e construção do vínculo afetivo. Revista Estudos Interdisciplinares em

Psicologia, Londrina, v. 6, n. 1, p. 65-81, jun. 2015. Disponível em:

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