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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ACERCA DA PRÁTICA DA ADOÇÃO E SUAS DIFERENTES CONFIGURAÇÕES

Patrícia Oliveira Lima

O termo adoção é definido por Diniz (1994) como a entrada em um ambiente familiar de uma criança cujos os pais morreram, são desconhecidos ou estão impedidos de exercer as funções parentais. A adoção teve diferentes interpretações durante a história, durante a Antiguidade era valorizada como uma prática que possibilitasse a perpetuação do nome da família para aqueles que não tinham filhos. Segundo Maux e Dutra (2010) essa herança cultural contribuiu para que essa forma de filiação seja vista até hoje com preconceito. A adoção apareceu pela primeira vez na legislação brasileira em 1828, como uma maneira de sanar o problema de casais sem filhos, os adotantes deveriam ter mais de 30 anos e serem 16 anos mais velhos que o adotado (PAIVA, 2004). Com o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), houve a transição da “adoção clássica” que era realizada com intuito de resolver o problema de um casal impossibilitado de ter filhos biológicos, para a “adoção moderna” que visa o melhor interesse da criança e seu direito à convivência familiar (WEBER, 2001). Apesar de a adoção já fazer parte da sociedade desde os primórdios da humanidade, ainda existem diversas visões sobre o assunto. Neste sentido, faz-se necessário conhecer essas diversas visões. Costa e Rossetti-Ferreira (2007) trazem uma pesquisa sobre as ideologias de maternidade e parentesco por adoção nos EUA, realizada por Gailey (2000, apud COSTA; ROSSETTI-FERREIRA, 2007), segundo a qual a representação social dominante sobre o parentesco é que este é mais intenso quando há envolvimentos genéticos entre pais e crianças, sendo a natureza mais forte que a criação, a autora descreve que, geralmente, se tentam todas as possibilidades de ter uma criança por meio de fertilizações assistidas, antes de decidir pela adoção. A importância que casais atribuem a filhos biológicos foi percebida em um estudo que procurava entender os significados de maternidade, paternidade, casamento e filho biológico. As representações sociais que apareceram fortemente em relação ao filho biológico foram: “sangue do meu sangue”, descendência, semelhança física e pressão social (BORLOT; TRINDADE, 2004). Camargo (2005) investigou as representações sociais presentes em famílias adotivas e famílias postulantes à adoção acerca da especificidade da “adoção tardia”, e teve como resultado que a escolha da maioria das famílias ser por crianças com idade inferior a dois anos justifica-se pela

NÚCLEO DE ESTUDOS APLICADOS DIREITOS, INFÂNCIA E JUSTIÇA

Araújo e Oliveira (2008), analisaram as representações sociais de estudantes de direito e psicologia acerca da adoção de crianças por casais homossexuais, a técnica utilizada foi o Teste de Associação Livre de Palavras (TALP) com três estímulos introdutórios – família, homossexuais, adoção de crianças por casais homoafetivos. Os pesquisadores concluíram que a maioria dos participantes dentro dos dois cursos possuem uma visão de família embasada no modelo nuclear de orientação heterossexual, além de posicionamentos contrários à adoção por casais homossexuais. Não foram encontrados estudos sobre as representações sociais do fenômeno da adoção em si, e alguns poucos sobre as representações da adoção tardia e sobre a adoção por casais homoafetivos. Nesse sentido fazem-se necessários mais estudos que busquem demonstrar como é representada socialmente a adoção e suas diversas configurações. Com base no exposto esse trabalho pretende tratar das Representações Sociais que permeiam a prática de adoção na atualidade. Trazendo como perspectiva teórica as teorias de Representação Social de Moscovici e as colaborações de Abric. Visto que as representações sociais são responsáveis por esclarecer conhecimentos, determinar identidades, utilidades e questões da realidade que são desenvolvidas e compartilhadas socialmente pelo senso comum, estando diretamente associadas ao contexto social e histórico. O objetivo geral deste projeto de pesquisa é conhecer as representações sociais de estudantes universitários acerca das novas configurações da adoção. As análises dos dados obtidos sobre esse fenômeno se darão tendo como base a teoria do Núcleo Central, que se propõe a pesquisar as primeiras colocações que os sujeitos fazem ao serem incentivados a falar. Tal concepção afirma que tais colocações vêm repletas de normas sociais. Esse estudo planeja abordar cerca de 150 estudantes universitários, homens e mulheres, com idades acima de 18 anos. Por fim, o presente trabalho objetiva promover novas reflexões sobre a prática de adoção no nosso país e promover a desconstrução de preconceitos sobre as novas configurações de adoção existentes.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, L. F. de; OLIVEIRA, J. da S. C. de. A adoção de crianças no contexto da

homoparentalidade. Arquivos Brasileiros de Psicologia, Rio de Janeiro, v. 60, n. 3, p. 40-51, jan. 2008.

BORLOT, A. M. M.; TRINDADE, Z. A. As tecnologias de reprodução assistida e as

representações sociais de filho biológico. Estudos de Psicologia, Natal, v. 9, n. 1, p. 63-70, abr. 2004. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/s1413-294x2004000100008. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/epsic/v9n1/22382.pdf. Acesso em: 24 abr. 2019.

BRASIL. [Estatuto da criança e do adolescente (1990)]. Lei federal nº 8069, de 13 de julho de

NÚCLEO DE ESTUDOS APLICADOS DIREITOS, INFÂNCIA E JUSTIÇA

CAMARGO, M. L. Adoção tardia: representações sociais de famílias adotivas e postulantes à adoção: mitos, medos e expectativas. 2005. 268 f. Tese (Doutorado) - Curso de Psicologia, Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2005.

COSTA, N. R. do A.; ROSSETTI-FERREIRA, M. C. Tornar-se pai e mãe em um processo de adoção tardia. Psicologia: Reflexão e Crítica, Ribeirão Preto, v. 20, n. 3, p. 425-434, 2007. DINIZ, J. S. A adoção: notas para uma visão global. In: FREIRE, F. (org.). Abandono e adoção: contribuições para uma cultura da adoção II. Curitiba: Terra dos Homens, 1994. p. 13-30. MAUX, A. A. B.; DUTRA, E. Adoção no Brasil: algumas reflexões. Estudos e Pesquisas em

Psicologia, Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, p. 356-372, maio 2010.

PAIVA, L. D. Adoção: significados e possibilidades. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. WEBER, L. N. D. Aspectos psicológicos da adoção. Curitiba: Juruá, 2001.

NÚCLEO DE ESTUDOS APLICADOS DIREITOS, INFÂNCIA E JUSTIÇA

O APADRINHAMENTO AFETIVO COMO UMA PORTA DE ENTRADA

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