• Nenhum resultado encontrado

OS CÍRCULOS RESTAURATIVOS COMO MEIO DE RESSOCIALIZAÇÃO DE ADOLESCENTES PRIVADOS DE LIBERDADE

PELA PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL

Ana Carla Coelho Bessa – UNIFOR Nestor Eduardo Araruna Santiago – UFC

Dentre os desafios enfrentados pelo Sistema Nacional de Atendimento socioeducativo no atendimento de adolescentes que se encontram privados de liberdade pela prática de atos infracionais, as evasões e os conflitos internos nas unidades aparecem como a ponta de um

iceberg, na base do qual está a necessidade de investir na ressocialização daquela população, um

dos objetivos previstos pela Lei n. 12.594, de 18 de janeiro de 2012, que regulamenta as execução das medidas socioeducativas. Neste trabalho, apresentam-se os resultados de investigação bibliográfica acerca da contribuição dos Círculos Restaurativos para o processo de ressocialização dos adolescentes que se encontram em cumprimento das medidas socioeducativas de internação e de semiliberdade. Na metodologia, tomou-se como base teórica os princípios elencados na Resolução nº. 12/2002 do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas e na Resolução nº. 225/2016 do Conselho Nacional de Justiça acerca da implementação da Justiça Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário, bem como no dispositivo constitucional que estabelece o dever da família, da sociedade e do Estado em colocar as crianças, os adolescentes e os jovens, a salvo da violência, e nas normas regulamentadoras da execução das medidas socioeducativas.

De acordo com a Resolução 12/2002 do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ONU, 2002) e com a Resolução nº. 225/2016 do Conselho Nacional de Justiça (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2016) os programas de Justiça Restaurativa podem ser usados em qualquer estágio do sistema de justiça criminal, sendo que seus processos podem incluir mediação, conciliação, reunião familiar ou comunitária e círculos decisórios. Já os resultados restaurativos constituem um acordo construído, podendo resultar em reparação, restituição e serviço comunitário, com o objetivo de atender necessidades individuais e coletivas, responsabilizar as partes e promover a reintegração entre vítima e ofensor.

Considerando-se o dever da família, da sociedade e do Estado de colocar a criança, o adolescente e o jovem a salvo da violência (BRASIL, 1988), bem como a dupla natureza das medidas socioeducativas (KONZEN, 2005), os Círculos Restaurativos Familiares e de Compromisso surgem como contribuição para a elaboração do Plano Individual de Atendimento (PIA), do relatório técnico das unidades e, consequentemente, para a avaliação e decisão, por parte do Poder Judiciário, pela transformação ou extinção das medidas socioeducativas aos adolescentes participantes (BRASIL, 2012).

Os Círculos Familiares são práticas de Justiça Restaurativa nos quais se oferece a possibilidade de o adolescente conversar com os seus familiares, que se entende como vítimas secundárias de todo o processo, com convidados que ele queira trazer da sua comunidade (PRANIS, 2010), da sua escola, pessoas muito significativas que ele gostaria que o estivessem

NÚCLEO DE ESTUDOS APLICADOS DIREITOS, INFÂNCIA E JUSTIÇA

apoiando nesse momento na busca de uma responsabilização compartilhada com esses entes na construção de um acordo restaurativo para todos.

Os Círculos de Compromisso são voltados para a construção de um Plano de Atendimento do adolescente egresso da medida de internação, contendo temáticas trazidas pelos participantes, no caso membros da instituição que irá receber o adolescente. Entre esses membros estão servidores da semiliberdade, do programa de egressos ou mesmo dos programas de Liberdade Assistida, bem como membros da família do adolescente, tendo em vista firmar compromissos que possibilitem sua reintegração na escola, na família, no trabalho e na comunidade.

De acordo com a análise, os Círculos Familiares e os Círculos de Compromisso possibilitam um alto controle da aplicação da medida, ao mesmo tempo em que oferecem um alto apoio para a ressocialização do adolescente autor de ato infracional que se encontra em cumprimento das medidas privativas de liberdade (MCCOLD; WACHTEL, 2003).

Os Círculos Restaurativos Familiar e de Compromisso podem promover uma forma de responsabilização do adolescente pela sua própria ressocialização e integração social, comprometendo também, nessa empreitada, a família e a sociedade, que na maior parte das vezes assume a posição de vítima secundária, não vislumbrando seu papel na ressocialização do ofensor, de suas relações, e na transformação da conduta infracional. Também para o Estado, os Círculos Restaurativos analisados abrem a possibilidade de construir, junto com o adolescente, a família e a sociedade, um processo colaborativo que possibilite atender aos direitos fundamentais de todos aqueles que são atingidos pela prática do ato infracional, como também possibilita novas formas de realização, pelo Poder Judiciário, do seu múnus primeiro de promover a paz social.

REFERÊNCIAS

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 12 abr. 2016. BRASIL. Lei n. 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). Disponível em: www.cnj.jus.br. Acesso em: 3 jun. 2016.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (Brasil). 2016. Resolução n. 225/2016. Dispõe sobre a Política Nacional de Justiça Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário e dá outras

providências. Disponível em: www.cnj.jus.br. Acesso em: 3 jun. 2016.

KONZEN, A. A. Pertinência socioeducativa: reflexões sobre a natureza jurídica das medidas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005.

MCCOLD, P.; WACHTEL, T. In pursuit of paradigm: a theory of restorative Justice.

International Institute for Restorative Practices, 2003. Disponível em:

NÚCLEO DE ESTUDOS APLICADOS DIREITOS, INFÂNCIA E JUSTIÇA

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. The Economic and Social Council. Resolution

2002/12. Basic principles on the use of restorative justice programmes in criminal matters.

2002. Disponível em: https://www.un.org/ecosoc/sites/www.un.org.ecosoc. Acesso em: 8 jan. 2016.

PRANIS, K. Justiça restaurativa e processo circular nas varas de infância e juventude. Tradução Tônia Van Acker para Associação Palas Athena. Justiça Para o Século 21, abr. 2010.

Disponível em: http://www.justica21.org.br/arquivos/bib_424.pdf. Acesso em: 12 maio 2014.

NÚCLEO DE ESTUDOS APLICADOS DIREITOS, INFÂNCIA E JUSTIÇA

Outline

Documentos relacionados