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3.1 AS PRÁTICAS DE GOVERNAMENTO E SUAS IMPLICAÇÕES

3.2.1 As estratégias de governamento da Olimpíada de Língua Portuguesa

O docente e a escola que optarem pela participação em um programa como a Olimpíada de Língua Portuguesa se veem diante de novos recursos pedagógicos que se colocam à sua disposição. O programa reflete, de acordo com Gadelha, “sobre como se deve governar e conduzir os indivíduos, mas também sobre como os próprios indivíduos podem tomar a si a tarefa de se autogovernarem e de se autoconduzirem” (2009, p.124) – nesse caso, mediante as produções textuais, ou seja, é uma forma de conduzir, governar e autogovernar o processo da construção escrita escolar.

Brum contribui com uma reflexão sobre a atuação do programa:

A Olimpíada de Língua Portuguesa, para quem não conhece, é um concurso de textos entre escolas públicas de todo o país. Mas é muito mais do que isso, porque a ideia é iniciar uma transformação, pela palavra escrita, tanto no modo de ver o mundo, como a si mesmo – um modo de ver por escrito que ultrapasse os limites da escola e contamine a família e a comunidade, transformando-as também (2012, p.2).

Ao olhar a expressão escrita como prática das condutas em condução, tendo como espaço temporal uma década (2002-2012), é possível dizer e pensar que o incentivo à produção escrita no Brasil vai se processando em nível nacional. Quanto ao seu processo de constituição, saliento que o governo federal – pelo Ministério da Educação (MEC) e em parceria com o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e a Fundação Itaú Social – criou esse programa como um dos modos a incentivar o desenvolvimento das habilidades referentes à expressão e à comunicação. A Olimpíada de Língua Portuguesa – Escrevendo o Futuro tem como fim, de acordo com Madi, “qualificar cada vez mais os alunos e professores de língua portuguesa [...] e transformar o ensino da leitura e da escrita em uma ação docente voltada à formação do aluno para a vida em sociedade e para o pleno exercício da cidadania” (2012, p.4).

Essas estratégias podem ser, também, com a intenção de provocar mudanças nos índices educacionais, especialmente nos da produção escrita. É corroborada pelas pesquisas de Veiga-Neto, quando este diz que parece ser necessário “examinar quais são as novas práticas que estão surgindo na escola e quais as novas relações que estão se estabelecendo entre a escola e os novos dispositivos na fabricação” (2000, p. 189) de uma governamentalidade mais ampla, complexa.

Mesmo que os órgãos públicos, nas instituições educacionais, estejam criando possibilidades, envolvendo-se em ações para melhorar a educação escrita, o Brasil não tem apresentado significativos progressos nos resultados do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), de acordo com informações fornecidas pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2011), como é exposto no gráfico abaixo.

Posição País Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) Expectativa de vida Média de anos de estudo Anos esperados de escolaridade Renda nacional bruta percapita ($ PPC) Diferença entre os rankings da Renda e do IDH IDH sem indicador es de renda 85 Brasil 0.73 73.8 7.2 14.2 10152 -8 0.755

Exibindo 1 a 1 de 1 países (filtrado de 187 países)

Figura 3: Ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IHD) 2013 Fonte: <http://blog.estadaodados.com>. Acesso em: 26 dez. 2013

Bagno descreve a situação, dizendo que “em 1996 o Brasil ocupava a 58ª posição, caiu, em 1999, para a 79º, devido à sensível piora das condições sociais dos brasileiros como um todo”16

(2007, p.22). Por uma década, o Brasil passou um período decadente, porém, em 2012 subiu de 85º para 84º lugar. Em 2013 está na posição de 85º lugar. Acredito serem motivos pelos quais exercem influência nas dificuldades de escrita e de leitura no nosso país são consideradas uma ‘mancha’ que envergonha a nação.

Nesse contexto, muitos programas contribuem na tentativa de melhorar, entre eles o que está em análise. No ano de 2012, ao completar 10 anos, a Olimpíada de Língua Portuguesa – Escrevendo o Futuro promoveu sua terceira edição. Brum afirma:

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Cada edição da Olimpíada dura dois anos – nos pares é realizado o concurso de textos, nos ímpares a formação de professores. Todas as secretarias municipais de educação são convidadas a participar, e as que aderirem elegem uma pessoa que vai coordenar a campanha no município – integrando tanto escolas municipais quanto estaduais [...] (2012, p.2).

As inscrições das escolas são realizadas somente a partir do momento em que os secretários estaduais e municipais de educação fizerem a adesão ao programa. Os diretores das escolas públicas realizam suas inscrições; com isso, declara-se a intenção de participação. Os professores de Português fazem suas inscrições após a inscrição das escolas ou das secretarias municipais de educação.

Estando as escolas inscritas, inicia-se a busca de informações e habilitações para a realização das atividades que envolvem o programa naquele ano. Ao adentrarmos o site da Olimpíada de Língua Portuguesa, a primeira interface apresenta o programa e o seu regulamento, disponibilizando possibilidades para a capacitação dos docentes interessados tanto na formação quanto na inscrição e no cadastro. O programa, com abrangência nacional, tem um regulamento que busca dar suporte às diretrizes nacionais.

A imagem a seguir ilustra o modo como o regulamento está disposto.

Figura 4: Regulamento da III Olimpíada de Língua Portuguesa Fonte: <http://escrevendo.cenpec.org.br>. Acesso em: 22 jan. 2013.

O programa Olimpíada de Língua Portuguesa é monitorado pelo site <http://www.escrevendo.cenpec.org.br>. Através desse endereço virtual, a escola tem acesso às informações necessárias para a participação, de acordo com o regulamento apresentado na página da internet mostrada acima. No ambiente

virtual, podemos encontrar um número de telefone e um chat para postar comentários e esclarecer dúvidas que surgirem no decorrer da inserção nesse programa.

O professor passa a ser orientado pelas informações apresentadas no site, ficando atento aos prazos estabelecidos pelo programa, observando as etapas que seguem: o desenvolvimento de oficinas/aulas que antecedem a escrita do texto pelos alunos, contemplando o gênero que cabe a cada série, e o tema proposto pela Olimpíada desde sua fundação tem sido – “o lugar onde vivo”. Estimula o professor a desenvolver a escrita dos alunos oportunizando o conhecimento de sua história, sua comunidade e muitos outros espaços locais. O tema do programa é contemplado, desde a sua criação, é um ‘norte’ inicial para o desenvolvimento das atividades e das produções textuais.

Após a conclusão dos textos produzidos pelos alunos, o professor seleciona alguns que são encaminhados para uma comissão na própria escola, composta por professores de Língua Portuguesa, escolhidos pela equipe diretiva. De cada gênero é escolhido um texto que será postado no site e que irá para a apreciação de outra comissão, a municipal. Assim, sucessivamente, as produções classificadas são encaminhadas para as comissões estaduais e nacionais. De cada estado, no ano de 2012, foram selecionados 500 semifinalistas que viajam para uma capital estabelecida pela comissão organizadora do programa. Estes, acompanhados de seus professores, participam de atividades culturais e de formação organizadas pela equipe organizadora do concurso.

Segundo informações presentes na revista Língua Portuguesa, na III Olimpíada, em 2012, participaram “quase 3 milhões de alunos e 100 mil professores, espalhados por 40 mil escolas públicas de 5 mil municípios brasileiros” (FUHRMANN, 2013, p. 2). Desse modo, podem-se perceber as proporções que o programa vem tomando.

Diante desse contexto apresento, na interface que segue, os investimentos e atualizações que a Olimpíada de Língua Portuguesa vem fazendo. Na sua dinamicidade, percebo ao longo do meu estudo, a partir da minha participação, recursos e mudanças foram implantadas.

Figura 5: O que é a olimpíada

Fonte: <http://escrevendo.cenpec.org.br>. Acesso em: 26 dez. 2013.

Inicialmente, o programa contemplava alunos de quartas e quintas séries do Ensino Fundamental, sendo trabalhados os gêneros textuais: as reportagens, os textos de opinião e as poesias. Como o trabalho foi se propagando, tornou-se cada vez mais conhecido e aceito pelos municípios. Atualmente, ela contempla desde as quatro séries finais do Ensino Fundamental e até o Ensino Médio, acompanhando o período de adaptação das séries/anos do Ensino Fundamental de nove anos.

Segundo Gadelha,

[...] a melhoria da qualidade da população [...] não podia ser levada a cabo sem o concurso da educação, mas de uma educação [...] que se via obrigada a transmutar-se e adequar-se, além de as disciplinas a essa nova tecnologia de dominação a essa nova forma de governamentalidade (2009, p.198).

Governamentalidade que emerge nas condutas e nas ações dos sujeitos (professor e aluno) envolvidos no programa, seja pela forma que é organizado, seja pela abrangência, ou ainda pelo modo que ele chega até as escolas e, consequentemente, até cada indivíduo presente na escola e envolvido com o programa.

A partir de 2008, o programa deu um ‘salto’ e adquiriu maior proporção; foi quando ele sofreu alterações, ampliou-se, teve maior participação e tornou-se mais

conhecido pelas instituições escolares, passando a se chamar Olimpíada de Língua Portuguesa – Escrevendo o Futuro. Foi nesse período que o Ministério da Educação (MEC) uniu-se as organizações fundadoras tornou-se assim um programa com o intuito de modificar a produção textual dos estudantes brasileiros.