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CAPÍTULO 3 – OS CAMINHOS METODOLÓGICOS

3.1. As Histórias de Vida e formação

Esta pesquisa tem por base a abordagem qualitativa, a qual objetiva “construir uma memória baseada na experiência mais clara e ajudar as pessoas a obter uma explicação mais sofisticada acerca das coisas” (BRESLER, 2000, p.12). Ou seja, a experiência investigada é analisada a partir da visão do “sujeito” e não do “objeto”, valorizando a explicação subjetiva e a interpretação dos fatos (FREIRE, 2010, p.21). Sendo assim, este trabalho busca respostas a partir da reflexão subjetiva sobre as experiências vividas por seus colaboradores, tendo em vista que tal reflexão se dá por consequência de um aprofundamento de leituras e discussões sobre o tema abordado.

Tal reflexão nos direciona à busca por uma junção de procedimentos e técnicas que apontam ao objeto de estudo considerando o seu contexto e sua composição, ao qual chamamos de metodologia e é através da metodologia que o pesquisador decidirá o melhor caminho a seguir dentro da sua investigação.

Após estudar as possíveis metodologias a serem abordadas num estudo qualitativo e entender que a partir da minha própria história de vida consegui encontrar o tema da pesquisa, escolhi para a construção dos dados desta investigação a metodologia de Histórias de Vida e Formação apoaida nos estudos de JOSSO (2004), na qual as narrativas de vida de professores compõem a base para a análise e a triangulação dos dados em conssonância com a minha própria experiência, bem como as respectivas referências ao tema dissertado. A partir da análise da minha própria história, pude entender e resolver algumas dúvidas que tinha em relação à prática docente pessoal, a partir daí, decidi que buscaria as respostas para os meus questionamentos a respeito do tema aproximando-me das histórias dos professores entrevistados. Considerar-se-á que essas experiências ajudarão a trilhar o caminho de investigação para a resolução e

aprofundamento das questões aqui levantadas, pois como afirma Pineau (2006, p. 331), “a vida leva, mas onde e como?”.

Dessa maneira, para esta pesquisa, o processo de narrar a sua própria história é o fenômeno estudado pelo pesquisador, analisando as experiências contadas e encontrando nos seus significados as considerações para as suas indagações. Como afirma Josso (2004):

O caminho proposto pela “Metodologia das histórias de vida em formação” é a Narrativa, pois ela permite a singularidade, e com ela, vislumbrar o universal, perceber o caráter processual da formação e da vida articulando espaços, tempos e as diferentes dimensões de nós mesmos, em busca de uma sabedoria de vida (JOSSO, 2004, p. 09). O exercício de narrar-se é um processo de autoconhecimento e de mergulho nos significados das experiências vividas. De acordo com Nóvoa (1995, p.113), “só uma história de vida põe em evidência o modo como cada pessoa mobiliza seus conhecimentos, os seus valores, as suas energias, para ir dando forma à sua identidade, num diálogo com os seus contextos".

Ao olharmos criticamente para a nossa história compreendemos que cada escolha feita em nossa vida é composta por diferentes sentidos e tais decisões em conjunto com as suas consequências nos formam e nos transformam no ser quem somos (ALVES, 2015). Com base nessa premissa:

O trabalho de pesquisa a partir da narração das histórias de vida ou, melhor dizendo, de histórias centradas na formação, efetuado na perspectiva de evidenciar e questionar as heranças, a continuidade e a ruptura, os projetos de vida, os múltiplos recursos ligados às aquisições de experiência, etc., esse trabalho de reflexão a partir da narrativa da formação de si (pensando, sensibilizando-se, imaginando, emocionando-se, apreciando, amando) permite estabelecer a medida das mutações sociais e culturais nas vidas singulares e relacioná-las com a evolução dos contextos de vida profissional e social (JOSSO, 2007, p. 414).

Contar histórias é um elemento importante no percurso de aprendizagem, a nossa compreensão dos fatos vividos são o resultado da formação proporcionada por essas experiências. Dessa maneira, desde pequenos somos formados por momentos e, ao transformarmos essas recordações em narrativas, reforçamos o que se foi aprendido. Em termos práticos, uma criança que experimenta uma nova fruta ao contar essa experiência aos pais ou aos amigos, reflete, mesmo que inconscientemente, sobre o seu sentimento

em relação à fruta degustada, consequentemente, ao se deparar novamente com essa fruta, lembrará sobre o seu sentimento e decidirá se irá ou não repetir essa experiência. Ou seja,

Os contos e as histórias da nossa infância são os primeiros elementos de uma aprendizagem que sinalizam que ser humano é também criar as histórias que simbolizam a nossa compreensão das coisas da vida. As experiências de que falam as recordações-referencias constitutivas das narrativas de formação, contam não o que a vida lhes ensinou, mas o que se aprendeu experiencialmente nas circunstancias da vida (JOSSO, 2004, p. 43).

Assim, durante toda a nossa vida, momentos significativos se convertem em experiências formadoras. Dessa forma, a metodologia Histórias de Vida tornou-se uma ferramenta que leva o pesquisador a responder seus questionamentos através da compreensão de que a formação é construída a partir da construção de experiências, fazer experiências e pensar sobre as experiências (JOSSO, 2004).

Essa abordagem metodológica apresenta dois objetivos teóricos defendidos por Josso (2004), os quais versam a respeito da postura do pesquisador mediante a pesquisa e de um novo rumo da reflexão que essa metodologia aborda. São eles:

1. Assinalam um processo de mudança do posicionamento do pesquisador, por meio do apuramento de metodologias de pesquisa- formação, articuladas à construção de uma história de vida. [...] 2. Demarcam também a contribuição do conhecimento dessas metodologias para o projeto de delimitação de um novo território de reflexão abrangendo a formação, a autoformação e as suas características, bem como os processos de formação específicos voltados para públicos específicos (JOSSO, 2004, p. 23).

Ou seja, as histórias de vida e formação são um processo de viver, reviver e recontar histórias que vão além daquelas contadas pelos colaboradores, mas também, as histórias dos próprios pesquisadores. Dessa maneira se faz necessário relacionar o tema pesquisado com a própria prática profissional do pesquisador, pois, ao contar as histórias dos colaboradores, a história de vida do investigador também será contada. Os desafios, as conquistas, as felicidades, as derrotas, os problemas, as soluções, isto é, tudo o que for narrado pelo contribuinte estará intrinsecamente relacionado a um “embate paradoxal entre o passado e o futuro em favor do questionamento presente” (JOSSO, 2004, p.41).

Ou seja, o processo de ouvir e contar as histórias desses colaboradores contribuirá para que o aprofundamento da minha própria história, das minhas próprias inquietudes, redescobrindo e reinventando a concepção da realidade à minha volta. A esse

respeito, Josso (2004, p.58) defende que, “ir ao encontro de si visa a descoberta e a compreensão de que viagem e viajante são apenas um”, a autora discorre:

O que está em jogo neste conhecimento de si mesmo não é apenas compreender como nos formamos por meio de um conjunto de experiências, ao longo da nossa vida, mas sim tomar consciência de que este reconhecimento de si mesmo como sujeito, mais ou menos ativo ou passivo segundo as circunstâncias, permite à pessoa, daí em diante, encarar o seu intinerário de ida, os seus investimentos e os seus objetivos na base de uma auto-orientação possível, que articule de uma forma mais consciente suas heranças, as suas experiências formadoras, os seus grupos de convívio, as suas valorizações, os seus desejos e o seu imaginário das oportunidades socioculturais que soube aproveitar, criar e explorar, para que surja um ser que aprenda a identificar e a combinar constrangimentos e margens de liberdade (JOSSO, 2004, p.58).

Em outras palavras, o sujeito torna-se capaz de repensar as suas histórias de vida a fim de dar a elas o significado e valorização necessários para que essas experiências sirvam de aprendizado e ajude-o a tomar decisões acertivas diante das situações futuras. Assim, as experiências vividas pelos colaboradores, bem como, as memórias que guardam sobre elas serão a base deste trabalho. O desafio aqui está, não em descrever o fato como realmente aconteceu, e sim em retirar o significado do ocorrido na memória narrada.

A pesquisa, o pesquisador e o pesquisado se tornam um só, o que leva o pesquisador a uma grande busca pelo significado da sua própria existência, “este autoconhecimento poderá inaugurar a emergência de um eu mais consciente e perspicaz para orientar o futuro da sua realização e reexaminar, na sua caminhada, os pressupostos das suas opções” (JOSSO, 2004, p. 60).