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CAPÍTULO 3 – OS CAMINHOS METODOLÓGICOS

3.2. Construindo os dados

3.2.1. A Escolha dos entrevistados

Ao entender que essa pesquisa traz contribuições sobre a atuação do Educador Musical Multi-Instrumentista, o primeiro passo para delimitar quem seriam as pessoas entrevistadas foi procurar professores que apresentassem a característica multi- instrumentista e, principalmente, a utilizasse dentro das suas aulas de música.

Inicialmente, a investigação seria realizada com um único colaborador, o professor do terceiro setor (Igreja e ONG), Edson, o qual eu tenho mais proximidade e convivo semanalmente em diferentes tipos de atividades na igreja que fazemos parte

juntos. A metodologia girava em torno de ‘estudo de caso’ e a ideia inicial era observar a atuação desse professor durante um determinado período de tempo.

Mais adiante, após estudar as diferentes metodologias e perceber que foi através da narração da minha história que eu entendi o meu tema de pesquisa, escolhi usar das narrativas de vida para descobrir as respostas desse estudo. Após a redefinição temática, conversas com o orientador deste trabalho e por entender que uma pesquisa desse caráter requer um aprofundamento maior do tema, decidimos ampliar o olhar desse estudo para mais dois contextos: a Escola de Educação Básica e a Escola Especializada, os quais eu também tenho experiência de atuação. Sendo assim, procurei professores de música na cidade do Natal/RN que apresentassem o perfil multi-instrumentista e atuassem nos espaços de ensino que essa pesquisa pretende contemplar.

Com ajuda de colegas e em conversa com o orientador, escolhi alguns nomes para compor o time dos colaboradores desse estudo e fiz uma breve pesquisa nas mídias sociais em busca de indícios de suas atuações enquanto professores multi-instrumentistas. Assim, escolhi mais dois professores que apresentavam o perfil investigado, o Professor Ailson e o Professor Artur, e dei início à elaboração das questões do roteiro da entrevista aberta.

3.2.2. Os Entrevistados

Dos três professores escolhidos, o primeiro possui Bacharelado em Regência, o segundo tem formação em cursos específicos de música/instrumento e o terceiro é licenciado em Música e mestre em Educação Musical. Todos foram questionados sobre sua identificação com o tema e responderam que se consideravam multi-instrumentistas, além disso, desenvolvem trabalhos de performance e docência, atuando com faixas etárias diversificadas. Esse professores serão identificados pelo seu primeiro nome e apresentados por ordem de escolha e entrevistas: Professor Edson (Terceiro Setor), Professor Ailson (Escola Especializada) e Professor Artur (Escola de Educação Básica).

Para uma melhor percepção da característica multi-instrumentista dos entrevistados, elaborei uma tabela com os instrumentos e as habilidades musicais que estiveram presentes em seus discursos:

PROFESSOR EDSON PROFESSOR AILSON PROFESSOR ARTUR - Violino - Violão - Canto - Piano - Pandeiro - Pandeirola - Handchime - Regência - Arranjos - Violino - Viola - Violoncelo - Contrabaixo Acústico - Guitarra - Violão - Teclado - Contrabaixo Elétrico - Cavaquinho - Flauta doce - Canto - Bateria - Arranjos - Violão - Cavaquinho - Bateria - Teclado - Flauta doce - Pandeiro - Charango - Viola Caipira - Guitarra - Contrabaixo Elétrico - Canto

Tabela 1: Instrumentos e habilidades descritas pelos colaboradores. Fonte: a autora (2018).

3.2.3. As Entrevistas e as questões norteadoras

Antes de entrar em contato com os colaboradores para combinarmos a realização das entrevistas e elaborei um roteiro com questões abertas (Apêndice 1) para servir de orientação durante a conversa. Essas questões passaram por uma pequena mudança (Apêndice 2) após a realização da primeira entrevista, na qual pude perceber que precisava aprofundar algumas questões e agrupá-las por áreas para uma melhor condução das entrevistas.

Nessa etapa da pesquisa me deparei com a dificuldade e a responsabilidade de elaborar questões que me auxiliassem a encontrar respostas para as dúvidas já existentes, bem como, pudessem ampliar o meu olhar a respeito do tema e fossem capazes de gerar novas indagações. Por essa razão, demorei algumas semanas entre a primeira e a segunda entrevista, em que tive que reorganizar todas as questões e refletir sobre as respostas que havia conseguido e se elas correspondiam aos objetivos da pesquisa.

Sobre a realização das entrevistas

Primeiramente, contatei os professores através de ligações e mensagens via aplicativos de relacionamento e expliquei-lhes os objetivos da pesquisa. Após concordarem em participar, pedi que sugerissem o dia e o local onde se sentiriam à vontade para realizar a entrevista. Todos os professores sugeriram o próprio local de trabalho, pois alegaram sentirem-se confortáveis e gostariam de partilhar os seus

respectivos espaços de atuação. Por meio de registros fotográficos pude obter material para a coleta de dados que ali se iniciava.

Cada professor assinou um termo de esclarecimento da pesquisa (Anexo 1) e um termo de autorização de uso de nome e imagem (Anexo 2), ambos disponíveis no site do Programa de Pós-Graduação em Música da UFRN – PPGMUS.

Na busca da melhor forma de captação das falas dos colaboradores, utilizei um gravador de mão portátil da marca Zoom versão H1 Handy Recorder, pois este modelo apresentou melhor qualidade e custo benefício entre os demais que pesquisei em sites de busca. Todos os áudios foram salvos no formato mp3 e transferidos para plataformas

online e dispositivos portáteis.

Além disso, optei por gravar a conversa em vídeo, pois esse recurso seria mais uma ferramenta a qual eu poderia acessar caso não conseguisse compreender alguma palavra ou declaração, e, também, para observar as expressões e os gestos utilizados pelos entrevistados ao responderem às perguntas realizadas. Para isso, optei por utilizar uma câmera digital de marca Canon, modelo EOS Rebel T6. Entretanto, na primeira entrevista realizada, percebi que a câmera fazia apenas pequenas gravações de vídeo em períodos de oito a treze minutos, o que prejudicou a entrevista por ter de religa-la. Após mais ou menos quarenta minutos de entrevista a câmera acusou falta de espaço e eu não consegui continuar a gravação. Apesar desse contratempo, continuei a entrevista apenas com a gravação em áudio. Em seguida fiz uma intensa procura por aparelhos de gravação de vídeo, optei por utilizar o aparelho celular LG Nexus 5, o qual pude disponibilizar todo seu espaço de memória apenas para a gravação dos vídeos. Este aparelho conseguiu gravar as outras duas entrevistas por completo e apresentou uma qualidade satisfatória para a observação das expressões e do gestual dos colaboradores. Os vídeos foram gravados apenas como segurança caso houvesse algum problema com os áudios coletados pelo gravador, dessa maneira, não aparece análise das imagens nos capítulos referentes à análise dos dados.

Os professores foram solicitados a narrarem suas experiências de vida desde a sua iniciação na música, nos diferentes instrumentos, passando pela decisão em tornar-se professor e como sua característica multi-instrumentista esteve e está presente em sua atuação enquanto músico e professor de música. Cada professor falou extensiva e francamente sobre as suas experiências, narrando situações que julgavam ser importantes para a construção das suas respostas.

As entrevistas tiveram durações diferentes e foram direcionadas pelo roteiro prévio e de acordo com as respostas dos professores. Abaixo apresento uma tabela para ajudar na visualização das datas e durações de cada entrevista:

Tabela 2: Dados gerais das entrevistas. Fonte: a autora (2018).

A meu ver, a maior dificuldade encontrada foi a condução das entrevistas, pois cada professor apresentou experiências diferentes e tempos diferentes de vivência com a música, com o ser multi-instrumentista e com a sala de aula, por essa razão, cada um decidiu se aprofundar em diferentes pontos. Além disso, algumas questões que estariam mais à frente na entrevista foram respondidas durante a fala de alguns logo no início da conversa, o que me fez conduzir um a um de maneira particular.

Cada um deles deixou transparecer o seu jeito e as suas concepções sobre o que é ser multi-instrumentista, ser um professor com essa característica e como essa multiplicidade está presente em sua vida, de modo que, o meu propósito com essa pesquisa não é buscar a verdade dentro da fala desses professores, mas sim, construir o pensamento sobre esse professor multi-instrumentista unindo seus depoimentos à literatura encontrada.

Após a entrevista, todos eles se mostraram interessados em saber os resultados e disponibilizaram-se para quaisquer dúvidas sobre o que haviam narrado ou para responder mais questionamentos que porventura viessem a aparecer.

3.2.4 A transcrição das entrevistas

A transcrição das entrevistas foi realizada em software de edição de textos e como acessórios auxiliares. Utilizei um teclado da marca Multilaser modelo TC160 que possui o botão para pausar e iniciar a reprodução do áudio sem precisar fechar a janela onde estiver trabalhando, o que colaborou com o aproveitamento do tempo gasto com essas transcrições. Também utilizei um fone de ouvido AKG modelo K92 em busca de uma melhor qualidade na reprodução desses áudios. Como as entrevistas foram gravadas em ambientes fechados e nenhuma das gravações sofreu influência do meio externo, foi

Entrevistado Data Hora Duração

Professor Edson 29/03/2018 10h 1h19min

Professor Ailson 19/04/2018 10h 1h50min

possível entender bem as falas dos professores diretamente dos áudios coletados pelo gravador de mão, não sendo preciso recorrer às gravações de vídeo.

As duas primeiras entrevistas que apresentam mais de uma hora de duração foram transcritas em aproximadamente doze horas cada. A terceira e última entrevista, que durou cerca de quarenta minutos, foi transcrita em torno de cinco horas, pois eu estava um pouco mais habituada com o processo de transcrição.

Comecei por digitar as falas dos professores com todas as pausas, as gírias e expressões populares que eles utilizaram durante suas narrações, bem como, os risos e os suspiros que ocorreram durante a entrevista. Posteriormente, ouvi os áudios das entrevistas acompanhados do texto que havia gerado, isso me fez perceber palavras que havia esquecido de digitar, assim como algumas palavras que havia entendido errado. Nessa segunda escuta dos áudios pude observar aspectos que utilizaria para a análise dos dados, tal como, frases e histórias relatadas que fugiram do foco da questão inicial ou do objetivo da pesquisa.