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CAPÍTULO 4 – A TRAJETÓRIA DE VIDA DOS PROFESSORES INVESTIGADOS

4.1. Professor Edson: “Tudo nessa área da música eu acho que é válido”

O primeiro professor escolhido foi o Ministro de Música da Igreja a qual faço parte. Inicialmente, por estar mais próxima a ele, por almejar atuar com música da maneira que ele atua hoje e por ter uma história de vida parecida com a sua decidi direcionar minha pesquisa de mestrado para algo que estivesse ligado à sua atuação. Por ser o primeiro escolhido, sua entrevista foi a primeira a ser realizada.

O Professor Edson é bacharel em Música Sacra com Especialização em Regência e atua hoje como Ministro de Música1 em Igreja Evangélica, Maestro e coordenador de

Orquestra em uma ONG que acontece no espaço cedido por esta mesma igreja. Ele elencou o Violino e o Violão como os instrumentos que possui maior domínio, mas, apesar disso, foi possível perceber no decorrer da entrevista a sua afinidade com o Canto e alguns instrumentos de Percussão como pandeiro, pandeirola e handchime2. Além desses instrumentos, ele demonstrou o interesse pela elaboração de arranjos para orquestra e sobre o ensino de música.

Então... Gosto de cantar, gosto de reger, gosto de ensinar. Tudo nessa área da música eu acho que é valido. E, a gente que tem algum pouco de conhecimento, eu acho interessante compartilhar, passar adiante, e fazer com que outras pessoas que não sabem e querem aprender ‘receber’ essa contribuição (Professor Edson, março de 2018).

1 Essa função é designada para aqueles que coordenam toda a parte musical que ocorre dentro desses espaços religiosos. Sua atuação envolve o fazer musical, a apreciação e o preparo de novas pessoas dentro do ambiente eclesiástico. (PAUL, 1995; HUSTAD, 1981).

2 Placas sonoras distintas, afinadas cromaticamente e tocadas à mão. Disponível em: Contribuidores da Wikipédia, disponível em:< https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Handchime&oldid=857336543 >, acesso em 7 de novembro de 2018, tradução minha).

A sua relação com a música começa desde a infância, quando ainda pequeno começou a cantar em corais da Igreja. Sua mãe, apesar de não ter formação musical, atuava como cantora e regente de coros, e foi a primeira pessoa a inseri-lo nesse contexto e ensiná-lo sobre noções teórico-musicais.

Em seu discurso, o Professor Edson contou que sempre possuiu a vontade de tocar algum instrumento, “qualquer que fosse ele” e a oportunidade de fazê-lo surgiu quando um renomado professor de violino apareceu em sua escola propagando sobre um projeto social que oferecia aulas de violino e beneficiaria alunos da rede pública. Assim ele iniciou a sua carreira enquanto violinista e mencionou que esse foi o seu primeiro acesso ao conhecimento do estudo de música e essa experiência o fez atuar ainda mais dentro da igreja ajudando seus líderes e seus amigos na prática musical daquele lugar.

Paralelo a essa experiência, Edson começou a fazer parte do coral da escola onde estudava e, ao final do ano letivo, o professor que organizava esse projeto o premiou por ser o aluno que mais presenciou os ensaios e as apresentações. O prêmio recebido foi um violão e esse mesmo professor se dispôs a ensinar o instrumento. Entretanto, o período de aulas durou cerca de oito meses, pois segundo ele, as aulas de violão estavam tomando o seu tempo de estudo do violino. Apesar disso, continuou tocando o violão em suas atividades na igreja. É interessante observar que, apesar desse pensamento sobre um estudo atrapalhar o outro não condizer com o que Rauber (2017) defende sobre a aprendizagem do multi-instrumentista, o Professor Edson continuou atuando com os dois instrumentos e mais à frente na entrevista mencionou que teve que aprender novos instrumentos para auxiliar a sua prática docente e por essa razão ele se encaixou no objetivo desta pesquisa.

Mesmo envolvido com música desde pequeno, o Professor Edson confessou que seu sonho era ser piloto de avião, e, apesar de construir a sua carreira enquanto músico dedicou um período para se preparar para seguir seu sonho. Após um tempo de dedicação ao violino e ao estudo preparatório para a aeronáutica, ele percebeu que não estava conseguindo conciliar as duas rotinas de estudos e, além disso, a sua mãe não aprovava o seu desejo de ser piloto. Assim, por receio de desobedecê-la, acabou por desistir da aeronáutica e optou por se dedicar à música.

A partir dessa decisão, seus estudos intensificaram-se ainda mais, pois ele começou a almejar e conseguiu um estágio na Orquestra Sinfônica do Recife – cidade onde residia na época. Além disso, seu professor começou a indicá-lo para tocar em alguns eventos e essas atuações o ajudaram a adquirir o próprio instrumento.

Após dois anos estagiando na Orquestra Sinfônica, o Professor Edson esperava que, em algum momento, chegasse a contratação para efetivação do seu cargo. Entretanto, devido a movimentações políticas e burocráticas, esse momento não chegou e ele teve que seguir procurando outras maneiras de sustento. Nesse momento da sua vida apareceu a oportunidade de trabalhar em um banco, onde ele conseguiu o emprego e permaneceu nessa carreira durante quinze anos.

No decorrer desse período dedicado à carreira bancária sua prática musical se restringiu à sua atuação na igreja tocando e cantando em cultos, em auxílios ao regente do coro e regendo também. Essas atividades lhe motivaram a iniciar a faculdade de Bacharelado em Música Sacra, contudo, sua rotina no banco impediu a concretização desse curso. Apenas anos depois, após conseguir abdicar do emprego no banco, ele conseguiu voltar para a universidade e concluir essa etapa de formação.

No caso da atuação na igreja, o Professor Edson envolveu-se com a liderança de coros juntamente com sua esposa que é pianista. Inicialmente com um coro de juniores, logo depois com um coro infantil e mais à frente, por motivos particulares, precisou substituir o regente do coro de adultos. Foi a partir dessa rotina que ele começou a reparar que muitas pessoas o buscavam com a intensão de aprender sobre teoria da música, ou pedindo aulas de algum instrumento. Ao perceber isso, ele começou a elaborar uma proposta que pudesse beneficiar essas pessoas:

Nessa coisa de igreja, a gente sempre vê muitas pessoas querendo aprender, gostando de música, querendo tocar algum instrumento e não tem muita condição. E aí eu começava a me lembrar da minha história, eu queria tanto e não tinha condição. E aí eu comecei a pensar num curso de música pra igreja, pra atender aquelas pessoa que estavam ali e queriam e a gente combinava um dia na semana e tal. E assim a gente iniciou(Professor Edson, março de 2018).

Dessa maneira, deu início a um projeto de aulas de música nas dependências da igreja que integrava, baseando-se nas ideias do projeto social onde iniciou a sua carreira. Entretanto, por não conseguir apoio financeiro para compra de instrumentos, manutenção desses instrumentos, lanche para os alunos, e algumas outras questões materiais para o bom funcionamento do projeto teve que adaptar a proposta à sua realidade. Assim, diminuiu o número de alunos, alterando a faixa etária que gostaria de atender e reduziu o número de horas que esses alunos permaneceriam em contato com aquele ambiente. Essa situação acabou frustrando a todos os envolvidos, o que desencadeou o fim do projeto.

Em sua fala foi possível perceber diversas propostas de ensino de música/instrumento. Desde o início quando atuava no coral enquanto cantor, ao aprender um pouco de teoria musical e começou a ajudar colegas coristas. Em seguida deu aulas particulares de violino em sua própria casa e na igreja, além de sonhar em um dia realizar um projeto social com características semelhantes ao que iniciou sua carreira.

Percebeu o propósito de levar a música para pessoas carentes e que deveria largar sua carreira no banco para dedicar-se às atividades com música na igreja. Segundo ele, “Deus providenciou para que esse momento acontecesse da melhor maneira possível” e, por fim, ele recebeu um convite para trabalhar em uma igreja batista na cidade do Natal – onde congrega e reside atualmente. Para tanto, ele deveria desenvolver a função de Ministro de música dessa igreja, mas também, deveria trazer um projeto de música para uma ONG que atua no ambiente dessa instituição há quase 30 anos. Assim, ele conseguiu colocar em prática sua proposta: aulas de música de terça à sexta, das 14h às 17h para alunos da rede pública com faixa etária de 10 a 13 anos para ingresso. O projeto atualmente oferece aulas de violino, viola, violoncelo, flauta transversal, clarinete, saxofone (alto e tenor) e canto coral.

Atualmente, o Professor Edson continua trabalhando nessa mesma Igreja Batista onde desenvolve o papel de coordenador da parte musical da ONG, é regente da orquestra da ONG e da orquestra da igreja, regente de dois coros e coordenador das atividades musicais que acontecem na igreja – Ministro de música.

4.2. Professor Ailson: “O multi-instrumentista é esse cara aí, esse cara que sabe se