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AS INCERTEZAS DO FUTURO

No documento VOLUME 3 COMPETÊNCIAS E REGRAS (páginas 175-183)

FUNDANTE À EDIFICAÇÃO DA CONSCIÊNCIA SANITÁRIA

6. AS INCERTEZAS DO FUTURO

Câmbios culturais imprimem novos modos de (re)agir diante de fenômenos tecnológicos, a exemplo do compartilhamento de conteúdos de saúde por meio de mídias sociais em tempos pandêmicos, em particular. Incerto ainda é o porvir, mas concreta é a imagem refletida no quadro desenhado socialmente na forma de tramas de uma rede de produção de conhecimento cidadão. Nossos hábitos de ler e escrever adaptaram-se rapidamente às pequenas telas dos dispo- sitivos móveis. De acordo com as pesquisas do site We are Social, da população de usuários de Internet no Brasil com idade dos 16 aos 64 anos, 96% possuem algum tipo de celular; destes, 94% possuem smartphone; e apenas 12% não possuem telefonia móvel de alto padrão midiático (11).

O que esperarmos desses grupos tão diversos, distribuídos nos cinco cantos de um país como o Brasil? Além da leitura, entre outros hábitos que também se modificaram nos últimos dez anos, encontram-se o de ver e ouvir. Já não mais dependemos do tempo real, pois agora po- demos pausar para retomarmos depois, ou não, pois os “dedos nervosos” nem sempre obedecem aos comandos do fixar, mas sim de navegar, rolar, passar, subir e descer, freneticamente, como se nenhum dos conteúdos ali apresentados fosse suficiente o bastante para atender à demanda do conhecimento urgente.

Sobre essa urgência de saber, devemos começar a inverter a ordem de corriqueiras per- guntas. Ao invés de querermos saber o quanto se lê, é chegada a hora de perguntarmos quando e como lemos o que necessitamos saber? Essas podem ser as próximas perguntas para refletir- mos quanto aos desafios inerentes aos conhecimentos, atitudes e práticas de uma comunicação promotora da saúde na qual a informação passa a ser entregue em sentido contrário: passemos a captar a informação que nasce e é produzida pela comunidade e assim melhor conheceremos determinados fenômenos, seus ritmos, institucionalidades e capacidades de engajamento para, de fato, alcançarmos a consciência sanitária que almejamos para a plena cidadania e conquista da saúde como direito social.

REFERÊNCIAS

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Beatriz Figueiredo Dobashi1

RESumo: O termo gestão em saúde ganha força com as Normas Operacionais Básicas (NOB

1993/1996), trazendo um novo arranjo de competências para as três esferas de governo dentro do Sistema Único de Saúde, resgatando o preceito constitucional de solidariedade entre os entes nos quais as decisões devem ser pactuadas entre instituições autônomas, porém voltadas para o bem comum. À medida que o Sistema crescia, aumentava a complexidade da gestão; porém, há aproximados 20 anos, havia sido criado o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), justamente com a missão de apoiar e representar a gestão estadual de saúde. Muito conhecimento vinha sendo produzido, além de serem abertas novas frentes de trabalho conforme as necessidades dos estados. Após 38 anos de sua criação, o Conass se depara com o grande desafio de exercer sua missão numa grave situação de pandemia pelo novo coronavírus. Mantendo a qualidade de sua atuação, o Conass decidiu trabalhar com a divulgação de informações epidemiológicas fidedignas criando o Painel Conass COVID-19 e mantendo os apoios técnicos demandados pelos gestores. Essa é a missão do Conass em tempos de pandemia.

PalaVRaS-ChaVE: Gestão. Solidariedade. Pactuação. Pandemia.

1. INTRODUÇÃO

A gestão em saúde se reveste de grande complexidade, pelo fato de enfrentar o desafio da consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), em um país de dimensões continentais, formado por unidades federativas autônomas; e, ainda assim, utilizar a pactuação para estabelecer diretrizes e executar políticas que ao mesmo tempo conservem a unicidade dos objetivos e respeitem as pe- culiaridades regionais. Nesse contexto, estão os desafios de organizar Redes de Atenção em Saúde (RAS). Elas precisam ser acolhedoras, resolutivas e alicerçadas na Atenção Primária. Mais ainda, fazer isso com financiamento insuficiente, demanda crescente, dificuldades para interiorização de profissionais e muitos problemas na formação dos trabalhadores em saúde.

Qualquer decisão do fórum de Gestores tem impacto na vida de inúmeras pessoas, pois se destina tanto aos pequenos municípios com menos de 30 mil habitantes como às grandes metrópoles. Ser gestor da saúde implica implantar novos modelos de atenção, baseados na terri- torialidade, voltados para atender às necessidades sociais demandadas e percebidas.

Ou seja, ser gestor de saúde é fazer parte de um projeto de Estado, como ator social, sem deixar que decisões meramente político-partidárias ponham em risco a efetivação do SUS no seu território.

Foi por conta dessa complexidade e premidos pela necessidade de unir forças e aumentar sua representatividade que os gestores da época, liderados pelo médico Dr. Adib Jatene, então Secretário de Saúde de São Paulo, decidiram pela criação do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), em fevereiro de 1982: um espaço que representaria a força dos estados na construção do SUS e, ao mesmo tempo, proporcionaria um apoio para além das Secretarias Es- taduais de Saúde (SES), ajudando-as a carregar o pesado fardo da gestão.

Conforme se lê, o presente texto é de abordagem qualitativa, que, além de apresentar resultados aferíveis por pesquisa bibliográfica, traduz as impressões de quem esteve na conformação dos SUS, como técnica e como gestora, por mais de três décadas .

Os compromissos assumidos pelo novo Conselho: vocalizar para a Sociedade as posições e decisões do conjunto de Secretários de Saúde; representar os interesses das Secretarias de Saúde nos espaços deliberativos; promover a articulação e a representação política da gestão estadual do SUS; proporcionar apoio técnico às SES (1).

Tem-se que em tempos de pandemia, mais dois compromissos, de destaque, foram es- tabelecidos pelo Conass: avaliação dos riscos de COVID-19 na Atenção Primária à Saúde (APS) e avaliação semanal enquanto estiver declarado estado de emergência na saúde pública.

No documento VOLUME 3 COMPETÊNCIAS E REGRAS (páginas 175-183)