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Ainda quanto à presença das mulheres trabalhadoras nas atividades sindicais: No 6º Congresso [da categoria] nós conquistamos o espaço-criança. É pr’as crianças. E homens, hoje tem muito diretor que vai pra assembleia e leva seu filho. A mulher vai pra assembleia, ela precisa ter espaço pr’as crianças, precisa ter horário compatível... Não adianta chamar uma assembleia num sábado de manhã no sindicato. Ela vai ter muita dificuldade de ir porque trabalha de segunda a sexta. No sábado de manhã, ela vai cuidar da casa dela. Então a gente tem esse olhar. Pra mobilização e pra conquistar essas companheiras, a gente precisa muito ter esse olhar, de horários específicos pra marcar as reuniões, o dia. Além disso, muitas delas estudam. Então você imagina a dificuldade da participação. (Rosi)

A integração, efetivamente, à vida sindical é bastante cerceada às trabalhadoras que enfrentam obstáculos cuja transposição envolve inúmeras dificuldades e que acarretam, muitas vezes, a desmotivação e a desistência do engajamento. As adversidades difundidas no âmbito sindical implicam em refluxos para a representação e a incorporação das mulheres trabalhadoras. Numa tentativa de minimizar esses impedimentos, o SMABC passou a disponibilizar, recentemente – a partir do VI Congresso da categoria, realizado em 2009 –, o

espaço-criança durante a promoção de seus eventos, a fim de que os participantes, mulheres

e homens, tenham a possibilidade de levar os seus filhos.

Quando a gente foi fazer a mobilização pro [2º] congresso [das mulheres], a gente visitou bastantes fábricas e a maioria que nós visitamos as mulheres participavam. As mais jovens, principalmente as que estão se qualificando, se preparando pro futuro, elas ficaram mais interessadas em participar. Elas, até aqui nos debates, nas oficinas, elas participaram com propostas, com questionamento, foi legal. (Tania)

Adiar o casamento e a maternidade tem possibilitado a boa parte das mulheres trabalhadoras mais jovens percorrerem maior qualificação profissional e envolverem-se com as atividades sindicais.

Quando questionada se o sindicato é, de fato, atuante em termos da defesa dos direitos específicos das mulheres trabalhadoras, Rosi afirmou:

O sindicato [está a] cada dia mais engajado, mais comprometido com as políticas específicas, as políticas de cidadania, não só da mulher, do negro, do deficiente, de outros. Hoje um sindicato tem que ser um sindicato cidadão. Quando a gente vai ampliar a palavra cidadania, incluem as especificidades, as diversidades. Então não adianta ser um sindicato se não cuida do seu jovem, das mulheres, dos deficientes, dos negros... O sindicato só pr’as relações sindicais? E o nosso sindicato está avançando nessa questão da cidadania. (Rosi)

A luta para assegurar o exercício mais concreto da cidadania é característica do

novo sindicalismo que, no Brasil, a partir da década de 1970, inicialmente no ABC paulista,

levou as lideranças sindicais a preocuparem-se também com as questões relacionadas às condições de vida dos trabalhadores, de modo que esses pudessem usufruir de dignidade tanto no espaço da produção assim como na esfera política (RODRIGUES, 1997). A relevância atribuída, pelos dirigentes sindicais de diversos países, ao empenho de aproximar o sindicato dos segmentos da classe trabalhadora que ultrapassam seus sócios tradicionais, isto é, mulheres, negros, aposentados, jovens, deficientes – e que eleva as possibilidades de que o sindicalismo permaneça combativo perante os desafios atuais que acometem o mundo do trabalho80 – é uma estratégia observada e que vem sendo adotada progressivamente, ainda que gradual e lentamente (RODRIGUES, L. M., 1999).

O tema das cotas também foi abordado pelas diretoras:

Tem mulheres competentes que, às vezes, o fator da pessoa ser mulher ou homem não pode ser um fator que determina se a pessoa participa ou não. O fator que tem que determinar tem que ser a capacidade. Mas a gente vê que, se você não colocar cota, o pessoal não mede a capacidade. Se o mundo fosse perfeito não precisaria, mas o que acaba sendo fator de desempate: “É mulher, corta”. Você acaba vendo isso na prática, pessoas competentes que não têm oportunidade. Certas coisas se você não forçar não acontecem. A gente vê muito isso nos homens, vamos acreditar no cara, vamos apoiar, vamos assessorar ele, vamos ajudar. Você vê essa preocupação. E de repente, se é uma mulher: “É perder tempo, não vai dar certo”. Esse negócio de cota é

importante porque faz a pessoa parar e fazer uma reflexão sobre o tema. (Simone)

Eu não sou muito fã de cota. Às vezes eles usam, pode não parecer, é um sindicato democrático, mas a gente ainda tem um certo receio de homem e mulher, às vezes a gente tem aquela dificuldade por ele ser homem entender nossos problemas de mulher. Infelizmente ainda tem aquele negócio da cota, que tem que cumprir, aí fala: “É, você só veio por causa da cota”. Sabe, essa discriminação, falar assim: “Você só está aqui porque têm as cotas”. (Tania)

A política de cotas foi implementada a partir de 1994 pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), em suas diversas instâncias, assim como nos cargos de direção da CUT e de seus órgãos, servindo como recomendação aos sindicatos filiados a ela, como o SMABC. Essa medida tem em vista estimular a participação das mulheres trabalhadoras nas instâncias de comando do sindicato e, embora o SMABC não siga adotando expressamente uma reserva de cotas, a Carta Compromisso estabelecida durante o 2º Congresso prevê, em um de seus itens, a ampliação das cotas à atuação das mulheres em todas as instâncias sindicais. No momento, o SMABC prossegue se posicionando de maneira ainda bastante vaga quanto à adoção de políticas incisivas que atuem incentivando a interação das mulheres ativamente no sindicato, haja vista que se fala em cotas, porém, sem estipular seu percentual.

4.15 - Liderança metalúrgica: seu engajamento político (sindical e partidário)