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A realização de um Congresso das Mulheres Metalúrgicas do ABC a cada 3 anos,

3.1 O 2º Congresso das Mulheres Metalúrgicas do ABC

8. A realização de um Congresso das Mulheres Metalúrgicas do ABC a cada 3 anos,

precedidos de encontros anuais40, visando realizar o balanço das ações e traçar novas diretrizes41.

A observação do 2º Congresso permitiu-nos estabelecer algumas considerações acerca de sua proposição, do momento de sua execução e de suas deliberações.

40 No momento em que esta dissertação está sendo redigida, há previsão de que o 1º Encontro das Mulheres

Metalúrgicas aconteça no dia 27 de maio de 2011.

A proposta para a realização desse congresso foi uma iniciativa da diretoria do sindicato, que incumbiu a Comissão de Gênero de organizar o evento. No discurso que proferiu no encerramento do congresso, o presidente do sindicato – a despeito de logo em seguida ter salientado a responsabilidade do sindicato pelo incentivo à atuação das mulheres trabalhadoras – condenou o fato de que elas tenham esperado que os homens propusessem o congresso, atribuindo às mulheres o dever de propô-lo e de comparecer ao sindicato levando suas demandas. Houve, de certo modo, a culpabilização das mulheres pela demora de 32 anos de intervalo desde a realização do 1º Congresso. A direção sindical (em diversas gestões) isentou-se, até esse momento, do compromisso efetivo com o estímulo à participação sindical da parcela feminina dos metalúrgicos, eximindo-se de adequar-se ao recebimento das mulheres trabalhadoras, o que requer não apenas a inclusão na agenda sindical de cláusulas que visem equacionar necessidades e problemas vivenciados no cotidiano pelas mulheres trabalhadoras, mas o compromisso em tornar essas medidas, de fato, concretas e em proporcionar um ambiente sindical favorável à participação das mulheres trabalhadoras, isto é, um ambiente que não seja representado como um espaço masculino.

Durante a realização do congresso houve a preocupação em conduzir debates que abordassem temáticas específicas e relevantes, que permeiam o dia-a-dia das mulheres trabalhadoras em diversas instâncias: no mundo do trabalho, nos meios de comunicação, em sua própria subjetividade e nos espaços de poder político. Todas as discussões foram coordenadas por mulheres com experiência política adquirida em outros sindicatos filiados à CUT, na própria CUT e na OIT, assessoras sindicais, pesquisadoras, intelectuais, além da participação das mulheres da base que contribuíram com os depoimentos de suas vivências pessoais, de modo a qualificar os debates e as resoluções.

Embora tenha sido lançada uma campanha pela ampliação da licença- maternidade para 180 dias, não se discutiu, contudo, a licença-paternidade, que é, atualmente, de 5 dias. A rigor, no momento de lançamento da campanha, não foi posto em discussão o maior envolvimento dos homens com o cuidado dos filhos. Em se tratando do compartilhamento do trabalho doméstico – outro tema que aparece como impedimento para o maior envolvimento sindical das mulheres trabalhadoras, por se tratar de um encargo que prevalece, frequentemente, como exclusividade delas –, foi exibido um vídeo, antes da plenária final, uma animação que retratava a história de uma família que passa por uma modificação em seus hábitos: de uma situação na qual a mãe, que trabalha fora e se ocupa do trabalho doméstico quando chega em casa à noite, com a ajuda da filha e enquanto o marido, em seu tempo livre, assiste ao futebol na televisão e é servido pelas duas, que ainda têm de

cuidar do filho mais novo, a uma outra situação na qual o casal compartilha o cuidado dos filhos e as tarefas domésticas. Dessa maneira, foi questionada a divisão de papéis sexuais e permitiu-se que as mulheres trabalhadoras refletissem e debatessem sobre o tema.

As resoluções do congresso, contidas na Carta Compromisso, sistematizaram as reivindicações de políticas específicas para as mulheres trabalhadoras, que se referem não apenas à maternidade mas também às condições de trabalho – como a defesa da igualdade de condições de trabalho e salários entre mulheres e homens, a ampliação do número de mulheres nas empresas da categoria –; à conquista de direitos estendidos às mulheres da sociedade – como a defesa de políticas públicas voltadas às mulheres nas três esferas de governo e a ampliação da participação das mulheres na vida política –; além das reivindicações que se referem ao próprio espaço sindical – como a organização de atividades de ação formativa que incluam as questões de gênero, ou ainda o indicativo de organização de congressos das mulheres metalúrgicas a cada três anos, acompanhados de encontros anuais das trabalhadoras. Falou-se da ampliação das cotas de participação das mulheres trabalhadoras em todas as instâncias do sindicato, contudo, sem deixar explícito qual o percentual dessa cota. O sindicato irá adotar a recomendação da política de cota mínima de 30% estabelecida pela CUT ou reservará um percentual proporcional ao equivalente de 14% da composição de mulheres na base da categoria? O documento de resolução do congresso deixou essa definição em aberto. Podemos, entretanto, afirmar, neste momento, que, dada a reserva de uma vaga, de um total de onze integrantes, para a ocupação de uma mulher na próxima diretoria executiva do sindicato (deliberação do VI Congresso da categoria ocorrido em 2009), essa cota é inferior a 10%.

Deve ser ressaltada a experiência de aprendizagem que a realização do 2º Congresso possibilitou às mulheres e aos homens trabalhadores que estiveram presentes. Às mulheres, de modo que elas exercitem a ação sindical, o debate das temáticas envolvidas nas diversas dimensões de suas existências, questionando os papéis sociais, a divisão sexual do trabalho e a sobrecarga que engessa seu engajamento político, favorecendo seu comprometimento com a construção do sindicato como um espaço para mulheres e homens. E aos homens, de modo a sensibilizá-los a fim de que se comprometam a colaborar e aliar-se como parceiros dessa transformação:

A experiência do 2º Congresso das Mulheres Metalúrgicas nos permitiu refletir, dentre outras coisas, sobre o cotidiano da mulher e os diversos papéis assumidos por elas na atualidade, sobre a relação entre homens e mulheres, tanto no que se refere à desigualdade entre os sexos quanto ao sonho de construir novas relações baseadas

em laços de solidariedade e respeito mútuo. (Departamento de Formação do SMABC. Tribuna Metalúrgica, 30/3/2010.)