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4.15 Liderança metalúrgica: seu engajamento político (sindical e partidário) e sua percepção de mundo

A conjugação, que pôde ser observada nas falas das diretoras entrevistadas, entre ser metalúrgica, liderança sindical e petista foi bastante marcante nos discursos. O PT – cuja formação, em 1980, teve como berço o sindicalismo no ABC paulista e foi decorrência da preocupação central com o exercício da democracia – foi mencionado por todas, que também manifestaram admiração por Lula:

O que me influenciou a ser metalúrgica foi, na década de 1980, na ditadura, na intervenção do sindicato, quando o Lula foi preso. Toda aquela atuação sindical, aquelas greves. Aquilo me fascinava! Eu falava: “Eu ainda vou ser metalúrgica!”. Eu era só dona de casa. O dia que eu entrei pra categoria, que eu fui trabalhar numa empresa, foi um sonho, porque eu sempre gostaria de ser. O dia em que o Lula foi

preso, eu era estudante na época, isso tudo me ajudou, eu falava: “Eu quero ser igual, eu quero participar, eu quero estar aí!” (Rosi)

Depois que eu comecei a trabalhar na fábrica, comecei a ver o sindicato e, depois que estava dentro do sindicato, eu me filiei ao PT. Porque no sindicato, não é só o sindical, também tem o lado político e a gente acaba se envolvendo. (Andrea)

Na época da eleição do Lula, eu com a bandeira do PT, vindo pra casa com a roupa, aqueles folhetinhos do PT, teve um dia que veio uma visita em casa e a minha filha falou: “Aqui nessa casa só entra lulista.” (Simone)

Nesse momento estamos todas da Comissão de Gênero empenhadas pela Dilma, estamos em campanha, com muito interesse, pra que aquela mulher se eleja. É uma mulher, é muito importante. Eu acredito que, pra’s mulheres em geral, vai ser um orgulho ter uma mulher presidente na história do Brasil. Acredito que ela vai pensar com mais cautela em ter mais políticas públicas específicas pra mulheres. Ela não pode nos trair. Ela vai estar do nosso lado sim. (Gilza)

Em referência aos impactos sobre sua percepção de mundo decorrentes da atividade sindical, as trabalhadoras afirmaram:

Quando eu era dona de casa eu tinha uma informação da televisão, do que eu lia nos jornais, eu não tinha [a] vivência. Hoje não, dentro dessa minha militância eu já tive a oportunidade de viajar pra outros países e isso me trouxe uma percepção mais política, mais apurada. Na minha concepção de fazer o contraponto, de enxergar quais os projetos que de fato vão mudar. Não ficar com uma cortina pra cima e pra baixo, só a informação de uma televisão. Hoje eu sei diferenciar quem está a favor, de enxergar a política com mais clareza. (Rosi) Participar do movimento sindical é uma escola, é um aprendizado bem maior às vezes do que em alguma universidade. A gente se forma aqui nas demandas do dia-a-dia da fábrica, os trabalhadores trazendo uma demanda e você tem que ter conhecimento da causa. Se não tem, tem que ir buscar. Então você está aprendendo constantemente a política, leis, CLT, convenções coletivas e a política geral sem dúvida. (Ana Nice)

A gente tem que enxergar o mundo dessa forma [permeado pelo conflito de classes] e agir de forma organizada: a gente tem que buscar os interesses da nossa classe. Mas tem gente que nem se enxerga em classe. Se a gente não se organizar, a gente não vai chegar nunca. O pessoal não tem ideia do que a gente tem hoje foi luta de classe. O pessoal que é novo não tem ideia do quanto o pessoal sofreu pra chegar ao 13º salário, à licença-maternidade de 120 [dias], fundo de

garantia, aposentadoria, INSS. Coisas que a gente foi avançando, direitos trabalhistas que foram um parto. (Simone)

Uma atuação sindical mais ativa permite que as mulheres trabalhadoras desenvolvam um olhar crítico acerca da política e dos embates entre capital e trabalho – e entre os próprios trabalhadores como uma categoria não-homogênea –, o que contribui a fim de reforçar a luta pelos seus direitos.

Durante os anos de 1930 – quando o Estado impôs, através de um decreto-lei, a obrigatoriedade do reconhecimento oficial dos sindicatos – e até pelo menos a década de 1950 – momento em que os grandes parques industriais produtores de bens intermediários e de bens de consumo durável estavam surgindo no Brasil –, a classe operária brasileira (o que também não significa que ela fosse desprovida de qualquer tradição de luta) ainda estava em formação. Relativamente, compunha um contingente reduzido e pouco expressivo no total da população do país, geograficamente dispersa, já que havia poucos centros urbanos onde apresentasse maior concentração. Durante a República Oligárquica, os operários, bem como os trabalhadores dos setores médios da sociedade, eram excluídos do sistema político. A partir do golpe de 1964 permaneceu o tutelamento do Estado sobre os sindicatos, no intuito de conter a ascensão das correntes reformistas e revolucionárias no movimento sindical. No entanto, no momento em que a crise da ditadura militar se pronunciou, o proletariado industrial havia se expandido significativamente e, além desse expressivo crescimento quantitativo, núcleos dessa classe operária estavam se concentrando, num processo que vinha desde os anos de 1950, em estabelecimentos fabris de grande porte e em cidades industriais (caso dos operários das montadoras na indústria automobilística em São Bernardo do Campo). Esse novo operariado destacou-se por sua maior capacidade de mobilização e reivindicação, de manter estáveis as organizações nos locais de trabalho, além de recorrer com mais frequência a movimentos grevistas, o que permitiu ao operariado a conquista de acordos de trabalho e direitos mais vantajosos (BOITO, 1991: pp. 55-60).