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Capítulo III – Educação inclusiva

3.1 As Necessidades Educativas Especiais: evolução e principais marcos

As Necessidades Educativas Especiais (NEE) têm vindo a ser alvo de debates, estudos e reflexões ao longo do tempo, sendo de realçar a existência de contribuições internacionais e de normativos para a sua conceptualização e, efetiva, operacionalização.

Relativamente às contribuições internacionais, refere-se: o Relatório de Warnock, a Década das Pessoas com Deficiência (1983-93), a Convenção sobre os Direitos da Criança, a Conferência Mundial sobre a Educação para Todos bem como a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais.

O Relatório Warnock data de 1978 e “passando em revista a organização e funcionamento da educação especial em vários países, sintetiza os princípios básicos que devem orientá-la” (Baptista, 1999, p.124). O ano de 1981, considerado o Ano

Internacional das Pessoas com Deficiência, seguido pela Década das Pessoas com

Deficiência (1983-93) serviu de mote à defesa do princípio da igualdade de oportunidades.

É de referir que Portugal assinou a Convenção sobre os Direitos da Criança a 26 de janeiro de 1990 e em março desse mesmo ano ocorreu em Jomtien, na Tailândia, a Conferência Mundial sobre a Educação para Todos que reafirmou o direito de todos à educação e aprovou a Declaração Mundial sobre a Educação para Todos. A Declaração

Mundial sobre a Educação para Todos menciona que “devem ser tomadas medidas de

forma a garantir igualdade de acesso à educação de todas as categorias de pessoas com deficiência como parte integrante do sistema educativo” (Costa, 1999, p.27) e, nesse

sentido, determinou que se implementassem medidas dirigidas a assegurar a igualdade de oportunidades de acesso à educação para todas as crianças, das quais se destacam os Planos Educativos Individualizados e os Programas Educativos (Correia, 2013).

Em junho de 1994 realizou-se a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, encarada como um marco crucial na evolução dos princípios e das práticas em relação à educação de crianças com NEE, uma vez que nela foi consagrado o conceito de escola inclusiva como o modo mais completo e efetivo de aplicação do conceito de escola para todos (Costa, 1999). Da conferência em questão resultou a

Declaração de Salamanca e Enquadramento da Acção na Área das Necessidades Educativas Especiais que, de acordo com Baptista (1999), regulamenta a aplicação do princípio da educação para todos às crianças com NEE. Este documento defende o direito de crianças, jovens e adultos com NEE acederem às escolas regulares e o facto de ser a escola que se deve adequar e ser capaz de ir ao encontro das necessidades dos seus alunos (Candeias, 2009), tal como é possível constatar em Correia (1997):

as crianças e jovens com necessidades educativas especiais devem ter acesso às escolas regulares, que a elas se devem adequar através de uma pedagogia centrada na criança, capaz de ir ao encontro destas necessidades; as escolas regulares, seguindo esta orientação inclusiva, constituem os meios mais capazes para combater as atitudes discriminatórias, criando comunidades abertas e solidárias, constituindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos (…). (in Declaração de Salamanca, Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade, 1994) (p.5).

Para além destas ações, existem outras que reconhecem, igualmente, a inclusão de crianças, jovens e adultos com NEE como um direito, a saber: as Normas sobre Igualdade de Oportunidades para Pessoas com Deficiência (1993); a Carta do Luxemburgo (1996); o Enquadramento da Acção de Dakar (2000); a Declaração de Madrid (2002); o Ano Europeu da Pessoa com Deficiência (2003) e o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos (2007).

No que diz respeito aos contributos dos normativos para o tema em questão é de salientar que estes têm vindo a traduzir as orientações da política educativa em vigor ao longo do tempo. De seguida, encontra-se uma breve abordagem a alguns dos normativos que se considerou mais relevantes.

Com a publicação da LBSE, através da Lei n.º46/86, verificaram-se transformações significativas, como a consagração do direito à diferença como um princípio organizativo do sistema e a promoção do desenvolvimento da integração escolar

ampliada a todos os alunos que, segundo critérios psicopedagógicos, têm N.E.E. e que frequentam estabelecimentos públicos de ensino dos níveis básico e secundário (Pocinho, 1996). De acordo com a mesma autora (1996, p. 60), com o referido decreto “os alunos com N.E.E. têm direito a uma adequação do processo de ensino e das condições materiais da escola às suas necessidades específicas. Esta adequação consiste na adaptação das condições em que se processa o ensino-aprendizagem”.

O Decreto-Lei n.º3/2008 revogou o Decreto-Lei nº139 de 1991, que definia o Regime Educativo Especial para alunos com Necessidades Educativas Especiais. Com este decreto, datado de janeiro de 2008, a educação especial assumiu “uma clara orientação para a inclusão educativa e social” (Candeias, 2009, p.42). É de mencionar, também, o Decreto Legislativo Regional n.º 33/2009/M, de 31 de dezembro que adapta à Região Autónoma da Madeira o Decreto-Lei n.º3/2008 e objetiva constituir para a região um documento orientador que assegure a inclusão de crianças, jovens e adultos com NEE.

Realça-se, ainda, que de acordo com a Constituição da República Portuguesa “Todos têm direito à educação e cultura.” (Pocinho, 1996) e que é considerado que a evolução da história da educação especial em Portugal é constituída por três fases, a saber: a fase, essencialmente, asilar durante a segunda metade do século XIX; a fase de cariz assistencial e aliada a algumas preocupações educativas nos anos 60; e, a partir dos anos 70, a fase de aproximação dos alunos com NEE às escolas regulares (Ruivo, 1998). Assim, de forma a completar a informação, importa mencionar que, segundo Ruivo (1998), “Podemos de modo conciso enunciá-las da seguinte forma: da perspectiva assistencial e de protecção à educação, da iniciativa privada à pública, da segregação à integração.” (p.17).

Atendendo ao que foi acima referido, considera-se a existência de uma unanimidade no que diz respeito à pertinência de responder às necessidades de todos os portadores de NEE e de incluí-los. Sobressai a ideia de que este tema tem vindo a ser abordado ao longo do tempo e que para este contribuíram diversos acontecimentos internacionais bem como normativos. É de realçar, ainda, a importância que a Declaração

de Salamanca e Enquadramento da Acção na Área das Necessidades Educativas Especiais teve ao regulamentar a aplicação do princípio da educação para todos.