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Capítulo III – Educação inclusiva

3.3 Uma escola inclusiva

Tanto a legislação em vigor como as atuais tendências científicas e pedagógicas e o modo como as NEE são perspetivadas, constituíram fatores importantes na evolução de conceitos e práticas que conduziram ao princípio da escola inclusiva (Costa, 1999).

Baptista (1999) considera que a escola inclusiva traduz, em termos educacionais, os valores da democracia, da justiça social e da solidariedade. A escola inclusiva é definida como “uma escola onde toda a criança é respeitada e encorajada a aprender até ao limite das suas capacidades” (Correia, 2013, p.7), é “um espaço e um tempo de desenvolvimento, educação e formação de todos os alunos, e deverá atender às suas diversidades.” (Candeias, 2009, p.106).

Assim, a inclusão exige a reestruturação da escola e do currículo e repercute diversas vantagens em todos os atores do processo educativo. Envolve toda a comunidade

escolar na procura de respostas educativas eficazes que possam ajudar os alunos com NEE e promove o diálogo, o trabalho cooperativo, a partilha de estratégias de ensino entre educadores/professores do ensino regular e educadores/professores de educação especial. Para os alunos com NEE, a escola inclusiva reconhece o seu direito de aprender junto com os seus pares, faculta aprendizagens similares e interações sociais adequadas, retira o estigma da “deficiência” e responde às suas necessidades específicas. Para os alunos sem NEE, a inclusão também traz-lhes vantagens, pois permite-lhes entender que todos somos diferentes, que as diferenças individuais devem ser respeitadas e aceites e aprendem que cada um de nós tem sempre algo de valor a dar aos outros (Correia, 2013). Numa escola inclusiva os docentes podem se deparar com determinadas preocupações. De acordo com estudos realizados no final da década de 90 as principais preocupações e dificuldades dos professores do 1.º CEB relativamente aos alunos com NEE estão relacionadas com situações de ordem pedagógica, nomeadamente com: a compreensão da problemática do aluno; o planeamento curricular em turmas heterogéneas e o planeamento curricular específico para o aluno com NEE; a gestão e organização do grupo/turma; e a relação pedagógica (Leite, 2005).

Neste sentido, reveste-se de particular importância que os docentes tenham em consideração algumas estratégias a utilizar em salas de aula inclusivas.

Ainscow (1998) defende que uma estratégia crucial para que as escolas respondam às responsabilidades de todos os alunos é encontrar meios de as guiar para a resolução de problemas e, nesse sentido, “as escolas têm de ser organizações nas quais toda a gente está envolvida cooperativamente na tarefa de aprender, tanto os alunos como os professores.” (p.37). Outra estratégia a utilizar em salas inclusivas, diz respeito à criação de um ambiente de interações positivas. Para tal a sala de aula deve ser um local onde as necessidades humanas básicas (figura 2) devem ser tidas em conta, sendo que o docente desempenha um papel imprescindível na criação de ambientes educacionais enriquecedores e positivos, uma vez que as suas atitudes e expectativas influenciam a inserção dos alunos com NEE na classe regular. Desse modo, o docente deve proporcionar um ambiente acolhedor que promova interações entre alunos sem e com NEE e fomentar entre eles a valorização da diferença e sentimentos de amizade.

Fonte: Retirado de Correia, 2013, p.96.

Figura 2. Necessidades básicas de uma criança na sala de aula

Outras estratégias dizem respeito a: fomentar a amizade entre as crianças com e sem NEE; sensibilizar as crianças para a inclusão; impulsionar a aquisição de comportamentos desejados; proceder a ajustamentos e adaptações curriculares; bem como implementar práticas educativas flexíveis. Estas estratégias visam facultar a todos os alunos um ensino útil, de qualidade e dinâmico que tenha em consideração os seus respetivos interesses, necessidades, características e estilos de aprendizagem e, nesse sentido, os grupos de trabalho devem ser flexíveis, as estratégias e os materiais devem ser estimulantes (Correia, 2013).

Seguindo esta linha de pensamento, verifica-se que a escola inclusiva, tal como o próprio conceito espelha, é uma escola de todos, na qual todos estão incluídos e as suas diversidades e especificidades são atendidas e respeitadas. A escola inclusiva reflete diversas vantagens para todos os atores do processo educativo e deve ter em consideração a implementação de determinadas estratégias que visem o seu objetivo de inclusão.

3.3.1 Competências sociais na educação inclusiva de alunos com NEE

Um dos objetivos da escola inclusiva é a promoção de competências sociais nos alunos com NEE. São diversos os conceitos de competência social, contudo Chen e French (2008) mencionam que de todos os conceitos existentes é possível enfatizar a participação ativa do sujeito nas interacções sociais ou a sua iniciativa na criação de

interacções sociais, bem como o ajustamento dos comportamentos sociais em cada situação específica.

As competências sociais desempenham um papel crucial no desenvolvimento humano e, de modo específico, no funcionamento da escola, pois afetam as relações com a comunidade educativa, a aceitação pelos pares e, ainda, a realização académica.

Relativamente aos alunos portadores de NEE, a promoção de competências sociais reveste-se de maior interesse e pertinência, uma vez que estes estão mais suscetíveis à rejeição pelos pares, encontram-se socialmente mais isolados e as suas dificuldades de interação entre pares são projeções de problemas ao nível do desenvolvimento de competências sociais no futuro. Neste sentido, a existência de interações sociais positivas revela-se pertinente e traz-lhes benefícios, sendo de realçar o papel desempenhado pelos pares e pelos docentes na sua promoção.

O grupo de pares desempenha um papel fundamental no processo de socialização e na construção de competências interpessoais (Ladd, 1999) e, de acordo com Meadan e Monda-Amaya (2008), o papel dos professores está relacionado com a promoção do desenvolvimento social de todas as crianças através da criação de um ambiente propício ao processo de aprendizagem. Assim sendo, o professor deve ter como prioridade a criação de um ambiente positivo e a promoção de interações sociais e, para tal, deve: reforçar os comportamentos adequados; criar oportunidades que permitam ao aluno com NEE experimentar um sentimento de pertença na turma; e fomentar atividades que incentivem a aprendizagem cooperativa entre pares (Candeias, 2009).

Constata-se que a promoção de competências sociais nos alunos com NEE é um dos objetivos da escola inclusiva bem como que o grupo de pares e o docente desempenham um papel crucial na sua promoção.

Capítulo IV – O desenvolvimento sociomoral e a sua promoção em