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As possíveis contribuições das ONGs ambientalistas para a Insustentabilidade do

Parte I Ambientalismo, ONGs e Turismo Sustentável

Capítulo 3: Ambientalismo e Turismo Sustentável

3.4 As possíveis contribuições das ONGs ambientalistas para a Insustentabilidade do

“O que se tem pra mostrar é o modo de vida local, se você

modifica o modo de vida para atender o Turismo, você está indo contrariamente a tudo. É claro que provavelmente eles se entreguem ao Ecoturismo na medida em que isso gera renda mais rápido, mas isso vai ter que ter um avanço e um revés para eles irem aprendendo” (MEIRELLES FILHO em

entrevista à autora em 12/12/2008).

Muitas vezes as ONGs se colocam como agentes catalisadoras de ações de conservação ambiental e assim oferecem melhores condições de tocar projetos, arrecadando somas significativas de recursos financeiros e humanos, buscam parceria com as comunidades locais, além de atuarem junto a empresas e governo. Consequência disso, muitas vezes é a desmobilização da comunidade que passa a depender da sua tutela, ou incorpora uma agenda diferente da original apostando em alternativas técnicas, sem sentido para elas. Esse fato é confirmado por Neves da ASPAC (em entrevista à autora em 2008) que afirma em depoimento que, embora o Projeto estivesse caminhando bem durante a época em que o WWF era parceiro, já se previa o seu desmantelamento do mesmo, a dependência total do WWF, segundo ele, em função da falta de capacidade comunitária para tocar as ações:

“Queriam fazer um monte de coisas e o WWF pagava, e, assim criaram uma situação insustentável, com estrutura

impossível de se manter com os próprios pés. Assim, com a saída de cena do WWF, um pequeno grupo se associou para montar uma cooperativa (...). Dissolvemos aquele monte de gente que estava trabalhando, era um modelo bem capitalista, aí começa realmente uma nova fase” (NEVES em

entrevista à autora em 14/05/2008).

O Instituto Peabiru afirma se preocupar com a questão:

“Bom, o nosso modelo é exatamente o oposto... é o modelo

de ‘quebrar a cara’, desde o início... se vira! Desde o primeiro dia eles têm que se virar. E aí nós brigamos bastante... reclamam...” (MEIRELLES FILHO em entrevista à

autora em 12/12/2008).

Pode ocorrer também a acomodação da comunidade, que deixa de cobrar do Governo, para cobrar da ONG:

“Quando chega uma ONG lá com dinheiro e tudo é deixado na mão da ONG, acontece acomodação” (NEUHAUS em

entrevista à autora em 03/06/2008).

Esta cobrança, acomodação típica de um processo assistencialista, foi observada durante os dezoito anos de atuação do Instituto Physis no PETAR, quando a comunidade, acostumada a receber cursos, doações e favores, cobrava constantemente de sua equipe a realização de todo o tipo de oficinas. Nas atividades que foram realizadas gratuitamente, reclamavam caso não houvesse lanche e pequenos presentes equivalentes aos que tinham recebido em outros momentos.

Os impactos negativos e positivos têm a mesma origem, a depender da condução dos trabalhos, com potencial desestruturador ou estruturador da comunidade. A mudança produzida nas comunidades é intensa, sejam os impactos positivos ou negativos. No tocante aos impactos concretos do TS, a contribuição dos debates está na intervenção e problematização das ações que incidem nos territórios onde é praticado, com o potencial de transformar as populações locais em sujeitos atuantes e inseridos na construção de pactos sociais e políticos para a conservação dos recursos naturais. Além disso,

investimentos em qualificação profissional para a gestão dos mesmos, inserção no mundo global, acesso a bens econômicos e culturais e o fortalecimento de identidades, seriam metas para sair do plano discursivo e complexo por definição e criar condições emancipatórias.

Segundo Campos (2006) as transformações socioambientais pautadas nas interações, ocorrem em todos os sentidos, para os sujeitos envolvidos nos processos conflituosos. Assim, os agentes externos, tais como as ONGs, influenciam e são influenciados. Criam-se tendências diversas de mudança, que podem resultar na manutenção e abandono de práticas locais de manejo dos recursos.

No Turismo é muito comum observar mudanças significativas na percepção das comunidades de moradores, quando estas passam a conviver com diferenças, aceitando posturas totalmente contrárias às suas, valorizando determinadas paisagens e aspectos das culturas locais, correndo sempre o risco de folclorizá- las, criando ou tirando sua autenticidade, alterando radicalmente seus modos de vida e a chamada “Alma do Lugar” (YÁZIGI, 2001).

Por conta da questão empresarial, é que as experiências recentes de TS ainda não avançaram. Dirão os técnicos, que, com capacitação e tempo, as comunidades se adaptarão. Dirão as comunidades e algumas ONGs, que, por conta dessa racionalidade, perde-se a sua essência, não só “atrativa” as olhares dos turistas, como no funcionamento e reprodução social e cultural comunitária, que, em longo prazo, inviabilizariam o Turismo.

Essa tão propagada vertente empresarial recomendada às comunidades locais pelas ONGs que as assistem, na verdade, constitui uma grande falha nas próprias ONGs, mesmo as transnacionais como demonstra o seguinte depoimento:

“Não é só da CI a leitura que eu faço. Do que eu conheço da WWF é a mesma coisa: o que acontece, ONG, é muito boa, sabe trabalhar com indicadores, sustentabilidade, principalmente na parte de impacto ambiental, a maioria do pessoal que trabalha nas ONGs é biólogo, ou é ecólogo, mas na hora que você vai para a gestão do negócio, é uma

onde pegou! Eles contrataram consultoria na época, para fazer um plano de negócios e aí, é minha leitura, não em relação a essa consultoria específica, mas a muitos planos de negócios que eu já vi, é que é o seguinte: as vezes você paga o cara para ele te falar aquilo que você quer. Foi o que aconteceu lá. Você pagou o cara para ele te falar que o negócio era viável, então ele fez e mostrou que era viável, mas era completamente inviável. Então realmente é isso, na parte financeira o projeto foi um fiasco” (...) “Em relação ao Rio Negro também não foi diferente, foi outra consultoria que fez, e eles também fizeram uma super estimação em relação ao mercado consumidor potencial, esses que eu conheço mais. Dos projetos que eu conheço da WWF também não foi diferente. Eu trabalhei num específico como consultor nas Pedras Negras de Curralhinhos (RO) e também, quer dizer, você tinha uma expectativa de mercado muito difícil de acontecer. .. então acho que tem essa falha nos projetos que eu conheço no Brasil, faltou essa leitura de mercado, os projetos são muito bonitos, mas eles não são financeiramente viáveis” (PRADO em entrevista à autora em

24/01/2008).

Como então impor essa racionalidade sabendo que ela pode ser uma das causas principais do fracasso das iniciativas de Turismo nas ONGs melhor estruturadas? Salvati (em entrevista à autora em 2008) destaca as dificuldades dos envolvidos na TS:

“Obviamente, as pessoas que trabalham com meio ambiente são pessoas que têm pouca noção, pouco conhecimento do funcionamento do mercado, têm pouca noção da elaboração e do funcionamento de um produto: é muito fácil de você pensar num produto ecologicamente correto, mas é muito difícil pensar como você coloca esse produto numa carteira de uma operadora. Como você convence um viajante comum a conhecer a região, então conseguir esse investimento inicial era fácil, no começo dos projetos de Ecoturismo da WWF, o dinheiro era imenso, tinha dinheiro, o financiamento vinha sem muito questionamento por parte dos financiadores” (SALVATI em entrevista à autora em

Essa dificuldade é muito maior para a comunidade, correndo-se o risco de interpretações preconceituosas por parte dos técnicos das ONGs ou realistas, dependendo do caso, como exemplificam os trechos abaixo:

“Então, uma avaliação que faço é de que é muito difícil a apropriação pelos parceiros nesse empreendedorismo com Turismo. Eles são caboclos, são caiçaras, outros são mineradores no caso da Chapada (dos Veadeiros), e eles têm uma dificuldade de ter uma visão empresarial, uma visão de empreendedor. O fato de não haver um controle de qualidade, de não haver um mecanismo efetivo de contato com o mercado, que é um mercado que é muito dinâmico e que precisa ser muito profissional, e isso começou a gerar problemas práticos, problemas de perda de cliente, problemas de estabilidade e até então perda de índices de ocupação” (...) “Porque Mamirauá deu certo? Porque você tem lá sete ou oito técnicos com grana do CNPq bancando, que tão lá respondendo e-mails, atendendo turistas, qualquer projeto que você tem técnicos 100% do tempo acompanhando dá certo! Isso é claro para mim: pessoas de fora, que resolvem problemas, que fecham negócios. Se o instituto sair de Mamirauá, ele não vai com as pernas sozinho, e aí fica aquela dúvida: é Turismo de base comunitária? Não sei... Turismo de Base Comunitária tem que ter controle por parte da comunidade, de boa parte do negócio... tudo bem, benefícios ficam lá bastante.. ficam, claro... mas ainda há uma tutela, sem dúvida. Silves está capengando porque eles estão sozinhos.. e eu me convenci que para mexer com Turismo tem que ter uma pessoa do Turismo, do mercado porque as comunidades demoram muito para entender como funciona o mercado” (SALVATI

em entrevista à autora em 13/10/2008).

Pode ocorrer que a tutela esteja vinculada a uma insegurança, com base real, concreta, ou preconceituosa, para além de simplesmente interesses das ONGs proponentes em continuar trabalhando e sobrevivendo, como demonstra depoimento de Meirelles Filho (dado à autora em 2008), revelador talvez, destas três questões conjuntamente:

“Nós não pretendemos entrar diretamente no negócio, então

operações, nas quais ou operadores de fora ou de Belém contrataram diretamente os grupos ainda informais. No caso de Curuçá, nós esperamos que eles formalizem, nós estamos trabalhando para isso, criando-se cooperativas, agências, ou empresas, ou outro formato jurídico... Pode ser que nós entremos como sócio deles... Em outros projetos entramos de sócio, como no mel... e aí acho que somos sócios, players importantes, pois sem nós, a cabeça do time, acho que não vai funcionar no mel... porque são comunidades muito dispersas, com recursos muito grandes, com capital extensivo... nós não podemos imaginar que uma comunidade vai trabalhar com isso... O Ecoturismo é diferente... então talvez nós sejamos donos de uma operadora para fazer o meio de campo aí... Mas isso não está claro. No caso do mel e outros produtos, como o reflorestamento, isso está claro. Em Monte Alegre, com certeza, nós vamos abrir uma empresa, para poder apoiar logisticamente lá. Em Curuçá é aqui, fácil, mas Monte Alegre é muito complicado a logística” (MEIRELLES FILHO em

entrevista à autora em 12/12/2008).

São muitas incoerências, pois, a insegurança e os preconceitos são incompatíveis com o discurso bem elaborado de emancipação comunitária feito para financiadores e comunidade na apresentação dos projetos.

“O mais importante é conectar as comunidades no mercado

mundial... Nós queremos que eles façam negócio com a ALCOA, direto, lá em Nova York, sem a nossa participação. Então esse é nosso objetivo... Porque essas comunidades, na globalização, elas estão isoladas do mercado. E a salvação é, sem filantropia, eles entrarem no mercado para negociar...” (MEIRELLES FILHO em entrevista à autora em

12/12/2008).

Ou simplesmente estão a cargo de aptidões pessoais no que diz respeito à gestão de negócios. Tudo isso pode conduzir à perda da dimensão socioambiental ou simplesmente ao fim dos projetos em andamento, sem levar em conta sua amplitude e as consequências mais brandas, menos perceptíveis ou, até uma compreensão limitada do potencial educacional e irradiador das iniciativas a despeito do seu custo imediato. Segundo depoimento de Alexandre Prado:

“Quando eu entrei para a CI, no começo de 2003, como eu

gosto um pouco mais dessa parte de gestão de negócios e tudo, a parte que eu sempre tenho essa tendência, então eu vim para dar essa visão nesses projetos de Ecoturismo em que a CI estava atuando e também dar uma olhada em projetos que poderiam acontecer em outros lugares. Então desses dois projetos que já estavam há mais tempo, que era a Rio Negro (RN) e o Una, então a minha leitura foi a seguinte: nós temos que parar de botar dinheiro nisso e foi o que a CI parou de fazer, tanto no Una como na RN, porque a RN agora está temporariamente fechada, porque que eu acho, que tem recurso, atualmente, para projetos de conservação, então o doador ele quer proteger uma espécie, ele quer trabalhar com mudança climática, ele quer proteger uma área. Eu não posso pegar (essa é minha leitura ética, óbvio que eu posso justificar tudo, a gente pode justificar tudo), eu não posso pegar um dinheiro de um cara lá nos Estados Unidos que doou para um projeto de conservação e fazer uma piscina na fazenda RN, que é umas das coisas que precisaria fazer para deixar aquilo mais interessante como negócio, só que da minha leitura como ONG não faz sentido. Esse cara deu dinheiro para eu proteger a ema, a arara azul. Então eu posso até pegar esse recurso e fazer a cerca da RN, isso eu faço, eu posso pegar esse dinheiro e comprar combustível pra fiscalização na RN, isso eu posso fazer, mas eu pegar esse recurso e fazer uma piscina, para um hotel, que atende um estrangeiro, que vem dos Estados Unidos ou da Europa, no meu entender não faz sentido.... isso pode ser que dê algum rendimento, pode ser mas, pode ser que também não dê, como não deu, então eu acho que é um risco muito grande” (PRADO em entrevista à autora em

24/01/2008).

Ainda prevalece nas ONGs uma visão muito limitada de TS. Obras mais convencionais que remetam ao Turismo de Massa, como por exemplo fazer piscinas ou outros equipamentos de lazer pode ser uma imposição de uma lógica de mercado a uma atividade que pode superá-la e ainda ser sustentável. Isso, claro, quando se aposta nas consequências de um fazer que rume a uma mudança de visão de mundo e atitudes que esta prática, realizada de forma original, sem abrir mão de seus princípios, pode propiciar.

para que isso não mascare, não encubra o medo de experimentar outras possibilidades de viver e de pensar. É preciso que o Ecoturismo deixe de “preparar” os locais para receber o visitante e passe a preparar o visitante para conhecer os locais. O ecoturista que for educado a compreender e conviver com a diferença saberá reconhecer a riqueza dessa experiência” (MENDONÇA; NEIMAN,

2002:170).

Essa visão estritamente comercial é a que pode culminar em uma postura idêntica à do mercado e que leva ao fracasso da atividade, e, como consequências traz uma marca de desilusão para com a área, desnecessária.

“Muitas vezes, um atendimento comumente considerado como “de qualidade” pode tornar a experiência do visitante totalmente previsível. Uma pousada com televisão e frigobar no quarto, um guia muito bem treinado, bem vestido e bem equipado, constituem serviços de qualidade como se espera que sejam, em qualquer lugar. Mas, se o visitante não sabe o que significa entrar em contato com a alma do lugar fica sem poder desejar essa experiência” (MENDONÇA; NEIMAN,

2002:170).

Esta opção não foi bem sucedida nos projetos apresentados o que demonstra que a aposta no TS tem que ser mais arrojada e fiel aos seus preceitos, sob pena de ser identificada com as contradições e problemas enfrentados pelo mercado, como demonstra o trecho do depoimento abaixo:

“Nós temos custos... e nossos concorrentes não tem!”

(PRADO em entrevista à autora em 24/01/2008).73

A face mercadológica aparece como uma incoerência, ou, evidencia o fato de que a conservação é a prioridade, e, a aposta no Turismo, feita tão somente em função dela, por ONGs estritamente conservacionistas, está condenada ao fracasso, ou, que algumas conquistas importantes no que tange ao Turismo e Educação Ambiental, podem ser desconsideradas ou bem menos prioritárias.

“Bem ou mal você vem como uma estratégia de conservação

como referência. No caso do Pantanal poderia ter ido muito mais longe... como as outras pousadas. Não foi, porque estava muito focado na gestão do negócio, porque tinha prejuízo, então não dá, ou você faz uma coisa ou você faz outra. Acho que foi um dos motivos de nós termos parado de botar dinheiro. No meu ponto de vista como ONG tem que pensar na gestão do bioma, na conservação do bioma, não faz sentido gastar tempo desgraçado na gestão de um negócio, que não vai dar certo” (PRADO em entrevista à

autora em 24/01/2008).

Além da concorrência com o mercado, a disputa entre as ONGs gera uma série de novos problemas. No caso do PETAR houve clara competição, ou, no mínimo falta de diálogo entre as ONGs (Physis, Ing Ong, Sociedade Brasileira de Espeleologia, Reserva da Biosfera da Mata Atlântica entre outras) que, em entre 1997 e 1998, ofereceram cursos de capacitação para a formação de monitores ambientais locais com conteúdos similares, nos mesmos dias, competiram pelos alunos oferecendo vantagens e, assim, formaram muito mais monitores do que a demanda local à época, criando enorme frustração dos formados que continuaram desempregados apesar do esforço.

As ONGs nem sempre consideram o momento, o ritmo e os aspectos culturais das comunidades em sua busca por autonomia, liberdade, participação e uso dos recursos. Seus projetos, questionados em sua legitimidade, podem acirrar disputas pré-existentes.

As comunidades também têm dificuldades em compreender o tempo dos projetos, e, como muitos demoram em ser implementados, ou até para serem negociados junto às comunidades, de forma realmente participativa, as mesmas tendem a se desiludir e desacreditar do Projeto e da ONG. Este aspecto, no caso de pequenas ONGs pode ser fator crucial para a sobrevivência da parceria. O Instituto Physis não conseguiu, até o momento desta tese, realizar um projeto, chamado de Uniparque, principalmente por conta do tempo demandado para construir um processo participativo na fase de planejamento. Assim, foram imensas as dificuldades para se trabalhar sem financiamentos uma etapa

fundamental, e, chegada a hora de captá-los, ONG e comunidades inexperientes para isso, não puderam esperar e toda a mobilização foi sendo desfeita aos poucos até o abandono temporário do Projeto.

Outro fator crucial para acirramento dos conflitos é o desconhecimento de como superar as barreiras culturais para que ocorra diálogo produtivo para todos. Os entrevistados de Silves, WWF e Terramar são unânimes em citar os limites e as diferenças dos atores locais em trabalhar questões técnicas e mercadológicas do Turismo.

“Você não encontrava uma pessoa que tivesse esse perfil dentro da comunidade e, para o Turismo dar certo você, precisa ter esse perfil, uma pessoa que gerencie a qualidade do produto, de forma rígida. Dois dias antes de o turista chegar, você tem que abrir o quarto, arejar, tirar o sapo, os besouros, porque o turista chega lá e encontra o sapo no banheiro, encontra um besouro andando na cama... Eles não tinham essa visão de que o turista vem do meio urbano e eles estavam no meio rural” (SALVATI em entrevista à autora

em 13/10/2008).

Mas, por mais que sejam ensinadas, não se espera que absorvam tudo, se equivalham aos mestres - seria uma surpresa se estas comunidades superem os seus professores. Há um limite que pode ser real em alguns casos, ou fruto de preconceitos ou até constatação de diferenças aceitáveis e respeitadas, no mínimo deve demorar...

“Mas nós esperamos que este grupo receba... aumente o

seu quadro, no caso de Curuçá... E até se divida, se multiplique, e crie lá uma empresinha de bicicleta, ou é um outro que as vezes tem um passeiozinho, as vezes é uma família... Nós não temos a exigência de que eles reproduzam nosso modelo de ONG... nós esperamos até pelo contrário: que eles criem pequenos negócios. Então, ensinar empreendedorismo, a parte de gestão, a parte comercial, é mais importante do que ensinar as técnicas de Ecoturismo. Como é mais importante do que ensinar as técnicas de meliponicultura, que é mexer com abelhas sem ferrão. Essa é a parte fácil! Ensinar viagem é fácil, eles aprendem rápido... agora ensinar como montar uma empresa, como

atender um cliente, como ser pró-ativo, demora...”

(MEIRELLES FILHO em entrevista à autora em 12/12/2008). Mais motivos para o acirramento de disputas e conflitos são a questão financeira e de poder (inter-relacionadas) resultante da proximidade de membros da comunidade com as ONGs, especialmente os comunitários que participam mais ativamente nas ONGs. Outro ponto de tensão são as diferenças de visões e técnicas provenientes da interação entre ONGs, comunidade e turistas e comunidade, especialmente diante da fragilidade comunitária e da imposição de novos pontos de vista e estilos e modos de vida distintos.

O incremento na renda de alguns em detrimento de outros não aptos e não interessados no Turismo também pode resultar em grave problema, especialmente quando oferece condições desiguais de emprego e renda, criando