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Professora 3: A gente tem a impressão de que está na via errada Cara,

6.4 AS POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO NOS ESPAÇOS EDUCATIVOS

Ao elaborarmos a proposta de formação, para além dos encontros presenciais, reservamos um espaço para que os professores participantes pudessem, com base nas discussões realizadas ao longo do processo formativo, se colocar a pensar o seu próprio trabalho, valendo-se do seu espaço de ensino, para, assim, realizar propostas de intervenção na realidade vivenciada e, deste modo, contribuir com o coletivo da escola.

Posteriormente, os professores participantes da formação puderam compartilhar, com os demais professores do curso, as experiências resultantes das suas propostas de intervenção nas unidades de ensino onde atuavam, na ocasião em que participaram da formação. Um exemplo desse compartilhamento pode ser expresso na Figura 13, mostrada logo abaixo:

Figura 13: Compartilhamento de experimentações realizadas nas escolas

Fonte: Arquivo de imagens da pesquisadora (2019).

Em virtude de o curso consistir em um espaço de discussão, de trocas de experiências, de pensar táticas, tanto para produção de saúde no ambiente de trabalho, quanto para realização de intervenções, foi essa a oportunidade de, em

consonância com Rolnik (2018), “polinizar”56 - termo com que de imediato fazemos relação com o trabalho desempenhado pelas abelhas, as quais realizam seu dispendioso ofício, passando despercebidas, mas assumindo uma função coletiva essencial de espalhar o pólen das plantas, ajudando-as a expandir-se e a florescer em diferentes horizontes.

Talvez seja esse o sentido de agir em miudeza, mas polinizando o espaço escolar, num microvoo, em busca da reapropriação da força coletiva de criação e cooperação. Mesmo quando Rolnik (2018) sinaliza que essa reapropriação não se dará por decreto de vontade, tão pouco somente por boa intenção. Contudo, consideramos esse um movimento de implicação importante para disparar discussões acerca do que a autora nos sugere ser esse “um trabalho que deve ser feito por cada um, em sua própria subjetividade e na trama relacional da qual ela é indissociável, de modo a deslocar-se da submissão do poder do inconsciente colonial-capitalístico” (ROLNIK, 2017, p. 90).

Assim, ao desenvolverem os projetos em suas unidades de ensino, os participantes da pesquisa tiveram a oportunidade de olhar mais atentamente para seu cotidiano e envolver alguns de seus colegas de trabalho para, coletivamente, pensarem acerca das potencialidades e desafios vivenciados.

De modo geral, percebemos que as propostas de intervenção enfocaram os processos relacionais, seja a relação entre professor e aluno, seja a relação entre o professor e seus pares, ou, ainda, a relação entre professor e equipe de gestão da escola. Algumas propostas foram bem acolhidas, outras, nem tanto, mas, de algum modo, fizeram ressoar as discussões acerca da relação ambiente-saúde- trabalho realizadas na formação. Trouxemos abaixo exemplos de alguns projetos realizados nas escolas e seus respectivos registros fotográficos57:

56 Rolnik (2018), utiliza este termo em substituição ao termo “contágio”, devido a este estar

relacionado ao sentido de “contaminação” e doença, termos que a autora usa para qualificar as políticas de desejo reativas, enquanto que “polinização” usa para se referir à proliferação das políticas de desejo ativas.

57 Como as imagens mostram experimentações realizadas nas unidades de ensino e que

envolveram outros profissionais para além dos participantes da pesquisa, optamos por resguardar suas identidades e submeter as imagens a um efeito visual distorcido.

Projeto A: Teve como objetivo promover um espaço de diálogo acerca das

temáticas: saúde dos profissionais da educação, ambientes colaborativos de trabalho e cuidado de si como prática de liberdade, para tanto realizou roda de conversa e oficina para incentivar o autocuidado dos profissionais que vivem a rotina escolar que é por vezes cercada de desafios e pressões que podem levar o profissional à exaustão física e mental.

Figura 14: Registro da experimentação do Projeto A

Fonte: Imagem cedida por participante da pesquisa para arquivo da pesquisadora (2019).

Projeto B: a proposta consiste em buscar o fortalecendo do vínculo de

amizade e compartilhamento das emoções vividas no dia-dia e proporcionar acolhida e bem-estar para a equipe docente, através de encontro na sala de arte, espaço já frequentado pelas professoras diariamente após rotinas para aguardo da saída do trabalho. Foi oferecido chá de produtos naturais, saboreados ao som de uma música de dança circular, e logo após realizada roda de conversa. Os chás foram servidos em saquinhos de tecidos conhecidos artesanalmente como “fuxicos” (posteriormente colocados para secar, para compor uma colcha para ornamentar o CMEI).

Figura 15: Registro da experimentação do Projeto B

Projeto C: O objetivo foi a tornar o ambiente de trabalho do CMEI mais

agradável, melhorar o diálogo entre os profissionais e ampliar os momentos coletivos (planejamentos, eventos), por meio de lanches coletivos quinzenais; homenagem aos aniversariantes (abraço, cantar com as crianças, cartão, comemorar com lanche partilhado, etc.); realização de vivências/brincadeiras de grupo nas AEC; musicalizar os ambientes do CMEI (refeitório, pátio).

Figura 16: Registro da experimentação do Projeto C

Fonte: Imagem cedida por participante da pesquisa para arquivo da pesquisadora (2019).

Após apresentarmos algumas experimentações realizadas pelos participantes da pesquisa em suas unidades de ensino, que a nosso ver se trata de um movimento que contribui para a potência do agir coletivo e se constitui uma possibilidade de aumentar a potência de vida no espaço educativo. A seguir apresentaremos o material textual produzido a partir das discussões tecidas ao longo da pesquisa.

6.5 O PRODUTO EDUCATIVO COMO POSSIBILIDADE DE OUTRAS TRAMAS