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TECENDO ALGUNS POSSÍVEIS PELAS LINHAS DA COLETIVIDADE, POÉTICA E EXPERIMENTAÇÃO

Professora 17: [ ] dada a nossa capacidade de transformar, aprendemos

6 TECENDO ALGUNS POSSÍVEIS PELAS LINHAS DA COLETIVIDADE, POÉTICA E EXPERIMENTAÇÃO

Um pouco de possível, senão eu sufoco... Deleuze (2013, p. 135). Ao apostarmos na formação de professores, a pretensão era que se constituísse um espaçotempo de diálogo acerca da relação trabalho-saúde-ambiente. Deste modo, o processo de urdimento da trama formativa se constituiu uma oportunidade para os profissionais da educação compartilharem suas experiências e saberes, como também para interagirem com linguagens artísticas, pensarem sobre seus processos de trabalho e comporem movimentos inventivos para a produção de saúde nos espaços educativos.

Assim, os professores ocuparam seu lugar de autoria na pesquisa, que nesta escrita se evidencia por meio de suas narrativas, insurgidas pelas Redes de Conversações, de modo que foi possível

[...] colocar em comum o que pensamos ou que nos faz pensar, elaborar com outros o sentido ou a ausência de sentido do que nos acontece, de tratar de dizer o que ainda não sabemos dizer e de tratar de escutar o que ainda não compreendemos. [...] Necessitamos de uma língua para a conversação porque só tem sentido falar e escutar, ler e escrever, em uma língua que possamos chamar de nossa, ou seja, em uma língua que não seja independente de quem a diga, que diga algo a você e a mim, que esteja entre nós (LARROSA, 2017, p. 71).

As narrativas, emergidas pelas/nas/das Redes de Conversações, ganham papel fundamental para o mapeamento do processo formativo, evidenciando as experiências, controvérsias, tensões, concordâncias, discordâncias. Portanto, a importância de reafirmarmos o espaçotempo de formação como um dispositivo propício para, juntos, tecermos conversações e discussões que tenham como foco a relação trabalho-saúde-ambiente.

Formador 12 - É muito importante estar aqui numa formação como esta,

principalmente no momento atual, em que nossa categoria tem sido alvo de diversas forças neoconservadoras que estão desqualificando o trabalho dos professores, desqualificando a escola pública e as universidades públicas. Então nesses espaços é um momento de estarmos juntos, de nos unirmos e conhecermos as nossas realidades. Nós conhecemos os problemas da escola pública, são problemas históricos, mas também temos muito boas experiências, muitas possibilidades de projetos e atividades que podem ser realizadas. Às vezes a gente não consegue ver ou a gente vê e não consegue realizar. Então, eu entendo um momento de

formação, e queria fazer esse convite a vocês, como um momento muito mais para compartilharmos essas boas experiências, esses desafios e essas possiblidades que existem nessas escolas que nós atuamos. Do que meramente ser um espaço para a pessoa, como no meu caso, falar para vocês o que eu penso [...] nós podemos fazer o movimento para ouvir o que cada um de vocês já sabe.

(narrativa do terceiro encontro)

Essa narrativa mostra a importância da formação como espaço de resistência diante da realidade que temos vivenciado, de desvalorização do magistério e desmontes em vários âmbitos sociais (educação, saúde, meio ambiente, entre outros), e também a evidencia como espaçotempo essencial para produção de conhecimento, compartilhamento de experiências e saberes, em que não cabe o saber hierarquizado, que se presuma superior ao outro. Deste modo, concordamos que “há possibilidades formativas em todas as experiências que partilhamos [...] essas experiências contribuem de alguma maneira para produzir uma nova realidade, uma modificação em nós e no mundo” (DEBENETTI; FONSECA; GOTARDO, 2018, p. 72).

Assim, numa análise da processualidade e registro de alguns dos caminhos percorridos, não buscamos produzir receitas ou apontar causas, mas enfatizar a formação de professores como potente mecanismo que nos permite problematizar os modos de vida que vivenciamos (principalmente acerca da produção de saúde nos espaços de trabalho em educação), bem como criar táticas que potencializem nosso poder de agir, para que, assim, impeçam-nos de sufocar, padecer e assujeitar.

Ao longo do processo formativo, evidenciamos: a aposta na potência do coletivo, para produção de saúde no trabalho em educação; o poder de agir frente à patologização do sofrimento e a medicalização da vida; as experimentações vivenciadas por meio de linguagens poéticas; as propostas de intervenção nos espaços educativos e as possibilidades de outras tramas formativas que propomos reuni-las no e-book, produto educativo resultante do processo de pesquisa.

Nesse imbricamento entre problematização e criação de táticas, percorremos o caminho da criação de “possíveis” pelas linhas da coletividade, da poética e da experimentação e é acerca de cada uma delas que iremos dialogar a seguir. Vale

aqui lembrar, conforme referido anteriormente49, que não seguiremos uma direção linear com base na ordem em que se deram os encontros de formação, mas, numa tentativa de escrita rizomática, buscamos evidenciar as narrativas dos participantes50, assim como as conexões entre os fios e suas ramificações capturadas nas redes de conversações tecidas, trazendo as questões que, na nossa percepção, mais se aproximaram do objeto investigado.

6.1 PELAS VIAS DA POTÊNCIA DO COLETIVO

O que te fortalece e o que enfraquece a sua saúde? Com esse questionamento feito pelo formador, demos início ao nosso quinto encontro. Logo em seguida, ele afirma: “na minha modesta opinião a humanidade faliu” e fala da sua descrença em saídas coletivas para a humanidade. Um silêncio intenso invade a sala, acompanhado por um clima de surpresa: “Como assim não acredita na coletividade?”. Buscando entender sua lógica de pensamento, o grupo parece deixar essa questão em stand by, aguardando suas argumentações a respeito dessa questão.

Figura 4 – Conversações do 5º Encontro

Fonte: Arquivo de imagens da pesquisadora (2019).

49 No capítulo 3 intitulado “Linhas Rizomáticas de experimentação e acompanhamento de

processos”, apresentamos a Cartografia que nos permitiu acompanhar o desenvolvimentos do

processo formativo. Desse modo, não caberia aqui descrever os encontros de formação e indicar a linearidade dos acontecimentos. Assim, procuramos enfatizar as discussões oriundas das conexões de redes ou rizomas estabelecidas ao longo da formação, embora trazendo elementos para contextualizá-las.

50 Ao apresentar as conversações, optamos por caracterizar a narrativas dos participantes por

números. Assim, quando ocorre a repetição do número, significa que esse se refere ao(a) mesmo(a) narrador(a). Procedemos dessa maneira devido à necessidade de resguardar suas identidades e por entendemos não causa prejuízo à compreensão do sentido das conversações apresentadas.

A conversação continua e ganha outros caminhos quando o formador afirma que, de modo geral, a maior parte das licenças51 dos profissionais da educação, especialmente professores, tem a ver com saúde mental ou com transtornos mentais. As conversações vão sendo tecidas, até que a questão relacionada à crença no coletivo volta à cena:

Professora 3: Eu acredito no coletivo, mas não no coletivo único;