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CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3. As práticas e as perceções dos professores

A educação de C/J com MD implica a participação em atividades realizadas em diversos contextos, no sentido de lhes possibilitar um alargamento de oportunidades de aprendizagem (cf. Nunes & Amaral, 2008; Nunes, 2005a). Os professores da UAM, na construção do programa a trabalhar com os alunos, parecem ter em atenção este aspeto. Os professores procuram que os alunos participem em vários contextos dentro e fora da escola, maioritariamente dentro da escola, e procuram variar as abordagens e os materiais, especialmente no que se refere às atividades de expressão plástica. Pretendem ainda dar sentido aos conteúdos programáticos, orientando-os por temas e subtemas, tendo sempre um fio condutor que os ligue. Essa preocupação estende-se

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também à forma como são trabalhados esses temas e subtemas. Os professores procuram demarcar bem o início do tema ou subtema com uma atividade mais lúdica, para que os alunos percebam de onde surgiu.

O uso de TA é integrado nestas práticas. Verificámos que durante o desenvolvimento das atividades os professores recorrem a estratégias diferentes. O início da atividade parece ser assinalado por estratégias específicas, como seja dar indicações verbais e distribuir os materiais. Os professores parecem ter alguma preocupação em preparar os recursos a utilizar. No desenvolvimento da atividade as estratégias centram-se mais no aluno, nomeadamente em ajudá-lo na realização da atividade. O final da atividade não sempre é claro, na maioria das vezes a estratégia passa por arrumar os materiais da atividade e começar outra, sem ser dada muita informação aos alunos.

Relativamente às estratégias que os professores usam ao nível das TA, percebemos, através dos dados retirados das entrevistas, que não existe consistência entre os docentes. Os dados de observação corroboram esta informação e que nem sempre o uso da TA na sala de aula é programado previamente (exemplo da atividade de visualização de vídeos no Youtube). A prática mais consistente corresponde ao uso da régua de comunicação e do SPC na ida ao bar durante o lanche da manhã. Mas, por vezes, o uso de TA fica por aí. Ou seja, os alunos são envolvidos em inúmeras atividades na UAM em que não são utilizadas quaisquer TA, nem mesmo para interagir com os alunos. Inferimos, que esta situação resulta, em parte, das capacidades comunicativas apresentadas pelos alunos que frequentam a UAM.

A análise das estratégias utilizadas pelos professores quando desenvolvem atividades que envolvem TA indica-nos que estas são utilizadas principalmente para promover oportunidades de aprendizagem. Mesmo quando utilizam TA no processo comunicativo, o objetivo da sua utilização relaciona-se mais com a receção de informação por parte do aluno, para que este possa compreender o que o rodeia, e não tanto a possibilidade de este se exprimir de forma mais eficaz. Ou seja, nas suas práticas os professores estão mais centrados em dar informação ao aluno e não em promover a sua capacidade de expressão e de interação.

Segundo os professores as TA são utilizadas tendo em vista proporcionar oportunidades de os alunos realizarem recados ou pedidos, comunicar com outros ou para consolidar aprendizagens. As estratégias usadas pelos professores para promover o uso de TAC centram-se na área da literacia, nomeadamente a construção

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de frases com SPC. Por esse motivo, na UAM os alunos encontram pistas visuais sendo um desses exemplos o quadro/dispositivo de comunicação contendo SPC.

Com o objetivo de rentabilizar o trabalho desenvolvido na UAM, os professores procuram envolver a família no processo de ensino e aprendizagem, no entanto tem- se verificado um fraco envolvimento por parte destes, muito embora a procura do envolvimento dos EE pareça ocorrer apenas no processo de implementação da TA. Inferimos que esta circunstância poderá justificar a fraca adesão, uma vez que os EE não fizeram parte do processo desde o início e por isso não devem conhecer o porquê e o para quê da utilização das TA. Parece-nos que a tentativa de envolver os EE na utilização das TA é uma estratégia importante, contudo estes devem ser envolvidos em todo o processo relacionado com as TA (avaliação, tomada de decisão, implementação) e não nos cingirmos apenas à utilização final (cf. Mavrou, 2011). Logo, a família, tal como os professores, pode influenciar ou impedir o desenvolvimento das C/J que utilizam as TA (Faria, 2010; Lindstrand, 2002).

Quanto às estratégias relacionadas com o uso do tablet, realçamos que a sua utilização em associação com o programa Vox4all, requer uma estratégia diferente das demais tecnologias utilizadas na UAM. Esta tecnologia exige uma preparação prévia para que possa ser utilizada com e pelos alunos, uma vez que é necessário da parte do professor a construção de diversas grelhas que permitam aos alunos realizar atividades de aprendizagem ou de comunicação. A utilização destas grelhas parece apresentar potencialidades para se constituir uma TA útil ao desenvolvimento da comunicação, o que vai ao encontro dos resultados do estudo de Feijão (2013), o qual assinala que na opinião de 85,1% dos inquiridos o tablet é uma ferramenta útil. Os professores que participaram no nosso estudo consideram ainda que esta tecnologia é uma mais-valia, principalmente para alunos que têm capacidades para usufruir das suas potencialidades, enquanto instrumento de comunicação, de interação, de acesso à informação e de estimulação, o que vai ao encontro dos resultados de outros estudos que envolvem o uso de tablet (cf. Alves, 2013; Helps & Herzberg, 2013).

Na entrevista o P1 afirmou que a utilização do tablet está dependente da capacidade dos alunos para usarem tanto o hardware como o software. No entanto, as especificidades do equipamento permitem customizar a sua utilização e assim ajudar a ultrapassar algumas limitações dos alunos e ir ao encontro das suas necessidades individuais. Desta forma as TIC em geral, e o tablet em particular, parecem ser tecnologias versáteis, permitindo encontrar respostas e perspetivas diferentes para a

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mesma informação, contribuindo para a diferenciação e individualização educativas necessárias a C/J com NEE (cf. Ribeiro & Fuentes, 2013). Logo, inferimos que estas tecnologias podem ser ferramentas úteis ao processo de ensino e de aprendizagem (O’Malley, Lewis & Donehower, 2013).

Os tablets apresentam ainda algumas vantagens face a outros recursos tecnológicos: o facto de serem móveis permite estar acessível em qualquer contexto (cf. Junior, 2012; O’Malley, et al., 2013), e o facto de funcionar através do toque torna mais fácil a sua operacionalização (cf. Saylor & Rodriguez-Gil, 2012). Este equipamento permite ainda aumentar a independência do seu utilizador, uma vez que este o pode transportar para diferentes contextos que possa frequentar (cf. O’Malley, et al., 2013). A sua capacidade de armazenamento (O’Malley, Lewis & Donehower, 2013) também constitui uma vantagem neste equipamento permitindo instalar vários software necessários ao seu utilizador ou armazenar um grande número de símbolos que a C/J poderá utilizar para comunicar, ou em seu lugar imagens ou fotografias que sejam mais significativas para a própria.

Os dados resultantes das entrevistas realizadas evidenciam ainda que o tablet é uma TA que permite desenvolver a capacidade de atenção e concentração dos alunos que a utilizam, o que por sua vez contribui para promover o seu desenvolvimento cognitivo e facilitar a aprendizagem. Estes resultados vão ao encontro do que é reportado no estudo realizado por Alves (2013), apesar de a idade dos alunos envolvidos no nosso estudo ser superior.

Para os professores da UAM o tablet apresenta uma desvantagem: a sua fragilidade física, que condiciona a autonomia dos alunos com MD no seu uso. Esta opinião também é partilhada pelos professores inquiridos no estudo realizado por Feijão (2013), bem como o facto de requerer alguma capacidade de compreensão dos alunos. Porém, no estudo levado a cabo por Alves (2013), 69% das crianças conseguiu utilizar o iPad® de modo relativamente autónomo, o que significa que a maioria das crianças conseguiu utilizar o tablet com alguma autonomia, apesar das suas dificuldades. Também no estudo de Helps & Herzberg (2013) a jovem conseguiu realizar algumas atividades no iPad2® autonomamente. Face a estes resultados consideramos que, apesar das dificuldades e limitações evidenciadas pelas C/J com NEE, nomeadamente as que apresentam MD, a utilização do tablet parece trazer algumas vantagens para alguns alunos.

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Face ao exposto concluímos que os professores da UAM têm algumas reservas em relação à utilização do tablet e às suas potencialidades, provavelmente por ser uma tecnologia nova e ainda não se sentirem totalmente confortáveis com a sua utilização, ou por não terem informações suficientes sobre as possíveis atividades que podem desenvolver através deste com os seus alunos.

4. Papel das TA enquanto recursos mediadores da inclusão e