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Papel das TA enquanto recursos mediadores da inclusão e aprendizagem e os objetivos de utilização

CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4. Papel das TA enquanto recursos mediadores da inclusão e aprendizagem e os objetivos de utilização

Os professores da UAM consideram que as TA, incluindo o tablet, contribuem para a inclusão, uma vez que permitem aos alunos deslocarem, por exemplo no recinto escolar, e comunicar com outros. É exemplo disso a utilização do SPC e a régua de comunicação, TA consideradas de baixa tecnologia, para a realização de recados. Parece haver a intenção de substituir a utilização destas TA pelo tablet, por parte de um dos docentes, por considerar que permitirá uma maior interação dos alunos.

Mas nem todos os profissionais concordam com as potencialidades das TA para a inclusão e aprendizagem. Por exemplo, no entender da P3 as TA contribuem pouco, como nos diz a “inclusão implica muito mais respostas e muito mais interações do que só o uso das tecnologias”. Esta opinião vai ao encontro da ideia partilhada por Capitão e Almeida (2011). Todavia, outros autores (cf. Judge, Floyd & Jeffs, no prelo; Ribeiro & Fuentes, 2013, referenciando Sánchez, 2002) reconhecem que as TIC e a internet têm potencial para promover a inclusão social e educativa, devido às novas formas de comunicação que proporcionam. O estudo realizado por Feijão (2013) também assinala que as novas tecnologias em geral e as tecnologias móveis em particular apresentam este tipo de potencialidades. Na opinião desta autora, o facto de as tecnologias móveis não terem conotação ligada à deficiência e de estarem amplamente difundidas é possível vê-las a serem utilizadas em vários contextos, o que pensamos poder ser facilitador do processo de inclusão. De facto, vários autores (cf. Copley & Ziviani, 2004; Mavrou, 2011) mencionam que as pessoas que utilizam TA realizam aprendizagens e adquirem competências na área da comunicação, assim como podem adquirir uma maior autonomia (Andrich, 1999) possibilitando-lhes a realização de atividades, como a ida de forma autónoma à reprografia, e envolvendo- os mais na comunidade escolar. Inferimos assim que as TAC apresentam potencial para promover uma maior inclusão e uma maior qualidade de vida ao seu utilizador.

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Contudo, para que tal aconteça precisam de ser usadas de forma consistente e intencional, o que não se verificou no nosso estudo.

Observando o potencial de utilização das TA na promoção da aprendizagem um dos docentes (a professora P3) afirma que “Uma coisa não está implícita com a outra”. Ou seja, o uso de TA não implica automaticamente que os alunos estejam a aprender. Para que tal aconteça é importante que a tecnologia seja a adequada ao aluno e que os profissionais tenham formação e experiência que lhes permita usarem as TA com intencionalidade educativa. Dessa forma podem potenciar o seu uso em contextos educativos e promover oportunidades de aprendizagem aos seus alunos (cf. Correia, Cabral & Martins,1999; Feijão, 2013; Pinheiro & Gomes, 2013; Ribeiro & Fuentes, 2013).

Assim, a necessidade de os docentes terem formação ou conhecimentos é muito importante uma vez que, estes são centrais na implementação do uso de TA, podendo levar os alunos a usufruir das suas potencialidades, ou a não as utilizarem (cf. Copley & Ziviani, 2004; Koski, Martikainen, Burakoff & Launonen, 2010; Ribeiro, Almeida & Moreira, 2010). Logo, a formação é importante para que exista da parte do professor intencionalidade educativa na utilização da TA, ou seja, um plano que cumpra determinados objetivos tendo por base as necessidades dos alunos. Como frisou a P3 é necessário o professor elaborar um plano de intervenção que contenha os objetivos, o procedimento e a atuação e que posteriormente realize a avaliação de todo o processo e das aprendizagens ocorridas. Ou seja, o professor tem que elaborar um plano que tenha em conta as características inerentes à educação: intencionalidade, previsibilidade, controlo e eficácia (Correia, Cabral & Martins, 1999). Face ao exposto parece-nos que os docentes participantes no estudo têm consciência da necessidade de utilizarem as TA com intencionalidade educativa.

Particularizando, relativamente ao tablet e ao seu papel mediador na aprendizagem e inclusão no contexto estudado, é de referir que a sua utilização só recentemente se tornou frequente, por esse motivo, e dado que a aplicação Vox4all ainda se encontra em reestruturação, não nos é possível perceber com exatidão as vantagens associadas à sua utilização. No entanto, é possível descrever as potencialidades do equipamento utilizado conjuntamente com a aplicação referida. Através do Vox4all o docente pode criar grelhas que permitem desenvolver competências comunicativas no aluno, ou programar atividades de aprendizagem e ao mesmo tempo adaptá-las às necessidades de cada aluno. Desta forma este software

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cumpre com duas necessidades inerentes à educação de alunos com MD: i) permite adaptar as atividades às capacidades e necessidades dos alunos, o que constitui uma das características essenciais que devem compor as respostas dadas pela escola (cf. Nunes, 2005a) e ii) contribui para o desenvolvimento da comunicação, aspeto importante no desenvolvimento de qualquer C/J, nomeadamente a que tem MD (cf. Orelove & Sobsey, 1991).

Desta forma se entende que a programação de atividades vai muito para além da seleção de uma ou outra TA para o aluno utilizar. É necessário existir um conjunto de diretrizes bem estudadas e planeadas para que a atividade possa cumprir o seu propósito. Ou seja, como se frisou anteriormente não é útil usar a tecnologia só pela tecnologia. Embora as TA possam ter potencialidade para abrir o mundo às C/J com NEE (cf. Capitão & Almeida, 2011), essas potencialidades só estão disponíveis se esses recursos forem adequados e utilizados através de uma intervenção planeada e que tenha em conta as necessidades e características do utilizador.

Como tal, no contexto em estudo, segundo os professores, as TA são utilizadas com os alunos essencialmente para promover a comunicação, o seu desenvolvimento e a aprendizagem, sobretudo em duas áreas: a da língua portuguesa e da matemática. Mas, o principal objetivo de utilização das TA parece estar relacionado com o desenvolvimento de competências comunicativas, o que nos surge como um dado relevante, dado que a maioria dos alunos com MD apresenta dificuldades comunicativas e de interação com o meio (cf. Nunes, 2012; Nunes, 2008; Amaral, 2011).

Também no estudo de Berimbau (2011) o objetivo mais frisado para a utilização das TA foi o desenvolvimento da capacidade de comunicação e de interação, seguindo-se depois a capacidade de autonomia no uso da TA, aumentar a motivação para a aprendizagem e desenvolver as capacidades de leitura e escrita. Constatamos que os objetivos referenciados pelos professores no estudo de Berimbau e no nosso são similares, todavia é dado uma maior evidência, no estudo de Berimbau, à utilização autónoma da TA.

Os professores parecem preocupados em usar as TA para aumentar a capacidade de comunicação dos alunos. Para tal promovem situações comunicativas, como as deslocações no recinto escolar para a realização de recados. Todavia, analisando os dados recolhidos nas entrevistas e nas observações percebemos que na utilização das TA é dado um maior enfase à aprendizagem académica e menos à

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inclusão. Observámos também que as TAC são utilizadas mais frequentemente em atividades destinadas a promover aprendizagem e não tanto à promoção de interações comunicativas. Inferimos, assim que no contexto estudado é dada menos atenção à inclusão social do que à aprendizagem, quando os professores recorrem ao uso de TA, o que vai, de certo modo ao encontro do estudo de Berimbau (2011).

5. As reações dos alunos ao uso de TA

Consideramos que a reação dos alunos da UAM às TA é, no geral, positiva, em especial no que ao computador diz respeito. Esta reação favorável relaciona-se com a questão motivacional, parece que o recurso a TA motiva os alunos a participar nas atividades. Este resultado vai ao encontro de outros estudos que analisam o impacto das TIC na educação como o estudo de 2007 levado a cabo pela IICD (cf. Ribeiro, Almeida, & Moreira, 2010), onde 80% dos inquiridos disseram que o contacto com as TIC os tornou mais habilitados e 60% afirmou que o processo de ensino e aprendizagem melhorou devido à utilização das TIC. No entanto, no nosso estudo verificámos que nem todos os alunos têm o mesmo tipo de entusiamo relativamente à utilização de TA. Observámos que alguns alunos apresentam atitudes passivas, não demonstram iniciativa em usar as TA, ficando à espera que os adultos lhes digam o que devem fazer e outros apresentam alguma volatilidade na realização das atividades, o que acaba por condicionar o seu envolvimento com estes recursos. Assim conjeturamos que os alunos que apresentam atitudes mais passivas são alunos que apresentam mais dificuldades em interagir com o outro. Consequentemente, infere-se que as características dos alunos condicionam o modo como estes reagem a TA. Conjeturamos que os alunos que reagem mais positivamente às TA, têm mais possibilidades de aquisição de um conjunto de competências académicas e desenvolvimentais, que em última instância permitem a melhoria da qualidade de vida do seu utilizador (cf. Alves, 2013; Andrich, 1999; Capitão & Almeida, 2011; Copley & Ziviani, 2004; Pinheiro & Gomes, 2013; Ribeiro, Almeida & Moreira, 2010). Consideramos que ao captar a atenção dos alunos para as temáticas abordadas, aumenta-se a probabilidade de ocorrer efetiva aprendizagem.

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