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A EDUCAÇÃO? 228 5.3 A MÍDIA-EDUCAÇÃO, A LEITURA E A ARTE LITERÁRIA

2. O ENSINO DE LITERATURA VIA COMPUTADOR COMO OBJETO DE PESQUISA

2.1 O DESENHO DA PESQUISA

2.2.5 As sessões de leitura

Na primeira sessão de leitura, realizamos um encontro com as multimídias, com o objetivo de apresentar às crianças as formas de uso das multimídias a serem exploradas. Dessa forma, elas puderam vivenciar, previamente, a leitura em literatura eletrônica, a leitura em flipbook e a leitura em livro impresso, bem como puderam reconhecer as multimídias a serem utilizadas na pesquisa. A referida aula incluiu três momentos de leitura, com textos e recursos diferentes e contou com a mediação da pesquisadora, devido ao seu conhecimento sobre as multimídias e à possibilidade de oferecer parâmetros para a professora titular, na mediação das próximas aulas. Entendemos, assim, que essa aula teve um caráter formativo para as crianças e para a professora.

Nessa oportunidade, visitamos alguns blogs na internet e partimos para a construção coletiva do blog da turma a fim de registrar as experiências leitoras decorrentes da participação na pesquisa, intitulado pesquisando e ensinando literatura. O blog que foi atualizado pelos alunos, ao final das discussões de pós- leitura, contém registros individuais da experiência leitora, com impressões, sentimentos e indicativos de recepção do leitor, de modo a fornecer subsídios para análises posteriores. Esse gênero midiático foi utilizado na perspectiva de Rettenmaier (2009), que o enxerga como espaço de expressão de leitores e “hiperescritores” e como uma grande via de interface digital. Em outras palavras, é assim explicitado:

O trabalho com blogs permite a qualquer momento o debate sobre a própria natureza do conhecimento. Por seu caráter diacrônico, por sua natureza renovável, os blogs mostram o quanto é renovável o conhecimento e a informação. De alguma maneira são manifestações textuais transitórias como todos os demais textos, mesmo os que se pretendem definitivos. Em mais um elemento, os

blogs são materialização de que a informação comporta mais de uma

linguagem, não apenas a verbal. [...]. De outra parte, os blogs apontam para a diversidade de áreas e temas do saber. Estão fora das delimitações e relevâncias disciplinares, estão alheios às separações rígidas do conhecimento. E mais, permitem voz e manifestação a todos, retirando autoria das supostas autoridades intelectuais (RETTENMAIER, 2009, p. 84).

Essas características do blog favorecem a análise de uma situação, que é complexa e difícil de ser avaliada: a leitura de literatura. Esse recurso possibilitou, pois, o registro autônomo e prazeroso da experiência leitora, em uma espécie de diário ou portfolio, construído com maior liberdade e conforme a subjetividade de cada leitor. Esse perfil levou-nos a considerar o blog como um espaço de compreensão e de partilha da experiência leitora, que vai ao encontro da natureza complexa da leitura literária e do seu caráter educativo e transdisciplinar.

Após o encontro com as multimídias e a construção do blog, implementamos as sessões de leitura, mediadas pela professora titular da turma e organizadas em sessões subsequentes de literatura eletrônica na internet, de literatura em flipbook e de literatura em livro impresso, como observamos a seguir:

Quadro 06: Sistemática de intervenção em sala de aula

1ª sessão: encontro com as multimídias e construção coletiva do blog. Leitura da coletânea de literatura eletrônica (ELO), de Chapeuzinho Amarelo, em flipbook e de A pequena vendedora de fósforos, em livro impresso.

2ª sessão: pré-leitura, sessão de leitura da literatura eletrônica, de História para dormir mais cedo, de Angela Lago, pós-leitura e registro em blog.

3ª sessão: pré-leitura, sessão de leitura da literatura eletrônica, de La pelota dorada (conto popular espanhol), pós-leitura e registro em blog.

4ª sessão: pré-leitura, sessão de leitura da literatura eletrônica, de Los tres animalitos (conto popular espanhol), pós-leitura e registro em blog.

5ª sessão: pré-leitura, sessão de leitura de livro em flipbook, de O fazedor de amanhecer, de Manoel de Barros, pós-leitura e registro em blog.

6ª sessão: pré-leitura, sessão de leitura de livro em flipbook, de Flicts, de Ziraldo, pós- leitura e registro em blog.

7ª sessão: pré-leitura, sessão de leitura em livro impresso, de O fazedor de amanhecer, de Manoel de Barros, pós-leitura e registro em blog.

8ª sessão: pré-leitura, sessão de leitura em livro impresso, de Flicts, de Ziraldo, pós- leitura e registro em blog.

As sessões de leitura descritas acima ocorreram no laboratório de informática, com duração aproximada de 60 minutos. Adotamos como instrumentos a observação in loco, a entrevista, a análise documental (documentos oficiais e institucionais), o diário de campo, o portfolio da mediadora, o registro fotográfico e a gravação em vídeo das sessões de leitura literária realizadas. Os instrumentos midiáticos foram: o computador com suas multimídias integradas, a internet e o blog eletrônico. Nessa ocasião das leituras, a mediadora utilizava-se de suportes híbridos, recorrendo aos textos eletrônicos e ao computador; nos momentos de leitura em flipalbum e em literatura impressa, ela sempre dispunha do livro em mãos, para garantir a flexibilidade de suas ações e a mobilidade de seus movimentos de mediadora.

O uso da internet respondeu ao objetivo de explorarmos ao máximo as possibilidades da mídia computador, experimentando novas vias de formação literária que fazem parte do cotidiano escolar e social das crianças de hoje. Pensamos que, com a ampliação do uso dos computadores em rede, não podemos

ignorá-los em um projeto de formação literária multimidiática, uma vez que ele é a rede das redes, constituinte do ciberespaço, que abre grandes possibilidades de interface, acesso à informação e à formação (SANTAELLA, 2003).

Nessa mesma linha de raciocínio, Jobim (2008) afirma que a internet é importante em um projeto de educação multimidiática porque constitui

um dos mais modernos meios de comunicação. [...] permite uma liberdade muito maior para os membros do circuito comunicativo [...]. Com suas várias facetas e recursos, abre espaço para que um número maior de pessoas possam expressar seus pontos de vista, de diversas maneiras. Ainda quando se trata de dados de interesse mais restrito” (JOBIM, 2008, p. 221, tradução nossa).

Orientando-nos por essa compreensão, incluímos a internet em nosso projeto de formação literária via computador, considerando o blog e a literatura eletrônica desenvolvida para interface na rede, que, segundo Rettenmaier (2009), influencia os modos de leitura da literatura impressa no seu suporte convencional, o livro.

Para a realização das aulas de leitura, modificamos a disposição do mobiliário da sala, segundo os objetivos e os recursos utilizados. Na maioria das vezes, as cadeiras eram dispostas em um grande círculo, situadas em frente ao computador a ser utilizado nas sessões de literatura eletrônica e de literatura em flipalbum. Mesmo nas sessões de leitura em livro impresso, a organização arquitetônica da sala atendeu ao mesmo princípio de comunidade, o que favoreceu a circulação da mediadora, a distribuição de falas entre os leitores, a discussão em torno dos textos e a socialização dos materiais.

A metodologia por andaimagem (scaffolding), conforme dissemos na descrição da etapa de planejamento, foi priorizada para o ensino literário via computador, pois acreditamos que as estratégias definidas por essa abordagem encaminharam-se para uma maneira adequada de ensinar a literatura àqueles sujeitos em uma situação educativa inovadora.

Na etapa de implementação, tivemos atividades de pré-leitura, atividades de leitura e atividades de pós-leitura, sequencialmente. As atividades de pré-leitura utilizadas foram as mais diversas, mas geralmente abarcavam ações de motivação, de ativação dos conhecimentos prévios, de relação texto-vida, de pré- questionamentos, predições e direções.

Durante a leitura, ajustamos as estratégias aos textos e aos recursos, recorrendo à leitura silenciosa, à leitura oral da professora, à leitura oral compartilhada e à leitura com variadas prosódias. As atividades de pós-leitura, fundamentais para a análise das etapas anteriores, para a compreensão da recepção do leitor e para a avaliação da intervenção, privilegiaram as discussões do texto por meio de perguntas.

Com esses procedimentos de leitura por andaimagem, pretendemos, conforme as proposições de Graves e Graves (1995), desenvolver as seguintes atitudes:

 ajudar na compreensão do texto;

 esclarecer vocábulos ou conceitos que ficaram obscuros no texto;  promover interações e discussões, mediadas pela palavra;

 ampliar e relacionar informações trazidas pelos alunos;

 promover avanços cognitivos na leitura de imagens e palavras e na manipulação de recursos de multimídia do computador;

 auxiliar na construção de uma comunidade leitora;

 propiciar momentos de interações significativas, por meio do texto;  suscitar a argumentação e o conflito cognitivo em torno do texto;  permitir a leitura literária em diferentes suportes e recursos

midiáticos integrados ao computador.

Tomando esses objetivos como ponto de partida, recorremos a outras estratégias que favoreceram a implementação das sessões de leitura. Dentre elas, destacamos a construção dos contratos didáticos, sob o comando da professora titular da sala. Os contratos específicos para as sessões de leitura foram construídos na ocasião da 2ª sessão, momento em que as aulas passaram a ser mediadas pela docente, e foram retomados nas demais sessões de leitura para a reflexão nos termos acordados, o que poderia se encaminhar para o acréscimo e para a retirada de contratos, conforme a própria experiência.

Episódio 01: Construção dos combinados 2ª sessão de leitura