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Episódio 01: Construção dos combinados – 2ª sessão de leitura (28/10/10)

P. T.: Se o colega daqui está falando, eu vou ter que estar escutando

3. A CHAVE HISTÓRICA DA LEITURA, DA LITERATURA E DO LIVRO

3.1 A CHAVE DO PASSADO DA LEITURA, DA LITERATURA E DO LIVRO

Ao lançarmos o olhar para o passado da humanidade, constatamos que a prática da leitura foi se constituindo em relação intrínseca com a palavra escrita, com o livro e com a literatura, de modo que suas histórias se confundem em uma interdependência. Na verdade, nem mesmo os historiadores conseguem chegar a um ponto comum sobre a precedência da leitura à palavra escrita.

Em uma concepção mais ampla de leitura, podemos associar o seu surgimento ao momento em que o homem passou a atribuir sentido ao mundo, já que o ato de ler pressupõe a compreensão da diversidade de linguagens, de suportes materiais, de imagens e de gestos, o que não restringe esse ato às manifestações da escrita (MARTINS, 2003).

Do mesmo modo, a literatura, considerada a arte da palavra, encontrou vida e foi disseminada, ao longo dos anos, por meio da linguagem oral, como nos afirma Fischer (2009, p. 209):

A literatura era principalmente um auxiliar da memória, recordando o que já se tinha ouvido em algum lugar. Os textos literários eram quase que exclusivamente entoados como um canto, ou pelo menos murmurados para meditação e melhor memorização.

Rousseau (1971–1998), em seu Ensaio sobre a origem das línguas, também nos alerta sobre a precedência da fonte literária, quando revela que esta arte já se manifestava em orações, falas melodiosas, galanteios e palavras cantantes. O homem primitivo, segundo ele, já demonstrava uma necessidade, ainda que oral, de embelezar a palavra falada e ouvida.

A linguagem, em sua natureza, surge como um fenômeno emotivo, como expressão das sensações, dos sentimentos e das necessidades do humano, o que atribui a ela um caráter genuinamente literário, pois “não é a fome ou a sede, mas o amor ou o ódio, a piedade, a cólera, que aos primeiros homens lhe arrancaram as primeiras vozes. Eis porque as primeiras línguas foram cantantes e apaixonadas (ROUSSEAU, 1998, p. 82)”.

Assim, o homem, desde os primórdios de sua condição, já desfrutava da possibilidade de ler, devido à sua capacidade biológica de captar e de elaborar o mundo por meio dos sentidos, bem como já experimentava a transformação do

visível e do objetivo, por meio de uma linguagem mais subjetiva e elaborada. “No mesmo ato em que se nomeia a natureza, o homem o interpreta; ou seja, desde o primeiro olhar o homem significa, isto é, atribui imaginariamente funções e designações: o homem lê” (YUNES, 2002, p. 53).

Porém, se considerarmos a literatura como materialidade da palavra que pode ser lida de modo convencional, podemos afirmar que ela é decorrência do aparecimento da escrita na Grécia Antiga, pois antes

os homens se referiam à épica não como literatura porque este termo já suporia o ato de ler, enquanto todo o conjunto memorável de seu passado se assentava sobre a audição. A divulgação destas narrativas costumava ocorrer em contextos festivos, onde a mímesis tinha lugar: o repertório mitológico era reatualizado pelo canto e pelas danças, propiciando a memorização dos fatos e dos feitos, cuja narratividade, às vezes, construída anonimamente, fixava-se nos afetos das gentes. Assim sendo, a oralidade que precedeu a escrita como forma de preservação da memória estava associada ao imaginário e ao ludismo sonoro, capaz de criar laços mais duradouros que a linguagem ordinária (YUNES, 2002, p. 52).

Nesse contexto marcado pela oralidade, acontece a primeira grande revolução que transformou significativamente os sentidos de leitura, de literatura e da própria linguagem, a palavra escrita, “um – provavelmente o mais perfeito e o menos obscuro – entre inúmeros outros sistemas de linguagem visual” (MARTINS, 1996, p. 33).

A evolução da escrita ocorreu em meio a avanços e regressões e a diferentes experiências para a representação material e abstrata das ideias. Entre distâncias geográficas e necessidades culturais dos povos, a linguagem escrita foi se constituindo de forma pictográfica, ideográfica, mnemônica, fonética, cuneiforme, alfabética, dentre outras, com vistas à comunicação e à interpretação da realidade (FISCHER, 2009).

Com o advento da escrita, surgem os materiais construídos exclusivamente para a leitura e, consequentemente, emerge uma convenção sociocultural sobre o que é a leitura e quais os seus suportes aceitáveis. O homem experimentou, então, o ato de ler em diversos suportes vegetais e minerais, até a descoberta do papiro, do pergaminho e, finalmente, do papel, eleito o melhor material para a produção dos suportes de escrita e de leitura (MARTINS, 1996).

A despeito de suas transformações, a escrita sempre esteve no centro da experiência humana, dando significado às suas ações, promovendo suas habilidades, registrando suas memórias, contribuindo, enfim, para o progresso em geral.

De modo específico, essa invenção significou, para a literatura, a materialização de sua fonte verbal, o encontro de sua forma de expressão mais palpável e visual; desde então, a literatura, como bem esclarece Sartre (2006), passou a servir às palavras, elegendo-as como matéria-prima mais bem sucedida, aquela que registra e perpetua o implícito e o subjetivo da arte de plurissignificar o humano no mundo.

Inaugura-se também, com o surgimento da escrita, a história do livro, a mídia mais antiga, de maior persistência e durabilidade, ao longo dos séculos. Para explorarmos sua dimensão histórica, propomos um breve passeio à Biblioteca de Alexandria (berço dos livros que primeiro definiram as práticas de leitura) a mais ilustre de todas as bibliotecas da Antiguidade.

A Biblioteca de Alexandria existia antes de existirem os livros impressos e foi fundada por Ptolomeu Soter, por volta de 283 a.C. Na época, seus livros manuscritos tinham um caráter sagrado e religioso; eram únicos e restritos a um seleto grupo do clero e da nobreza. Esse espaço funcionava como um raro e luxuoso depósito secreto de livros, ao invés de um lugar onde se procurava difundir e perpetuar os materiais de leitura (MARTINS, 1996).

As bibliotecas da Antiguidade, dentre as quais se destaca a Biblioteca de Alexandria, perpetuam o livro como um objeto de natureza sócio-histórica e cultural, assim como um objeto de raízes nobres e cultas, e de força comunicativa, ao veicular a ciência, as teorias, ideologias, os valores culturais e sociais de cada época.

O histórico da instituição biblioteca revela o livro como um objeto vivo que, ao ser criado, também contribuiu para a transformação da escrita e da leitura. Esse objeto tem, na visão de Wilson Martins (1996), origem nobre e espiritual; é o instrumento intelectual por excelência; não é uma mercadoria comum, embora movimente um mercado editorial e industrial; é acima de tudo um texto; guarda uma superioridade própria e venerável de veículo privilegiado. Nas palavras desse autor,

com efeito, não podemos perder de vista que o livro não é, apesar de tudo, uma mercadoria como as outras. Ele tem um aspecto nobre, representado por suas origens espirituais e pelos fins a que se destina. Seu emprego próprio não exclui, antes pressupõe, a delicadeza de trato, o bom gosto, a finura intelectual, os ambientes em que a inteligência e não a matéria deve reinar soberanamente. [...] Assim, tanto quanto possível, o livro deve ser belo e valioso, inclusive como objeto e deve ser agradável à vista e ao tato, como é agradável à mente. Reduzi-lo à condição de mera mercadoria é vilipendiá-lo, é humilhá-lo na sua natureza e o que é pior, é tornar o homem indigno dele (MARTINS,1996, p. 242).

Por suas raízes cultas e nobres, o livro, no decorrer de sua história, foi negado a pobres, mulheres, trabalhadores, escravos e negros, por representar um perigo às ditaduras e às forças dominantes e opressoras, visto que se trata de um objeto que confere conhecimento ao seu leitor e impulsiona a criticidade, a autonomia do pensamento e a democracia (MANGUEL, 1997). Nesse sentido, não se define como um meio de transmissão, mas como um objeto que suporta a criação inventiva do homem. É bem essa concepção que assume Borges (2004, p. 17), quando constrói a seguinte reflexão:

dos mais diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, sem dúvida, o livro. Os demais são extensões de seu corpo: o microscópio, o telescópio são extensões de sua vista; o telefone é extensão de sua voz; temos o arado e a espada, extensões de seu braço. Porém, o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória da humanidade e da imaginação criadora (grifo nosso).

Essa característica do objeto livro permite a compreensão de que ele não é, desde sua criação, apenas um suporte que veicula textos de diferentes tipologias, conforme os propósitos de seus escritores e de seus leitores. Além disso, o livro carrega o espírito da humanidade, ao preservar sua memória, suas invenções, sua cultura e sua arte. É um suporte de conhecimento por excelência, que permite ao homem tomar posse daquilo que o identifica como ser pensante.

Sob essa ótica, o livro aproxima-se da literatura, colocando-se em uma posição de suporte preferível para a leitura literária, uma vez que, por sua materialidade, acompanha o leitor como uma extensão de seu corpo, em uma relação de dependência criadora; e, por sua espiritualidade, impõe ao leitor uma postura e um sentimento de reverência e de encantamento. Embora sejam conteúdo

e objeto independentes, a interação com o suporte especifica a leitura literária, tornando-se parte de sua experiência.

Considerando-se essa relação “de corpo-a-corpo com o livro”, podemos afirmar que, desde a sua antiguidade, as transformações ocorridas com esse suporte já determinavam a relação entre os leitores e os textos, pois definiam as situações de leitura e a própria função do livro.

Em se tratando de seu percurso evolutivo, não podemos esquecer o fato de que os livros eram, a princípio, manuscritos e utilizavam toda a sorte de materiais primitivos e rudimentares, tais como as pedras, o mármore, os ossos, as barras de argila, o marfim, os tabletes de chumbo, de bronze, de ouro e de prata. Primeiramente, usou-se a madeira. Com essa matéria-prima, temos registros de livros minerais e vegetais (FISCHER, 2009).

Figura 01: Livro de argila (Fonte: internet.

Acesso: Mar.; 2010). Figura 02: Frescos de Pompeia, ano 50, tábuas de madeira revestidas com cera (Fonte: internet. Acesso: Mar.; 2010).

Em 273 a.C., surge o papiro como um produto vegetal utilizado na civilização egípcia da antiguidade e produzido com o caule e as folhas de uma planta de nome papiro e cola de farinha. Nessa época, há cerca de 3.500 anos, produziu-se um dos livros mais importantes em papiro, o Livro dos Mortos, cujo nome original, em egípcio antigo, era Livro de Sair Para a Luz, que continha uma coletânea de feitiços, fórmulas mágicas, orações, hinos e litanias do Antigo Egito e era colocado nos túmulos das múmias.

Figura 04: Seção do Livro dos Mortos, no papiro de Nani (1040 a.C. – 945 a.C.) - (Fonte: internet. Acesso: Mar.; 2010)

O objetivo desse livro era ajudar o morto em sua viagem para o outro mundo, afastando eventuais perigos que este poderia encontrar na viagem pós-morte. Com isso, firma-se uma função pragmática do suporte livro e uma diversidade de conteúdo, que abrangia desde rituais fúnebres até contos da tradição cultural egípcia.

Diferentemente do papiro, o pergaminho, criado no ano 301 a.C., ampliou as possibilidades de leitura, devido à sua resistência e durabilidade. Produzido a partir da pele curtida de animais, o pergaminho era utilizado no formato de volumen, assim como o papiro, mas já possibilitava a escrita na frente e no verso, permitindo, posteriormente, no final da Idade Média, a criação do conceito de página, momento em que passaram a enumerar os dois lados do pergaminho.

Diante dessa invenção, outras relações são estabelecidas com a atividade de ler, uma vez que o leitor já pode manipular mais livremente seu objeto de leitura,

bem como registrar o número da página para dar continuidade à sua experiência em outro momento. Superada a fragilidade do papiro, é dado ao leitor o direito de aproximar-se mais do seu suporte de leitura, carregando-o consigo e fazendo anotações sobre o texto lido.

Com os avanços possibilitados por essa metamorfose do livro, é criado o seu antepassado mais imediato, o codex, também conhecido por códice ou códex. Suas folhas, manuscritas e feitas (na maioria das vezes) em pergaminho, eram reunidas entre si pelo dorso e recobertas com uma capa semelhante às encadernações modernas, o que o aproximava sobremaneira dos livros modernos. Geralmente, eram suportes grandes, do tamanho das peças de pergaminho, com escrita na frente e no verso (MARTINS, 1996).

Um codex de relevância histórica a ser citado é o Códex Gigas, também conhecido como a Bíblia do Diabo, que data de cerca de 1.230 d.C. e é considerado um dos maiores livros manuscritos e iluminados do mundo, medindo três metros de comprimento e contendo 600 páginas em pele de bezerro. Esse códex inclui uma combinação de textos, contendo o integral da Bíblia Latina, livros de história, fórmulas médicas para o tratamento de doenças, conjurações e até mesmo soluções para problemas banais.

Figura 05: Codex Giga ou Bíblia do diabo, de 1230 d.C. (Fonte: internet. Acesso: Mar.; 2010)

Os códices foram muito importantes para a história do livro, uma vez que sinalizaram os primeiros formatos dos suportes de leitura que conhecemos na atualidade, mesmo ainda não existindo técnicas apropriadas para tornar esses objetos mais leves e manipuláveis.

Como rival vitorioso dos materiais concebidos até o momento para a produção dos suportes de leitura, surge o papel, criado na China por Cai Lun, um diretor das oficinas imperiais, por volta dos anos 100 d.C. O processo empregado nesse feito consistia em isolar a celulose (polpa de vegetais ou de madeiras) e criar a pasta de papel em moinhos e oficinas primitivas. A primeira máquina de fazer papel, no entanto, só foi criada em 1798, na Europa.

Figura 06: produção de papel na China Antiga – 100 d.C. (Fonte: internet. Acesso: Mar.; 2010)

Assim, o papel conquistou o título de material mais adequado para a confecção de materiais de escrita e leitura. Esse título predomina até os dias atuais, com o uso desse material para a produção dos livros pós-modernos e para a ampla produção industrial dos diversos materiais de escrita.

Em suas inúmeras mudanças, o livro movimentou um comércio de materiais e de profissionais muito peculiar, dependendo da época e da função que era atribuída a esse suporte de leitura. Se hoje temos como profissionais do livro os autores, editores, ilustradores e tradutores, antigamente contávamos, para a produção dos livros minerais, animais e vegetais, com os copistas, os escribas, os miniaturistas, os artesãos e os vendedores de pele. Dado o caráter artesanal e secreto das circunstâncias em que os livros eram produzidos, esses antigos profissionais eram vistos como alquimistas e mágicos (MARTINS, 1996).

Figura 07: Profissional do livro, retratado no séc. XV. (Fonte: internet. Acesso: Mar.; 2010).

Vale rememorar que, antes de Gutenberg, a imprensa é definida por historiadores como o uso de técnicas tipográficas, que permitiam “não somente um sinal qualquer sobre o papiro, pergaminho ou papel, mas também e, sobretudo, na reprodução rápida e ilimitada da escrita ou da palavra” (MARTINS, 1996, p. 127).

Assim, não podemos cometer o erro de confundir a tipografia xilográfica chinesa, as impressões tabulares iniciadas na Europa, no século XVIII, com a invenção de Gutenberg. Na verdade, sabemos que antes da invenção da imprensa pelo tipógrafo alemão Gutenberg, tínhamos o livro xilográfico, produzido pelos chineses (em 932 de nossa era), com gravações únicas de manuscritos em tábuas de madeira. De semelhante modo, os livros xilográficos começam a aparecer, na Europa, no início do séc. XV.

Em 1455, Gutenberg (1390–1468), tipógrafo e impressor alemão, imprimiu a famosa Bíblia de 42 linhas (conhecida como Bíblia Mazarina), por meio da tipografia, que deu a ele o título de inventor da imprensa. A técnica consistia em manipular caracteres móveis em relevo.

Figura 08: prensa tipográfica de Gutenberg (Fonte: internet. Acesso:

Mar.; 2010)

Figura 09: A Bíblia de Gutenberg, conhecida como Bíblia de 42 linhas – 1455 (Fonte:

internet. Acesso: Mar.; 2010).

A tipografia surge como uma sociedade secreta, que praticava uma arte oculta e protegida. Essa arte era concorrente direta dos manuscritos dos escribas, reconhecida por ser um trabalho lento, caro e de status social. Sob tais circunstâncias, o livro era percebido como objeto que exigia um grande trabalho de seus produtores e, ao mesmo tempo, possuía um caráter de objeto valioso e secreto, que imitava os manuscritos de antigamente, na busca pela preservação do caráter espiritual desse suporte.

Não obstante, um aspecto paradoxal da história do livro

é que, o uso de caracteres móveis é anterior à própria invenção da imprensa! Esta última costuma-se datá-la convencionalmente de 1455, ano em que Gutenberg imprimiu a famosa Bíblia de 42 linhas: ora, muito antes disso, como já vimos em 1260, os fundidores europeus tinham licença para fabricar letras isoladas. E, embora não haja ligação nenhuma entre a “imprensa” oriental e a ocidental, não é menos certo que livros impressos com caracteres móveis, datando das primeiras décadas do século XV, foram descobertos na Coréia. Assim, temos de retificar os dois lugares-comuns que atribuem a Gutenberg seja a invenção da imprensa, seja a invenção dos caracteres móveis: uma coisa como outra já existiam na Europa quando ele começou a trabalhar em tipografia. [...] a invenção de Gutenberg: ela abriu, na verdade, o caminho para a grande imprensa, e o seu mérito em nada fica diminuído porque, mais do que na invenção material, ele consiste em “ter visto” o que se poderia tirar de uma ideia que “estava no ar” e que apenas aguardava os seus meios práticos de realização [...] um aperfeiçoamento da arte de imprimir (MARTINS, 1996, p. 139).

Consideramos, mesmo assim, que o mais importante desse aperfeiçoamento alavancado por Gutenberg foi a separação definitiva entre o livro impresso e o manuscrito. Com o surgimento do livro impresso, esse suporte foi ampliando suas possibilidades e ganhando outras configurações internas e externas, com destaque para as capas e para as encadernações.

Na antiguidade do livro, predominavam as encadernações de ourivesaria, produzidas a partir de placas de marfim, ouro, prata, pérolas e pedras preciosas; porém, dependendo da classe social do leitor, os livros também eram fabricados com peças de madeira, couro liso, gravado ou estampado. Com essa diversidade, o que se buscava representar por meio das capas e das encadernações, era a posição social de seu leitor, em um contexto no qual o livro era entendido como um objeto comercial, que conferia poder e status ao seu dono.

Figura 10: Bartolomeus, capa de ferro do estilo gótico- monástico - Séc. XV. (Fonte: internet. Acesso: Mar.; 2010)

Figura 11: Capa em prata dourada do séc. VI, encontrada em Antióquia,

Turquia. (Fonte: internet. Acesso: Mar.; 2010)

Figura 12: Capa do Código de St. Emeran (870), em ouro e

pedras preciosas. (Fonte: internet. Acesso: Mar.; 2010)

Como vemos, os formatos dos suportes de leitura tinham variações, conforme o tipo e as medidas do material utilizado, tais como as peças de couro, de madeira e até mesmo de ferro. Os livros eram, na verdade, rudimentares, pesados e incômodos para a leitura.

Em seu aspecto ilustrativo, o livro também enfrentou mudanças diversas. As primeiras ilustrações eram as miniaturas e iluminuras feitas por encomenda (de alto custo), com a função de ornamentar os manuscritos, o que difere da função defendida atualmente, em que a ilustração é assumida como um texto que traz acréscimos ao texto verbal, complementando-o, ampliando-o e contribuindo para a atribuição de sentido. Gutenberg, em seus livros impressos, valorizava as iluminuras e as miniaturas, na tentativa de aproximar seus produtos dos manuscritos (MARTINS, 1996).

O avanço das ilustrações, no decorrer da história antiga, sempre esteve associado às inovações tecnológicas. No Antigo Egito, já era possível registrar o amplo uso de ilustrações documentais, geralmente expressas por meio de pergaminhos ilustrados. Na civilização grega e romana, as ilustrações eram objetivas e tinham a função de descrever; na idade média, as ilustrações eram predominantemente religiosas, feitas em xilogravura, e tinham a pretensão de favorecer o alcance da população analfabeta.

Com o renascimento, momento áureo para a transformação do livro, privilegiou-se o desenho técnico, seguindo o modelo das produções de Leonardo da Vinci. Em decorrência desse avanço, as técnicas de ilustração foram sendo aperfeiçoadas, com a xilografia em cor e a litografia (1796), com a fotografia (1839), a serigrafia (séc. XX) e, por fim, a computação gráfica dos dias de hoje (MARTINS, 1996).

Figura 13: Ilustração da obra Fábulas de Esopo, de Sir Roger L’Estrange – 1645.

(Fonte: internet. Acesso: Mar.; 2010)

Figura 14: Ilustração da obra Chapeuzinho Vermelho, de Gustave Doré – 1855. (Fonte: internet. Acesso: Mar.; 2010)

Assim, na Renascença, o livro se afirma definitivamente, passando de uma natureza religiosa e limitada para uma natureza profana e universal. Com o surgimento da civilização industrial (séc. XX), ocorre o aperfeiçoamento da tipografia, que foi transformada em indústria, com novas técnicas de impressão e com uma rápida produção. Com isso, o livro torna-se mais acessível e mais viável para uma larga produção que pudesse alcançar além de um grupo restrito, chegando às massas populares.

Essas transformações preconizam o fim da civilização tipográfica, com mudanças significativas nas técnicas de imprensa, possibilitadas pela informática. Surge a civilização eletrônica, por meio da qual o livro ganhou uma rápida difusão,