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A EDUCAÇÃO? 228 5.3 A MÍDIA-EDUCAÇÃO, A LEITURA E A ARTE LITERÁRIA

2. O ENSINO DE LITERATURA VIA COMPUTADOR COMO OBJETO DE PESQUISA

2.1 O DESENHO DA PESQUISA

2.1.2 Ecologia da escola e dos sujeitos

Após a negociação da pesquisa, buscamos uma compreensão ecológica do locus investigado, por meio da construção da ecologia da escola. Nessa etapa, lançamos um novo olhar sobre a instituição, já na condição de investigadora, e construímos um conhecimento crítico e aprofundado da escola, partindo de um entendimento do locus em sua dimensão mais geral, isto é, de sua dinâmica global para o particular de uma turma, em situação de ensino literário.

Para a escolha da referida instituição, foram considerados os seguintes critérios: a disposição de computadores conectados à internet, a motivação de professores para a realização de projetos de formação literária, a familiaridade e acessibilidade da pesquisadora e as possibilidades desafiadoras de formação literária pela via das multimídias.

O livre acesso à escola e a experiência da pesquisadora no exercício da prática educativa naquela realidade foram determinantes para a seleção do locus de pesquisa, principalmente devido à constatação de que o ensino de literatura e o trabalho com as multimídias constituíam desafios inerentes àquele contexto escolar, vividos, de modo particular e profissional, pela própria investigadora.

2.1.2.1 O olhar ecológico e a perspectiva qualitativa

A grande inquietude que nos motivava para o contexto a ser investigado era a necessidade de encontrar pontos de partida para o diálogo entre a literatura e as multimídias, em um espaço real e concreto, suscetível a um trabalho de formação leitora e literária. As primeiras questões que emergiram foram as seguintes:

 Existem, nesta instituição, práticas de ensino de leitura e de literatura? Se existem, como ocorrem?

 Existe, nesta instituição, um trabalho sistemático com as multimídias? Como ocorre?

 A formação literária, de algum modo, articula-se com o trabalho desenvolvido com as multimídias?

 De que maneira a formação literária pode ser articulada com o trabalho desenvolvido com as multimídias?

Frente a essas indagações iniciais, os caminhos metodológicos começaram a se delinear, dentro de uma perspectiva qualitativa e segundo um olhar ecológico. Para o nosso objetivo de conhecer as contribuições das multimídias para a formação literária, em ambiente escolarizado, precisamos conhecer as práticas de ensino de literatura e de formação multimidiática, antes de propormos uma intervenção pedagógica que colocasse à prova as hipóteses que nos instigavam. Com esse propósito, iniciamos a pesquisa com a análise das estruturas mais amplas, no que se referem às condições de trabalho com a literatura e com as multimídias, isto é, considerando o enfoque investigativo.

Como geralmente ocorre com as pesquisas qualitativas, interessava-nos tudo que se apresentava no locus, de modo geral, para encontrarmos um particular expressivo e indicativo de uma realidade que, ao ser desvendada, poderia trazer contribuições para o avanço do ensino e da pesquisa (SEVERINO, 2007).

Nesse caminho, antes de nos inserirmos na sala de aula, que, em última instância, nos forneceria os achados particulares, conduzimos o olhar para o contexto mais abrangente da escola, considerando as práticas literárias, os projetos de formação leitora e o trabalho com as multimídias. Além disso, estávamos abertos

para o imprevisível, para o inusitado e para tudo o mais que extrapolasse ou enriquecesse o nosso foco investigativo.

Partindo dessa necessidade, impuseram-se para a realização da pesquisa as condições estruturais e pedagógicas para a construção de uma ação de ensino, que articulasse literatura e multimídia, em situação de pesquisa, que é também investigação com delimitações e critérios qualitativos. Assim, contamos com uma turma de aprendizes, que aderiram ao estudo, com uma mediadora, que assumiu o compromisso de implementar as sessões de leitura e de avançar em sua formação, por meio de planejamentos, estudos e reflexões acerca da pesquisa desenvolvida e de um laboratório de informática e de uma biblioteca, como espaços de formação literária e multimidiática.

O objetivo de realizar, na escola, uma intervenção pedagógica obrigou-nos a considerar os aspectos contextuais que circundam o locus e os sujeitos que, direta ou indiretamente, são determinantes para seus modos de agir, de aprender e de ensinar, bem como para os seus modos de significar a literatura e as multimídias.

Para esse olhar ecológico, encontramos respaldo em Sacristán (2000, p. 90), que alerta para a necessidade de “manter uma visão mais ecológica do ambiente escolar como fonte de aquisições”, pois é esse “olhar ecológico” para a instituição que auxiliará na análise de uma situação vivenciada por uma dada microcomunidade, seja a prática que a professora desenvolve, seja o modo como os alunos aprendem com o texto literário e se relacionam com ele e com o computador.

Ainda sobre a postura ecológica do investigador, Sacristán e Gómez (2000, p. 76) acrescentam que,

na instituição escolar e na vida da aula, o docente e o estudante são efetivamente processadores ativos de informação e de comportamentos. Isso ocorre não apenas, nem principalmente, como indivíduos isolados, mas como membros de uma instituição cuja intencionalidade e organização cria um concreto clima de intercâmbio, gera papéis e padrões de conduta individual, grupal e coletiva, e desenvolve enfim uma cultura peculiar.

Em concordância com esse posicionamento, Morin (2007) acrescenta que uma estratégia qualitativa de busca pelo conhecimento jamais deve dissociar esse conhecimento da realidade complexa da qual ele faz parte, sob o risco de se tornar

um fragmento incompreensível que, por sua vez, fragiliza as percepções sobre o objeto de estudo que procura conhecer.

Com essa fundamentação, buscamos ampliar os horizontes da pesquisa, tomando posse de uma visão ecológica e complexa, em uma construção igualmente ecológica e complexa do conhecimento sobre a formação literária via computador. Como resultado, esperamos entender como o ensino de literatura, aliado às praticas de formação multimidiática, concretizam-se em uma ação e se tornam analisáveis em sua complexidade.

É importante esclarecer que, neste capítulo de detalhamento metodológico, ocupamo-nos não somente de fazer uma descrição superficial do locus e dos sujeitos de pesquisa mas também realizar uma descrição reflexiva e uma análise inicial dos dados ecológicos que podem subsidiar outras análises mais aprofundadas, derivadas da intervenção pedagógica em si. Contudo, vale esclarecer que essa etapa de conhecimento inicial do locus e dos sujeitos responde a uma necessidade de compreendê-los, sob o ponto de vista da pesquisa, para poder intervir e criar consciência sobre a formação literária em meio escolar.

Na intenção de compreendermos a peculiaridade da escola selecionada, analisamos documentos institucionais, tais como o regimento escolar e o projeto político pedagógico (este último ainda em elaboração) e realizamos registros diversos, incluindo o registro fotográfico.

Diante do objetivo de aprofundarmos o conhecimento sobre os sujeitos, adotamos, inicialmente, a entrevista individual com a professora titular e com os alunos. Essas entrevistas iniciais foram semiestruturadas, com blocos temáticos predefinidos e flexíveis conforme o desenrolar da entrevista. Para a entrevista com as crianças, elegemos como blocos os dados identificadores, os dados socioeconômicos, a vida escolar, a experiência com a leitura e a experiência com o computador. Já a entrevista realizada com a professora titular foi constituída pelos seguintes blocos temáticos: dados identificadores, dados socioeconômicos, experiência profissional, experiência com a leitura e com o computador, prática pedagógica em interface com o ensino de leitura e de literaturae em interface com o ensino de mídias e, por fim, a Interface entre mídia, leitura e literatura.

Ambas as entrevistas foram realizadas na perspectiva de Gaskell (2002), com vistas a compreender o mundo do entrevistado, que “pode fornecer informação

contextual valiosa para ajudar a explicar achados específicos” (GASKELL, 2002, p. 66).

O principal instrumento adotado nesta etapa foi o diário de campo, para registro de observações, de dúvidas, de sentimentos, de dados descritivos, de transcrições das falas dos sujeitos, de análises e de avaliações iniciais. Esse registro de pesquisa, utilizado durante todo o processo investigativo, nos moldes dos diários como instrumentos de pesquisa definidos por Zabalza (2004), foi escrito em primeira pessoa, tendo a própria pesquisadora como primeira leitora.

Com os resultados desta etapa de pesquisa, foi possível traçarmos a caracterização do locus e dos sujeitos, especificada no tópico a seguir.

2.1.2.2 A caracterização do locus e dos sujeitos

A escola investigada caracteriza-se por ser uma instituição pública, municipal, situada no bairro de Nova Horizonte, Rua Prefeito Gentil Ferreira, S/N, Conjunto das Quintas, Natal–RN. Atende a aproximadamente 250 alunos advindos, principalmente, do bairro de Novo Horizonte, nos níveis de Educação Infantil e de Ensino Fundamental I.

É importante esclarecermos que nosso contato inicial com a escola deu-se por meio de vínculo profissional: atuávamos, inicialmente, como professora efetiva da disciplina Literatura e, posteriormente, como regente do laboratório de informática. O exercício dessas atividades contribuiu para a assunção de uma visão crítica, favorável à análise, já que lidávamos, no cotidiano escolar, com os desafios da formação literária e do uso das multimídias. Não obstante, na ocasião da pesquisa, já não assumíamos mais o cargo, podendo, assim, investirmo-nos plenamente do papel de pesquisadora.

Quanto à estrutura física, a escola dispõe de um espaço relativamente pequeno, com salas insuficientes, e sem recursos que viabilizem melhorias em sua infra-estrutura. Desde 1988, data de sua criação, passou por diversas modificações referentes à reordenação de seu espaço, apresentando, atualmente, o seguinte quadro: 05 salas de aulas, 01 biblioteca, 01 refeitório, 01 cozinha, 01 pequena cozinha auxiliar, 01 despensa, 01 laboratório de informática e banheiros masculinos e femininos.

Vale salientar, a título de mais um esclarecimento, que, com o aumento da clientela, a biblioteca, por ser uma sala grande, foi transformada em sala de aula e a sala dos professores passou a funcionar como biblioteca, o que, em consequência, resultou no desconforto de se conviver em um espaço limitado, de baixa luminosidade e com pouca ventilação. Ainda assim, não podemos deixar de mencionar que o “espaço biblioteca” possui grande acervo didático, mesmo com frágil acervo literário. Em sua dinâmica funcional, ainda abriga o reforço pedagógico e as atividades lúdicas como os jogos, recebe as turmas, segundo uma escala de horários, mas é inacessível para a visitação das crianças (sem tutoria) e para empréstimos.

Esse espaço é o único reservado para a formação leitora dos alunos. Apesar de pequeno, é frequentado por alunos sob a supervisão de professores. Seu funcionamento, no entanto, dá-se de modo precário, uma vez que não disponibiliza livros para empréstimos, não permite o acesso livre do leitor e nem se articula com outros espaços da escola, a exemplo do laboratório de informática. O acervo ainda é precário e limitado, embora a escola seja beneficiada com os programas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Ainda se tratando do acervo, vale registrar o fato de que, no momento da pesquisa, ocorria, em concomitância, o cadastramento dos livros; razão por quê não nos foi possível informar o número exato dos títulos de que dispõe.

Na linha de análise dos problemas mais recorrentes, assinalamos mais uma inconveniência: a funcionária que atua na biblioteca, revezando-se entre o turno matutino e o vespertino, não possui formação específica em biblioteconomia, sendo considerada, por isso, como auxiliar de biblioteca. Tampouco é pedagoga efetiva do quadro funcional. Trata-se de uma prestadora de serviço, sem qualquer experiência na formação leitora dos alunos e cujo vínculo com a instituição é instável. Em conversa informal, ela nos confirmou as dificuldades identificadas no estudo inicial do locus e apontou outros problemas, tais como a insuficiência de funcionários, a dificuldade de cadastrar o acervo e de desenvolver projetos voltados para o incentivo à leitura. Além disso, revelou-nos que o espaço não é convidativo para professores e para alunos, de modo que eles não o frequentam com assiduidade.

Quanto ao espaço de formação leitora, identificamos a tentativa de implementação do projeto Biblioteca Ambulante, que passou a funcionar em um

carrinho de supermercado, que visitava as salas, conforme a necessidade e o desejo do professor, conduzindo livros de diversos gêneros, direcionados a todas as faixas-etárias.

A despeito desses esforços, a escola investigada apresenta dificuldades significativas em seu projeto de formação de leitores, compartilhadas estas por diversas escolas públicas, que as manifestam em suas iniciativas pedagógicas e em suas condições estruturais e de recursos humanos. Isso nos leva a testemunhar uma frágil mobilização para uma política eficiente de ensino de leitura e de literatura. O laboratório de informática é amplo e dispõe de cerca de 20 computadores, todos conectados à internet, os quais são utilizados conforme o agendamento das turmas. Esses computadores foram adquiridos por meio do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo), com o apoio do qual o MEC compra, distribui e instala dispositivos tecnológicos nas escolas públicas de educação básica, para promover o uso pedagógico de Tecnologias de Informática e Comunicações (TICs). A dificuldade usual e cotidiana desse benefício decorre do fato de ser o município, com seus precários recursos técnicos, estruturais e humanos que oferece suporte ao laboratório.

Dois pedagogos do quadro efetivo atuam nesse laboratório como regentes, revezando-se entre os turnos de funcionamento da escola. Eles desenvolvem um trabalho de auxílio técnico e pedagógico, intermediando entre os professores e os alunos no uso das mídias disponíveis e nos preparativos de materiais didáticos diversos. A despeito de sua boa estrutura, o laboratório enfrenta problemas de manutenção dos computadores, que constantemente apresentam problemas de memória e de capacidade de execução de programas. Do mesmo modo, a internet tem uma conexão precária e instável, de baixa velocidade e de baixa capacidade para o tráfego de dados.

O currículo da escola investigada está constituído pelo conjunto de conteúdos mínimos das áreas básicas de conhecimento, tais como: Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Ensino Religioso, Educação Física, Ciências Naturais e Arte. No cumprimento desse currículo, os professores polivalentes assumem as disciplinas básicas. Já as demais disciplinas, como as linguagens e o ensino religioso, são ministradas pelos professores das áreas.

Nessa organização curricular, a Literatura não é ensinada como uma linguagem particular da arte, assim como a Mídia não é abordada como área que

possui especificidades e nem como um tema que perpassa outras áreas, sendo, por isso, relegadas à condição de instrumentos esporadicamente utilizados pelos professores das disciplinas básicas do currículo. Nesse modelo, a Literatura reafirma-se como um meio para o ensino da Língua Portuguesa e como adorno para as festas comemorativas.

Apesar disso, a professora da turma investigada destaca-se em meio a essa prática comum, pois realiza projetos de apreciação da literatura, por meio de iniciativas isoladas e assistemáticas. Na ocasião da pesquisa, por exemplo, foram desenvolvidos, de modo paralelo, dois projetos de leitura de poemas, intitulados Fazendo e Aprendendo (2010) e Imaginando Poesia (2010), que culminaram com o lançamento de uma antologia com poemas criados pelas próprias crianças. Com isso, pesquisa e prática de ensino literário intercambiaram-se, em uma troca de experiências leitoras e no conhecimento do perfil leitor dos alunos, embora os projetos estivessem mais voltados para a prática de alfabetização.

No ano de 2008, conforme resolução da Secretaria Municipal de Educação, a disciplina Literatura foi incluída no currículo de Educação Infantil e do Ensino Fundamental. Nessa perspectiva, a literatura passou a ser assumida como uma área de linguagem própria, a ser ensinada segundo suas especificidades, e não como um instrumento que auxilia o processo de alfabetização e o ensino da Língua Portuguesa.

Infelizmente, a resolução somente teve vigência até o ano de 2009. Mais uma vez, a literatura passou a viver à sombra de outras disciplinas julgadas mais importantes, sendo desconhecida e desrespeitada em seu estatuto de arte. Sem o espaço garantido para as aulas de literatura, os professores passaram a (supostamente) assegurar o seu ensino nas aulas de Língua Portuguesa, bem como nas visitas periódicas à biblioteca, apesar das dificuldades de funcionamento desta.

De semelhante modo, as multimídias são utilizadas como um instrumento de auxílio ao ensino das diversas disciplinas do currículo, sendo aproveitadas, sobretudo, pelos professores polivalentes, responsáveis pelas disciplinas básicas. Para essa prática, esses docentes recorrem ao laboratório de informática por meio de agendamento, ou de horários fixos para cada turma (como acontece no turno da tarde) e contam com o apoio técnico e pedagógico dos regentes de laboratório de informática. Essa prática educativa articulada às mídias é proporcionada pela inserção de aulas de informática na rede municipal de ensino, pelo Programa

Nacional de Tecnologia Educacional – ProInfo (BRASIL, 2007), que funciona desde 1997.

Embora os alunos apresentem dificuldades de formação para o uso específico das multimídias de que dispõem no computador e sinalizem, com isso, a necessidade de construção de um conhecimento de área, não registramos nenhuma iniciativa de ensino das multimídias, em uma perspectiva de educação midiática na qual as multimídias são consideradas, para além de instrumentos, como objetos de conhecimento em si (BELLONI, 2005). As experiências midiáticas que os aprendizes possuem referem-se às vivências proporcionadas pela escola e às visitas às lan houses, espaços de aluguel de computadores, próximos à escola.

No ano de 2010, a instituição ofereceu cinco turmas, distribuídas entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, nos dois turnos. Pela manhã, funcionavam cinco turmas, sendo 01 de Educação Infantil, uma do 1º ano, duas do 2º ano e 01 do 3º ano. À tarde, dispunha de 01 turma de 3º ano, duas de 4º ano e 01 de 5º ano.

Dentre essas turmas, elegemos como amostra representativa do locus, uma turma de 5º ano, assumida pela professora Eliza1. A turma ocupava uma sala relativamente ampla, equipada com quadro negro, giz, armários, um birô, carteiras pouco conservadas, entradas para aparelho de ar e ventiladores. Apesar disso, o ambiente é pouco ventilado e muito suscetível ao barulho produzido pelos alunos das outras salas e pelas áreas de acesso comum da escola, apresentando, dessa forma, uma paisagem sonora de baixa fidelidade (AMARILHA, 2006) e, consequentemente, uma inadequação para a realização de práticas leitoras.

Frente a essa realidade, planejamos a realização da intervenção pedagógica, considerando o espaço do laboratório de informática, dada a necessidade metodológica de utilizar as multimídias integradas ao computador para a formação literária. Esse espaço mostrou-se mais favorável à formação leitora, já que apresentava uma boa acústica, contribuindo para uma paisagem sonora de alta fidelidade (AMARILHA, 2006). Além disso, dispunha de ar-condicionado.

Os sujeitos da pesquisa são constituídos por uma professora e uma turma de 5º ano do Ensino Fundamental, com 23 alunos, dentre os quais muitos se

encontravam evadidos, enquanto outros registravam baixa assiduidade. A faixa etária dos alunos variava entre 9 e 14anos de idade.

Conforme o Projeto Político Pedagógico da Escola (Versão em atualização, 2010), sua clientela é formada principalmente por crianças de baixa renda, cujos pais, em sua maioria, ainda não são alfabetizados, estão desempregados ou em situação de subempregos. Trata-se de uma comunidade com alto índice de violência, submetida a problemas com drogas, de baixo nível educacional, além de enfrentar dificuldades socioeconômicas, embora conte com auxílio de projetos assistenciais.

Na tentativa de caracterizar os sujeitos a partir de entrevistas, da análise de documentos e da conversa com os profissionais que atuam na escola, obtivemos informações sobre a vida familiar e escolar dos alunos, o que nos permitiu construir um perfil aproximado destes. Na ótica desses profissionais, os alunos em análise apresentam como característica comum o fato de serem indisciplinados, desafiadores, estando, em sua maioria, numa situação de risco social.

A condição de risco social está atrelada a uma série de privações que, possivelmente, nos escapam no conhecimento sobre aquele grupo de alunos, tais como as baixas condições socioeconômicas, a exclusão social fora e dentro da escola, a moradia precária e a desnutrição; a falta de lazer, de cultura e de vestuário; a falta de assistência médica, de segurança e de higiene; o difícil convívio familiar, a exposição à violência, os maus tratos ou a negligência (LESCHER, 2004).