• Nenhum resultado encontrado

Depoisdeselecionarosobjetosdeestudos,determinaroníveldecomparação, estabelecer o que comparar, e confirmar como comparar, surge a pergunta: por que comparar? Basicamente, a pesquisa comparativa conta com três interpretações dos dados: (1) análise das diferenças (ou contrastes); (2) análise das concordâncias (ou semelhanças); e (3) análise das singularidades (ou particularidades). Assim sendo, os objetivos da pesquisa comparativa são: encontrarsemelhanças e/ou diferenças, entender deslocamentos e/ou mutações, captar regularidades e/ou singularidades, identificar continuidades e/ou descontinuidades, entre outros (Collier, 1993, p. 105; Mill, 1974, p. 193-208; Skocpol, 1979, p. 48-49). Na prática, essas três interpretações acabam se mesclando e se complementando na dinâmica da pesquisa.

176 Ou seja, lida com realidades múltiplas e socialmente construídas (Gibbs, 2009, p. 22).

177 Por exemplo, as análises comparativas qualitativas (ou Qualitative Comparative Analysis) podem

Nosestudosterritoriais,porexemplo,ospesquisadorescomparativosbuscam, dentro das temáticas/características/variáveis/tópicos selecionados, mapear e/ou analisar as diferenças, semelhanças e singularidades dos territórios em estudo178. Na Figura 9, ospesquisadorescomparativos podem comparar as diferenças entre as políticas territoriais dos territórios “A”, “B” e “C”; podem comparar as diferenças entre as agriculturas familiares dos três territórios; podem analisar e/ou comparar as singularidades das mudanças climáticas nos três territórios; podem comparar as semelhançase/ouassingularidadesentreaspolíticasterritoriais dos três territórios; entre outras interpretações analíticas. O fato é que ospesquisadorescomparativos têm à sua disposição um leque de ferramentas interpretativas.

6.5.1 Análise das Diferenças (ou Contrastes)

A primeira interpretação da pesquisa comparativa é aquela que identifica as diferenças ou os contrastes entre os objetos de estudos. Neste sentido, existem, pelo menos, dois caminhos: (1) analisar as diferenças entre objetos de estudos diferentes; e(2)analisarasdiferençasentreobjetosdeestudos semelhantes. É importante frisar que as análises das diferenças (ou contrastes) envolvem – em geral – fenômenos que podem ser copiados e/ou transplantados no curto, no médio ou no longo prazo. Em suma, tratam-se de diferenças ou contrastes que, muitas vezes, podem se converter, num segundo momento, em concordâncias ou semelhanças (Mill, 1974, p. 193-208; Skocpol, 1979, p. 48-49). Na prática, são as diferenças ou os contrastes que ajudam a explicar as assimetrias entre os objetos de estudos179.

Porexemplo,ospesquisadorescomparativospodemanalisarasdiferençasdas agriculturas familiares de três territórios geograficamente diferentes: um território montanhoso (“A”), um território semiárido (“B”), e um território de pequenas ilhas (“C”) (ver Figura 9); ou, podem analisar as diferenças das políticas territoriais para o turismo de três territórios geograficamente semelhantes: todos montanhosos (“A”, “B”e“C”)(verFigura 9).Nestesdoisexemplos, as diferenças giravam em torno das características geográficas dos territórios – porém, na prática, essas características

178 Por exemplo, com a perspectiva de compreender as diferenças, semelhanças e singularidades

entre os estágios de desenvolvimento, as “centelhas” que promoveram esse desenvolvimento, e os resultados econômicos e sociais desses processos nos distintos territórios em estudo.

podem ser econômicas, sociais, culturais, institucionais, políticas, etc. (Mill, 1974, p. 193-208). Assim sendo, as diferenças ou os contrastes podem existir entre objetos de estudos diferentes e entre objetos de estudos semelhantes.

6.5.2 Análise das Concordâncias (ou Semelhanças)

A segunda interpretação da pesquisa comparativa é aquela que identifica as concordâncias ou as semelhanças entre os objetos de estudos. Assim, essa segunda interpretação é exatamente oposta à primeira interpretação. Neste sentido, existem, pelo menos, dois caminhos: (1) analisar as concordâncias entre objetos de estudos diferentes; e (2) analisar as concordâncias entre objetos de estudos semelhantes. Na prática,asconcordânciasouassemelhançassãofenômenosanalíticos/instrumentais que podem ser copiados e/ou transplantados no curto, no médio ou no longo prazo; e podem se converter, num segundo momento, em diferenças ou contrastes (Collier, 1993, p. 105-113; Mill, 1974, p. 193-208). São as concordânciasouassemelhanças que ajudam a explicar as simetrias entre os objetos de estudos.

Porexemplo,ospesquisadorescomparativospodemanalisarassemelhanças daspolíticasterritoriaisdetrêsterritórioseconomicamentediferentes:um território pobre e mais rural (“A”), um território rico e mais rural (“B”), e um território rico e mais urbano (“C”) (ver Figura 9); ou, podem analisar as semelhanças daspolíticas territoriais de três territórios geograficamente e economicamente semelhantes: são todos territórios semiáridos, e pobres e mais rurais (“A”, “B”e“C”)(verFigura 9). Nestesdoisexemplos, as semelhanças gravitam em torno dos atributos econômicos dos territórios – contudo, esses atributos podem ser geográficos, sociais, culturais, institucionais, políticos, históricos, etc. Assim, as concordânciasouassemelhanças podem existir entre objetos de estudos diferentes e semelhantes.

6.5.3 Análise das Singularidades (ou Particularidades)

A terceira interpretação da pesquisa comparativa é aquela que identifica as singularidades ou as particularidades entre os objetos de estudos. Logo, essa análise interpretativadosdadoscomparativoslevaem conta os fenômenos “exclusivos”, que não podem ser copiados e/ou transplantados entre os objetos de estudos. Na prática,

as singularidades ou as particularidades são diferenças que não podem ser alteradas ou convertidas no curto, no médio ou no longo prazo. Em geral, são fenômenos que destacam as peculiaridades dos objetos de estudos (Targa, 1991, p. 265-271). Logo, assingularidadesouasparticularidadespodemserencontradas, tanto em objetos de estudos diferentes como em objetos de estudos semelhantes (Ragin, 1987; Ragin e Zaret, 1983; Rihoux e Ragin, 2009).

Por exemplo, cada um dos territórios da Figura 9 pode ter uma trajetória histórica e/ou cultural particular. Na análise comparativa, os pesquisadores podem notar que, embora as tradições históricas/culturais sejam diferentes, os territórios “A”, “B” e “C” podem praticar políticas territoriais culturais idênticas. Além do mais, cada um dos territórios pode herdar um patrimônio histórico singular, que não pode ser construído e/ou transplantado em outros territórios, suscitando vantagens e/ou desvantagens particulares. Neste contexto, as singularidades ou as particularidades podem ser: naturais/herdadas (como, por exemplo, o patrimônio histórico e o clima), ou criadas (como, por exemplo, os mercados das singularidades, que geram rendas de monopólios) (Rihoux e Ragin, 2009; Targa, 1991, p. 265-271).