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2 UMA SÍNTESE TEÓRICA SOBRE O TERRITÓRIO

2.2 O “Conteúdo” Territorial: uma Visão Multidimensional

2.2.3 Instituições Territoriais: a Formalização da Participação

Sãoasinstituiçõesterritoriaisqueorganizamofuncionamentodoselementos imateriais/pluralistas e dos elementos materiais. Ou seja, as instituiçõesterritoriais formalizameregulam:acidadaniaativa,ocapitalsocialeasaglomeraçõesprodutivas territoriais (ver seções 2.2.1 e 2.2.2). Assim, no “conteúdo” territorial, as instituições territoriais operam como “um hub conectável” a todosos demais elementos. Porém, o que são as instituições territoriais? Ou, o que são as instituições? Desde a década de 1910, vários economistas têm buscado compreender o institucionalismo, as suas modificações organizacionais, e as suas rupturas tecnológicas50. Para Pondé (2005, p. 121), o resultado é um amplo leque de matrizes teóricas em torno das instituições, cada uma assentada em diferentes interpretações do institucionalismo.

Apesar do emaranhado de variações conceituais e pressupostos teóricos em torno das instituições, as inúmeras matrizes teóricas enriquecem o pensamento e o debate institucionalista, favorecendo a diversidade teórica (Conceição, 2001, p. 25- 45; Pondé, 2005, p. 119-160). Neste sentido, podemos destacar, pelo menos, quatro abordagens teóricas institucionalistas, a saber: (1) o institucionalismo “original”; (2)

48 Ver Becattini (1999, p. 45-58; 2002, p. 9-32) e Veiga (2002, p. 8-12). 49 Ver também Garofoli (1993, p. 49-75) e Sforzi (2006, p. 37-42). 50 A origem do debate institucionalista está na obra de Veblen (1912).

o neo-institucionalismo; (3) a Nova Economia Institucional (sigla NEI); e (4) o neo- schumpeterianismo (Conceição, 2001, p. 25-45; North, 1991; Pondé, 2005, p. 119- 160;Reis,2002,p.105-132;Simon,1962,p.467-482). Essa variedade de abordagens teóricasinstitucionalistasfavorecema“interpretação ampliada” das instituições51 e, por conseguinte, das instituições que compõem o “conteúdo” territorial.

Basicamente, “[...] as instituições são regularidades de comportamento, social e historicamente construídos, que moldam as interações entre indivíduos e grupos de indivíduos [...]”, produzindo padrões (ou seja, códigos de conduta) relativamente estáveis (Pondé, 2005, p. 126). Assim sendo, uma instituição é uma regularidade de comportamento, ou uma regra formal ou informal, que tem aceitação unânime pelos membros de um grupo social, acarretando em padrões consensuais de organização econômica e social, mediante a operação de hábitos, normas, convenções sociais, racionalidades, conhecimento, atores sociais e processos de vida, experimentalismo e evolução. Na prática, o institucionalismo está incrustado na própria dinâmica do mercado, do Estado, das empresas, das associações, etc. (Reis,2002,p.105-132).

Por isso, as instituições devem ser críveis e estáveis, pois sua maior função é aumentar a previsibilidade da conduta humana, reduzindo os conflitos “fechados” e “abertos” e as assimetrias sistêmicas (Ortega e Silva, 2011, p. 37-41; Pondé, 2005, p. 119-160). Entretanto, isso não quer dizer que o ambiente institucional seja sempre harmonioso. Num mundo complexo, volátil e hierarquizado, as instituições são cada vez mais peculiares/específicas, sendo fruto de escolhas, deliberações, consensos e conflitos sociais, que geram as regras formais e informais do “jogo da vida”. Por isso, as instituições não podem ser repetidas em outras localidades, já que são complexas ealteráveis,poisestão enraizadas em“mundosconcretosmutáveis”52 (Ortega e Silva, 2011, p. 37-41; Pondé, 2005, p. 119-160;Reis,2002,p.105-132).

Já, nos territórios “mais flexíveis”, as instituições territoriais não somente canalizamecoordenamasinteraçõesentre os agentes socioeconômicos, mas ainda delimitam o conjunto de ações disponíveis para os indivíduos. Concomitantemente,

51 Issoincluiautorescomo:(1)Veblen,CommonseMitchel;(2)Galbraith,Gruchy,HodgsoneSamuels;

(3) Coase, Williamson e North; e (4) Nelson, Winter e Dosi (Ortega e Silva, 2011, p. 37-41).

52 Porexemplo,éfundamental apreender as mudanças e transformações da economia, em vez de ficar

em busca dos fundamentos que determinam o equilíbrio, a “otimalidade” e racionalidade substantiva (Pondé, 2005, p. 119-160; Reis, 2002, p. 105-132; Simon, 1962, p. 467-482).

os indivíduos moldam as instituições, mostrando que as restrições concebidas pelos homenséquedãoformaasuainteração,ouformaasua instituição (North, 1991). Ou seja, as instituições territoriais são transportadas por múltiplos portadores sociais, diferentesculturas,variadasestruturaseinúmerasrotinas, e estes operam em vários níveis hierárquicos53 (Scott, 1995). De acordo com Reis (2007, p. 12), as instituições revelam que os territórios “mais flexíveis” não são planos, mas possuem “relevos, arquipélagos, descontinuidades e passagens estreitas e, [...] turbulência”.

Assim, as dinâmicas das instituições territoriais estão incrustadas na própria estruturadasociedade(cidadaniaativaecapitalsocial)edaeconomia(aglomerações produtivasterritoriais),sendoum“espelho”docomportamentodos indivíduos e dos atores coletivos, estando diretamente vinculada às culturas, valores, hábitos, rotinas e regras locais (Reis,2002,p.105-132; 2007). Em outras palavras, as configurações institucionais territoriais são não-estáticas e não-replicáveis, no espaço e no tempo, proporcionando uma diversidade incalculável de sistemas institucionais, políticos, econômicos e sociais, que transcendem, e muito, a ideia da universalidade do mundo, vinculadaàlógicadaglobalização(Brandão, 2007, p. 35-56; Conceição, 2001, p. 25- 45; Pondé, 2005, p. 119-160;Reis,2002,p.105-132;Simon,1962,p.467-482).

Por exemplo, cada território “contemporâneo” pode ter um conjunto variado e heterogêneo (ou seja, uma mescla diferenciada) de instituições no seu “conteúdo” territorial. Neste sentido, conforme Moyano Estrada (2009, p. 23-34), as instituições territoriaispodemserde natureza “associativa” ou “institucional”. As instituições de natureza “associativa” são aquelas formadas a partir de interesses e/ou preferências comunitárias, de base social. Já as instituições territoriais de natureza “institucional” são aquelas criadas a partir dos instrumentalismos públicos e/ou privados, sem base social, ou aderência comunitária (Moyano Estrada, 2009, p. 28). Em termos práticos, o balanceamento entre os tipos institucionais dependerá da força da cidadania ativa, do nível de capital social, e da importância dos aglomerados produtivos.

Além disso, os tipos institucionais estão divididos em subtipos, conforme os diferentes âmbitos de atividades (ver Quadro 1). De acordo com Moyano Estrada (2009, p. 6), as instituições de natureza “associativa” podem ser divididas em quatro

subtipos: (1) de representação e/ou reivindicação; (2) de caráter econômico; (3) de caráter não-econômico; e (4) de gestão e promoção do desenvolvimento. Enquanto isso,asinstituiçõesdenatureza “institucional” podem ser divididas em três subtipos: (1) de gestão das políticas locais; (2) de representação das administrações regionais, estaduais e nacionais; e (3) de caráter privado (ver Quadro 1) (Moyano Estrada, 2009, p. 11). Dentro de cada subtipo existe um amplo leque de desenhos jurídicos e operacionais, conforme os âmbitos de atividades das instituições54.

Quadro 1 – Os Tipos e Subtipos de Instituições Territoriais

Natureza “Associativa”

Subtipos Exemplos

Representação, Defesa e

Reivindicações de Interesses SindicatosDesenvolvimento Rural, Associações Ambientais, etc. deTrabalhadores, Organizações Profissionais, Redes de Atividade Econômica

(de caráter instrumental) Cooperativas, Sociedades Comerciais, Associações/Organizações de Produtores, Consórcios Empresariais, etc. Atividade Cultural, Religiosa,

Recreativa, etc. AssociaçõesAssociação Recreativas, etc. Culturais,CívicaseEsportivas,Associações Religiosas, Gestão e Promoção do

Desenvolvimento Grupos de Ação Local, Comitês de Bacias Hidrográficas, Conselhos Territoriais, etc.

Natureza “Institucional”

Subtipos Exemplos

Gestão das Políticas Locais

(das municipalidades) Organismos Municipais, Serviços Municipais, Entes de Cooperação Intermunicipal, etc. Representação Periférica

das Administrações Públicas Centros de Saúde, Centros de Educação, Centros de Serviço Social, Serviços Ambientais, etc. Instituições Privadas Instituições Financeiras, Meios de Comunicação, Empresas, Redes de Serviços, Serviços Educacionais, etc. Fonte: Moyano Estrada (2009, p. 6, 11).