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7 TERRITÓRIO, GOVERNANÇA E DESENVOLVIMENTO

7.2 Governança Multinível: de Brasília até os Municípios

7.2.2 Estruturas Estaduais: os Estados Federados e o Distrito Federal

NoBrasil,existem26estadosfederados,mais o Distrito Federal (ver Figura 11). É importante frisar que o Distrito Federal é um caso particular, já que cumpre a dupla função de estado e município, além de abrigar Brasília que é a capital federal (Brasil, 1988, p.11,19).Asestruturasestaduaissãoconstituídasportrêspoderes: o Executivo, cujo chefe é o Governador; o Legislativo, representado por um colegiado

de caráter regional, mediante a execução de programas de financiamento aos setores produtivos. Dos recursos que compõem esses Fundos, cabe ao FNO 0,6%, ao FCO 0,6% e ao FNE 1,8%. Ver também <http://www.mi.gov.br/fundos-constitucionais-de-financiamento>.

212 No caso do ITR, há a hipótese do artigo nº 153 da Constituição Federal e da Emenda Constitucional

nº 42/2003, em que os municípios poderão, por convênio com a União, arrecadar 100% do ITR. Ver Brasil (1988, p. 66-67; 2003, p. 1-6) e Tristão (2003, p. 73-120).

213 Para os estados e o Distrito Federal, o Fundo de Participação dos Estados/Distrito Federal. Já para

os municípios, o Fundo de Participação dos Municípios (Brasil, 1988, p. 15-16, 19, 66-69).

214 Há Conselhos Nacionais para variados temas, tais como ciência/tecnologia, saúde, esporte,

turismo, previdência social, meio ambiente, desenvolvimento econômico e social, juventude, energia, direitos dos idosos, direitos das crianças, entre outros. Ver <http://www.secretariadegoverno.gov.br /participacao-social/conselhos-nacionais>.

215 Ver <http://www.secretariadegoverno.gov.br/participacao-social/conselhos-nacionais>. 216 A Secretaria Nacional de Articulação Social (vinculada à Presidência da República) é responsável

por articular iniciativas de diálogos, participação social e relações políticas do Governo Federal com diferentes segmentos da sociedade civil. Além disso, compete a tal Secretaria criar e consolidar canais de articulação nas três esferas de governo, realizar estudos de natureza político institucional e/ou promover análises de políticas públicas e de temas relacionados às competências da Secretaria de Governo e de interesse do Presidente (da República). Ver <http://www.secretariadegoverno.gov.br/ sobre/articulacao-social>.

de Deputados Estaduais, na Assembleia Legislativa; e o Judiciário, representado pelo Tribunal de Justiça Estadual (ver Figura 10) (Brasil, 1988, p. 15-16). Cada estado é organizado eregidoporumaConstituiçãoEstadual217sendoque o Distrito Federal é regido por uma Lei Orgânica – estabelecendo normas legais de nível estadual, e em complemento aos princípios da Constituição Federal (Brasil, 1988, p. 15, 19).

Figura 11 – As Estruturas Estaduais e as Grandes Regiões do Brasil

Fonte: <http://mapas.ibge.gov.br/>. Adaptado pelo autor.

217 Para um exemplo, ver a Constituição do Estado do Rio de Janeiro, em <http://alerjln1.alerj.rj.gov.

Cabe aos estados – com exceção do Distrito Federal – instituir aglomerações urbanas, regiões metropolitanase microrregiões (Brasil, 1988, p. 15)218.Além do mais, constitucionalmente, incluem-se entre os bens dos estados: (1) as águas superficiais ousubterrâneas,fluentes,emergenteseemdepósito;(2)asáreas,nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, municípios ou terceiros; (3) as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União; (4) as terras devolutas não compreendidas entre as da União (Brasil, 1988, p. 15). Em 1995, a Emenda Constitucional nº 5 incluiu entre as responsabilidades do estado, a exploração direta – ou mediante concessão pública – dos serviços de gás canalizado (Brasil, 1995, p. 1).

Enquanto o Governador administra o estado e as suas políticas públicas, os Deputados Estaduais219 elaboram leis estaduais e fiscalizam a administração do Poder Executivo Estadual (e do Governador), e os Desembargadores e os Juízes de Direito garantem que as leis sejam cumpridas em nível estadual. O Poder Judiciário Estadual é responsável pela constituição de Comarcas, Varas e Foros em todo o território do estado, executando a primeira e segunda instância da justiça brasileira. NoPoderLegislativoEstadual,acomposiçãodaAssembleiaLegislativaé otriplo da representação do estado na Câmara dos Deputados e, atingindo o número de 36, será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima de 12 (Brasil, 1988, p. 15). Por exemplo, o estado de São Paulo tem 94 Deputados Estaduais220.

Horizontalmente, cada estado é independente e responsável pela sua própria organização (em Secretarias Estaduais), administração e arrecadação dos impostos estaduais.Alémdisso,cadaestadopodecriarsuperintendências,fundações,agências, autarquias,institutoseempresaspúblicasestaduais.Cabe, ainda, ao Poder Executivo Estadual constituir e administrar as Polícias Civil e Militar e o Corpo de Bombeiros Militar. Por exemplo, o Poder Executivo da Bahia está organizado em dois Gabinetes, umaCasaCivil,umaCasa Militar, umaProcuradoriaGeral,23SecretariasEstaduais, duas Polícias, um Corpo de Bombeiros Militar, nove superintendências, 11 empresas

218 Cabe também aos estados a criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de municípios,

conforme a Emenda Constitucional nº 15/1996 (Brasil, 1988, p. 11; 1996, p. 1).

219 No Distrito Federal, são os Deputados Distritais (Brasil, 1988, p. 19). 220 Ver <http://www.al.sp.gov.br/alesp/deputados-estaduais/>.

públicas, quatro agências, um Plano de Assistência à Saúde, cinco fundações, cinco institutos, uma Junta Comercial, dois departamentos e quatro universidades221.

Constitucionalmente, compete aos estados federados e ao Distrito Federal222: (1) zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições e conservar os bens públicos; (2) cuidar da saúde e assistência pública; (3) proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural; (4) proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação223; (5) proteger o meio ambiente e combater a poluição; (6) preservar as florestas, a fauna e a flora; (7) promover programas de moradia e de saneamento básico; (8) fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar; (9) combater as causas da pobreza e da marginalização; (10) fiscalizar o uso dos recursos hídricos e minerais; e (11) estabelecer políticas de segurança do trânsito.

Adicionalmente, compete aos estados federados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente à União sobre:

“[...]I–direitotributário,financeiro,penitenciário,econômico e urbanístico; II – orçamento; III – juntas comerciais; IV – custas dos serviços forense; V – produção e consumo; VI – florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII – proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII – responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; IX – educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação (redação dada pela Emenda Constitucional nº 85/2015); X – criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas; XI – procedimentos em matéria processual; XII – previdência social, proteção e defesa da saúde; XIII – assistência jurídica e Defensoria pública; XIV – proteção e integração social daspessoasportadorasdedeficiência;XV–proteçãoàinfânciaeàjuventude; XVI – organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis” (Brasil, 1988, p. 14-15).

Paradesempenharsuascompetências,osestadoseoDistritoFederal dispõem de diferentes fontes de receitas, tais como: impostos (ICMS, IPVA e ITCD)224; taxas (sobre serviços públicos); contribuições em geral (como, as contribuições sociais); e, transferências constitucionais da União (10% do Imposto de Exportação gerado

221 Ver <http://www.ba.gov.br/>. 222 Ver Brasil (1988, p. 14).

223 Ver a Emenda Constitucional nº 85/2015 (Brasil, 2015, p. 1-3)

224 Siglas: ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e de Prestação Serviços; IPVA – Imposto

sobre a Propriedade de Veículos Automotores; e ITCD – Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos (Brasil, 1988, p. 67-69).

pelo estado, 21,5% do Imposto de Renda e 21,5% do IPI225, todos por meio do Fundo deParticipaçãodosEstados/DistritoFederal)(Brasil, 1988, p. 66-69; 2003, p. 1- 6)226. É importante frisar que os estados federados – com exceção do Distrito Federal – partilham com seus municípios uma parcela de seus impostos (neste caso, somente o ICMS e o IPVA) (Brasil, 1988, p. 15-16, 19, 66-69; 1993, p. 1-3; 2001, p. 1- 3; 2015a, p. 1-2; Spilborghs, 2012).

Apesar da homogeneidade das competências estaduais, os estados federados e o Distrito Federal são heterogêneos na sua essência, já que possuem características territoriais diferentes, várias dimensões populacionais, diferenças na arrecadação de impostos, diferentes níveis de atividade econômica, etc. Por exemplo, o estado do Amazonas tem 1,5 milhões de km², enquanto que o estado de Sergipe possui 21 mil km² (em 2015). A distribuição populacional e econômica também é profundamente assimétrica: do estado de São Paulo com 21% da população brasileira e 34% do PIB nacional até o estado de Roraima com 0,25% da população brasileira e 0,18% do PIB nacional (em 2016 e 2015). Já a arrecadação estadual pode ir dos R$ 209 bilhões do estado de São Paulo até os R$ 6 bilhões do estado do Acre (em 2014)227.

Compreender as especificidades dos estadosedoDistritoFederal, e o fato de que eles não são iguais no contexto da governança multinível, evita pensar nessas estruturas estaduais como um único “corpo” e a eles associar políticas federais (da União) semelhantes; mas, também evita, por razões óbvias, pensar políticas federais exclusivasparacadaestruturaestadualbrasileira.ComofrisaPochmann (2007, p. 7), “[...] o desafio é, portanto, tratar os semelhantes de forma semelhante e os desiguais de forma desigual no que se refere à atuação do Estado [...]”, em todos os níveis de governança. Assim sendo, os estados federados e o Distrito Federal sobrepõem em sua estrutura de governança as mais variadas complexidades nacionais, produzindo um mosaico de poderes, de políticas públicas e de interesses sociais.

Na governança estadual, a sociedade civil organizada participa diretamente dosConselhosEstaduais–juntamentecomasautoridadesestaduais.EssesConselhos

225 IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados (Brasil, 1988, p. 67-69).

226 Alémdisso, os estados federadose o Distrito Federal têm receitas patrimoniais, receitas de

serviços, receitas financeiras, e receitas correntes diversas (Brasil, 1988, p. 67-69).

Estaduais sãoinstânciasdediscussãodosassuntospúblicosestaduais228,decaráter paritário (50% de parceiros públicos e 50% de privados), e de natureza consultiva, deliberativa,normativae/oufiscalizadora.Nestecontexto,algumaspolíticaspúblicas federaisouprogramasdeagênciasinternacionaisexigemque as estruturas estaduais criem ConselhosEstaduaispara a obtenção de recursos públicos (IBGE, 2013, p. 37). Nototal,existem351 ConselhosEstaduaisnoBrasil,umamédiade13 por estrutura estadual (IPEA, 2015, p. 1). Além disso, as autoridadesestaduais – juntamente com a sociedade civil organizada – participam na governança intermunicipal.