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4.3.1 Perfil dos doentes internados nas unidades de internação

Segundo os entrevistados, os problemas cirúrgicos mais comuns eram de: ortopedia, cirurgia geral (apendicite, vesícula, laparoscopia, laparotomia), neurocirurgia, cirurgias de obesidade mórbida (PG1; PG2). Já os diagnósticos clínicos mais comuns eram: a senilidade, doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC), diabetes descompensado, doenças cardiovasculares como: Acidente Vascular Cerebral (AVC), hipertensão, infarto (PE10; PE11; PE12; PT16; PT17; PT20; PT21; PT22; PG9).

Os auxiliares e técnicos de enfermagem relataram um aumento do número de cirurgias de gastroplastia em portadores de obesidade mórbida e de pacientes de origem da UTI. Lembraram que a unidade se caracterizava como policlínica, pois atendia de tudo (PT15; PT20; PT21; PT22).

Tem cirúrgico, a gente está tendo, tem dia que tem 50 cirurgias. Então a gente está tendo muito paciente cirúrgico. Antes não. Antes era mais clínica

mesmo, internava por causa de uma pneumonia, tratava aqueles dias e vai embora. Agora não, a gente está tendo muito paciente cirúrgico no hospital. Eu acho que, de um tempo para cá, agora o forte do hospital é a cirurgia. (PE10).

Aqui no meu andar é mais pós-operatório, e é difícil ter um paciente clínico que fica aqui muito tempo. Quando fica, são pacientes acamados que está desidratado. Paciente que teve queda, mais idoso. Por exemplo, tem Alzheimer que teve queda e teve que fazer cirurgia, um problema levou a outro, já ficou prostado, já precisa de fisioterapia (PT16).

O perfil dos sujeitos-do-cuidado, nas unidades em estudo, identificado nas observações e anotações de campo, apontou os clínico-cirúrgicos, com predomínio de perfil cirúrgico. Por outro lado, os sujeitos-do-cuidado com maior tempo de permanência nas unidades foram os de perfil geriátrico, perfil clínico com intercorrência cirúrgica ou de complicações cirúrgicas.

4.3.2 Tipos de cuidados que os pacientes internados nessas unidades necessitavam

Na visão dos gestores administrativos, o perfil do cuidado variava desde os cuidados básicos, até aqueles para atendimento de doentes muito dependentes da enfermagem. No entanto, o cuidado básico era o mais freqüente na unidade. Consideravam, ainda, que o paciente de cuidado básico exigia praticamente cuidados gerais e de hotelaria, e o paciente com alta dependência de enfermagem era o mais complexo e exigia intervenções multiprofissionais.

O cuidado básico, o cuidado padrão, é o normal. Na unidade de internação, existem alguns níveis de complexidade para ela. Você tem aquele paciente eletivo que vem para uma cirurgia, às vezes, estética, que demanda, quase um serviço de hotelaria, então deve-se ter um cuidado básico; até aquele paciente que é dependente de toda a atenção, que depende a sua higiene pessoal, a sua alimentação, a sua movimentação no leito, receber a medicação, seja ela via oral, enteral ou parenteral. Então você tem gamas de interferências e inúmeros profissionais intervindo, vai depender da complexidade desse paciente (PG1).

entrevistados citados, quando descreviam as unidades de internação, conforme abaixo:

O hospital tem uma característica muito interessante, 50% dos nossos pacientes são de cuidados mínimos. Porque é um hospital de alta rotatividade, que são cirurgias de poucos dias de internação, então eles não incorporam tanto, assim, uma necessidade grandiosa de assistência. Eu já sei que os outros 50% do meu hospital é de cuidados intensivos. No entanto, devido à verticalização, um mês ele está no sétimo andar, outro mês ele está no décimo, outro mês ele está no décimo primeiro. Então, verticalização me faz dançar com o número de profissionais. Às vezes eu posso ficar com dois funcionários em um andar, mas às vezes eu tenho que levar quatro funcionários para outro andar (PG3).

A visão dos enfermeiros da unidade pesquisada, no que diz respeito ao perfil de classificação dos pacientes, era diferente daquelas da gerência administrativa e da enfermagem, o que é exemplificado pelo discurso a seguir (PE10; PE11):

Intermediário para semi-intensivo, eu tenho pacientes que são mais críticos, que têm que ter um pessoal treinado que saiba mexer. Eu falo que tem, até hoje, medicação que eles não sabem diluir. É comum você ter no CTI. Dentre os diversos cuidados realizados na unidade de internação, entre eles aspiração de traqueostomia, cuidados com sonda nasoentérica, sonda vesical, feridas, drenos, eu considero que o cuidado que mais exige da enfermagem é a higiene oral e corporal, tanto do ponto de vista do hospital, como do ponto de vista do usuário (PE10).

Na visão dos outros profissionais de saúde e da maioria dos auxiliares e técnicos de enfermagem, a unidade contava com um número expressivo de pacientes idosos e dependentes, que demandavam muita atenção e acompanhamento da enfermagem. Principalmente os pacientes clínicos, que são pacientes debilitados, que apresentam freqüentemente distúrbios respiratórios, muitas vezes traqueostomizados e precisando de vigilância respiratória e aspiração freqüente, sequelados, com dieta por sonda nasoentérica em bomba de infusão (PT15; PT16; PT17; PT18; PT19; PT20; PT21; PT22; PP13; PP14).

Os cuidados que mais demandam tempo da enfermagem são: banho de leito, troca de fraldas, administração e cuidados com dietas por sondas, bolsa de colostomia, punções venosas de difícil acesso, cuidados com sondagens em geral, curativos, mudanças freqüentes de decúbito, da cadeira para a cama, e mudar o paciente de posição na cama a cada duas horas. Esses cuidados muitas vezes são demorados e

pesados, inclusive fisicamente, no caso de pacientes obesos. Eles foram unânimes em se lembrar ainda da responsabilidade na administração da medicação, dos diversos medicamentos para um só paciente, nos diversos horários, e da exigência do paciente na pontualidade de administração dessas drogas, no respeito aos horários (PT15; PT16; PT17; PT18; PT19; PT20; PT21; PT22; PP13; PP14).

Eu acho que a parte que mais pesa mesmo é a medicação, porque eu acho [...] que isso aí não pode ter erro, é o principal. Banho de leito, que não tem como dar de uma só, às vezes você depende de uma outra colega e ela está ocupada, aí você tem que ficar esperando porque, normalmente, o acompanhante não ajuda. Às vezes o acompanhante até sai do quarto. Não, às vezes eles se oferecem e tal, às vezes a gente até pede: Oh, vai demorar, tem um colega ocupado, vamos aguardar. E às vezes a pessoa diz: Não, eu te ajudo, serve? Aí tudo bem, mas, senão, eu espero (PT19).

Os banhos. O que aperta mais são os banhos. As punções, que às vezes a gente passa muita dificuldade, porque tem pacientes edemaciados e a punção se torna mais difícil. E a gente já sabe que aquela campainha que está tocando é de um paciente mais exigente, que quer que você vá lá na hora imediata, aí você passa apertado (PT16).

São demandados os maiores cuidados, mais o cuidado respiratório. São pacientes muitas vezes idosos, acamados, que não têm uma proteção de vias aéreas, então a gente tem que trabalhar com o objetivo de favorecer uma higiene brônquica, para que não complique, não vá para UTI. Basicamente é isso. Com certeza, esses tipos de pacientes demandam mais da enfermagem. Há pacientes que exigem a troca de fraldas, pacientes que exigem cuidados mesmo, de banho, de curativo. Muitas vezes você tem pacientes acamados que desenvolvem escaras de pressão, então elas têm que estar fazendo curativo, medicação. Muitas vezes são pacientes que estão com gastrostomia, então tem essa administração de dieta (PP14).

Os usuários concordavam que os cuidados mais demandados eram os relacionados à higiene corporal, higiene oral e à medicação. Esperavam que estes fossem realizados no horário prescrito, sem atrasos, e que o profissional o fizesse com capacidade de interação com o sujeito-do-cuidado, estimulando-o a reagir (PU5; PU7; PU8).

Nas observações de campo, pude constatar que os cuidados mais demandados foram os de higiene e conforto, principalmente pelo perfil do sujeito-do-cuidado e seu acompanhante, que aguardavam a presença da enfermagem para fazê-lo, mesmo quando o doente se encontrava independente. O acompanhante exigia a presença da enfermagem para a realização e acompanhamento do banho. O banho de leito foi o que

mais demandou tempo de cuidado, pois sempre vinha conjugado a outros cuidados, como sonda nasoentérica, sonda vesical de demora ou coletor com extensor de urina, curativos (úlcera de pressão, cateter central), dietas por sondas, troca de fraldas, mudanças de decúbito, cuidados com traqueostomia. E existia uma preocupação por parte do sujeito-cuidador em que o sujeito-do-cuidado estivesse adequadamente higienizado para a visita médica, que ocorria no turno da manhã. Em segundo lugar, administrar a medicação demandava um tempo significativo, na assistência de enfermagem, pois existia um grande volume de prescrições de antibióticos injetáveis, medicações em bomba de infusão e de prescrições de remédios, se necessário (dor e febre), com exigência do atendimento imediato, sem atrasos, por parte dos sujeitos-do- cuidado e acompanhantes.

CAPÍTULO V

MÚLTIPLAS DIMENSÕES DO PROCESSO DE TRABALHO EM

UNIDADES DE INTERNAÇÃO INFLUENCIANDO O

DIMENSIONAMENTO DA FORÇA DE TRABALHO EM ENFERMAGEM

Este capítulo trata das múltiplas dimensões do trabalho nas unidades estudadas. Está organizado em cinco categorias: indicadores quantitativos e qualitativos para o dimensionamento da força de trabalho de enfermagem; organização do trabalho e implicações no dimensionamento; relações de trabalho e implicações no dimensionamento; condições de trabalho e implicações no dimensionamento; elementos do processo de trabalho e implicações no dimensionamento de pessoal. Cada uma das categorias está apresentada, considerando os diversos olhares: dos gestores, dos diferentes profissionais de enfermagem, e dos demais profissionais que compõem a equipe de saúde, além do olhar dos usuários (incluindo o sujeito-do- cuidado, familiar ou acompanhante).

5.1 Indicadores quantitativos e qualitativos para o dimensionamento da força